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Análise: Clockwork Aquario (PS4/Switch) é um simpático projeto que demorou a ver a luz do dia

Conheça a história de um jogo esquecido há quase 30 anos, finalmente terminado, que apresenta um retrato da década de 1990.

A década de 1990 é lembrada por nós pelo lançamento de consoles e jogos que marcaram a época e se tornaram referência para produtos que vemos até hoje. Os imortais Super Nintendo e Mega Drive travaram uma das mais acirradas e agressivas guerras mercadológicas da história moderna disputando, jogo a jogo, bit a bit, a preferência dos consumidores por seus sistemas e títulos que são lembrados e celebrados até hoje.


Nossa história tem como protagonista um jogo que, por pouco, acabou não participando desta icônica época, ficando esquecido em uma gaveta por quase 30 anos até ser reencontrado, finalizado e finalmente lançado para cumprir seu papel. Nesta análise vamos contar a história e falar um pouco sobre a experiência de Clockwork Aquario.

Senta que lá vem a história

O ano é 1991, e uma antiga desenvolvedora parceira da Sega chamada Westone iniciou o projeto de seu mais recente título, que seria lançado para a placa System 18. O jogo estava sendo desenvolvido pelo então chefe de publicação e co-fundador do estúdio, Ryuichi Nishizawa, e o plano era lançá-lo no ano seguinte, o que nunca aconteceu. O estúdio ficou conhecido na época pelos jogos das séries Wonder Boy e Monster World.

Em 2017, a Strictly Limited Games soube da existência do projeto e adquiriu os direitos de Clockwork Aquario, com o intuito de finalizar o desenvolvimento do jogo e enfim lançá-lo como forma de honrar o legado da Westone. Para isso, o desenvolvedor Ryuichi Nishizawa, e o compositor original, Shinichi Sakamoto, foram chamados pela ININ Games, que atua como uma empresa irmã da Strictly, para ajudar a finalizar seu trabalho e finalmente entregá-lo para o mundo.

No último dia 14 de dezembro de 2021, Clockwork Aquario finalmente foi lançado da forma como foi originalmente pensado, exceto que ao invés de ser lançado para os arcades, está disponível para os consoles PlayStation 4 e Switch. Nichizawa deu a seguinte declaração sobre o projeto:
“Nos anos 90, quando os fliperamas eram dominados por jogos de luta, havia um título que nunca havia sido lançado, embora tenha sido concluído após mais de dois anos de desenvolvimento e repetidas mudanças. Este título é Clockwork Aquario. Quem teria pensado que seria restaurado e se tornaria jogável novamente? Gostaria de expressar meu sincero respeito e gratidão àqueles que trabalharam tanto para restaurá-lo. Não acho exagero dizer que este trabalho é uma grande obra de arte 2D, em que os artistas da época colocaram seus corações e almas. Eu ficaria feliz se as pessoas apreciassem e gostassem."
Para coroar a história, o Guinness reconheceu o recorde mundial de Clockwork Aquario de maior tempo entre o início do projeto e o lançamento de um jogo

Inserindo fichas virtuais

Com o projeto finalizado e lançado, agora temos a experiência ímpar de experimentar algo que foi essencialmente feito para aquela época sendo lançado em pleno ano de 2021, em que o comportamento dos jogadores e o tipo de experiência que procuram é bem diferente de 1992. Sendo assim, já tenha em mente que estamos falando de um jogo extremamente simples, mas nem por isso medíocre ou mal feito.

Clockwork Aquario é uma aventura do gênero plataforma para até dois jogadores em que devemos atravessar cinco estágios repletos de inimigos e obstáculos até o embate final contra o vilão, Dr. Hangyo, que deseja dominar o mundo. Sim, bem clichê, mas é o suficiente para guiar a história.


Para deter o nefasto, porém visualmente simpático, vilão, três heróis deverão atravessar diversas localidades para deter seus lacaios e planos até o duelo derradeiro em sua fortaleza: Clockwork Aquario. Huck é o mais balanceado e fácil de jogar do trio. Elle, a garota do grupo, tem como vantagem sua velocidade de movimento, que é ligeiramente maior, enquanto Gush, o brutamontes robótico do grupo, peca pela velocidade, mas compensa pela sua área de ataque ser levemente maior.

Os três heróis contam com o mesmo esquema de habilidades para enfrentar os inimigos: um tapa que os deixa atordoados, possibilitando que sejam usados como projéteis contra outros inimigos ou objetos. Também dá pra pular sobre suas cabeças para deixá-los vulneráveis e usá-los como armas, se assim o jogador preferir. Balões estão espalhados pelas fases e premiam o jogador com pontos adicionais ao estourá-los. A cada 50 mil pontos o jogador ganha uma vida extra.


Cada um pode sofrer até dois pontos de dano e, quando machucado, ao tomar um generoso gole de uma poção — que mais parece uma jarra de suco daquela marca barata que você tem que colocar quase um saco inteiro de açúcar para adoçar — a saúde do herói é restaurada. Vidas extras são obtidas ao coletar 10 diamantes, oriundos dos balões e ao derrotar inimigos, e um item em forma de estrela proporciona invencibilidade temporária e um ataque à distância bastante útil e poderoso.

A jogabilidade simples é acompanhada de uma trilha sonora bem animada para cada estágio, fielmente reproduzida como nos jogos de antigamente, com sons estridentes e sintetizados. O visual pixelado fecha o pacote com aquela assinatura de que realmente estamos jogando um título da década de 1990, com uma arte bem simples e colorida, mas muito bem animada, como um desenho animado.

Aqui, Clockwork Aquario pode ser jogado de vários modos diferentes, mas no fim das contas são todos iguais. São eles:
  • Training: vidas infinitas, mas o jogo acaba após a segunda fase;
  • Easy: termine o jogo com, no máximo, 9 créditos;
  • Normal: termine o jogo com, no máximo, 5 créditos;
  • Hard: termine o jogo com, no máximo, 3 créditos;
  • Arcade: a experiência original de Clockwork Aquario, permitindo ajustes na placa do jogo e colocar quantos créditos quiser.

Por fim, um sexto modo permite jogar a fase bônus, que só está disponível ao jogar de dois, que no jogo original situa-se após a terceira fase. Não há outros modos para agregar mais valor ou vida útil ao jogo, como um modo de tomada de tempo, alteração de regras, dificuldade ou ordem das fases.

Reproduzindo o sentimento noventista

A ININ Games, só neste ano, já trouxe vários relançamentos de jogos antigos, muitos deles com análises já feitas aqui no GameBlast, como Turrican Flashback, Gynoug, Gleylancer, 100% Cotton e Panorama Cotton. Todos eles contam com o mesmo motor de emulação que proporcionou levar estes jogos de volta para os sistemas atuais.


A emulação de Clockwork Aquario conta com os mesmos ajustes visuais de seus “irmãos”, permitindo que seja jogado com a tela em 4:3, a original, ou num esquema mais esticado, mas ainda na mesma proporção, preenchendo apenas a áreas superior e inferior da tela. Linhas de varredura (scanlines) e a curvatura dos cantos da tela também podem ser ativados para simular a experiência de jogar em uma TV de tubo, com alguns ajustes finos destas características para deixar a tela ao gosto do freguês.

Diferente dos demais jogos lançados com essa proposta pela ININ, em Clockwork Aquario não temos alguns “extras” como mudar a paleta de cores ou até mesmo desativar o HUD. Os compartimentos de salvamento (save states) e o botão para rebobinar (rewind) também não estão presentes. Acredito que a decisão de não incluir essas funcionalidades tenha sido tomada com intuito de não gerar conflito com a ideia da Strictly de que esta é a experiência original sendo disponibilizada pela primeira vez na história, mesmo que em forma de emulação.


Ao invés disso, foram adicionados outros “mimos” na forma de uma rica galeria, o que inclui artes conceituais originais de 1991, e uma trilha sonora remixada das músicas originais, incluindo algumas faixas inéditas, todas sob curadoria de Sakamoto. O chato é que novamente, talvez por conta do conflito que citei no parágrafo anterior, não temos outras coisas para agregar mais valor ao pacote, como a possibilidade de usar as músicas remixadas no jogo original. Seria um bônus interessante.

Fechando, também deixo o relato de problemas no registro dos troféus no PS4. Alguns, mesmo realizando os requisitos mais de uma vez, não estão sendo registrados, principalmente os relacionados à conclusão do jogo.

Uma peça histórica que podemos jogar

Como jogo, Clockwork Aquario é um produto claramente datado com pouquíssimo espaço neste mundo moderno e extremamente inflado de jogos sendo lançados quase que diariamente, algo inimaginável para a época em que foi concebido. Entretanto, é uma valiosa peça histórica de um período que deixa saudades, e ainda inspira quem desenvolve e produz jogos nos dias de hoje.

Prós

  • Bastante simples, mas honestamente divertido;
  • Historicamente, um fiel retrato dos jogos da década de 1990;
  • Visualmente bonito e com trilha sonora empolgante;
  • Galeria com conteúdo valioso e interessante.

Contras

  • Extremamente curto, podendo ser finalizado em cerca de meia hora;
  • Nenhum modo extra para agregar mais valor ou aumentar sua vida útil;
  • Algumas funções típicas em emulação ausentes, como save states e rewind;
  • Problemas no registro dos troféus no PS4.
Clockwork Aquario — PS4/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PlayStation 4
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise feita com cópia digital cedida pela ININ Games

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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