Blast from the Past

Relembrando Harry Potter and the Half-Blood Prince (Multi), um dos melhores jogos da série antes de Hogwarts Legacy

Lançado há 14 anos, como a adaptação do sexto filme para os videogames se saiu comparado a Hogwarts Legacy?

Muitas pessoas conheceram a série por seus livros e suas adaptações para o cinema, algumas pessoas (como eu) conheceram Harry Potter através das obras adaptadas para os videogames. A primeira trilogia dos jogos principais, que adaptava os três primeiros filmes, oferecia uma versão diferente para cada plataforma. Philosopher’s Stone, por exemplo, dispunha dessas versões:
  • PlayStation: tinha vários elementos de 3D platformer;
  • PC: um action-adventure ao estilo Zelda com progressão baseada em dungeons e que, no final de cada dungeon, Potter consegue uma magia que o faz progredir para a próxima dungeon até o boss final;
  • Game Boy: trata-se de um RPG;
  • Game Boy Advance: jogo com diversos quebra-cabeças, basicamente um puzzle game.
Concluindo a segunda trilogia de Harry Potter no cinema e nos games, Half-Blood Prince veio com uma abordagem diferente dos jogos da trilogia anterior. O jogo traz uma exploração mais imersiva e interessante comparada ao título anterior. Apesar da direção de arte mais realista comparada ao estilo mais cartunesco da trilogia anterior, o visual se manteve bem mesmo para o PlayStation 2. Várias abordagens diferentes foram exploradas ao longo dos anos. As diferentes versões na primeira trilogia e Goblet of Fire (que trouxe um game design totalmente diferente dos outros jogos) experimentaram bastante para uma saga que tão claramente se encaixaria no gênero RPG.

Isso nos traz a Hogwarts Legacy, lançado no dia 10 de fevereiro de 2023, o RPG de ação dirigido por Alan Tew e desenvolvido pela Avalanche Software. Para muitos, essa foi a porta de entrada para o mundo de Harry Potter nos games, já que, por problemas de licenciamento, esses jogos mais antigos não estão disponíveis para compra hoje em dia. Trarei aqui alguns detalhes de alguns dos jogos anteriores, com foco em Half-Blood Prince e algumas comparações com Hogwarts Legacy.

Antecedentes da saga e a base para Half-Blood Prince

Em Goblet of Fire, os jogos passaram a ser lançados para menos plataformas (Chamber of Secrets foi lançado para oito plataformas, por exemplo) e passaram a ser mais padronizados. Apenas o Game Boy Advance e o Nintendo DS receberam versões diferentes (comuns entre si). A questão foi que essa mudança não foi apenas na distribuição: Goblet of Fire se tratava de um shooter com visão isométrica, abordagem que foge totalmente das aventuras que tínhamos até então. E isso nos traz até Order of the Phoenix.

Lançado em 2007 (um mês antes do filme), Order of the Phoenix trouxe o caráter de aventura de volta para a saga e construiu, praticamente, toda a base que Half-Blood Prince precisava para melhorar e se tornar um dos jogos mais interessantes de Harry Potter já lançados. Após ouvir o feedback da crítica e dos jogadores, o próximo jogo pôde melhorar em diversos níveis, trazendo uma experiência bem mais sólida e divertida aos jogadores, com escolhas de game design que servem de exemplo até hoje. Então, buscarei aqui apresentar os principais pilares de game design de Half-Blood Prince, junto a suas principais qualidades, para que os jogadores de Hogwarts Legacy possam comparar e compreender as semelhanças e particularidades desse clássico da saga principal de jogos de Harry Potter.

Aventurando-se por Hogwarts

Como o jogo anterior era quase um walking simulator e a estrutura das missões era, basicamente, andar para lá e para cá falando com as pessoas e convencendo-as a ir até à Room of Requirement, a equipe decidiu trocar essas escolhas de game design por uma variedade maior de tarefas, bem como uma forma mais imersiva de guiar o jogador por Hogwarts. Em Order of the Phoenix, o jogador marcava no mapa o objetivo da missão e algumas pegadas apareciam no chão para guiá-lo. Em Half-Blood Prince, temos a presença de Headless Nick em que, a cada vez que o jogador o evoca (tem um atalho apenas para isso), ele leva Harry até seu objetivo vigente enquanto conta detalhes da lore, personagens e sobre a própria missão na qual está guiando Harry.

Um dos principais pilares para a atmosfera trabalhada no jogo é a trilha sonora de James Hannigan, bem como o trabalho de sound design de James Slavin (que trabalhou na saga Battlefield desde o 4 até o V e em Mirror's Edge: Catalyst no mesmo cargo). Remetendo às composições de Jeremy Soule (que também tem suas composições presentes) para a saga de jogos (sim, o mesmo compositor de Skyrim e da saga The Elder Scrolls), é impressionante como o compositor conseguiu transmitir todo o sentimento da trilha sonora original da saga composta pelo grande John Williams (compositor de outras trilhas marcantes como as de Indiana Jones, Star Wars e, uma das minhas favoritas, Jurassic Park).

Apesar de Philosopher’s Stone, de PlayStation, ser baseado no livro (o primeiro filme ainda não havia sido lançado), todos a partir dele foram baseados nos filmes (o primeiro jogo recebeu um remake baseado nos filmes para os consoles de 6ª geração em 2003). Dito isso, é importante denotar a fidelidade da ambientação com os filmes: cada quadro falante, cada contexto comentado por Headless Nick, cada parte do mapa que remete ao universo dos filmes. Todo esse trabalho de adaptação foi feito, também, por Richard Castle (que trabalhou na trilogia The Dark Pictures Anthology e Until Dawn), lead world artist do jogo, que buscou ampliar a Hogwarts que vimos em The Order of the Phoenix através de mais atividades (como o sistema de poções, por exemplo) e de aprimoramento dos sistemas vigentes no título anterior (como o sistema de combate).

Como as magias funcionam?

Similar a quando o jogador está aprendendo uma magia em Hogwarts Legacy, aqui é necessário que o jogador use o analógico para conjurá-las, com a diferença de que, aqui, toda vez que o jogador quer usar alguma magia, ele precisa fazer um movimento específico usando o analógico direito. Essa foi uma das principais melhorias que Kris Beaumont (engenheira de gameplay que também trabalhou na trilogia The Dark Pictures Anthology) e sua equipe trouxeram se comparado ao título anterior, já que os braços do Harry se mexiam como se não tivessem ossos e os controles eram muito pouco responsivos. Aqui não há sistemas de RPG (o RPG na saga principal se foi junto com os ports de Game Boy original/Color) e o jogador vai ganhando os feitiços com o tempo enquanto progride na história. Esses feitiços serviram tanto para combate quanto para completar algumas tarefas (como usar incendio para ativar os fogos de artifício e anunciar a festa do Professor Slughorn) e, apesar de serem poucos, são todos diferentes entre si e cada um é introduzido no tempo certo, trazendo sempre uma nova forma de interagir com o mundo e com as pessoas (caso seja possível usar em combate).

Diferente do combate de Hogwarts Legacy que segue algo similar a Zelda (mas, em vez de bater com espada, o jogador usa magia), o sistema de combate é ainda mais simples que o título mais novo: o combate é feito através de duelos com um ou mais inimigos. A câmera fica travada sobre o ombro de Harry e o jogador escolhe qual inimigo vai atacar. Os ataques funcionam do mesmo jeito: cada movimento específico no analógico irá conjurar uma magia diferente. O jogador ainda pode desviar ou usar magias de defesa. Sistema simples, mas divertido.

Aqui tem Quidditch!

Apesar de Hogwarts Legacy não ter Quidditch, a maioria dos jogos da série principal conta com o clássico esporte criado por J.K. Rowling. Em quase todos os jogos, trata-se de um rail shooter, mas sem shooting. Algo similar a Superman 64 (mas sem os controles terríveis), em que o jogador tem que passar por anéis para concluir a fase (mesmo que não seja através do Quidditch, todos os jogos têm uma fase assim, praticamente). Durante a partida, o jogador controla Harry tentando buscar a Golden Snitch. Quanto mais anéis o jogador atravessa, mais rápido ele fica. Depois de passar por diversos anéis, Harry consegue a Golden Snitch e o jogo se encerra.



Vale a pena voltar para a Hogwarts da 7ª geração?

Para mim, a ambientação e a atmosfera construídas por Richard Castle são ímpares comparadas aos outros jogos da saga e até a jogos de outros gêneros. O fato de boa parte da base dessa ambientação/atmosfera já estar pronta (por vir dos filmes) pode ter sido um facilitador, porém, através da trilha sonora autoral, por exemplo, o jogo complementa toda a experiência em Hogwarts que os fãs tiveram nos filmes. Apesar de curto, para aqueles que terminaram Hogwarts Legacy e ficaram com um gostinho de quero mais, recomendo dar uma chance para Half-Blood Prince (e por que não para os outros jogos da saga?). Só cheque qual versão você vai jogar, já que, como eu disse, na primeira trilogia cada versão é diferente. E para aqueles que ainda não jogaram Hogwarts Legacy, podem se aquecer com este título também. É uma boa forma de reviver a história dos filmes (caso revisite os outros jogos também) e se preparar para as referências disponíveis no título mais recente.

Gameplay capturada por Grayson Gameplays
Revisão: Ives Boitano

Graduando em Geografia, fotógrafo e colecionador de retrogames. Depois de ser introduzido aos JRPGs em 2021, tem desbravado as fantasias nipônicas da Square Enix, Nintendo, Falcom, entre outras. Alguns jogos me chamam atenção pelos motivos mais aleatórios possíveis (como o chocobo na cover art de FFV), enquanto outros apenas por ter menos 30h de duração. Acompanho o trabalho de artistas como Fumito Ueda, Miyazaki, Shimomura, entre outros. Fotografias virtuais, clipes e screenshots de quase tudo o que jogo podem ser encontrados no meu Twitter; Alguns ensaios e prévias podem ser checados no Medium; Tudo o que jogo, joguei e vou jogar (bem como várias listas) está disponível no Backloggd.
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