Análise: Hunter x Hunter: Nen x Impact tem potencial, mas carece de carinho e orçamento para tal

Não foi dessa vez que vimos uma produção digna para o universo de Yoshihiro Togashi.

em 26/07/2025
Já faz um tempo que os jogos baseados em anime passaram a ser mal vistos pelos jogadores. Mesmo que seja legal sentir no controle o que vemos na tela, algumas adaptações acabaram sendo apenas uma forma fácil de lucrar com o sucesso de um anime.


Hunter x Hunter: Nen x Impact é um caso que me confunde um pouco quanto à sua proposta. Desenvolvido pela Bushiroad em parceria com a Eighting, conhecida por Marvel vs. Capcom 3 e pela saudosa franquia Bloody Roar, o título tenta adaptar a obra de Yoshihiro Togashi para um fighting game tradicional, fugindo do formato de arena fighter. Ainda assim, era preciso ir além de simplesmente agradar aos fãs mais hardcore do gênero.

Liberdade x da treta

A Eighting adotou uma estrutura familiar de combate em Hunter x Hunter: Nen x Impact, sendo semelhante à Marvel vs. Capcom 3 com sua estrutura de 3v3 e sistema de trocas. É possível chamar assistência no meio da luta, ativar especiais seguidos entre time (o Delay Hyper Combo de MvC), realizar combos aéreos, entre outras mecânicas compartilhadas.

O título utiliza um layout de controle de sete botões. Além dos ataques leves, médios e fortes, há dois dedicados a assistências e trocas, e um botão para o Nen x Stance, mecânica defensiva e ofensiva que permite recursos como push block, contra-ataques e jogar o oponente para o ar, podendo realizar combinações aéreas.


O sétimo botão é dedicado a especiais, que, como em Super Smash Bros. e 2XKO, levam em consideração o pressionar do direcional. Apesar de entender que serve como facilitador para novos jogadores, considero exagerado exigir sete botões no sistema básico, transferindo a complexidade para outro campo, em vez de simplificá-la adequadamente.

Existe ainda um oitavo botão opcional para combos automáticos. Ao segurá-lo enquanto ataca, uma combinação terminada com especial é executada, dando aquele auxílio para quem não quer perder muito tempo no modo treino.

Relembrando o infame X-Factor de Marvel vs. Capcom 3, Nen x Impact traz algo similar. Chamado de Overgear, basta ativá-lo para ganhar mais velocidade e força, sendo uma clássica ferramenta de recuperação por ficar mais forte quanto mais membros do nosso time forem derrotados.

O ritmo dos combos remete um pouco mais para um anime fighter como Guilty Gear, já que não é difícil executar combos e é bem tranquilo realizar ataques que levantam um oponente do chão quando está caído. A sensação da jogabilidade, no geral, é bem prazerosa e solta o suficiente para dar liberdade ao estilo do jogador.

Contudo, preciso ressaltar que jogar Hunter x Hunter: Nen x Impact é bem mais efetivo para mostrar suas qualidades do que assistir, já que as animações são bem duras. Durante o combate ou nos especiais, é constante o corte brusco de ciclos de animação, que funciona bem em questão de gameplay, mas é menos elegante visualmente.

Outra questão que pode desagradar é que o título está praticamente dentro da categoria de kusoge (“jogo merda”, em tradução livre) dos jogos de luta, devido à facilidade de executar combos infinitos e Touch of Death. Há uma parte da comunidade que ainda se diverte com essa “sujeira” — incluindo eu —, mas há outra parte que trata isso como um desleixo de balanceamento.

A deficiência x de conteúdo

Hunter x Hunter: Nen x Impact apresenta um elenco de 16 personagens, que englobam a saga do Exame Hunter até o arco das Formigas Quimeras do anime. Para um jogo 3v3, é uma quantidade relativamente baixa de personagens, ainda mais levando em consideração a falta de polidez das animações, que poderia permitir maiores opções em troca de qualidade.

Apesar da diversidade entre os lutadores, o elenco entra em conflito com um sério problema de falta de conteúdo. Há um modo história muito resumido e limitado apenas aos personagens presentes, indo até o arco das Formigas Quimeras, representado apenas por Meruem no cast.

Sobre esse modo história, ele é bem básico. Somente textos sem vozes, com imagens estáticas retiradas do anime de 2011 que condensam as situações para as lutas com os personagens jogáveis. Mesmo havendo pequenas missões a serem realizadas durante os embates, a dificuldade é inexistente.

Além disso, não há muito conteúdo para jogadores offline, restando apenas o modo arcade, um modo de missões, o Heaven’s Arena, Battle Olympia (tipos de modo survival) e um modo missão simplificado.

Nen x Impact também deixa a desejar nos modos online. Há o tradicional modo ranqueado e casual, mas além do matchmaking problemático, há um visível atraso de comando mesmo com o uso de rollback netcode. A falta de crossplay entre plataformas também é algo que está se tornando mais inaceitável diante dos padrões atuais dos jogos de luta.

Desleixo x visual

Hunter x Hunter: Nen x Impact não impressiona tecnicamente em nenhum quesito. A modelagem dos personagens é bem simples, cumprindo o papel de transportar as artes 2D para 3D, mas sem se destacar em aspectos como iluminação ou detalhamento.

Os cenários, no entanto, não cumprem nem o básico. Além de serem pouquíssimos, dois deles são variações de horário (floresta de dia, floresta à noite), enquanto os outros que poderiam representar localidades da obra sofrem com falta de detalhes, seja de NPCs ou de qualquer animação que contribua com a ambientação.

Esse é o maior problema do jogo: a falta de charme, capricho e cuidado em passar a obra de Togashi para um jogo de luta. A interface é sem graça, os especiais cinematográficos são mal ritmados, e nem as músicas apresentam algum impacto.

A dublagem é apenas em japonês e conta com o elenco do anime, que cumpre seu papel durante as lutas. Infelizmente para nós, não há localização de textos para português.

Uma x decepção

Hunter x Hunter: Nen x Impact lembra o caso de Marvel vs. Capcom: Infinite. Há potencial na jogabilidade, e é possível se divertir com a liberdade do sistema de combos e com o quão diferentes um dos outros. Porém, jogos de luta precisam de uma apresentação empolgante para nos manter engajados.

Some aos problemas técnicos, a falta de conteúdo, elenco limitado de personagens, online problemático e o preço altíssimo cobrado, temos um dos jogos de luta mais decepcionantes da geração. Hunter x Hunter merecia bem mais do que a Bushiroad e a Eighting entregaram.

Prós: 

  • O ato de descobrir e realizar combos é divertido, dado à liberdade que o sistema oferece;
  • Jogabilidade acessível, com sistema de combos automáticos para novatos;
  • Personagens com conjuntos de habilidade diversificados, representando fielmente seus estilos dentro da mecânica do jogo.

Contras:

  • Visual muito simples, especialmente em cenários estáticos e pouco detalhados;
  • 16 personagens são muito poucos para um jogo de luta 3 contra 3;
  • Modo história básico, sem dublagem e nem desafio;
  • Online problemático, tanto na busca por partidas quanto na latência de resposta;
  • Conteúdo single player raso, com poucos elementos relevantes para destravar jogando;
  • Ausência de localização de textos em português.
Hunter x Hunter: Nen x Impact — PC/PS5/Switch — Nota: 5.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Arc System Works
OpenCritic
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Alecsander "Alec" Oliveira
Estudante de enfermagem de 25 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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