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Análise: Ghost of Tsushima Versão do Diretor (PS4/PS5) melhora e expande um jogo que já é espetacular

A ilha de Iki traz uma nova região para explorar e construir sua lenda.


Ghost of Tsushima Versão do Diretor
(PS4/PS5) é uma versão expandida e aprimorada do excelente Ghost of Tsushima (PS4) de 2020. Neste jogo que narra os incidentes baseados na Primeira Invasão Mongol ao Japão em 1274, acompanhamos a trajetória de Jin Sakai, um samurai honrado e sobrinho do lorde Shimura, regente da ilha de Tsushima no Japão. Esta análise aborda as novidades trazidas pela Versão do Diretor.

Em defesa de Tsushima

Pegos de surpresa, os samurais de Tsushima foram obliterados pela força invasora, que contava com um exército muito mais numeroso e melhor equipado. Treinado no caminho do bushido pelo seu tio, Jin luta bravamente, mas quase não sobrevive ao ataque inicial e é salvo por uma ladra de nome Yuna. Com a perda de praticamente todos os samurais na primeira batalha, Jin se vê sozinho e precisa juntar aliados para resgatar seu tio e expulsar os invasores da ilha.
Retomar a sua casa não será nada fácil...
Em sua jornada, Jin percebe que o caminho do samurai, regido por rígidos códigos de honra, é uma limitação que custará ainda mais vidas e pode comprometer a vitória contra o exército mongol. Talvez ele tenha que deixar seus princípios de lado e partir para estratégias mais sombrias…

Algo que me agradou bastante em Ghost of Tsushima é poder optar entre três abordagens para resolver uma situação. Como samurai, pode encarar seus inimigos de maneira honrada olhando-os nos olhos, desafiando-os em confronto aberto; pode agir nas sombras como “fantasma”, se infiltrando nas construções sem ser visto e eliminando seus oponentes furtivamente; ou até mesmo como arqueiro, abatendo alvos à distância. 
Ryuu ga waka teki wo kurau!
Também é possível combinar estratégias diferentes, o que confere grande liberdade de ação e dá margem para o jogador usar a criatividade. O sistema de combate é fantástico, baseado em ataque e defesa precisos, além de mudanças de posturas, simulando de forma empolgante um duelo de espadas. O jogo não é um hack and slash no qual atacamos de qualquer jeito e é preciso estudar a postura do oponente e agir com a precisão de um samurai treinado.

Além da jogabilidade deliciosa, o jogo tem um roteiro envolvente, personagens extremamente carismáticos e uma direção de arte impecável. A nova versão conseguiu a tarefa dificílima de aprimorar os gráficos do original, que já eram maravilhosos.

Caçando a Águia

O maior atrativo da Versão do Diretor é, sem dúvida, a expansão da ilha de Iki, que fica disponível após o segundo ato da campanha principal e adiciona uma nova região repleta de atividades e um roteiro secundário bastante interessante. Mesmo que seja menor que Tsushima, a ilha tem uma enorme quantidade de atividades e locais para investigar, e eu levei seis horas para completar a campanha; explorar toda a região pode durar vinte horas ou mais de jogo.
Iki tem muito mais atividades do que aparenta
A nova campanha apresenta a enigmática Águia, uma antagonista quase sobrenatural que destrói a mente de suas vítimas, convertendo-as para sua causa ou enlouquecendo-as. Jin precisa impedir que essa ameaça chegue a Tsushima, mas para isso terá que voltar ao lugar onde aconteceu o episódio mais traumático da sua vida.

Para piorar as coisas, a ilha de Iki é um território tomado por  corsários e onde samurais são odiados. Não posso revelar muitos detalhes para evitar spoilers, mas a nova região traz uma nova interpretação sobre acontecimentos passados da história do protagonista. É bastante interessante essa mudança de perspectiva, pois se em Tsushima o sobrenome Sakai é visto com respeito e reverência, em Iki é tratado com desprezo e ódio.

Por conta disso, toda a reputação que você construiu em Tsushima não tem valor em Iki; o novo território possui um medidor de reputação próprio que deve ser reconstruído do zero. Eu considerei esta mecânica uma excelente sacada, pois traz  uma sensação de progresso ainda que o jogador tenha preenchido sua reputação em Tsushima. O novo território vem com o mapa encoberto que precisa ser explorado, aumentando ainda mais a sensação de novidade. É como jogar um jogo novo dentro do seu progresso atual.
Os xamãs: um novo e perigoso inimigo.
Os inimigos em Iki são consideravelmente mais fortes do que aqueles encontrados em Tsushima. Aqui enfrentamos dois novos tipos de inimigos, os xamãs e soldados que trocam de arma durante o combate.

Os xamãs são personagens de suporte que aumentam significativamente os atributos de seus companheiros e abatê-los é uma prioridade no campo de batalha, já que os inimigos afetados pelos xamãs são muito mais difíceis de derrotar. Os soldados requerem que Jin adote diferentes posturas durante o combate, adicionando ainda mais desafio às lutas.

Ataco o peão com o cavalo

Não são apenas os inimigos que ficaram mais fortes: a nova região também traz novos trunfos para Jin. Agora você pode fazer um ataque de carga, abatendo inimigos ao atropelá-los com o cavalo. Este ataque consome um pouco da sua determinação, mas é extremamente satisfatório atropelar um grupo de inimigos que caminham distraidamente pela estrada.

Dentro do jogo, recebemos um Amuleto das Graças de Hachiman, que recupera um pouco de vida a cada oponente abatido, e um Conjunto de Visuais do Herói de Tsushima, composto por uma máscara, um kit de espadas, um cavalo e uma sela especiais. São itens com apelo mais cosmético, mas muito estilosos. 
O cavalo Digital Deluxe.
O gancho, até então usado apenas para escaladas, agora pode ser usado para puxar alguns tipos de objetos e desbloquear novas passagens, bem parecido com o que a Lara Croft pode fazer em Tomb Raider (Multi). Esta utilização do gancho e corda é o ponto nos quais os Gatilhos Adaptativos foram melhor utilizados em todo o jogo, pois é possível sentir o peso do objeto através da resistência nos gatilhos, representando de forma muito imersiva a sensação de puxar algo pesado com uma corda.

Entre os novos itens que podem ser obtidos, o destaque vai para a lendária armadura de Sarugami, que pertenceu ao pirata Riku Mão Negra. Esse é um equipamento que definitivamente vale a pena obter, pois ele aumenta drasticamente as capacidades de bloqueio e esquiva perfeitos, mas que devem ser executados no tempo exato ou deixarão o jogador vulnerável. Trata-se de um item imbuído do espírito de um macaco, de uso arriscado, porém compensador.
Uma nova armadura: arriscada, mas poderosa.
Pela pequena ilha o jogador também encontrará uma arena de duelos e desafios de arquearia. Na arena, Jin enfrentará inimigos em duelos com espadas de madeira em combates bastante difíceis a princípio. Porém, uma vez estudados os estilos de cada adversário, a vitória é certa. 

Já nos desafios de arquearia, é necessário acertar todos os alvos dentro de um tempo limite. Quanto menor o tempo, maior a premiação recebida e a dificuldade aqui também é considerável.

É possível fazer a campanha da ilha de Iki a qualquer momento depois de desbloqueá-la no segundo ato. O roteiro paralelo é conduzido de maneira brilhante, de forma que não causa estranheza segui-lo durante a campanha principal ou até mesmo após finalizá-la, e o jogador pode explorar a ilha quando bem decidir.
A misteriosa Águia mexe com a mente das pessoas.
A jornada para derrotar a Águia revelará novos personagens, com histórias marcantes e personalidades únicas, assim como tocar em uma parte dolorosa do passado de Jin. Iki é repleta de memórias para o protagonista e acompanhá-las traz ainda mais riqueza ao brilhante roteiro de Ghost of Tsushima. Se você gostou da história na campanha principal, ficará emocionado com os novos pontos de vista oferecidos na expansão.

Outras novidades da Versão do Diretor

Além da Ilha Iki, a Versão do Diretor já traz incluso o Modo Lendas, multiplayer online lançado em novembro de 2020, cuja jogabilidade é inspirada na campanha single player. Neste modo, é possível escolher entre quatro classes diferentes (samurai, caçador, ronin ou assassino) para enfrentar hordas de criaturas sobrenaturais em grupos de até quatro jogadores simultâneos.

Para jogar o Modo Lendas,  é necessário ser assinante do serviço PlayStation Plus. Os jogadores da versão base também têm acesso ao DLC de forma gratuita, mas devem baixá-lo separadamente na PlayStation Store.

A expansão também traz extras interessantes para aqueles que querem se aprofundar ainda mais na arte e nas bases históricas do jogo. O primeiro é um pequeno livro digital com as artes conceituais utilizadas na produção de Ghost of Tsushima.

O segundo extra é um vídeo intitulado Comentários do Diretor, no qual a equipe de criação conversa com o renomado historiador japonês Dr. Kazuto Hongo, professor do Instituto Historiográfico da Universidade de Tokyo, que compara os acontecimentos do jogo com os eventos reais que o inspiraram.

A nova versão também traz a possibilidade de refazer eventos e duelos épicos que já tenham sido concluídos, algo que não era possível no jogo de base. Isso garante uma boa rejogabilidade, permitindo que você revisite seus duelos favoritos e teste outras estratégias e equipamentos sem precisar reiniciar a campanha, bem como  refazer o resgate de cidades, fortificações, mercados e fazendas.
Salvando novamente o mercado Katayama...
Outro ponto digno de nota é seu polimento e correção de falhas desde o lançamento da versão original. Durante meu tempo de jogo, notei raríssimos bugs, normalmente de batalhas que não terminavam mesmo após derrotar todos os inimigos. Os famosos bugs visuais ao subir escadas foram completamente resolvidos, não ocorrendo nenhuma vez durante meus testes. Também não percebi nenhum travamento ou problemas de performance ou renderização.

Novidades para o PlayStation 5

Esta versão também traz melhorias específicas para jogadores do PS5. A primeira é o Feedback Háptico, que atua quando o vento sopra, ao cavalgar ou durante os duelos, vibrando sutilmente transmitindo a sensação equivalente. Neste ponto, acredito que o recurso poderia ser melhor aproveitado se transmitisse as sensações de terrenos como grama alta, lama ou água, como ocorre de forma notável em Astro's Playroom (PS5). 

Os Gatilhos Adaptativos também foram implementados de modo a oferecer uma pequena resistência quando retesamos a corda do arco com R2. A resistência é muito sutil e mal percebida durante a jogabilidade, fazendo com que esta mecânica seja muito melhor aproveitada quando puxamos objetos com gancho em certas partes da ilha de Iki, como mencionado anteriormente. Infelizmente, são poucos os momentos em que os Gatilhos Adaptativos são usados de forma apropriada.
Uma pausa para acariciar o gatinho.
O áudio 3D foi muito bem implementado e ajuda o jogador a ouvir a direção de onde os inimigos gritam ou a direção do vento. Esta característica me facilitou  muito seguir as raposas em busca de santuários, pois quando elas saem de vista, fazem um ganido que pode ser localizado através da direção do som.
Os tempos de carregamento do jogo também são muito mais rápidos no PS5, levando apenas poucos segundos para carregar cutscenes ou cenários após viagens rápidas. Os gráficos estão maravilhosamente lindos rodando em 4K a 60 fps quando possível. O jogador ainda pode optar por uma taxa de quadros mais constante com pequeno sacrifício da qualidade gráfica, o que se mostrou muito bom para cenas de combate intensas.

O sincronismo labial para a dublagem em japonês ficou bom, mas não perfeito. É possível notar que, ocasionalmente, os lábios não se mexem de acordo com o que está sendo falado, mas isso é bastante raro e só vai incomodar jogadores extremamente puristas.
Novos personagens marcantes para conhecer.
Obviamente, o sincronismo labial não se aplica caso você opte por jogar com áudio em português, mas os dubladores brasileiros fizeram um excelente trabalho e o resultado final não fica muito diferente de assistir um filme dublado.

Conclusão

Ghost of Tsushima Versão do Diretor é deslumbrante tanto em direção de arte quanto em jogabilidade e roteiro. Se você ainda não jogou Ghost of Tsushima, definitivamente recomendo este título. Se você já jogou a versão base e gostaria de se aprofundar na história de Jin, reviver duelos épicos ou desejar mais vinte horas de conteúdo inédito, também recomendo a compra. 

Para donos de PlayStation 5, não fiquem muito empolgados com as implementações para o DualSense, pois elas são extremamente sutis. Porém, os carregamentos rápidos, os gráficos em 4K a 60 fps e o áudio 3D melhoram expressivamente a experiência, fazendo dessa versão a melhor de todas. 
A jornada de Iki mudará Jin para sempre.
Apesar das melhorias da Versão do Diretor não serem muito chamativas, especialmente para jogadores no PS4, a ilha de Iki acrescenta muito conteúdo, tanto do ponto de vista de enredo quanto em novos inimigos e atividades. Para mim é um título imperdível para aqueles que gostam de jogos de ação em mundo aberto ou apreciam a ambientação histórica da época dos samurais. Este é, sem dúvidas, um dos melhores jogos que joguei nos últimos tempos.

Prós

  • Gráficos melhorados;
  • Possibilidade de refazer eventos épicos;
  • A ilha de Iki é mais vasta e tem mais conteúdo do que aparenta;
  • Campanha secundária muito bem construída e que oferece novas perspectivas;
  • Melhorias no carregamento, áudio e taxa de quadros para o PS5.

Contras

  • Recursos do DualSense poderiam ser melhor implementados.
Ghost of Tsushima Versão do Diretor - PS4/PS5 - Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: PS5

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sony


é engenheiro eletrônico e tem uma filha fofinha que tenta morder os controles do papai. Curte jogos de luta, corrida e ação.
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