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Análise: Submerged (Multi) é uma linda aventura focada na exploração

Novo projeto de veteranos da indústria que trabalharam em BioShock é bonito e relaxante, mas não é para todos.

Após Submerged (Multi) ser zerado pela primeira vez, é possível ler na primeira opção do menu inicial a palavra: "Explorar". Selecionando-a, o jogador volta à metrópole submersa do game, podendo ir em busca de qualquer colecionável ou item que não conseguiu durante a jogatina.


Antes de completar a história principal, essa opção da tela de início recebe outro nome: "Continuar". Esse é, de longe, o maior erro de Submerged. Desde o princípio, a palavra usada deveria ser "Explorar". Este é o verbo que define o jogo e o foco de toda a experiência. Submerged gira em torno da exploração e todas as decisões tomadas pelo estúdio Uppercut Games a privilegiam — para o bem e para o mal.

Miku, a exploradora

A exploração de Submerged é dividida em dois planos: horizontal e vertical. No horizontal, Miku, a protagonista, tem o controle de um barco e pode navegar pelas ruínas de arranha-céus de uma cidade inundada. Seu barco é indestrutível e tem um estoque ilimitado de gasolina. Nada a impede de vasculhar os quatro cantos do mapa. Muito pelo contrário, o título incentiva o jogador a fazer isso, com conquistas pontuais e itens que aumentam a duração do turbo de seu veículo, permitindo que você explore mais e mais rápido.

O objetivo é procurar por prédios que tenham suprimentos e kits sobrevivência para salvar a vida do irmão de Miku. Para tornar a tarefa mais fácil, uma luneta permite avistar o topo dos arranha-céus e conferir quais contém os itens procurados. Encontrado um lugar apropriado, basta aproximar-se dele, sair do barco e escalá-lo. Começa aqui a exploração no plano vertical.

Subir ao topo das ruínas é simples. Não é preciso apertar botão algum para começar a escalar, apenas mover o direcional na direção certa. O grande desafio é fazer o caminho mais eficiente possível até o topo. Há vários itens extras no decorrer do caminho e o melhor é coletar todos antes de chegar ao topo — ao se pegar o item final, a protagonista retorna para sua base automaticamente.

Assim, é possível gastar algum tempo dando voltas nas ruínas, devido ao medo de deixar algo para trás. Entretanto, mesmo que você seja o mais detalhista possível e vasculhe tudo, completar cada prédio é uma tarefa rápida. Apesar da sensação de escala fazer parecer que tudo é gigante, os níveis são confinados, intuitivos e rápidos de se completar. O jogo não quer lhe punir por explorar — esse é o foco dele, lembra?

Esse foco na exploração tão grande levou a uma decisão inusitada: é impossível morrer, seja no mar, seja escalando prédios. Com uma protagonista invulnerável, em nenhum momento o jogador sente medo de ir a algum lugar com receio de perder seu progresso. O máximo que pode acontecer é a protagonista encontrar alguma barreira de colisão — exceto quando há algum bug e ela cai no éter poligonal debaixo da cidade. Mesmo nesses (não tão) raros casos, Miku simplesmente retorna ilesa ao seu barco ou ao início do prédio que explorava.

Beleza pós-diluviana

Tanto foco na exploração não seria de nada se o ambiente a se explorar não fosse minimamente interessante. Submerged é muito bem-sucedido neste departamento.

A estética audiovisual é fenomenal, sendo a direção de arte um dos pontos fortes do game. Qualquer screenshot serviria como papel de parede, independente do momento ou ângulo em que foi tirada. É incrível como, mesmo sendo graficamente simples (computadores relativamente modestos são capazes de rodar o jogo sem problemas) o resultado final tem enorme apelo visual. A trilha sonora também é muito bonita e agradável, tornando a aventura relaxante do início ao fim.

Além de belo para olhos e ouvidos, a obra é muito coesa. São poucas texturas, poucos tipos arquitetônicos, poucos instrumentos nas músicas… Ela periga parecer limitada, mas é tudo tão bem executado que consegue evitar isso.

O jogo, inclusive, é ciente de sua beleza, e reforça isso de várias formas. Não há minimapa para fazer o jogador ficar olhando toda hora para o canto da tela, o que obriga-o a prestar atenção no ambiente e cenários. Através do menu, é possível retirar todos os elementos da interface (altamente recomendado), além de haver a opção de pausar o game e fazer um cartão-postal.

Por água abaixo

Mecanicamente, por outro lado, o estúdio não foi tão bem-sucedido. Aqui a sensação é realmente de algo repetitivo. O ciclo “avistar prédio, escalar, conseguir o item e voltar para a base” é repetido sem a mínima variação até o fim do jogo. Nem o level design é capaz de tornar as coisas mais diversas, sendo simplista, no melhor dos casos. Escalando-se uma ruína, já se sabe como serão todas as outras.

A trama não colabora muito. Ela é contada de forma interessante, quase como se fosse uma história infantil — abordagem usada com sucesso em jogos como Brothers: A Tale of Two Sons (PC/XBO). Infelizmente, ela não tem impacto, servindo apenas como um pano de fundo bem fino para a exploração.

Ainda assim, o resultado final não é cansativo. Não há tempo para se cansar. Ao todo, o jogo tem entre três e quatro horas de duração, sendo possível terminar a história principal em menos tempo, caso o jogador se apresse. Isso não é um ponto negativo. A curta duração faz bem ao game, impedindo que a exploração se arraste, tornando-se enfadonha. Ele termina a tempo o suficiente para ficar na memória apenas como uma obra bonita, relaxante e coesa, ainda que pequena.

Cuidado para não se molhar

Submerged não é uma experiência para todos. Se você está procurando por um jogo mecanicamente variado, boa trama e bastante conteúdo, ele certamente não lhe satisfará. Entretanto, se você é um jogador como eu, que adorava ligar o GameCube e jogar The Legend of Zelda: The Wind Waker (GC) só para ficar navegando sem rumo, aproveitando aquele lindo mar de um mundo pós-dilúvio, encontrou um prato cheio.

Prós

  • Visualmente lindo;
  • Excelente trilha sonora;
  • Experiência focada na exploração relaxante e calmante;
  • Duração apropriada para a proposta.

Contras

  • Trama simplista e sem impacto;
  • Mecanicamente repetitivo;
  • Alguns bugs.
Submerged — PC, PS4 e XBO — Nota: 8.0
Plataforma utilizada para a análise: PC

Revisão: Jaime Ninice
Capa: Diego Migueis

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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