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Análise: Jin Conception (PC/Switch) é um conjunto de boas ideias perdidas em um jogo problemático

Mesmo apresentando um bom combate, este RPG possui diversos problemas técnicos que desgastam a aventura.


Jin Conception
é um RPG com elementos de dedução social publicado pelo estúdio indie americano Jin Wave Studio LLC. Com gameplay semelhante a Chrono Trigger, ele apresenta um elaborado sistema de combate e uma história que até desperta a curiosidade, porém a quantidade de problemas existentes faz com que até os mais animados jogadores se estressem em explorar e desvendar os mistérios presentes.

Ressalto que o jogo passou por inúmeras atualizações desde o seu lançamento, com o objetivo de mitigar os bugs e o desbalanceamento do combate, e passar uma melhor contextualização da história. Mas será que essas mudanças o tornaram mais jogável?

Um início confuso

Primeiramente, somos contextualizados brevemente sobre os eventos do jogo em um pequeno texto: três pessoas se encontram na Final Layer (Camada Final) e, de uma hora pra outra, dois deles desaparecem sem deixar rastros. Apenas um retornou do local e diz não se lembrar de nada do que aconteceu.




Após esse pequeno contexto, você passa a controlar Daisy, Max e Keith, que são justamente os três personagens citados no texto. Você se encontra livre para explorar o cenário e combater inimigos, como se fosse um tutorial, porém sem muitas explicações. Eventualmente você encontrará um inimigo poderoso que irá te derrotar com um golpe, encerrando essa parte da história.

Achou minha explicação meio confusa? Imagino que sim. Essa é a sensação inicial do jogo. E lembra que na introdução eu comentei sobre as atualizações que estão ocorrendo com frequência? Antes delas, não havia esse texto com a contextualização, o que tornava tudo pior. Jin Conception apresentou o pior cartão de visitas possível: uma história mal-introduzida e combates sem nenhuma explicação.

Após esse início, você toma o controle de Levi, um jovem que precisa encontrar Jen, que se encontra na Fairy Village, por um motivo qualquer que não é explicado. Então você pode explorar livremente o Center Layer, a parte povoada por humanos na região. Ao conversar com os NPCs, você passa a entender um pouco melhor todo o contexto daquele universo. Logo menos, você descobre que Keith foi o viajante que retornou sozinho da Final Layer e que ele será julgado pela morte de Daisy, filha do rei. Muitos dos diálogos mostram estranheza pela situação, uma vez que Keith não seria capaz de fazer algo assim, segundo eles. 




Em meio a esses diálogos, você descobre que a Fairy Village fica ao sul de Center Layer, podendo partir para seu objetivo de encontrar Jen. Já no local, começam a ser apresentados os sistemas de exploração que serão usados ao longo do jogo. Escondidos no cenário, estão interruptores que devem ser acionados para desbloquear passagens. Em geral, esses interruptores estão ocultos em estátuas, que podem também ser armadilhas com inimigos. Além disso, estão escondidos itens e baús que podem conter dinheiro ou equipamentos.

Após você explorar a vila e encontrar Jen, Gavin, outro personagem importante na história, os aborda e pede ajuda para encontrar o Livro da Verdade para ser utilizado no julgamento de Keith e comprovar sua inocência. É a partir desse evento que o desenrolar da história realmente começa. 

Cenários bonitos e combate bem-elaborado

Os cenários de Jin Conception envolvem o que muitas vezes é padrão em RPGs: vilas, calabouços, florestas, castelos, entre outros. Não é nada muito criativo, porém no geral são todos muito bem-feitos, resgatando visuais semelhantes aos jogos da era 16-bits. Existem muitas cores e detalhes que realmente mostram que os cenários foram feitos com capricho; já os NPCs, nem tanto. Infelizmente, os personagens não jogáveis são genéricos e limitados. Não existe muita variedade de sprites e é possível ver vários iguais em um mesmo cenário.




Em contrapartida, os inimigos, no geral, são bem criativos, além de bem-animados. Cada área do mapa apresenta inimigos específicos, sempre temáticos com o ambiente em questão. A exploração desses cenários envolve os já mencionados interruptores, conversas com NPCs (que são extremamente importantes para obter informações) e combate com inimigos. Seus oponentes podem aparecer de duas formas diferentes: andando normalmente pelo mapa ou em ataques surpresa em locais pré-determinados. Além disso, eles sofrem respawn sempre que você muda de tela, o que é uma ótima oportunidade de aumentar seu nível.

Sobre o combate, não existe nada de muito inovador. Ele consiste em um sistema semelhante ao encontrado em Chrono Trigger. Mas antes de entrar nesses detalhes, explicarei melhor sobre os atributos dos personagens. Sua equipe pode ser composta por até três combatentes, cada um com suas habilidades específicas, classes e equipamentos. Cada integrante possui sete atributos: HP (pontos de vida), JP (Jin Points, equivalente a pontos de magia), Ataque, Defesa, Velocidade, Jin e Resistência.

Antes de continuar, um comentário: Jin é descrito pelo jogo como uma técnica que envolve controlar a energia vital. Algumas pessoas podem aprender a controlá-la e outras não, e o tipo de Jin que você controla determina sua classe, que pode ser Transformer, Defender, Caster, Crafter, Amplifier, Adapter e Weaver.




O combate se resume a ações por turnos, onde seu momento de ataque é determinado por uma barra de ação, que enche entre um ataque e outro. A velocidade em que isso ocorrerá dependerá do seu atributo de Velocidade do personagem em questão. Porém, é possível atrasar seu ataque para realizar combos quando sua party possui mais de um membro. Os ataques especiais consomem JP e sua variedade ocorre de acordo com a classe de seu personagem.

Além disso, existe a possibilidade de infligir condições especiais aos inimigos, como paralisia, sono, maldições, roubo de vida, entre outros. Não é nada muito criativo, mas é um sistema bem competente e interessante para criar inúmeras combinações de ataque. Ao final das batalhas, você receberá experiência pelo combate e dinheiro. Aumentar seu nível permite incrementar seu HP e JP, enquanto a melhoria dos outros atributos é dependente de equipamentos que podem ser achados em baús ou comprados em lojas.

Quem é amigo e quem é inimigo?

Um sistema interessante presente em Jin Conception envolve a mecânica de dedução social. Em uma tela do menu, é possível encontrar imagens dos principais personagens da história e a possibilidade de defini-los como amigo, inimigo, ambos e desconhecido. A opção “desconhecido” é a padrão em todos e está sempre errada. Você pode determinar essa característica em qualquer momento fora de combate, e ela deve ser baseada em informações encontradas ao longo da jornada.




Para cada acerto ou erro, são desbloqueados eventos para o jogador. Essa mecânica é um dos principais motivos que tornam a história de Jin Conception interessante. Ao longo da jornada você cruzará com diversos personagens que têm objetivos comuns a você. Esse sistema te instiga desde o começo, quando você passa a receber informações acerca do julgamento de Keith, e lhe faz conversar com todos os NPCs possíveis, além de prestar muita atenção em todos os diálogos das cutscenes.

Acredito que comentar mais sobre a mecânica e a história pode comprometer a experiência do jogador, então me limito a dizer que essa mecânica foi muito bem utilizada e é muito legal desconfiar de todos ao seu redor.

Um misto de sentimentos

Juntando todas as informações que citei, fica parecendo que Jin Conception é um jogo indie interessante e completo. De fato, as mecânicas citadas possuem muitos pontos positivos e foram o principal motivo de me deixar entretido durante a jogatina. Mas existem alguns poréns.




Primeiro citarei os inúmeros bugs. Existem vários lugares que te fazem ficar preso sem motivo aparente e isso é extremamente frustrante. Passei a ter que salvar a cada minuto para evitar perder meu progresso, como aconteceu algumas vezes. Além disso, é muito comum várias músicas serem executadas simultaneamente, inimigos saírem do cenário durante o combate, bugs visuais nos cenários e crashes em momentos aleatórios.  Ressalto que houve um bug que travou minha barra de ação no máximo e consegui derrotar um chefe com inúmeros ataques consecutivos. Porém desse eu não vou reclamar.

Segundo as informações lançadas com as atualizações, muitos desses bugs estão sendo resolvidos pela equipe de desenvolvimento, além de melhorar o balanceamento do combate e adicionar informações importantes em itens e na história. Quando joguei inicialmente, próximo à data de lançamento, não havia informações sobre os botões que eu deveria utilizar para jogar e nem a contextualização da história que citei no início da análise. Eu simplesmente fui jogado para dentro do jogo sem nada para me guiar. Além disso, o jogo não possui tradução para português, limitando o acesso para quem não tem conhecimento da língua inglesa.

Ao utilizar o teclado, tive que tentar descobrir o que cada botão fazia. Utilizando o controle, fiquei ainda mais confuso, pois todas as ações foram mal mapeadas. Só fui entender os botões quando achei um post do desenvolvedor no fórum no Steam detalhando tudo, inclusive qual botão deve ser pressionado para jogar em tela cheia, já que  o modo padrão é em janela. Essas pequenas decisões tornaram o início de jogo frustrante e cansativo. Atualmente, essas informações já se encontram in-game, mas não poderia deixar de relatá-las, pois minha experiência foi diferente de qualquer jogador que tentar jogá-lo por agora.



Um potencial a ser explorado

Jin Conception é, com certeza, um turbilhão de sentimentos. Ao mesmo tempo que o combate é muito bem-feito e a mecânica de dedução social instiga a curiosidade no jogador, os problemas citados o fazem parecer um jogo em beta. Os inúmeros bugs e decisões equivocadas no game design o tornam cansativo, frustrante e decepcionante.

Existe um potencial escondido em meio aos problemas que parece ser uma luz no fim do túnel. Quem sabe com as constantes atualizações ele se torne, de fato, um bom jogo. No momento, é apenas um RPG que resgata uma experiência dos saudosos jogos da era 16-bit, mas de maneira medíocre.

Prós

  • Combate elaborado;
  • Cenários detalhados e bem-coloridos;
  • A mecânica de dedução social incrementa bem a história;
  • Atualizações quase diárias estão corrigindo alguns problemas.

Contras

  • Ausência de tradução para português;
  • Inúmeros bugs;
  • Crashes constantes;
  • Combate desbalanceado;
  • Descrições limitadas de itens, equipamentos e atributos;
  • NPCs genéricos e com pouca variedade;
  • Péssimo mapeamento de botões no teclado e no controle;
  • História inicialmente confusa e pouco elaborada.
Jin Conception – PC/Switch – Nota: 5.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Jin Wave Studio LLC


Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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