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Análise: Wonder Boy Collection (PS4/Switch) é um belo registro histórico, mas poderia ser mais generoso

A franquia icônica da Sega vem representada em uma coletânea com o seu suprassumo, mas que restringe o alcance de todo seu acervo.

A ININ Games, especialista em resgatar títulos dos anos 1980 e 1990 em ports para as gerações atuais, decidiu trazer uma franquia clássica da época dourada da Sega em peso. Wonder Boy Collection reúne os quatro primeiros títulos dessa série que reúne os primeiros traços da combinação de plataforma, fantasia e uma pitadinha de RPG para dar graça.

As crianças-maravilha no mundo dos monstros

Para compor esta coletânea foram escolhidos quatro títulos, nas suas principais versões da época:

Wonder Boy (1986) — Arcade:  A namorada do Wonder Boy, Tina, foi capturada pelo malvado King. Ao percorrermos as fases, devemos coletar frutas para manter nossa energia cheia, além de lidar com inimigos. Podemos arremessar martelos e ainda usar outros itens para prosseguir, como um skate e a ajuda de uma fada. Em 2019, recebeu o remake Wonder Boy Returns Remix.

Wonder Boy in Monster Land (1987) — Arcade:
  A paz no Wonder World é interrompida por um dragão que traz consigo um bando de monstros, transformando o lugar na Terra dos Monstros. O Herói Book deverá derrotar essas criaturas, e seu líder, para trazer de novo a calmaria ao Wonder World. Além de contar com a ajuda de itens mágicos e feitiços, o jogador terá que lidar com um limite de tempo para concluir cada fase. 

A versão 8-bit deste título ficou muito famosa no Brasil por ter servido de base para o célebre Mônica no Castelo do Dragão, lançado para Master System em 1991.

Wonder Boy in Monster World (1991) — Mega Drive/Sega Genesis:
No controle de Shion, e com a ajuda dos espíritos Priscilla, Hotta, Shabo e Lotta, siga em uma jornada para combater o vilão BioMeka e seu exército de monstros. Assim como no título anterior, é possível coletar moedas e comprar armaduras, armas, itens e magias pelas lojas no caminho e assim facilitar sua vida.

Monster World IV (1994) — Mega Drive/Sega Genesis:
A primeira protagonista feminina da franquia é Asha, que precisa libertar os quatro espíritos aprisionados por feiticeiros malévolos. Além do já conhecido esquema de comprar melhores equipamentos para avançar na aventura, também contamos com Pepelogoo, nosso companheiro de jornada que nos dá uma força em diversos momentos-chave. Em 2021, foi lançado o remake Wonder Boy: Asha in Monster World.

Mesmo que cada um já tenha um certo tempo de idade, a jogabilidade foi muito bem preservada, para o bem e para o mal. Isso quer dizer que, apesar dos controles responderem muito bem aos comandos, alguns jogadores podem ter problemas ao se adaptar com o tempo de pulos mais longos. É estranho, mas muito comum para a época deles.

Por mais que esses jogos já tenham sido relançados em diversas outras coletâneas e lojas virtuais nas gerações anteriores, este compilado traz o padrão que a ININ Games tem colocado nos seus ports atuais, como a melhoria nas imagens, os filtros de tela, o recurso de Rewind (rebobinar) e a opção de slots de salvamento separados por jogo, para que cada um tenha seus espaços organizados. Exemplos de como isso funciona podem ser encontrados em Gleylancer, Gynoug, Panorama Cotton e Clockwork Aquario.

Além dessas facilidades, também é possível deixar a tela no formato que mais lhe agradar. Estão presentes a disposição normal (no centro da tela), uma que se estende da extremidade superior até a inferior (4:3) e a que preenche o ecrã inteiro (16:9). Sem contar que, para os mais nostálgicos, também há os filtros que podem deixar os pixels mais suavizados ou emular o visual das antigas televisões de tubo, com suas bordas arredondadas e scanlines.

Por fim, uma modesta galeria está disponível, mostrando belas gravuras dos protagonistas. É sempre bom ver os conceitos artísticos e inspirações por trás de uma franquia tão rica e criativa como a de Wonder Boy. Particularmente falando, seria interessante incluírem pelo menos uma jukebox com as músicas principais de cada jogo, mas pelo menos é melhor que nada.

A única coisa que não foi incluída dessa vez é a opção de cheats (trapaças). Não é nada significativo de fato para quem quer aproveitar a jogatina. Além disso, ainda é possível fazer os macetes da época do Mega Drive, o que torna tudo mais nostálgico.

Túnel do tempo incompleto

Curiosamente, o principal defeito de Wonder Boy Collection está na sua estratégia de lançamento. Foram escolhidos estes quatro títulos, que simbolizam muito bem a trajetória de 35 anos da franquia e formam uma lista sólida para quem gostaria de conhecer ou revisitar esse universo encantado. Entretanto, fica a questão: “será que daria para colocar mais alguns?”. E a resposta é sim, inclusive não só é possível, como foi feito, mas essa regalia é para poucos.

Quem quiser se aventurar a importar a versão física comemorativa da loja da Strictly Limited Games, vai poder contar com não quatro, mas sim seis jogos diferentes, pois há a inclusão de Wonder Boy III: Monster Lair e Wonder Boy The Dragon’s Trap. Contando as versões Arcade, 8-bit, 16-bit e portáteis disponíveis de cada um, são 21 títulos ao todo. Pequena diferença para o digital, não?

Uma medida parecida já havia sido tomada no lançamento do remake Asha in Monster World, na qual quem comprasse a versão física receberia um código para baixar a versão original. Entendemos que é comum a prática de dar um agrado extra para quem compra as versões mais caras ou pacotes turbinados dos jogos, mas 17 títulos de diferença é muito absurdo. Seria mais prudente que deixassem a versão base com uma versão de cada título e os ports repetidos para quem optasse pelo pacote exclusivo.

Uma coletânea quase maravilhosa

A ideia de trazer uma franquia clássica à tona com Wonder Boy Collection sempre é bem-vinda. Ela mostra como alguns jogos taxados de antigos ainda podem divertir bastante o público e ainda mostrar o porquê serviram de inspiração para outros tantos jogos. Entretanto, saber que a experiência, que poderia ser muito mais rica, foi limitada a pouquíssimos compradores, realmente é algo bem indigesto.

Prós

  • A jogabilidade envelheceu muito bem para os dias de hoje;
  • Diversas opções de filtros de imagem para emular os anos 80 e 90;
  • Recursos de rewind e save state podem dar uma boa ajuda para os novatos.

Contras

  • Ter cinco vezes mais títulos na versão importada do jogo realmente é uma bola fora.
Wonder Boy Collection — PS4/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise feita com cópia digital cedida pela ININ Games

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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