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Análise: Creature in the Well (Multi) combina pinball e exploração de maneira inusitada

Desbrave uma estranha estrutura abandonada neste indie que mescla vários conceitos diferentes.


O conceito principal de Creature in the Well é no mínimo criativo. Em um primeiro momento ele parece uma simples aventura de exploração de calabouço com visão aérea, no entanto o local está repleto de desafios fortemente inspirados em máquinas de pinball. O resultado é um jogo bem diferente e interessante, mas que perde o fôlego com o passar do tempo.

Uma masmorra movida a pinball

Mirage é uma cidade que foi cercada por uma tempestade de areia que nunca acaba por causa de alterações no clima do planeta. Depois de muito estudo, os cientistas descobriram uma solução, e para isso construíram uma imensa máquina nas entranhas de uma montanha. Mas algo dá errado: uma estranha criatura aparece e ataca todos os robôs que foram encarregados de colocar a instalação em funcionamento. Inúmeros anos se passaram e a situação não mudou, até que BOT-C, o último robô-engenheiro que restou, desperta e parte para dentro da montanha para reativar a máquina — tarefa essa que não será fácil, pois a criatura colocou armadilhas em todos os cantos.


Em sua essência, Creature in the Well é um dungeon crawler focado em puzzles. A energia da instalação foi completamente exaurida, afinal ela passou muitos anos desligada. Sendo assim, BOT-C precisa restaurar todos os sistemas do lugar. Para isso, o robô usa um bastão especial para energizar esferas e lançá-las em estruturas desativadas localizadas nas salas. Cada câmara apresenta um puzzle de ação e o objetivo é reativar os mecanismos, que lembram elementos presentes em mesas de pinball — bumpers, barreiras, canhões e mais. 

Creature in the Well utiliza as inspirações de pinball para criar desafios únicos. Nas salas mais simples, o objetivo é simplesmente lançar as bolas de energia nos dispositivos — rapidamente a tela é tomada de esferas rebatendo loucamente nas coisas. No entanto, aos poucos, situações mais elaboradas aparecem. Em um puzzle, por exemplo, temos que lançar as bolas em espaços bem apertados, o que exige precisão na mira. Em outra situação objetos explodem e dão dano ao serem atingidos, logo é importante evitá-los a todo custo. Há também momentos que exigem também velocidade, pois precisamos acertar alvos em sequência num curto intervalo de tempo.


A criatura do poço tenta impedir o progresso do robô com frequência. Na maior parte das vezes o monstro faz ameaças verbais e fica espreitando nas sombras — só conseguimos ver os olhos dele em meio à escuridão. Quando BOT-C está próximo da sala de controle daquela sessão, a criatura interfere ativamente em trechos análogos a batalhas contra chefes: precisamos sobreviver a uma série de desafios complicados para conseguir prosseguir.

Entre a criatividade, repetição e frustração

Creature in the Well pode parecer bem estranho (e de fato é), no entanto ele diverte bastante com a criatividade dos puzzles. Rebater as bolinhas em salas com vários elementos traz a sensação que estamos dentro de uma mesa de pinball, e a ação é bem frenética.

O uso dos conceitos é bem inventivo e há diversidade razoável de situações. Um puzzle, por exemplo, exigia que as bolas rebatessem de uma maneira muito específica, abusando dos ângulos dos objetos para conseguir ativar tudo dentro de um tempo limitado. Em outro enigma, temos “inimigos” na forma de esferas vermelhas que dão dano e objetos que explodem, e como sempre tem muitas bolas rebatendo na tela o desafio é ser rápido e preciso. Outros tacos modificam as habilidades do robô, como adição de mira laser, recuperação de vida ao aparar bolas lançadas por inimigos e um recurso de câmera lenta (o que permite maior precisão na hora de lançar a bola) — os equipamentos oferecem outras opções de estratégia na hora de resolver os enigmas.


O conceito de Creature in the Well é instigante, no entanto o jogo peca com a seleção limitada: os puzzles se repetem e a variedade deles é reduzida. Boa parte dos enigmas é resolvida lançando várias bolas que rebatem loucamente pelos estágios, sendo o ponto alto as partes mais complexas — uma pena que elas são minoria. A estrutura é dividida em diferentes áreas supostamente temáticas, no entanto somente as últimas partes têm mudanças mais significativas nas mecânicas. Por causa disso, fiquei com a sensação de estar fazendo a mesma coisa sempre.

A dificuldade também é problemática e apresenta picos desagradáveis: muitas vezes passei com facilidade por algumas salas para encontrar um desafio extremamente difícil que me fez morrer várias vezes, principalmente na parte final da aventura. O problema acontece por causa de situações que exigem precisão e velocidade altas, mas os controles não dão conta do recado — a mira de lançamento é imprecisa e a esquiva nem sempre responde bem aos comandos. Sendo assim, às vezes é praticamente impossível não acertar os obstáculos que explodem ou ser atingido por lasers fatais, transformando algumas salas em sessões de tentativa e erro. Esses picos fazem com que a experiência seja frustrante, seria muito melhor uma progressão mais balanceada e controles mais precisos.


A beleza no meio do caos

Mesmo se passando em um mundo tomado por uma calamidade, Creature in the Well apresenta ambientação cativante. Isso se dá com o visual em cel shading com cores vibrantes e muito contraste, dando um ar de histórias em quadrinhos ao jogo. Cada área da instalação na montanha conta com uma paleta de cores distinta, o que ajuda a trazer alguma variedade temática ao local, já que as salas apresentam designs extremamente similares.

A trama em si é mais elaborada do que eu imaginava e é contada por meio de arquivos e objetos deixados pelos robôs do passado, com detalhes sobre a estranha tempestade de areia, como a estrutura foi montada e como os operários sucumbiram. A criatura do poço esbanja personalidade com seus diálogos ácidos e movimentação estranha, sendo que ela também dá algumas informações sobre o lugar e sobre o que aconteceu ali. Mesmo assim, a história é ambígua e muitas questões ficam sem resposta no fim da aventura.


Pela aventura, há vários segredos para descobrir. Além de armas com habilidades diferentes, é possível conseguir novas capas para o protagonista — esses itens estão localizados em salas escondidas. Também é possível interagir com alguns poucos sobreviventes e explorar a vila de Mirage, mesmo que não há muito o que ver. A jornada não é muito longa e não existe conteúdo extra.

Inventividade momentânea

Creature in the Well que se destaca ao explorar conceitos de máquinas de pinball na exploração de calabouços. O jogo é repleto de desafios criativos e frenéticos na forma de bolas energizadas que precisam ser lançadas em locais corretos — muitos obstáculos e perigos deixam as coisas bem complicadas. Contudo, o título deixa a desejar ao apresentar puzzles muito parecidos entre si e vários picos de dificuldade frustrantes, o que pode trazer uma sensação de repetição. No fim, mesmo problemático, Creature in the Well é um título instigante e com alguns momentos marcantes.

Prós

  • Mecânicas principais inventivas combinam dungeon crawling e pinball;
  • Alguns puzzles são bem interessantes e criativos;
  • Ótima ambientação com mundo com visual em cel shading.

Contras

  • Pouca variedade de situações traz sensação de repetição;
  • Controles carecem de precisão em alguns momentos;
  • Muitos picos de dificuldade desagradáveis.
Creature in the Well — PC/XBO/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Análise produzida com cópia digital cedida pela Flight School Studio

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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