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Análise: Turrican Flashback (PS4/Switch) traz muita ação em um pacote fraco em conteúdo

São quatro games da década de 1990 que fortalecem a nostalgia dos jogos de ação em plataforma da época, mas têm custo-benefício questionável.


Turrican é uma série de jogos de ação em plataforma que fez sua história com dois jogos lançados para o computador Amiga no início da década de 1990. O título se destaca por trazer uma jogabilidade bastante ágil e frenética desenvolvida por Manfred Trenz e embalada por uma icônica trilha sonora composta por Chris Huelsback. O compositor, de origem alemã assim como o estúdio responsável pela criação do game, a Factor 5, passou a ser o responsável pela trilha dos jogos da franquia quando foram portados para o computador Amiga em 1990. A primeira versão de Turrican foi desenvolvida para o Commodore 64.



Foi no Amiga que Turrican ganhou popularidade e notoriedade por conta de seus méritos técnicos, apresentando uma qualidade bem superior à de muitos títulos lançados na mesma época não só para a plataforma, mas também em outras da época, como o próprio Commodore 64, o Atari ST e o Mega Drive.


Com o passar dos anos, a popularidade da série foi crescendo, principalmente fora da Europa, fazendo com que mais games da franquia fossem desenvolvidos e recebessem elogios de editores e jogadores ao redor do mundo. Em 2021 temos a oportunidade de reviver um pouco desse legado com Turrican Flashback, um pacote que traz quatro títulos da série para que possamos experimentar um pouco da ação criada pela Factor 5, que se tornou uma referência no gênero de ação em plataforma.

Revivendo a ação

Turrican Flashback é composto por quatro títulos distintos, que apresentam bem a evolução do personagem principal com o passar dos anos:
  • Turrican (Amiga), de 1990
  • Turrican II: The Final Fight (Amiga), de 1991
  • Mega Turrican (Mega Drive), de 1994
  • Super Turrican (SNES), de 1993
Com jogabilidade semelhante nos quatro jogos, assumimos o papel de um guerreiro espacial que faz uso de uma armadura tecnológica chamada de Turrican Suit. O traje proporciona ao usuário a capacidade de executar ações especiais, como se transformar em uma bola, semelhante à Morph Ball de Samus em Metroid, e empunhar um poderoso rifle que pode ser equipado com diferentes tipos de armamento, como tiros múltiplos, lasers com alto poder ofensivo e projéteis capazes de ricochetear em superfícies sólidas, como paredes.


Um poderoso ataque especial no formato de onda também faz parte do nosso arsenal, causando dano em uma vasta área na tela e afetando todos os inimigos atingidos. A principal diferença está na arma secundária em dois dos três jogos.

Em Turrican e Turrican II, temos um canhão laser que pode ser direcionado para qualquer direção em um ângulo de 360 graus, causando dano considerável ao custo de não podermos nos mover ao usá-la. Em Mega Turrican, ele foi substituído por um gancho, permitindo que o aspecto da mobilidade fosse mais bem aproveitado no game e dando um ritmo mais ágil à aventura. Em Super Turrican o canhão está de volta, mas desta vez com uma função mais tática. Ao invés de causar dano, ele paralisa os inimigos atingidos pelo feixe de laser, deixando-os vulneráveis para receber outros ataques.


Os jogos não contam com sistemas de passwords, populares na época, ou de saves, que se tornaram um padrão depois. Para cada sessão de jogo começamos apenas com uma quantidade determinada de vidas e continues. Os níveis são, em sua maioria, grandes áreas que convidam o jogador à exploração, podendo recompensá-lo com muitas vidas extras para ajudá-lo a desbravar a aventura à frente.

Com um nível de dificuldade moderado, são títulos que, tanto na época como hoje, exigem do jogador uma constante persistência se quiser melhorar. Mega Turrican e Super Turrican possuem opções para ajuste de dificuldade, mas ainda assim continuam com um alto grau de desafio, que pode ser superado conforme jogamos, aprendemos e melhoramos nossas habilidades para chegar até o final. Em resumo, Turrican não é fácil a ponto de ser maçante, mas também não é difícil beirando o impossível. É um desafio justo e que também se tornou uma marca para a série desde sempre.

Ajustando seu nível de nostalgia

Turrican Flashback nos proporciona uma emulação extremamente competente e fiel às suas contrapartes originais, proporcionando ainda uma generosa gama de opções para ajustar o jogo conforme seu, digamos, nível de nostalgia. Os controles estão muito bem adaptados para o PS4 e padronizados, fazendo com que os comandos dos quatro jogos sigam sempre o mesmo esquema, podendo ser livremente customizados caso o jogador assim o queira.

Basicamente, eles podem ser jogados de duas formas:

Standard Mode

Permite jogar os quatro jogos fazendo uso da função Rewind, que literalmente rebobina o jogo caso você tenha feito algum movimento que lhe custou, por exemplo, uma vida. Também habilita o uso dos estados de salvamento do emulador, fornecendo até seis compartimentos para gravar sua partida em qualquer momento e retomar daquela posição quando quiser, sem punir o jogador pelo uso de trapaças, também disponíveis na coletânea;
Você pode usar os macetes a qualquer momento, ao custo de não obter os troféus

Trophy Challenge

É o modo sério, por assim dizer. As regalias do modo supracitado ficam bloqueadas e você pode jogar o jogo da maneira original, sem nenhum tipo de ferramenta ou trapaça. Apenas neste modo é possível obter os troféus do PS4.
A função de Rewind fica indisponível no modo Trophy Challenge
Curiosamente, até o dia da publicação desta análise, algo que achei estranho foi o fato de Super Turrican não ter a opção de jogar no modo Trophy Challenge, apenas no Standard. Foi aí que chequei a listagem de troféus do game no PS4 e me deparei com a falta de conquistas relacionadas ao jogo. Os outros três possuem seus respectivos troféus, mas este ficou sem, ou o pessoal da Factor 5 simplesmente esqueceu de colocá-los. Vai saber!

Além de ajustar a forma como você quer jogar, também é possível configurar a nível de detalhes os aspectos visuais de cada jogo. O emulador conta com filtros de imagem que simulam as linhas de varredura e até a curvatura de uma TV de tubo, dando um pouco mais de autenticidade visual à experiência. Dá até pra desativar o HUD dos jogos se você quiser.
A emulação pode ser ajustada a nível de detalhes, inclusive nas cores
Pra mim, que tenho uma grande afinidade com emulação, isso é excelente. Coletâneas lançadas nos últimos anos, em sua maioria, oferecem opções bem reduzidas ou até pobres em ajustes de adaptação do visual dos games para jogar em telas modernas de alta definição. Ver esse tipo de zelo para este aspecto rendeu pontos positivos comigo.

Uma coletânea incompleta

Sou velho, e jogo videogames há muitos anos. Desde antes de aprender a falar direito, pra ser bem sincero. Já joguei muita coisa nessa vida e sou entusiasta da história da indústria de games. Quando recebi Turrican Flashback para jogar e vi que só tinha quatro jogos, fiquei pensando no porquê de não terem adicionado Turrican 3 (Amiga) e Super Turrican 2 (SNES), ou mesmo as versões Director’s Cut de Mega Turrican (Mega Drive) e Super Turrican (SNES), ligeiramente alteradas sob curadoria da própria Factor 5.

Sobre Turrican 3, há quem diga que dá pra fazer vista grossa em relação à falta dele por ser um port de Mega Turrican. Já Super Turrican 2 eu simplesmente não entendi por que não foi incluído no pacote, já que é um dos mais intensos jogos da série, adicionando muita novidade e fazendo um uso excepcional das capacidades do Super Nintendo. Então pra mim foi um erro deixar esses quatro de fora. O mais irônico é que eles estão listados nos créditos de Flashback, o que me deixou mais desconfiado ainda de não terem sido chamados pro rolê.
Quatro jogos muito bons, mas não são todos
Talvez o motivo tenha a ver com outra coletânea da série produzida pela Strictly Limited Games, em uma antologia dividida em dois volumes e ainda contando com edições de colecionador para PS4 e Switch. Enfim, o mistério sobre o porquê de, tecnicamente, apenas metade da coletânea estar em Flashback continua pairando no ar.
Turrican Anthology, pela Strictly Limited Games
Como eu disse no início do texto, a trilha sonora de Chris Huelsback é ímpar. Se você não conhece, convido-o a visitar a página do cara no Spotify, onde os álbuns remasterizados da trilha sonora dos jogos — que estão disponíveis na edição de colecionador citada acima — estão disponíveis. Vou deixar Factory Action para você conferir, tema da primeira fase de Mega Turrican e Super Turrican, uma de minhas faixas favoritas:


As trilhas sonoras na emulação dos jogos são impecáveis, totalmente otimizadas para deixá-las com a qualidade que merecem nos sistemas atuais, limpas, sem ruídos e apresentando uma qualidade até melhor que a proporcionada pelos hardwares originais. Porém, senti falta da presença das trilhas remasterizadas, como a que eu trouxe logo acima. Se estivessem presentes de alguma forma, em uma galeria ou mesmo para serem usadas nos jogos, isso ia me dar um tesão enorme pra jogar e rejogar os games em Flashback. Não que as originais sejam ruins, longe de mim dizer isso. Mas quando se tem mais, por que não?

Outra coisa da qual senti falta foi uma galeria com artes, documentos e outras coisas sobre a história de Turrican, algo comum em coletâneas e que considero um detalhe que agrega muito valor a esse tipo de conteúdo. O máximo que temos são resumos do enredo e da história de desenvolvimento e lançamento dos quatro títulos no menu de seleção. Ok, mas eu queria mais!

Nostálgico em doses modestas

Turrican Flashback é uma faca de dois gumes. Por um lado apresenta uma oportunidade de gerações mais jovens terem a oportunidade de apreciar excelentes jogos de uma série que tem seu lugar de destaque em uma época memorável e que deixa saudades. Por outro, decepciona um pouco por não ter tudo o que nós, que vivemos aquele período, sabemos que existe na franquia Turrican, em um pacote que não é ruim, mas que sabemos que está incompleto e poderia ser bem melhor.

Algo de que me dei conta logo no fim desta análise é que Turrican Flashback não possui aquele ponto motivador para me fazer comprá-lo. Aquela coisa que te faz dizer “eu quero comprar esse jogo por causa disso”, sabe? É um pacote interessante, mas se fosse melhor valeria a pena investir em algo que aqui só passa a impressão de ser um emulador caro.

Prós

  • Quatro títulos extremamente desafiantes e viciantes;
  • Emulação que conta com ajustes visuais cheios de detalhes, som impecável e customização de controles para otimizar a experiência.

Contras

  • Ausência de Turrican 3, Super Turrican 2 e das versões Director’s Cut de Super Turrican e Mega Turrican;
  • Falta de mais conteúdo para agregar valor à coletânea, como galeria de arte, trilha sonora remasterizada e entrevistas.
Turrican Flashback – PS4/Switch – Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela ININ Games

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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