Mega Drive 35 anos: relembrando o surgimento do 16-bits da Sega

Vamos recordar os primeiros passos da trajetória do mais bem-sucedido console da gigante nipônica.

Em 29 de outubro de 1988, na história dos videogames como os conhecemos até hoje, um dos capítulos mais memoráveis começou a ser escrito. Trata-se da data de lançamento no Japão do console que, batalhando ferozmente com o Super NES, definiu uma geração por meio do surgimento de inúmeros jogos e franquias que reverberam no mundo dos games até hoje: o Mega Drive.


A partir de agora, você irá acompanhar aqui no GameBlast um especial em cinco partes que irá contar mais sobre esse videogame histórico, sua concepção, os títulos que o definiram, a lendária batalha com seu rival e seu legado vivo que perdura até hoje, 35 anos depois. Boa leitura!

Água mole em pedra dura

A Sega, gigante japonesa do ramo dos arcades, tentava já há alguns anos emplacar um console com êxito nos mercados japonês e norte-americano. As dificuldades em enfrentar o gigante Famicom (NES, para o ocidente) fizeram com que a empresa tentasse de várias formas “chegar lá”, utilizando como tática o desenvolvimento sequencial de diversas iterações de videogames para tentar combater o rival.

O primeiro console caseiro da Sega foi o SG-1000, curiosamente lançado no Japão no mesmo dia e ano que o console da Nintendo, em 15 de julho de 1983. Por ter um hardware inferior ao de seu rival e, consequentemente, jogos mais simples, não obteve muito sucesso; mesmo assim, no ano seguinte, a empresa tentou lhe conceder uma segunda chance por meio de um redesign, lançando o SG-1000 II

Vendo que, com o que tinha em mãos, não teria como enfrentar o concorrente que se agigantava no mercado, a Sega voltou às pranchetas e resolveu criar um novo aparelho, com especificações técnicas melhores, sobretudo gráficas, que pudesse bater de frente com o Famicom. Foi o surgimento do Mark III, videogame que serviu de base para o Master System, este que, apesar do êxito no Brasil e Europa, não conseguiu conquistar corações e mentes nos maiores mercados da época, já dominados pelo console do encanador bigodudo e de sua turma.

Apesar de o NES ter sido um sucesso estrondoso, no final da década de 1980 seu poderio gráfico já estava em declínio, não podendo mais reproduzir com fidelidade a experiência dos arcades da época, que faziam muito sucesso com seus jogos cada vez mais dinâmicos e complexos.

Tomando como base sua experiência na área e temendo ser “passada pra trás” por outras candidatas a rival da Nintendo, como a NEC e seu PC Engine, a Sega não jogou a toalha e resolveu basear-se na tecnologia de uma de suas placas de arcade bem-sucedidas à época, a System 16, para desenvolver o sucessor do Master System. No maior estilo “água mole em pedra dura”, mais uma vez outro console surgiria para, quem sabe, conquistar seu devido lugar ao Sol.

Um arcade em sua casa

Os principais chamarizes do Mega Drive, em seu lançamento, eram tanto seu visual arrojado quanto a qualidade gráfica de seus jogos, em comparação com a concorrência.

A aparência externa do videogame foi desenvolvida pela equipe do designer Mitsushige Shiraiwa, que tomou como inspiração produtos de luxo da época, como equipamentos de áudio hi-tech e carros futuristas.

Além disso, bem no topo do console, foi posicionado algo escrito justamente para chamar a atenção: 16-BIT, em letras maiúsculas e douradas, para lembrar a qualquer um que o observasse que, ali dentro, estaria à disposição do jogador a mais alta tecnologia.


Não bastaria apenas propagandear seu poder: as qualidades técnicas, sonoras e de processamento garantiram de fato a presença de títulos com a qualidade que só era vista nos arcades. Foi o caso dos jogos de lançamento do console no Japão, os shooters Space Harrier II e Super Thunder Blade.

Logo, entre 1988 e 1989, surgiriam outros ports de arcades icônicos da desenvolvedora japonesa, como o beat ’em up cooperativo de Golden Axe, a ação desafiadora de The Revenge of Shinobi, e o inesquecível Altered Beast, com suas impactantes cenas de transformações dos protagonistas em monstros.

Dando sequência ao “plano de dominação mundial” da Sega, o Mega Drive foi lançado em 1989 nos Estados Unidos com algumas remodelações visuais, além de um novo nome, Genesis, que, de acordo com David Rosen (antigo CEO da companhia), poderia representar uma “gênese” para a Sega na região, ou seja, um novo começo e uma nova chance.

Todo esse poderio frente ao Famicom e a presença de jogos vindos diretamente dos arcades garantiriam um sucesso tranquilo da Sega em relação a sua rival, certo? Bem, quase que essa estratégia “entrou pelo cano”...

Havia um encanador no meio do caminho

Chega a ser engraçado notar que os caminhos de Sega e Nintendo tenham se cruzado tantas vezes, propositalmente ou não. Foi assim com o lançamento, no mesmo dia, do Sega SG-1000 e do Nintendo Famicom e, de certa forma, seria assim novamente no surgimento do Sega Mega Drive. Dessa vez, porém, não seria um novo console da concorrente o que tiraria o foco do lançamento da (futura) casa do Sonic, mas sim o lançamento de um dos jogos de plataforma mais aclamados de todos os tempos: Super Mario Bros. 3.


Começou a ficar nítido para a Sega que não era apenas o poderio tecnológico de um hardware o fator que levaria os consumidores a comprar um videogame, mas sim a qualidade dos seus títulos, popularidade e carisma dos personagens e mascotes, histórias e desafios que seriam apresentados por meio dos games.

Mesmo tendo desenvolvido até o momento mais de um mascote para chamar de seu (a nave espacial Opa-Opa e, posteriormente, Alex Kidd), a “bola da vez” no momento era o encanador bigodudo, que logo virou ícone pop, aparecendo até nas telonas, por meio do filme "O Gênio do Vídeo Game".

Dessa forma, seria importante para a empresa adotar novas estratégias para fisgar o consumidor para o lado azul da força, e isso iria envolver uma modificação total de como os negócios eram conduzidos em terras norte-americanas, adotando táticas para associar o console aos gostos do público local, sem se esquecer de tentar agradar também aos consumidores nipônicos, à época já muito exigentes.

Próximos capítulos

Em nosso próximo texto iremos saber mais sobre o que foi preciso para que a Sega fincasse sua bandeira firmemente nos Estados Unidos da América com seu Genesis, as estratégias adotadas e o início de uma guerra avassaladora contra o império da Big N. E não, ainda não se trata do surgimento do tal ouriço azul, que todos conhecem e muitos adoram (outros, nem tanto)!
Revisão: Vitor Tibério
Fonte ilustração "16-BIT": Matthew Kenyon
Referências: Sega Retro, GameReport, Blog TecToy ([1], [2]), Retro Gamer Magazine e livro "Console Wars", de Blake J. Harris

Entendo videogames como sendo uma expressão de arte e lazer e, também, como uma impactante ferramenta de educação. No momento, doutorando em Sistemas da Informação pela EACH-USP, desenvolvendo jogos e sistemas desde 2020. Se quiser bater um papo comigo, nas redes sociais procure por @RodrigoGPontes.
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