E3 1997 e a primeira febre dos FPS em Atlanta

De casa nova, a E3 1997 viu Nintendo, Sega e Sony disputarem o mercado com grandes lançamentos que transformariam a indústria nos anos seguintes.

em 16/04/2015

Na semana passada revisitamos a E3 1996, ano que a Nintendo apresentou para o mundo o Nintendo 64, e Sony e Sega revelaram seus novos mascotes: Crash e Nigths. Desta vez, longe de Los Angeles, a E3 1997 marcava o forte crescimento dos FPS e a disputa cada vez mais acirrada entre Nintendo, Sega e Sony, pela hegemonia do mercado com excelentes jogos.

Olimpíada dos games  

Após o sucesso das primeiras edições em Los Angeles, a E3 foi para Atlanta, Georgia, palco das Olimpíadas de Verão de 1996. O lugar escolhido para acolher os principais lançamentos de 1997 e as promessas para 1998 foi o colossal Georgia Dome. Com 1500 novos títulos, mais de 500 desenvolvedores e uma área equivalente a 35 campos de futebol, a Electronic Entertainment Expo 1997 era a maior de todos os tempos até então.
Georgia Dome.
As pessoas enfrentavam filas gigantescas e se amontoavam entre incontáveis estandes espalhados pelo lugar, que mais parecia um shopping center de tecnologia e diversão. Pena que a feira não foi aberta ao grande público, limitando-se aos profissionais do mercado de videogames, como jornalistas, revendedores, lojistas e desenvolvedores.
E3 1997.
Com estandes que mais pareciam verdadeiros palácios do entretenimento, cada empresa buscava, a todo custo, chamar a atenção para os seu jogos e produtos. Com direito a cosplays e até uma área dedicada apenas aos acessórios, como TVs enormes, equipamentos de som e até um protótipo de volante para Mario Kart 64 — que só se tornaria realidade em Mario Kart Wii —, os profissionais ali envolvidos saíram com grandes impressões.

Foram três dias de pura diversão (trabalho também, claro) entre amantes dos videogames. Mesmo que por um curto período de tempo, Atlanta foi a capital mundial dos videogames, vendo surgir títulos inesquecíveis e a primeira grande invasão dos jogos de tiro em primeira pessoa, numa época em que os jogos de plataforma e aventura dominavam o mercado.
Era imenso.
Essa invasão não é para menos. Se pensarmos que até hoje ouvimos falar de jogos como Half-Life, Unreal, Daikatana, Quake III, Doom, Duke Nukem Forever — que demoraria mais de uma década para ser comercializado —,  Star Wars Jedi Knight: Dark Forces II, Pray e, principalmente, GoldenEye 007, é possível ter uma dimensão da importância da feira para a consolidação do gênero entre críticos e jogadores. O evento também marcou o retorno de Snake aos consoles, com Metal Gear Solid para PS.

Os encantos da Nintendo

Muito se esperava da Nintendo nesta feira. O Nintendo 64 ainda não contava com uma biblioteca de jogos diversificada, e a maioria dos títulos eram produzidos pela própria empresa. Isso até a E3 começar. Bastava ir ao estande da Rare, por exemplo, para ver o que o N64 teria para os próximos meses —  GoldenEye 007, Conker’s Quest e Banjo-Kazooie, todos em versões demos, marcaram presença na ala da Rare.
Conker marcou presença na E3 1997. Mas, pelo visto, ele ainda não curtia noitadas como o conhecemos. Se você não sabe, Conker estrelaria um título colorido e simpático, chamado Conker’s Quest, apresentado nesta E3. Interessante notar que o pessoal que compareceu ficou maravilhado com a perfeição das expressões faciais do esquilo, o que mais tarde se tornaria uma das características principais de Conker Bad Fur Day, a versão final dessa aventura.

Mesmo não mostrando o tão esperado Nintendo 64DD para o público americano, a Nintendo agradou aos visitantes com jogos memoráveis — mesmo tendo sido lá que o mundo conheceria o nada agradável Superman 64. Demonstrações de F-Zero X, The Legend of Zelda: Ocarina of Time e os já citados acima no estande da Rare animaram os nintendistas presentes.

[Foi na E3 1997 que os americanos conheceram Ocarina of Time]

O estande era incrível. Televisores espalhados, um ao lado do outro, traziam consoles para os visitantes testarem GoldenEye e os outros lançamentos para o Nintendo 64. Tinha até cabines em forma de naves esperando por jogadores de Star Fox 64, exibindo as imagens dos combates de até quatro jogadores em um telão.

Mesmo com o foco no Nintendo 64, os consoles mais antigos tiveram seu espaço na feira. O GameBoy teve sua versão compacta e colorida apresentada, assim como jogos de renome, como Donkey Kong Land e Metroid II. Todos disponíveis para testes em estantes iluminadas. Até o Super Nintendo teve seu espaço com Donkey Kong Country 3 — era Nintendo ou nada.

A Sega reage

Se já não bastassem todos os anos de rivalidade extrema com a Nintendo, a Sega agora precisava enfrentar as investidas da Sony com o PlayStation contra o Sega Saturn. E para isso, investiu bastante no seu estande na feira, ficando em pé de igualdade com as outras duas gigantes.

Com Sonic R e Sonic Jam, tivemos uma overdose do mascote da empresa, exaustivamente transmitido nas TVs e banners do lugar, gerando muito alvoroço entre os visitantes. Além de Sonic, a Sega apostou em vários títulos de espotes e no belíssimo Panzer Dragoon Saga, que junto do primeiro Resident Evil e da versão de Marvel Super Heroes deixou muito dono de Saturn esperançoso para os meses seguintes.

A Sony chegando para ficar

A Sony caprichou produzindo um estande gigantesco, com lançamentos para o seu primeiro console, mostrando que ela chegava para dominar de vez o mercado em 1997. Era para impor respeito mesmo. Telões maiores do que qualquer um por lá exibiam imagens dos títulos que chegariam ao console, como Tekken, Spawan e Marvel Super Heroes.

Marvel Super Heroes fez sucesso na E3 1997.
Ainda por cima, para cada novo jogo, uma cabine de testes disponível para os visitantes experimentarem os futuros títulos do 32 bit da Sony. Blasto e Crash Bandicoot II destacavam-se entre os vários jogos disponíveis. A galera fez fila para testar a segunda aventura do novo mascote da empresa, num local baseado na área central do jogo.
Crash na E3 1997.
Mas o grande segredo da Sony eram os jogos das suas parceiras. Capcom, Konami, Eidos, Acclain, Virgin, Lucas Arts, EA e outras faziam do PlayStation a verdadeira estação de jogos prometida pela Sony.

Konami e Capcom

O estande da Konami mais parecia um parque de diversões, repleto de jogos e luzes por todo lado. Nele, ainda era possível descolar uma bela grana. Para isso, bastava acertar uma cesta de uma distância enorme para levar US$ 10.000. Sorte da Konami que a maioria do pessoal só dominava o basquete virtual.

Castlevania: Symphony of the Night era apresentando na E9 1997.
Mas eram os jogos o grande atrativo. E para eternizar a feira como uma das mais importantes da história da empresa, a Konami tinha Castlevania: Symphony of the Night como destaque no enorme espaço para testes.

A Capcom, por sua vez, honrou seu legado com títulos de luta de renome, como Marvel Super Heroes — saindo dos arcades para os consoles 32 bit —, X-Men x Street Figther e Super Street Fighter II Collection. Para completar a onda de luta na arena da Capcom, Street Fighter Ex Plus apresentava os lutadores da famosa série de luta de rua com gráficos poligonais incríveis.
 
A empresa também apresentou Mega Man X4, aventura exclusiva para os consoles de CD da Sony e Sega. 
Não satisfeita com a porrada de jogos, a empresa ainda tinha Resident Evil II, o mais aguardado de todos os lançamentos do PlayStation. A versão demo disponível na E3 mostrou que a franquia se consolidaria entre os jogadores da época, com um jogo ainda mais aterrorizante e bem produzido.

Para os mais tradicionais, ainda rolou um agitado torneio de Super Street Figther III, atraindo verdadeiras multidões ao redor de um mega telão que transmitia as lutas. O campeão levou um trofeu de Ryu dourado e o passaporte para voltar em 1998 para defender o título.

Por fim, quase passando despercebido pelos mais desavisados, estava Metal Gear Solid. Apresentando em vídeo, o jogo que marcaria o retorno de Solid Snake revolucionaria a indústria dos videogames e marcaria para sempre seu nome entre os melhores jogos de todos os tempos.

Acclain e Midway

Entre os vários jogos de esportes disponíveis para teste, como NFL Club 98, All Star Baseball 98 e NBA Jam 98, a empresa levou Turok para demostração e apresentou Batman e Robin em versão demo, mas já contando com os gráficos detalhados da versão final. Como o filme de mesmo nome estava prestes a sair, o alvoroço pelo jogo foi grande.


Também marcaram presença nos estandes jogos como Forsaken, X-Treme G, WWF 98 e outros títulos de menor expressão. Mas, para os mais atentos, era possível, dali mesmo, avistar um cara vestido de Sub-Zero, mas em outro estande.

Era justamente entre televisores enormes, no estande da Midway, que rodava Mortal Kombat Mythologies Sub-Zero, título solo do ninja azul do gelo. Num fantástico jogo de ação e plataforma, os jogadores podiam, pela primeira vez, controlar um dos personagens principais da série de luta em uma aventura solo. Devido à popularidade da franquia na época, o game fez bastante sucesso na feira, principalmente com o anúncio do segundo longa de Mortal Kombat, feito na própria E3.
Quem ganha esse duelo?
San Francisco Rush, Mace The Dark Age, Maximum Force, Rampage World Tour e Midway Arcades Greatets Hits completavam as apostas da empresa. E para os amantes do Hockey, Wayne Greatzky, o melhor jogador do mundo na época, esteve presente do estande da feira para divulgar o jogo do N64 que levava seu nome.

Lucas Arts Entertainment

Enquanto a maioria dos visitantes se empurravam entre TVs e consoles, a Lucas Arts preparava algo mais intimista. Em uma sala reservada, a empresa recebia a mídia especializada para falar, com detalhes, sobre seus futuros lançamentos. E o grande destaque do espaço era mesmo Star Wars Rebellion, jogo de estratégia em que era possível controlar a aliança rebelde ou o império galáctico, cujo objetivo é conquistar a galáxia, nos PCs.

Star Wars Master of Teräs foi uma das apostas da Lucas Art para a E3 1997.
E as novidades do universo de Star Wars não paravam por aí. Jedi Knight: Dark Force II e uma versão para PC do clássico título do Nintendo 64, Star Wars: Shadows of the Empire, enfeitavam o estande da empresa. Por fim, ainda era possível jogar uma versão demo de Star Wars Master of Teräs Käsi, jogo de luta 3D com personagens do universo da franquia para o PlayStation.

Espaço para todos

Muitas outras empresas compareceram à E3 1997. Algumas com foco nos computadores domésticos e ourtas abraçando os consoles de mesa. Não faltou espaço para criatividade e bons títulos.
A aposta da Virgin foi no seu sucesso para PCs Subspace, jogo de naves que já atraía mais de 300.000 jogadores online, em 1997. Títulos de esporte, como NHL PowerPlay 98, e a adaptação de Hércules, sucesso de bilheteria da Disney, também animaram os visitantes, junto a Duke Nuken, Balls of Stell, Courier Crisis, Oddworld: Abe Oddysee, Total Annihilation e o fantástico Unreal, para computadores.

Visitando o estande da Virgin.
Timidamente a THQ mostrava força no cenário de games com títulos criativos e promissores, como os jogos da série WCW. Enquanto isso, na ala da Namco, Tekken III gerava grandes filas de fãs do jogo de luta 3D do momento nos arcades — nesta E3, os gamers ainda sonhavam com uma versão para os consoles caseiros. Os que esperavam uma vez no arcade aproveitavam para testar, logo ao lado, Time Crisis, jogo de tiro com pistolas reais lançado naquele ano.

No estande da Dreamworks, os visitantes podiam entrar numa caverna escura para testar o aguardado The Lost World: Jurassic Park, jogo baseado no sucesso de bilheterias de Steven Spielberg. Com gráficos em 3D incríveis para a época e possibilidade de controlar homens e dinossauros, o título para PlayStation e Sega Saturn fez sucesso na feira.
Do cinema para os videogames.
SkullMonkeys também agradou a rapaziada que passava pelo estande. Disponível para PS, o jogo criado pelos responsáveis por Earthworm Jim prometia aventura e diversão na medida certa. Já a Eletronic Arts aproveitou o espaço para divulgar Need for Speed II, com direito a cabines com volantes e tudo.
Lara Croft animando os visitantes da E3 1997.
A Eidos, por sua vez, também marcou presença com a segunda aventura de Lara Croft, em Tomb Raider II. Para divulgar o jogo, a empresa apostou em sósias da heroína como atração do estande. Não é difícil de imaginar a quantidade de marmanjo babando pelas lindas mulheres de top, short curto e óculos de sol.

Como um meteoro

Sobrou espaço para todo mundo no Georgia Dome. Empresas menores conseguiram expor seus títulos criativos e as gigantes do mercado arrebataram jogadores, especialistas e revendedores com uma safra invejável de excelentes jogos. Sem dúvidas, a E3 de 1997 foi marcante para a história do principal evento de jogos do mundo.
Lá, os jogadores se despediam do Super Nintendo e do Mega Drive, e viam o PlayStation ganhar ainda mais força contra o Nintendo 64 e o Sega Saturn.
Encerramos nossa viagem no tempo por aqui, pessoal. Fiquem ligados, pois a E3 1998 está logo aí, com novidades portáteis, o nascimento de uma lenda, um fracasso anunciado e um novo dono do mercado.
Não deixe de comentar suas experiências com os jogos anunciados nesta E3. Acompanhou a feira pela TV? Leu tudo nas revistas da época? Ou conseguiu se manter informado pela internet discada? 

Revisão: Vitor Tibério
Capa: Angelo Gustavo 
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