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Análise: Resident Evil 4 (Multi) é um remake digno de um dos melhores jogos de ação e terror de todos os tempos

Com ótima jogabilidade e visuais competentes, o game da Capcom consegue misturar nostalgia e novidade com maestria.


A prévia do game já havia deixado claro: Resident Evil 4, remake de um dos melhores de todos os tempos, tinha tudo para ser um dos melhores do ano. Para alegria geral da nação gamer, a aventura de Leon não supera, mas é tão boa quanto a original, repleta de ação, terror e muita qualidade. Anunciado no meio de 2022, o remake do jogo original do GameCube, de 2005, veio ao mundo com um grande peso.

Afinal, a primeira aventura de Leon e Ashley é até hoje uma sumidade no universo dos videogames, sendo inclusive responsável por estabelecer padrões de jogo usados na atualidade. Corte para 24 de março de 2023, quando o esperado título é finalmente lançado. Afie a sua faca, pegue algumas Pesetas e não esqueça de pólvora, pois a análise de RE4 vai começar!

Uma proposta renovada (mas nem tanto)

Após explorar a nova abordagem de um game tão querido, que zerei em três consoles diferentes (PS2, Wii e PS3), posso afirmar que Resident Evil 4 é um dos melhores remakes da história. Mais do que isso, ele é, por si só, uma divertida e emocionante experiência, equilibrando com méritos elementos clássicos com novidades modernas. Ou seja, perfeito para jogadores veteranos ou novatos.

Um clássico
Para aqueles que não conhecem o enredo, é o seguinte: a história foca na missão de Leon, dois anos após os acontecimentos vistos em Resident Evil 2, de resolver o sequestro de Ashley, filha do presidente norte-americano, em um país europeu. Ao começar a investigação, o agente entra em conflito com um misterioso culto sobrenatural e vê o caso trazer cada vez mais semelhanças com o massacre de Racoon City.

Mais do que isso seria entrar em spoilers, mas garanto que a aventura é uma montanha-russa de emoções, com várias reviravoltas e momentos incríveis. O roteiro como um todo está mais robusto, certamente influenciado pelas narrativas modernas, que eram menos significativas em 2005. Ashley Graham, assim como os personagens secundários de luxo como Luis Sera, Ada Wong e Jack Krauser, estão ainda mais interessantes e bem-escritos do que no original (sobretudo o primeiro), tornando a história mais sólida e envolvente.

Leon e Ashley te convidam para uma grande aventura
Existem três grandes áreas que dividem Resident Evil 4: vilarejo, castelo e ilha, num total de 16 capítulos repletos de tiroteios intensos, cutscenes bem apresentadas, quebra-cabeças interessantes, momentos de terror, objetivos secundários divertidos, entre outras atrações. A alternância entre momentos emocionantes e calmos é semelhante ao original, mantendo o jogador atento sem exagerar na tensão.

Ada Wong continua como um dos destaques do game

¡Un forastero!

A trama de RE4 leva Leon a entrar em combates contra vários tipos de inimigos, cada um deles com suas próprias habilidades e fraquezas. Comparando com o original, eles estão mais agressivos e versáteis, assim como o protagonista, que conta com novos movimentos como agachar, desferir ataques sorrateiros, correr e atirar ao mesmo tempo, além de um sistema de parry. Ao utilizar uma faca, certas investidas adversárias podem ser defendidas e até criar aberturas para um contra-ataque.

A questão é que o maior destaque para a faca de Leon contrasta com o sistema de dano da mesma, que exige conserto após certo uso. Existem muitas funções importantes que dependem dela (ou das facas descartáveis encontradas pelos cenários), portanto ter uma lâmina à disposição é vital. Gostei dessa mudança, embora ela participe de um pequeno problema.
Atenção constante para utilizar o parry de forma correta
Com inimigos mais agressivos, conseguir desviar ou esquivar de ataques tornou- se uma tarefa crítica. Infelizmente, aqui temos o único ponto fraco da jogabilidade do game: Leon por vezes parece mais lento que seus adversários, sofrendo dano em investidas que, num primeiro momento, parecem evitáveis. Às vezes é difícil saber se devemos agachar, correr ou realizar um parry, sobretudo em meio a hordas de inimigos.
 
Sofri bastante com casos assim no início da campanha e somente com o tempo aprendi como lidar razoavelmente com a questão. Fora isso, as lutas são divertidas e competitivas na medida certa, sobretudo contra os chefões. Nunca me senti excessivamente acuado, assim como cada encontro sempre representava uma ameaça. Os recursos encontrados pelos cenários também foram bem distribuídos, deixando o jogador atento sem exagerar na escassez.

Cuidar do inventário na maleta ainda é uma das atrações do game
Tal como no original, o arsenal de Leon inclui rifles, pistolas, metralhadoras, escopetas, granadas, entre outras armas. Todas são melhoráveis utilizando pesetas, moedas encontradas pelos cenários ou obtidas com a venda de itens – incluindo tesouros escondidos – para o famoso Mercador. Ele também oferece mais missões secundárias que permitem acesso a recompensas exclusivas e bastante úteis.

Well done, Mr. Kennedy

É inevitável falar do remake sem fazer comparações diretas ao original. Eu mesmo já fiz algumas até agora, sendo que praticamente todas as mudanças feitas estão no mesmo nível da versão original, ou conseguiram superá-la de alguma forma (salvo uma exceção, que comentarei ao final da análise). Confesso que, se tivesse que escolher, ainda penderia para a primeira, mas por uma pequena diferença pautada no ineditismo.

É preciso usar todos os recursos à disposição
Afinal, é mais fácil criar uma boa nova versão se a anterior era incrível. Uma diferença considerável – e óbvia – são os visuais, que apresentam texturas bonitas e iluminação de primeira. É possível inclusive escolher priorizar a resolução ou a taxa de quadros. Enquanto eles certamente estão no nível máximo da geração anterior, donos de PS5 e XSX ficaram com uma leve percepção de que eles poderiam ser melhores.
Isso é algo compreensível em meio à troca de gerações, que limita o potencial do título frente à questão multiplataforma. Ainda assim, deixo isso apenas como um comentário, pois nunca me senti incomodado pelos gráficos. Pelo contrário: explorar o lago sombrio, me aventurar por cavernas claustrofóbicas e perambular por castelos antigos sempre foram belas experiências. Aliás, saúdo pela variedade delas, que surgem em meio a diversas e significativas mudanças nas mecânicas básicas de jogo.
Prepare-se para belas paisagens ao longo da campanha
Dublagens, músicas e demais efeitos estão incríveis, seja no inglês original ou no português brasileiro. Não curti algumas escolhas para as vozes tupiniquins, mas o trabalho em si é muito bom. Cada arranhão, canção de suspense e rangido foram bem pensados. A produção também tem bom desempenho, ótimo uso do DualSense e tempos de carregamento rápidos no PS5, com praticamente nenhum bug significativo durante a campanha.

Not enough cash, stranger!

Mapas, quebra-cabeças e diálogos estão entre os elementos mais mudados em Resident Evil 4, mas com aquela já citada qualidade. Escoltar Ashley, um dos pontos mais famigerados, é outro bom exemplo de alteração: além de mais independente, ela teve a barra de vida trocada por um estado de incapacitação. Existem tantos outros casos de mudanças, mas sempre equilibrando nostalgia e modernidades, que também incluem checkpoints e muitas opções de customização.

Mais uma vez Ashley tem sua vez para brilhar no jogo
Para terminar, vale comentar sobre os modos extras de jogo, que formam aquela exceção (que comentei anteriormente) dentre as mudanças positivas. O game original contava com três modos além da campanha: The Mercenaries, Assignment Ada e Separate Ways, enquanto o atual foi lançado sem nenhum deles. O primeiro já está disponível como DLC gratuito (ótimo, por sinal!), mas não temos nenhuma informação sobre os últimos dois. Infelizmente, considerando a política atual das produtoras, muito provavelmente elas não serão expansões gratuitas.
Muita ação no modo Os Mercenários
Mesmo que atualmente os jogos sejam lançados assim, não tem como não ficar com um gostinho ruim após a ótima campanha. Afinal, um remake não deveria ter uma quantidade de conteúdo inferior ao original, sobretudo frente a tantos outros que foram pelo caminho oposto. Crash Team Racing: Nitro Fueled e Tony Hawk’s Pro Skater 1+2 são ótimos exemplos de remakes competentes e que trouxeram ainda mais conteúdo que os originais.

O novo lançamento inclui até traz roupas, acessórios e vários tipos de colecionáveis inéditos para serem desbloqueados. A questão é que boa parte das skins e equipamentos legais estão “presos” por compras com dinheiro real, enquanto outros itens liberáveis exigem feitos bastante exigentes dentro do jogo. Ao menos a grande quantidade de coisas para obter e a qualidade da campanha, incluindo o seu interessante Novo Jogo +, tornam o processo aceitável e até divertido.

Um remake para a todos conquistar

A tarefa não era fácil, mas as expectativas positivas se confirmaram: Resident Evil 4 é um remake digno do original. Os visuais atualizados tornaram a atmosfera sombria e desoladora ainda melhor e, em termos da campanha, temos aqui uma aventura no mesmo nível de qualidade da original. Na realidade, ela consegue superá-la em vários momentos, contando com personagens mais bem-escritos e melhor uso do elemento terror.

Uma clássico atualizado
A jogabilidade está quase no mesmo nível de robustez, mas conta com a possibilidade de futuras atualizações para ficar completamente sólida. Cada tiroteio, quebra-cabeça ou cutscene é interessante, nos levando a jogar sem ver o tempo passar. O único ponto que realmente que ficou devendo é em relação à quantidade de conteúdo, que aparentemente vai ser inferior ao que tínhamos antes.
Será que Leon mais uma vez ocupará o trono dos melhores games do ano?
O remake não substitui a aventura original, mas fica lado a lado como uma experiência única, rica, bem-construída e viciante. Mais do que comparações diretas, aqui temos um caso raro em que mudanças cuidadosamente executadas tornam o novo lançamento superior em diversos pontos, sempre respeitando aquilo que funcionava bem. Seja você um novato ou veterano, esse é um game absolutamente obrigatório na tua biblioteca.

Prós

  • Jogo de ação e terror de alta qualidade técnica e de conteúdo;
  • A jogabilidade é ótima e funciona bem em quase todos os quesitos;
  • Produção visual e sonora de alta qualidade;
  • História é excelente e melhora o desempenho de vários personagens;
  • Equilíbrio entre nostalgia e novidade é praticamente perfeito;
  • O nível de dificuldade e variedade nos desafios é ótimo.

Contras

  • Modos extras do original não estão disponíveis durante o lançamento e talvez só cheguem na totalidade via download pago;
  • Ainda faltam alguns ajustes nas formas de lidar com os ataques inimigos.

Resident Evil 4 — PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: PS5

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Capcom


é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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