Análise: Cities: Skylines (PC) leva a simulação de cidades a outro patamar

O jogo entrega uma ótima experiência aos fãs do gênero, superando as falhas do último SimCity.

em 08/06/2015

Você pode não ter ouvido falar antes da Colossal Order, mas eles já possuíam uma experiência prévia no gênero de simulação. É deles a franquia Cities in Motion, jogo em que o foco é criar sistemas de transportes públicos em cidades já estabelecidas.


Essa experiência trouxe a eles o interesse de criar um simulador de cidades, porém, a publisher Paradox Interactive temia que um jogo novo no gênero seria engolido pela franquia SimCity. Porém, a última versão de SimCity em 2013 foi um fiasco e deixou muitos fãs do gênero orfãos. Estava ali a oportunidade para a Colossal Order entrar em cena.

Estabelecendo a fundação

A jogabilidade de Cities: Skylines funciona de forma muito parecida a de seu concorrente SimCity. Então os veteranos não estranham em começar em um enorme mapa vazio, e logo vão começar a construir ruas, estabelecer zonas residenciais, comerciais e industriais, e eventualmente prover serviços como energia, água e educação. Algumas opções de construção são bloqueadas no início, porém vão sendo liberadas conforme sua população cresce. Caso você não tenha experiência no gênero, o jogo lhe explica as funcionalidades básicas, porém não possui um tutorial dedicado.
Tudo começa a partir da definição de zonas.
O jogo começa a diferir quando você construir sua primeira linha de ônibus. Você é responsável por criar as rotas que os ônibus irão tomar, assim como cada uma de suas paradas. É um pouco chato para entender como funciona. Mas é bem legal para tomar o controle do tráfego de pessoas dentro da cidade. Outras opções de transporte de massa estão disponíveis, como metrô e trem.

Falando nisso, é bem interessante como o jogo gerencia o tráfego de pessoas. Essa era a especialização da Colossal, então foi extremamente bem trabalhada. Cada pessoa é individualmente calculada para que escolha a rota mais rápida para chegar ao seu destino, seja via estradas a pé, ou transporte público. Caso você entenda que é necessário reconstruir algumas coisas para posicionar novas estradas, você pode mover construções como escolas e hospitais sem custo. Isso facilita seu planejamento para alterar os caminhos pela cidade
São tantas opções para modificar estradas que tudo acaba sendo possível. Tente achar um caminho pra sua casa nesse viaduto maluco.


Uma das novidades implementadas aqui é a possibilidade de criar distritos. Você marca uma área de sua cidade e essa área passa a ser um bairro. Você pode definir políticas diferentes por bairro, o que te faz detalhar sua cidade ainda mais. Proíba animais em uma região para criar uma área elitista, ou então defina que a zona industrial daquela área será focada exclusivamente em petroquímica. Essas são algumas das diversas ferramentas que lhe permitem customizar cada detalhe de sua cidade.

Mudando para a melhor

Como Cities: Skylines saiu cerca de dois anos após o último SimCity, conseguiu superar suas falhas com êxito, com opções de sobra para customização. Jogue em uma das regiões padrão que já estão inclusas no jogo ou crie sua própria região do zero. Construa cidades enormes ao expandir a sua cidade em uma área máxima de até 100 km². Adicione novas construções criadas a partir de mods.
Pronto para criar a megalópole de seus sonhos?
Cities: Skyline foi desenvolvido usando como base a Unity Engine, uma plataforma de desenvolvimento aberta utilizada para diversos jogos. A Unity é a base padrão de desenvolvimento para o Wii U, por exemplo. Mesmo tendo de ser customizada pela equipe da Colossal, o seu modelo aberto facilita bastante a implementação de mods criadas por jogadores. E esse era um dos focos da desenvolvedora.

O suporte para mods em jogos do gênero existe desde o SimCity 2000, com ferramentas inclusas no próprio jogo (Urban Renewal Kit), e cresceu para uma enorme comunidade em SimCity 4, mas foi totalmente ignorado na última versão. Já aqui o suporte para tal existe desde seu lançamento em março de 2015. Tanto é que já existem mais de 30 mil mods disponíveis para o jogo, de ferramentas a novos prédios. Uma das mais legais é a CityCopter, que lhe permite explorar sua cidade controlando um helicóptero e visualizá-la através de diversos ângulos de câmera.

Mas nem tudo é perfeito...

Mesmo tendo superado os pontos negativos de SimCity, o jogo tem seus defeitos. Não podemos ignorar que algumas características da simulação de uma cidade ficaram um tanto quanto abandonadas. Você vê pouca movimentação das pessoas em direção a parques, mesmo que as pessoas elogiem cada vez que você constrói um novo. A impressão que passa é de que as pessoas dão pouco interesse a atividades culturais, e o foco acaba sendo apenas se movimentar para estudar, trabalhar e voltar para casa.

Isso também é visível quando você considera como as pessoas de sua cidade encaram a poluição. Ela é dividida em poluição do ar (criada por uma usina elétrica alimentada a carvão, por exemplo), poluição sonora (vindo de uma avenida muito movimentada) e poluição de água (criada por despejar esgoto em um rio por exemplo). Um mesmo prédio pode criar diversos tipos de poluição, principalmente indústrias. Porém, a população tende a ignorar que ela existe se não morar próximo a ela. Ou seja, você pode criar enormes bolsões de sujeira longe das zonas residenciais e ninguém reclamar por isso.

As medidas de criminalidade também parecem ignoradas. Uma única delegacia grande bem posicionada é o suficiente para que você não tenha problemas na cidade. Mesmo com alterações nas políticas da cidade, é muito difícil que ocorram crimes ao ponto de a população reclamar contigo. Aqui, mesmo se os índices de educação e taxa de desemprego estiverem ruins, os índices de criminalidade são pouco alterados. É normal que uma grande cidade tenha de estabelecer uma força policial grande para manter a ordem, e aqui isso parece ter sido ignorado.

Outro ponto que parece esquecido são desastres naturais. Assim como muita gente se diverte criando cidades, também tinha quem se divertia derrubando tudo com terremotos, furacões ou explosões de um vulcão. Não existe nenhum tipo de desastre nas cidades, além de eventuais incêndios não controlados pelos bombeiros. Os desastres randômicos são interessantes por aumentar a dificuldade de se planejar a cidade perfeita.
Uma das únicas possibilidades de desastre é você mesmo destruindo uma represa de hidrelétrica e alagando as regiões abaixo.

Assistindo a construção

Visualmente, o jogo é bonito. Mas é só bonito. Não existe algo que te chama a atenção nos gráficos, como detalhes de luz e os modelos 3D dos edifícios. Mesmo com as opções gráficas no máximo, eles ainda parecem serrilhados. O aspecto visual do game é abaixo de SimCity nesses pontos, assim como não possui alternância entre dia e noite na sua cidade. Isso já estava disponível em SimCity 4, de 2003. É estranho um jogo novo não possuir algo que já existia a 12 anos. A comunidade de jogadores chegou a conseguir implementar isso via mods, então não deveria ser impossível os desenvolvedores terem melhorado suas funções gráficas antes de seu lançamento.
Na esquerda, os gráficos do jogo em configurações máximas. Na direita, veja a diferença no serrilhado a partir da aplicação de mods.

Com a ajuda de algumas mods, é possível aproximar o zoom e ver as pessoas chegando a um ponto de ônibus, e o fluxo delas quando ele chega. Ou então afastar o zoom ao máximo e avistar sua cidade como se estivesse planejando uma viagem no Google Maps. Isso é bem legal para capturas de tela, e permite você criar histórias de sua cidade. Algumas pessoas até criam diários na internet, contando seu desenvolvimento. A imaginação aqui é o limite.
Acho que o pessoal vai ter que esperar outro ônibus se não quiserem ficar de pé

Um passo superior

A recepção de Cities: Skyline foi extremamente positiva, já que desde seu anúncio já existiam comparações de suas características contra o malfadado SimCity lançado em 2013, e de como Cities: Skylines superava as diversas falhas de seu concorrente. Já foram mais de 1 milhão de cópias vendidas desde 16 de março de 2015, o que mostra o quanto as pessoas queriam um novo simulador de construção de cidades.

Mesmo com suas limitações e dependência de mods para que o jogo atinja todo seu potencial, ele é uma experiência bem prazerosa. São poucos os momentos em que você pode ter alguma frustração por não conseguir realizar algo que gostaria de ter na cidade. Esse problema só surge quando você já tiver uma cidade grande, com todas construções já liberadas e um grande fluxo de caixa. Passa a impressão de que falta alguma coisa maior, como um objetivo a longo prazo ou alguma diferenciação para a economia de sua cidade, como é feito em Tropico. Porém, isso não impede ninguém de tentar construir a metrópole perfeita.
Que tal recriar as histórias de uma cidade dos games? Bem vindo a Los Santos, direto de GTA para seu PC.

Cities: Skyline foi lançado exclusivamente para computadores PC, MAC e Linux, e está disponível para compra na plataforma Steam.

Prós:
  • Diversas possibilidades para customização das cidades;
  • Comunidade ativa contribuindo com mods;
  • Robusto sistema de gerenciamento de tráfego. 

Contras:
  • Dificuldade simplificada;
  • Dependência de mods para melhorar a experiência de jogo.

Cities: Skylines – PC/MAC/Linux – Nota 8.0

Revisão: Luigi Santana
Capa: Angelo Gustavo
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é formado em Administração de Empresas pela USP, e mestre em cultura inútil pelas experiências de vida. Desde 1993 gosta de explorar o mundo dos games em seu tempo livre. Pode ser encontrado reclamando da vida no Facebook e Twitter.
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