Análise: NINJA GAIDEN: Ragebound é pura ação frenética 2D com alma 16-bits

A série retorna às suas origens em um caprichado hack and slash de ritmo acelerado.

em 30/07/2025

NINJA GAIDEN: Ragebound marca o retorno de uma das franquias mais emblemáticas dos jogos de ação ao mundo 2D, agora com um visual em pixel art refinado e jogabilidade que remete aos clássicos do NES. Desenvolvido pelo estúdio espanhol The Game Kitchen, responsável pelo metroidvania Blasphemous, o título aposta em combates intensos, muitos desafios de plataforma e uma ambientação carregada de estilo e nostalgia. Às vezes, aparecem trechos pouco inspirados e alguns problemas na aplicação de suas ideias, mas o resultado final é uma aventura eletrizante.

Forjando uma aliança improvável para enfrentar uma grande ameaça

Os problemas começam quando Ryu Hayabusa viaja aos Estados Unidos para cumprir a vontade de seu pai. Durante sua ausência, a barreira entre os mundos humano e demoníaco se quebra, liberando um exército de criaturas que colocam o mundo em perigo. Na ausência do mestre, o jovem ninja Kenji Mozu, treinado por Ryu, se vê forçado a enfrentar a crise. 

Ao se encontrar em uma situação desesperadora, Kenji recorre a um poder proibido e, superando séculos de rivalidade, faz uma aliança com a kunoichi Kumori, membro do temido clã Aranha Negra. Em meio a um estado de caos, os dois acreditam que a união de suas forças é a única chance de derrotar o Lorde Demônio e salvar o mundo.


A jornada da dupla improvável se desenrola em um jogo de ação e plataforma em 2D com pegada hack and slash. Além de atacar com rapidez, Kenji é capaz de escalar paredes, se pendurar pelo teto e ricochetear em oponentes e projéteis com o ataque de Salto Guilhotina para atravessar buracos ou alcançar locais altos. 

Após se fundir à Kumori, Kenji é capaz de lançar kunais e outras armas, que consomem energia Ki para serem utilizadas. A fusão também dá acesso à Ragebound, uma técnica especial capaz de acertar vários alvos de uma só vez. Além disso, em pontos-chave, é possível entrar no plano demoníaco e controlar diretamente Kumori em desafios de plataforma que exigem destreza e velocidade para serem concluídos.


Além dos ataques normais, a dupla conta com a Sobrecarga, que é ativada ao derrotar inimigos com aura especial usando o tipo de ataque correto — corpo a corpo ou à distância. Ao fazer isso, o herói entra temporariamente em um estado de poder ampliado, no qual o próximo ataque se torna letal, permitindo eliminar inimigos poderosos instantaneamente.



No frenesi da ação e plataforma ininterruptas

NINJA GAIDEN: Ragebound aposta na fluidez para criar uma experiência empolgante. O ritmo é acelerado, focando em fatiar inimigos e saltar com precisão sem parar um só segundo. As habilidades básicas de Kenji e Kumori são simples, mas inimigos diferentes que surgem aos montes exigem destreza e diferentes estratégias para serem derrotados. Fora isso, as peculiaridades da mecânica de Sobrecarga demandam nossa atenção — golpear monstros na ordem certa funciona como um pequeno puzzle dentro do combate.


A estrutura da aventura é retrô, com estágios lineares repletos de segredos e colecionáveis. Há bom equilíbrio entre ação pura, momentos de plataforma e até mesmo um pouco de exploração. A diversidade de situações impressiona, com trechos mais verticais, fases focadas em dirigir veículos e locais repletos de armadilhas complicadas. Já as sessões que controlamos Kumori funcionam como pequenos puzzles de plataforma que aumentam de complexidade no decorrer da campanha. Teve hora em que me peguei meio entediado por ter que enfrentar ondas e mais ondas de inimigos iguais, especialmente quando o combate não variava muito, por sorte esses momentos são pouco frequentes.


Os trechos de plataforma abusam da habilidade de Salto Guilhotina, que permite quicar em inimigos e projéteis para alcançar locais mais distantes ou altos. Esta mecânica não é das mais criativas, mas traz alguma profundidade à exploração dos estágios. O problema é que muitas vezes o uso dela é obrigatório para avançar e nem sempre isso é claro: é comum derrotar inimigos que na verdade deveriam ser utilizados para saltar mais longe, nos forçando esperar o seu retorno. Além disso, alguns dos trechos exigem alta precisão, bastando um pequeno deslize para cair em buracos e reaparecer no último checkpoint. Essas situações são desagradáveis, mas não comprometem a experiência com um todo.

Uma luta com aspectos moldáveis 

Os NINJA GAIDEN 2D clássicos são conhecidos por sua alta dificuldade, já Ragebound é bem mais ameno nesse aspecto. O desafio é moderado, resultado da combinação de muitos inimigos atacando ao mesmo tempo e armadilhas posicionadas em locais estratégicos. O ponto alto da complexidade está nas batalhas contra os chefes, que apresentam padrões complicados e agressivos — a maior parte das minhas mortes aconteceu justamente nesses confrontos.


Um dos trunfos do jogo está em opções que permitem customizar a experiência. É possível equipar diferentes talismãs que diminuem ou aumentam a dificuldade, assim como armas e técnicas Ragebound de efeitos diversos. Cada estágio conta com uma avaliação no final, e para alcançar o elusivo rank S++ é necessário ser praticamente impecável enquanto usamos algum modificador que complica a jogabilidade de alguma maneira. Fora isso, há um modo difícil para quem busca uma experiência ainda mais intensa.

A campanha pode ser concluída em aproximadamente cinco horas, mas há muito o que ver em cada estágio, como passagens secretas, diferentes colecionáveis e missões opcionais. Há também fases extras mais difíceis e alguns desbloqueáveis, o que ajuda a prolongar a experiência. Aqueles mais meticulosos terão muito o que explorar no mundo de Ragebound.



Na beleza simultaneamente retrô e moderna

A ambientação de Ragebound usa pixel art inspirado nas eras 16-bits e 32-bits para criar um mundo visualmente impressionante. Os personagens e cenários são vibrantes, com movimentação elaborada que traz uma fluidez sem igual à ação. Em especial, destaco o universo que mistura elementos tradicionais e modernos, como um belo templo no alto de uma montanha, um estágio que se passa em um grande navio repleto de armas de fogo e até mesmo uma caverna supostamente utilizada por piratas. A trilha sonora com muitas guitarras complementa o tom da ação, apesar de não ter melodias marcantes.


A trama em si é bem simples, mas se torna envolvente com as inúmeras cenas não interativas em que o pixel art elaborado se destaca ainda mais. A dinâmica entre os dois heróis é bem interessante: no começo, Kenji e Kumori não se dão nada bem, porém, aos poucos eles começam a se entender, sem nunca deixar de lado a rixa entre os seus clãs e suas personalidades contrastantes. A localização para português é competente, conseguindo dar vida aos maneirismos de cada indivíduo somente com o texto.


Um retorno digno ao estilo clássico

NINJA GAIDEN: Ragebound é uma retomada sólida da série no estilo 2D com combates rápidos, desafios de plataforma bem colocados e visual em pixel art de alto nível. A dinâmica entre Kenji e Kumori traz variedade à jogabilidade com ataques próximos e à distância, uso estratégico da Sobrecarga e fases alternativas no plano demoníaco.

Apesar de alguns momentos repetitivos e trechos com uso forçado de mecânicas, o jogo oferece ritmo constante e boas surpresas ao longo da campanha. Com opções de personalização, desafios extras e um bom equilíbrio entre ação e exploração, Ragebound entrega uma experiência marcante e acessível que respeita e renova o legado da franquia.

Prós

  • Mistura equilibrada entre ação, plataforma e exploração, sempre com ritmo acelerado;
  • Mecânicas adicionais, como Sobrecarga e trechos no plano demoníaco, trazem variedade à aventura;
  • Opções de personalização e conteúdo extra ampliam a rejogabilidade;
  • Ambientação notável, com visual em pixel art detalhado e cheio de personalidade.

Contras

  • Alguns trechos forçam o uso de mecânicas de forma pouco intuitiva;
  • O combate pode se tornar repetitivo em certas partes.
NINJA GAIDEN: Ragebound — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dotemu
OpenCritic
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Farley Santos
é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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