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Análise: Gleylancer (Multi) — O retorno de um clássico dos 16-bits

Mesmo sem trazer grandes aditivos que justifiquem essa volta, o título ainda se mostra bastante bonito e divertido para os consoles atuais.

Estamos em um momento da indústria dos games em que nomes do passado, sejam clássicos ou títulos mais obscuros, estão saindo do ostracismo e reconquistando sua fama em meio ao público. A bola da vez é o nostálgico Gleylancer (ou Gley Lancer para os mais puristas), de 1992, que chega para PlayStation 4, PlayStation 5, Nintendo Switch, Xbox One e Xbox Series X|S.

Este voo do Mega Drive para a atual geração de consoles pode parecer um tanto quanto desnecessário depois de tantos anos. Porém, Gleylancer é mais um jogo que finalmente ganha uma versão americana oficial após anos de exclusividade na Terra do Sol Nascente, graças à Ratalaika Games, publisher conhecida por trazer diversos títulos nos estilos 8-bit e 16 bit.

Antes disso, ele só havia sido portado para o Virtual Console do Nintendo Wii, em 2008. Mesmo nesta versão, as legendas em inglês para as animações foram incluídas separadamente, em uma espécie de manual virtual. Houve um patch de inclusão de legendas feito por fãs, mas ele era ilegal por motivos óbvios.

Salvando o papai

O ano é 2025 e uma guerra espacial está acontecendo entre a Terra e uma raça alienígena desconhecida. O Almirante Ken, líder da Marinha da Federação da Terra (Federation Navy) e um dos oficiais com o posto mais alto, é capturado e teleportado pelos inimigos intergalácticos. 

Lucia, sua filha e uma cadete de apenas 16 anos, entra em desespero e, em um ato de bravura - e inconsequência -, pega emprestado o protótipo de combate CSH-01-XA "Gley Lancer" (daí vêm as confusões com a grafia do nome do jogo, que no japonês original era “Grey Lancer”, mas um erro de tradução trocou o “r” pelo “l”). Assim, ela sai combatendo inimigos a bordo da poderosa nave, correndo contra o tempo para resgatar seu pai e ajudar a salvar o planeta.

Tudo bem que a história não é a mais criativa possível, até porque essa trama é um clichê bem básico da maioria dos shoot ‘em ups da época. Entretanto, devemos dar crédito para como a aventura é contada, através de cutscenes muito bonitas, o que era uma marca registrada de alguns títulos da Sega naqueles tempos, como Phantasy Star IV e Gaiares.

Nada muito demais, mas nada muito de menos

Este port de Gleylancer não traz melhorias gráficas ou sonoras, se comprometendo apenas a entregar a mesma experiência daquela época. É pouco, em vista do que alguns remasters e remakes fizeram nos últimos anos, mas não diminui em nada o fato deste título ainda oferecer uma diversão bastante consistente para quem é fã dos “jogos de navinha”, com visuais bacanas e músicas icônicas.

As animações de abertura e encerramento continuam muito bonitas, mesmo com seus quase 30 anos de idade, e agora elas contam com legendas oficiais em inglês, para quem deseja entender melhor a interação entre os personagens. Os mais saudosistas, se quiserem, podem manter as legendas em japonês.

Outra funcionalidade positiva é a disposição da tela. Assim como em diversas outras coletâneas, podemos emular o ecrã em seu estilo original, com scanlines e bordas arredondadas, no melhor estilo televisão de tubo, além de poder deixar tudo mais limpo. A diferença é que Gleylancer se adapta muito bem tanto no seu formato original, de 4:3, quanto no widescreen, de 16:9. 

É possível escolher uma disposição no centro da tela; outra que preenche o espaço de cima a baixo, deixando cantos “mortos” apenas nas laterais; e uma terceira, que se estende por todo o ecrã. Geralmente essa segunda configuração é a preferida, uma vez que a ação fica num tamanho bom e sem perder a proporção original, como geralmente acontece no widescreen. Um exemplo disso é Darius, que trouxe as mesmas opções em seu port, mas tudo ficou horrorosamente esticado.

Entretanto, por ter vindo da geração dos 16-bits, Gleylancer se adequa muito bem à disposição 16:9. Isso é muito benéfico, já que não existe mais nenhum tipo de upgrade visual disponível.

Já a jogabilidade ganhou um temperinho extra. O grande diferencial deste título para os demais shooters da época era que ao longo das 11 fases os power ups coletados orbitavam em volta da nave, como dois canhões auxiliares. Podíamos inclusive escolher o seu direcionamento entre sete formações possíveis. Durante o jogo, eles se comportam de acordo com o movimento da nave e a opção escolhida, podendo auxiliar na direção dos nossos disparos, cobrir nossa retaguarda atirando na direção oposta ou orbitar à nossa volta.

O controle dessas torretas extras pode parecer complicado, mas o uso dos analógicos veio para ajudar, e muito. Com o esquerdo, controlamos a nave, fazendo com que ela dispare sua arma principal automaticamente, sem precisarmos pressionar outro botão. Enquanto isso, o direito serve para controlar os disparos auxiliares livremente, o que ajuda em muito a exterminar as ondas de inimigos mais rapidamente.

Por fim, foi adicionada uma função de rebobinar. Como o nome denuncia, ela volta alguns segundos no tempo e permite que o jogador refaça suas ações. Isso é uma mão na roda para quem está sofrendo demais pelo caminho.

Se esses recursos não forem suficientes na busca pelo Almirante Ken, ainda tem mais um. O infame Cheat Mode foi adicionado para ser usado livremente e, como todo bom jogo dos anos 1990, ele deixa você escolher as fases, a dificuldade, o tipo de arma, a quantidade de vidas, velocidade e até a famigerada invencibilidade. Tudo isso sem precisar de código na tela inicial.

Um conteúdo que sempre acaba fazendo falta é uma galeria. Visto que se trata de um jogo de Mega Drive/Sega Genesis, seria muito interessante ter um visualizador virtual do cartucho, da caixinha e do manual, que eram um conjunto icônico e muito bonito das cópias físicas daquela geração.

Uma lembrança gostosa

Gleylancer é um daqueles seletos clássicos que até quem não jogou já ouviu falar. Apesar dele ser apenas mais um port em meio a inúmeros que já existem, o que pode contar a seu favor para um público bem específico é que ele segue o padrão Ratalaika —  ou seja, é um jogo que diverte, tem custo baixo se comparados a outros de mesma proposta e também garante aquela platina fácil para os trophy hunters de plantão, além de ser uma pérola dos anos dourados do Mega Drive.

Prós

  • Mesmo com quase 30 anos de idade, o jogo se mantém divertido;
  • Jogar com os dois analógicos é bem mais dinâmico;
  • A adequação ao widescreen se encaixa perfeitamente;
  • Ter um menu de cheats é sempre divertido.

Contras

  • O jogo não vem acompanhado de melhorias visuais ou sonoras;
  • Poucas opções extras;
  • Ausência de uma galeria.
Gleylancer — PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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