Donos da Moon Studios, produtora da saga Ori, são acusados de comportamento opressivo por funcionários

Entre os relatos, são citados crunch, piadas ofensivas, insultos e falta de feedback por parte de Thomas Mahler e Gennadiy Korol.


Sony, Ubisoft, Activision Blizzard, Paradox Interactive... Os relatos de ambientes tóxicos de trabalho na indústria dos games têm aumentado muito nos últimos meses. Cada vez mais funcionários estão se sentindo mais livres para reportar situações abusivas de trabalho. Desta vez, as reclamações recaem sobre a produtora Moon Studios, responsável pela franquia Ori. Seus empregados relatam momentos opressivos, que incluem piadas ofensivas, insultos e crunch. As informações são do site GamesBeat.


De acordo com o site, os fundadores, Thomas Mahler e Gennadiy Korol, frequentemente criticavam o trabalho dos desenvolvedores em chats abertos aos funcionários. Além disso, piadas de muito mau gosto eram feitas publicamente na Moon, como esta, feita por Mahler:
"Tyler é a única pessoa que está sabendo dos meus planos desonestos de matar os judeus fazendo-os trabalhar até a morte por meio do desenvolvimento de jogos.”

Outras "piadas" incluíam o tamanho dos órgãos sexuais dos homens. Frequentemente os planos eram modificados e levavam os desenvolvedores à prática do crunch, que é a prática de forçar os empregados a trabalharem por jornadas muito extensas, sem remuneração pelas horas extras, para que o game seja entregue na data prevista. E mesmo nestas situações, havia falta de feedback e muito raramente os bons trabalhos eram elogiados pelos dois. Como a comunicação é, segundo o estúdio, aberta, em tese todos podem ser sinceros uns com os outros. Porém, segundo os funcionários, os fundadores usam essa liberdade para agirem abusivamente, sendo agressivos e mal-educados.

Apesar de nenhum processo ter sido movido contra a desenvolvedora, os funcionários entrevistados pelo GamesBeat alertam àqueles que desejam trabalhar para a Moon Studios que pensem muito antes de entrar para a empresa, dado este ambiente tóxico. Alguns relatos colhidos pelo site estão disponibilizados no fim da matéria.

Versão de Mahler e Korol

Os dois fundadores enviaram ao GamesBeat uma resposta às alegações feitas:
"Nós não acreditamos que as experiências sugeridas por suas perguntas são representativas dos mais de 80 funcionários da Moon Studios que estão prosperando e fazendo um ótimo trabalho todos os dias — nem acreditamos que elas representam as experiências de ex-empregados do nosso time. Na verdade, estamos muito orgulhosos da nossa história de fazer as pessoas felizes, fazendo-as evoluir em suas carreiras e de contribuir para os seus sucessos financeiros.

Nós construímos a Moon Studios com uma simples premissa. Primeiro, queríamos criar um estúdio que não fosse restrito pelos limites geográficos, permitindo a nós atrair grandes talentos ao redor do mundo. Segundo, queríamos fomentar uma cultura vibrante onde nosso time prospera e entrega o melhor trabalho na nossa indústria. E, finalmente, desde o primeiro dia decidimos compartilhar os lucros e recompensas dos nossos esforços com toda a equipe. Acreditamos que fomos bem-sucedidos.

O que faz o nosso time ser tão poderoso é nossa diversidade global e cultural — nós temos membros trabalhando em mais de 40 países e em quatro continentes diferentes — e uma estrutura de estúdio plana, que permite a todos falar honestamente e diretamente, e que desafia e motiva um ao outro a fazer o nosso melhor trabalho. Nós partimos para criar um tipo diferente de estúdio — um que encoraja a criatividade, comunicação aberta, colaboração e performance.

O resultado tem sido dois games premiados — com mais no horizonte — e uma equipe de profissionais que curtem trabalhar juntos, são excelentes e abrem novos caminhos na nossa indústria, enquanto também compartilham o sucesso financeiro da Moon Studios. Se por vezes nós (Mahler e Korol) somos brutalmente diretos em nossas críticas e desafios, nós também somos genuínos nos nossos elogios. Nós estamos incrivelmente orgulhosos de tudo o que construímos e conquistamos juntos.

Por fim apreciamos a ironia que nós — um austríaco e um judeu israelita — começamos este empreendimento multicultural. Vemos cada um como irmãos. E, assim como irmãos, às vezes discutimos e provocamos uns aos outros. Nós fizemos brincadeiras às nossas próprias custas sobre as diferenças em nossas origens — e pode ter havido momentos em que nossas provocações tenham parecido insensitivas e feito os outros se sentirem desconfortáveis.

 A Moon Studios tem prosperado por 12 years. Nós crescemos e aprendemos tanto ao longo destes anos. Nós somos privilegiados por trabalhar com ótimas e extremamente talentosas pessoas. Somos verdadeiramente gratos e orgulhosos da equipe que temos — daqueles que estão aqui hoje e daqueles que gastaram seu tempo na Moon e se mudaram para outros empreendimentos – e estamos felizes de ter feito uma diferença positiva em suas vidas. Não somos perfeitos mas cuidamos muito dos nossos talentos e estamos trabalhando duro constantemente para melhorar. Se nós fizemos alguém ficar desconfortável ou decepcionamos alguém — nós sentimos muito e buscaremos sempre fazer o melhor.”

— Thomas Mahler and Gennadiy Korol

 Relatos dos funcionários

“Nós criamos algo especial e eu sei que a única maneira que fui capaz de conciliar isso foi assistir as pessoas na Twitch e ver outras se sentirem mexidas por isso, e isto foi, efetivamente, parte do meu processo de cura". “Porque talvez meu sofrimento tenha valido a pena porque outras pessoas sentiram algo (jogando). No fim, quero dizer, muitos de nós estávamos esgotados.”
“É um ambiente de trabalho opressivo, certamente. Mas é difícil de identificar algo porque, isoladamente, todos estes incidentes, se eles acontecem uma vez, você poderia imaginar que são coisas pequenas”. “Quando você está lidando com isso por anos, verá a diminuição da saúde mental das pessoas. Posso dizer por mim mesmo, pessoalmente, eu estava muito acabado depois que terminamos. Nunca estive depressiva até aquele momento. Eu perdi a minha paixão pelo meu trabalho porque eles arrancaram isso de mim.”
“A política do no-bullshit (sem besteiras) é para aqueles dois poderem dizer o que quiserem. E sob a desculpa de ‘nós estamos apenas sendo honestos, humanos, nós somos transparentes.’ E se você não pode aguentar isso, talvez este local não seja para você. Você é muito sensível.”
“Thomas [Mahler] é terrível para dar feedback. Ele não sabe como fazer isso”. “Seu feedback é só, ‘Isso está uma m****’. Ele é autodidata e não tem vocabulário para fazer isso.”
“Estes caras são perfeccionistas e tentam fazer o melhor quando podem”. “Eles estão sempre mais focados no que pode ser melhorado ao invés de olhar no que já está bom. Eles também estão, na minha opinião, perdendo a chance de celebrar. Estão perdendo a chance de elogiar as coisas boas. O núcleo da aproximação está correto dentro do que eles estão fazendo, mas talvez elogiar um pouco mais de tempos em tempos seria bom, um pouco mais de celebração poderia ser bom.”
Fonte: GamesBeat

Aventurando-se pelos games desde pequeno (mais do que já sou), sempre admiro as trilhas sonoras, pois ajudam a trazer um tempero, emoções às histórias.


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