Quase não podendo mais ser considerado um humano, Smasher se tornou praticamente uma máquina de guerra a serviço da Arasaka. Com sua brutalidade extrema e eficiência implacável, ele lida com “problemas” de segurança para a corporação que lhe deu uma segunda chance de vida, ao custo da sua humanidade. Ao longo de sua trajetória, Smasher eliminou personagens queridos pelos fãs, e sua figura monstruosa deixa evidente o tamanho de seu poder e da ameaça que representa.
Cuidado com os spoilers à frente.
Humano
Desde seu nascimento no Bronx, Nova York, Adam Smasher cresceu em um ambiente duro e turbulento, onde gangues e violência de rua faziam parte da rotina. Ainda jovem, ele entrou em conflito com a lei e o sistema, se juntando a gangues locais e desenvolvendo desde cedo um histórico de agressão e delinquência. Em determinado momento, sua gangue foi praticamente dizimada por forças militares, o que o levou a alistar-se nos fuzileiros navais dos EUA, em busca de um novo rumo e de habilidades mais “legítimas”. Foi nesse período que Smasher aprendeu a matar, a quebrar regras e a se tornar alguém que não se importa com os limites humanos, uma base que depois serviu para sua transição metálica.
Após deixar o serviço militar por insubordinação, Smasher voltou às ruas de Nova York para atuar como mercenário contratado, aceitando todo tipo de missão suja, desde extrações perigosas até assassinatos e demolições. Ele rapidamente ganhou fama naquele submundo, justamente por sua ausência de escrúpulos, misturada com uma sede de violência que se encaixava perfeitamente no caos corporativo crescente do universo do RPG de mesa Cyberpunk 2020. No entanto, mesmo nesse estágio, ele ainda era carne, osso e vísceras, embora já envolvido em corpos, armas e implantes. A possibilidade de se tornar algo além de humano ainda pairava no ar.
O ponto de virada se deu quando Smasher aceitou uma missão para a corporação Arasaka Corporation que acabou dando errado: durante uma operação de roubo de protótipos, ele foi atingido por foguetes e ficou praticamente reduzido a “carne moída”. Sem alternativas, sua mente ainda viva, seu corpo um escombro, ele recebeu da Arasaka a proposta: acabar com sua humanidade ou morrer.
Sem qualquer laço final com sua antiga vida, Smasher aceitou a oferta e tornou-se um “borg completo”, entregando seu corpo e sua vontade para a Arasaka transformar em arma. A partir desse momento, o humano que um dia foi ficou apenas como base para algo maior, ou pior, e a figura que surgiu passou a ver carne como fraqueza, mecânica como força, mantendo sua consciência apenas como um motor de violência contínua. Esse passo marca a transição definitiva: de humano para máquina de guerra corporativa.
Máquina
A conversão de Adam Smasher não foi apenas física, mas psicológica. Nos primeiros meses após sua reconstrução, ele passou por um período de adaptação no qual sua mente humana precisava aceitar que seu novo corpo já não era feito de carne. Tudo era metal, servomotores, sistemas hidráulicos e circuitos. Ele não sentia frio, calor, dor ou cansaço do mesmo modo. Qualquer resquício de sensações humanas era mediado por softwares, e o que antes seria trauma ou reflexão transformou-se em cálculo. Para muitos, esse processo seria insuportável; para Smasher, foi libertador. Ele não lamentou o que perdeu, ele acreditava que finalmente tinha evoluído.
Foi durante essa fase de testes e calibragens que a Arasaka percebeu algo valioso em Smasher: ele não apenas aceitou sua desumanização, ele abraçou. Outros soldados borg completos costumavam entrar em colapso mental, perder identidade ou desenvolver surtos de pânico pela ausência de um corpo biológico. Smasher, ao contrário, tratou a carne como uma fraqueza descartada. Ele começou a enxergar seres humanos como inferiores, frágeis, obsoletos, simples matéria orgânica feita para ser esmagada sob sua nova forma de guerra. Sua lealdade à Arasaka não era construída em gratidão, mas em utilidade: enquanto a corporação o mantivesse como uma máquina de matar, ele teria propósito.
Com o tempo, Smasher tornou-se uma presença constante nas operações mais brutais da Arasaka. Ele era enviado quando era necessário eliminar grupos inteiros, destruir instalações, silenciar alvos difíceis ou simplesmente mandar uma mensagem. Sua reputação cresceu como um fantasma de metal que nunca hesitava, nunca recuava e nunca mostrava remorso. Não era apenas um executor, era um símbolo. A própria ideia de enfrentá-lo já quebrava a resistência de muitos. Adam Smasher tinha se tornado exatamente aquilo que a Arasaka desejava: uma arma viva, perfeitamente calibrada para violência, e orgulhosa disso.
Arasaka
Entre seus atos mais marcantes como segurança corporativo está o confronto contra Johnny Silverhand, durante o ataque à Torre Arasaka, em 2023. Johnny era o símbolo do orgulho anti-corporativo, o rosto da rebeldia contra o poder das megacorporações. Smasher o enfrentou sem hesitar, e venceu com a mesma frieza com que esmagaria qualquer outro insurgente. Para ele, Johnny não era um ícone, um herói ou um fantasma cultural, era apenas mais um corpo fraco tentando se erguer contra o inevitável. Ao derrubá-lo, Smasher consolidou não apenas sua reputação, mas a aura de invencibilidade que a própria Arasaka cultivava em torno de seu nome.
Décadas depois, seu papel como símbolo da violência corporativa seria reforçado novamente na história de David Martínez e sua equipe. Quando o grupo se tornou um incômodo real para Arasaka, representando tanto uma ameaça operacional quanto um símbolo de desobediência, a corporação enviou o mesmo demônio metálico para encerrá-los. E assim foi. Para Smasher, não havia peso emocional, não havia reflexão. A gangue de David era apenas mais um obstáculo, e ele eliminou todos sem esforço, sem hesitação e sem deixar espaço para mito ou esperança. A mensagem era clara: ninguém desafia a Arasaka e sai vivo.
Por fim, seu último grande ato surge nos eventos de Cyberpunk 2077, quando ele enfrenta V no topo da mesma torre onde um dia matou Johnny. Mas agora, o mundo tinha mudado, e ele não era mais um símbolo indestrutível, mas um colosso preso à própria história. Para alguns jogadores, ele cai ali mesmo, derrotado por alguém que se recusa a aceitar o destino imposto pela corporação. Para outros, ele sobrevive, como uma sombra à espera de outro confronto. De qualquer forma, não importa o final escolhido: naquele momento, Adam Smasher deixa de ser apenas a arma da Arasaka e se torna a expressão pura do conflito central do universo Cyberpunk, carne contra metal, liberdade contra controle, indivíduo contra sistema.
Revisão: Johnnie Brian

