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Análise: SimCity (PC) reinventa a simulação de cidades em grande estilo

A franquia retorna com várias novidades, mas a demora em corrigir as falhas no lançamento derruba seus méritos e ameaça seu futuro.

Voltemos para o distante ano de 1987. Nele, Will Wright associou-se à Jeff Braun para fundar a Maxis. Seu objetivo com a empresa era desenvolver um jogo onde fosse possível construir cidades. Somente em 1989 conseguiram suporte de uma produtora para lança-lo para o grande público. Assim nasceu a franquia SimCity. O conceito de simulação desse jogo o fez alcançar um grande sucesso. Ele continuou com SimCity 2000, SimCity 3000 e SimCity 4. E numa tentativa de reinventar a série, temos SimCity, lançado em 2013 pela Maxis e Electronic Arts para PC e Mac.

De volta à mesa de ideias!

A primeira vista os conceitos dessa nova versão parecem os mesmos de seus antecessores. Você escolhe um entre diversos gramados abertos e ali irá projetar a cidade dos seus sonhos. Abra rodovias, faça construções e defina áreas para que pessoas se estabeleçam nessa nova cidade. O jogo possui um pequeno tutorial para introduzir suas funções para jogadores novatos e experientes, porém os veteranos da franquia logo começam a reparar algumas diferenças ao iniciar um novo jogo.
SimCity te dá uma enorme liberdade para construção de túneis e pontes, bem maior que nos jogos anteriores. Sua imaginação é o limite!

Escolha o terreno

SimCity oferece diversas regiões pré-definidas para você construir sua cidade. Regiões são grandes áreas com espaços para diversas cidades, que acabam sendo vizinhas e interagindo entre si. Esse conceito já existia em SimCity 4, e permite que você crie cidades focadas em indústrias ao lado de uma focada em residências, onde as pessoas viajam diariamente entre elas para trabalhar e voltar a seus lares.

Até 16 jogadores podem compartilhar uma região no modo online, permitindo que você tenha vizinhos construindo cidades com planos bem diferentes dos seus à sua volta. E se preferir, pode administrar mais de uma cidade, assumindo a construção de um segundo local enquanto a simulação fica pausada na primeira. Você pode fazer isso para cobrir deficiências de sua primeira cidade.
Assuma cidades na região ou chame amigos para interagirem com suas cidades!

Porém, diferente de seu antecessor, aqui você não pode editar as regiões antes de jogar. Essa foi uma pisada na bola dos desenvolvedores, que ignoraram excelentes trabalhos dos fãs da série criando réplicas de áreas reais do mundo ou excelentes locais fictícios para SimCity 4. Você só pode jogar no que já está pré-definido pela Maxis.

Explore recursos naturais

Uma novidade na questão das regiões são os recursos disponíveis em cada cidade. Cada área para construir uma cidade possui diversos recursos naturais, como minérios, água, carvão e petróleo. Isso é importante para determinar se sua cidade vai se focar em algum tipo de indústria ou qual será a fonte de energia que vai sustentá-la. Porém, esses recursos são finitos e acabam depois de alguns anos no jogo.
Para manter uma usina termoelétrica funcionando você vai precisar prover o carvão ou importa-lo.


Você é o responsável por prover a matéria-prima para os prédios públicos e privados. Ou seja, minere ou importe carvão para manter uma usina termoelétrica funcionando a pleno vapor. Lojas com poucos produtos atraem pouca gente, então tenha fábricas na cidade para suprir seu comércio com bens de consumo ou os importe de outras cidades. É importante sustentar toda a cadeia. Os preços dos bens são determinados conforme sua oferta e demanda no mercado global do jogo.
Envie seus bens para o resto do mundo utilizando armazéns e terminais localizados nas estradas, ferrovias ou rios.


Conforme você avança no comércio global de bens pode especializar ainda mais sua cidade. Uma grande exportadora de minérios ganha acesso a uma corporação respectiva ao bem. As corporações permitem que você crie prédios ainda mais avançados. Foque em minérios para liberar a construção de fundições. Ali você pode processar seus minérios e carvão em ligas metálicas, que possuem um valor muito maior para exportação. Ou então utilizar ligas para fabricar componentes eletrônicos avançados, se possuir também a corporação de eletrônicos.
A siderúrgica é uma boa maneira de melhorar a renda de sua cidade caso você exporte minérios e carvão.

Mas se indústrias não combinam com seu estilo de jogo, você pode focar seus esforços em uma cidade turística. Erga atrações famosas como a Torre Eiffel ou o Edifício Copan de São Paulo para atrair visitantes ou os receba para diversas atrações dentro de um enorme estádio. E faça esses turistas gastarem dinheiro ao jogar e se hospedar nos luxuosos cassinos disponíveis conforme avança na corporação referente ao turismo. Ou misture um pouco de cada. São diversas possibilidades para criar uma cidade realista.
Planeje bem o acesso a seus estádios, utilizando trens, ônibus e bondes. Senão seus visitantes irão ficar presos no trânsito em vez de entrar no local.

Cuidando de pessoas

Mas não se esqueça de cuidar de seus habitantes. O bem estar deles traz maior retorno com impostos e evolui sua cidade. Para deixa-los felizes é necessário prover diversos serviços a eles. No mínimo, energia, água e limpeza, e posteriormente educação, saúde, segurança e bem-estar. Agradar a todos é complicado, ainda mais que não depende só de dinheiro. Vamos analisar as básicas por tópicos:


Energia: Prover energia é o mínimo para operação de todos os outros prédios. Mas muito cuidado onde vai colocar sua usina. Inicialmente você só pode utilizar combustíveis fósseis como fonte, então vai gerar poluição. Cada cidade tem uma direção de vento diferente, e se você colocar a usina na direção errada vai acabar jogando fumaça em cima dos moradores. Isso influencia tanto a saúde como o valor de suas residências. Posteriormente novas opções são liberadas, como usinas eólicas.
Energia eólica e nuclear são liberadas após algum tempo, criando fontes limpas. Mas cuidado com a segurança para não ter um desastre!


Água: Você pode instalar caixas de água para retirar um pouco de água do lençol freático que abastece a cidade. Ou então uma estação de tratamento com maior capacidade. Porém, a água também é um recurso finito e tende a acabar depois de alguns anos de uso. Então é bom ter vizinhos que possam prover água ou então uma planta de tratamento de esgoto.
Estações de tratamento de água são ótimas para a demanda de grandes cidades. E muito caras para pequenas cidades mantê-las.



Esgoto: Os dejetos gerados pelos diversos prédios da cidade precisam ir para algum lugar. Inicialmente você cria uma estação de despejo para esses dejetos, mas após alguns avanços ele pode ser reaproveitado em uma estação de tratamento de esgoto. Elas são importantes pois reabastecem o lençol freático aos poucos, lhe permitindo reaproveitar parte do seu esgoto para extração de água potável.
Se você não tratar seu esgoto, será necessário jogá-lo diretamente no ambiente. E isso detona a área em volta.


Lixo: Montar um aterro para jogar o lixo da cidade é o modo mais simples de lidar com esse problema. Também é possível queimar o lixo, mas novamente voltamos à questão da direção de vento. A fumaça resultante da queima pode reduzir a saúde das pessoas da cidade. Parte do lixo pode ser tratada com estações de reciclagem. O material coletado e reaproveitado nelas pode ser utilizado ou vendido como ligas de metal e plástico, por exemplo.
Aterros são necessários mesmo que você recicle lixo na cidade, já que nem tudo é reciclável. E ai sua opção é armazenar ou queimar esse lixo.


Você deve ter reparado que esses quatro tópicos tem uma opção inicial simples e uma posterior avançada. Por que você não deveria investir logo de cara na avançada? Primeiro, porque o custo de manter uma estrutura grande não é compatível com o orçamento de uma cidade em construção. E segundo porque você depende de melhorias na sua prefeitura e até mesmo pesquisas universitárias para tal.

Melhorias nos prédios públicos

Você ganha a possibilidade de construir uma prefeitura após atingir um determinado número de habitantes na cidade. Você vai depender dela para realizar diversas atividades. Conforme sua cidade cresce você ganha opções para melhorá-la. As melhorias se traduzem em prédios de secretarias para melhor administrar sua cidade. Erga uma secretaria de finanças para poder administrar melhor a divisão de impostos em sua cidade. Ou então uma secretaria de saneamento para poder construir uma planta de tratamento de esgoto. Você é limitado a uma secretaria por melhoria, então o ideal é escolher com cuidado.
O ideal é erguer sua prefeitura em um local com bastante espaço, já que as secretarias precisam ser erguidas em volta dela.


Outros prédios públicos como escolas, hospitais, delegacias e até mesmo universidades podem ser melhorados após erguidos. As melhorias abrem novas alas, permitindo um atendimento maior de cada um dos prédios. A universidade é um dos mais importantes, pois as melhorias permitem focar em um determinado campo de estudo. Manter um departamento de física vai lhe permitir pesquisar como utilizar e construir uma usina de energia nuclear, por exemplo.
Universidades ganham melhorias conforme o número de estudantes que à frequentam. Novas alas permitem pesquisas que por sua vez abrem diversas melhorias.

Dívida com seus vizinhos

Nessa altura você deve estar pensando: poxa mas é tanta coisa, como eu vou conseguir ter todas as secretarias, alas de universidade e corporações dentro da mesma cidade para criar tudo que quero? Bom, você não precisa. Ao construir qualquer uma delas, seu benefício se estende para toda a região. Portanto, é possível que uma cidade se especialize em cassinos e construa uma usina de tratamento de esgoto mesmo sem possuir uma corporação de cassinos e uma secretaria de saneamento.

Cidades vizinhas também podem prover trabalhadores, estudantes, mercadorias e até mesmo água, energia, coleta de lixo e serviço policial. Mesmo tendo um custo, acaba compensando por criar sinergias entre as cidades. Não é necessário ter grandes contingentes de policiais e bombeiros na mesma cidade, por exemplo, já que ela pode se especializar em um dos serviços e seu vizinho no outro.
Planeje bem as entradas para sua cidade para que visitantes não passem horas presos no trânsito. E pensar que tem tanta gente presa numa estrada para ver o maior novelo de lã do mundo...


Outra coisa que vizinhos podem compartilhar são os benefícios de uma grande obra. Uma região possui alguns espaços vazio, que permitem a construção de um enorme projeto que beneficia a todos em volta. Construa uma planta de energia solar para prover energia limpa a todos. Um aeroporto para facilitar a exportação de mercadorias e entrada de turistas. Ou um então uma arcologia, um enorme complexo habitacional que comporta pessoas para interagir com os diversos serviços de uma cidade. As grandes obras requerem diversos recursos e uma enorme soma de dinheiro para ser construída, sendo o ideal que todos em volta concordem e ajudem com o que está sendo feito.
Grandes obras são bem caras, mas trazem benefícios para a cidade assim como a região como um todo.

Lançamento conturbado

As novidades que a Maxis anunciou nessa nova interação da franquia gerou enorme expectativa nos fãs, e isso tudo foi por água a baixo nos primeiros dias após seu lançamento. O jogo requeria uma conexão constante à internet, para controles anti-pirataria e ajuda no processamento das informações da simulação. Porém, o serviço não foi planejado adequadamente e sobrecarregou os servidores. Logo no primeiro dia ninguém conseguia ficar online por muito tempo, estragando a experiência inicial de muita gente. A EA tentou remediar ao prover jogos grátis como Battlefield 3, Dead Space 3, Mass Effect 3, Need for Speed: Most Wanted e SimCity 4 para quem havia comprado o título. Jogabilidade off-line só foi adicionada em março de 2014.

Pouco tempo depois, os jogadores encontraram outro problema com essa versão: o tamanho dos mapas. Eles possuem cerca de metade do tamanho médio de SimCity 4 e acabam sendo preenchidos muito rapidamente. Fica difícil criar a cidade dos sonhos em espaços tão limitados. E a resposta da Maxis sobre esse assunto só piorou as coisas: “O tamanho dos mapas está limitado para não sobrecarregar computadores mais fracos. E não temos nenhuma previsão de permitir que jogadores construam espaços maiores”.
O tracejado marca os limites de sua cidade. E não é difícil se ver sem espaço para mais prédios.


Esses dois problemas detonaram a imagem do jogo junto ao público. Mesmo com a expansão lançada em novembro de 2013 (Cities of Tomorrow), poucos se lembram das qualidades positivas do jogo. A engine GlassBox, utilizada para simulação individual de cada cidadão, é extremamente avançada. Isso permite que cada ação que você tome altere o funcionamento da cidade como um todo. Mesmo após corrigirem suas falhas iniciais, muita pouca gente ainda joga SimCity. Os servidores são vazios e é bem comum encontrar regiões abandonadas pelos jogadores. Se você gosta de simuladores de cidades, recomendo o recente Tropico 5. Ou então ficar com SimCity 4.
Graças a GlassBox, você pode acompanhar as pessoas de sua cidade em todos os momentos, seja jogando bola, estudando ou relaxando em casa.


 

 

Prós

  • Fácil acessibilidade e aprendizado;
  • Simulação detalhada graças à engine GlassBox;
  • Diversas possibilidades para especializar as cidades;
  • Interação entre diversos jogadores no modo online.

Contras

  • Regiões não podem ser customizadas;
  • Cidades possuem pouco espaço para construção;
  • Avançar nas customizações requer uma quantidade enorme de recursos;
  • As dificuldades no lançamento deixam servidores vazios no modo online até hoje.

SimCity (PC) — EA — Nota: 6.0

Revisão: José Carlos Alves
Capa: Stefano Genachi

é formado em Administração de Empresas pela USP, e mestre em cultura inútil pelas experiências de vida. Desde 1993 gosta de explorar o mundo dos games em seu tempo livre. Pode ser encontrado reclamando da vida no Facebook e Twitter.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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