Enquanto Street Fighter, Tekken ou The King of Fighters eram gabinetes
indispensáveis nos fliperamas dos anos 90, empresas como a Namco, a Capcom e a
SNK investiram bem para diversificar o portfólio além dessas marcas. No caso
específico da última empresa citada, algumas conseguiram penetrar na esfera
popular por mais tempo, como
Fatal Fury
ou
Samurai Shodown. Outras, entretanto, alcançaram um nicho, mas nunca uma popularidade global,
como World Heroes, Savage Reign, ou sua sequência,
Kizuna Encounter: Super Tag Battle, que agora recebeu um relançamento
especial para PC.
É quase MMA, mas com armas!
Em uma cidade futurista chamada Zipang City, onde diferentes culturas do mundo
se mesclaram e promoveram o encontro entre as mais distintas formas de artes
marciais, um homem chamado King Leo surge. Alegando ser o homem mais poderoso
do mundo, ele oferece a chance de ser desafiado em um torneio e, para o
vencedor, promete riqueza eterna e o título de herói.
Esse enredo, que claramente segue a mesma ideia básica de um Fatal Fury ou
The King of Fighters, é o mesmo tanto para Savage Reign quanto para a sequência, Kizuna
Encounter, uma continuação que, devido ao fracasso comercial do antecessor,
passou por uma reformulação considerável de marca. O conceito central
apresentado, entretanto, se mantém: cada lutador é especializado em uma arma
específica.
Assim, o elenco de dez lutadores, considerado enxuto para a época, se
distingue não só pelos visuais, mas também pelo equipamento que carregam. Sho
Hayate, o protagonista do primeiro game, por exemplo, retorna aqui com um
bumerangue. Gordon Bowman, o policial personagem de agarrão, por sua vez,
utiliza também um cassetete, enquanto Chung Paifu — um Mestre Kame legalmente
distinto — participa dos combates com um cajado.
Dessa forma, a própria jogabilidade apresenta um estilo único ao se voltar não
só para a lógica básica de um botão para soco e outro para o chute, mas também
um terceiro, exclusivo para esse golpe com arma. Essa abordagem, embora careça
da complexidade de um esquema de quatro ou seis botões que correspondem à
força de cada movimento, ainda é suficiente para trazer uma diversidade bacana
para o combate.
O maior diferencial de Kizuna Encounter, entretanto, é a forma com que ele
apresenta um sistema de dupla tag, sendo um dos precursores na mecânica, ao
lado de
X-Men Vs. Street Fighter, lançados praticamente juntos, ambos em setembro de 1995. No caso do Kizuna,
os jogadores precisavam escolher os dois lutadores, e a troca, durante as
lutas, se dava apenas na área delimitada da arena.
A maior diferença, entretanto, é que as lutas não se dão através de rounds
distintos, mas de um único combate, em que cada lutador tem sua própria barra
de vitalidade. A disputa se encerra no instante em que a vida de pelo menos um
deles chega a zero. Isso acaba trazendo algum fundamento tático para as
batalhas, uma vez que o cornering (isto é, o ato de encurralar e impedir o
movimento) no canto oposto, a fim de manter o oponente afastado da própria
área de tag se mostra uma estratégia bem válida e útil.
Em termos de jogabilidade, Kizuna Encounter se distingue do seu antecessor —
que tentava replicar o jeitão de Street Fighter — para abraçar um estilo mais
ágil e dinâmico, como o de The King of Fighters ou de Real Bout Fatal Fury.
Seguindo firme nessa ideia, alguns outros movimentos característicos de demais
games da
SNK também estão presentes, como o rolamento que funciona como esquiva e a
possibilidade que qualquer personagem tem de executar agarrões mais simples.
Ah, como era de praxe para qualquer jogo da SNK da época, o salto de
dificuldade que o jogo dá nos últimos combates, especialmente contra os
chefes, é quase insalubre. Ainda bem que, com um sistema de reinício quase
automático, não estamos mais à mercê desse tipo prática, que existia a fim de
fazer com que as máquinas comessem mais fichas dos jogadores e, por
consequência, lucrassem mais — além da possibilidade de reajustar a
dificuldade no menu.
Diversão para você e mais três amiguinhos
Tal como as remasterizações de Real Bout:
Fatal Fury 2: The Newcomers,
SNK Vs. Capcom: SVC Chaos,
SNK vs. Capcom: Match of the Millennium, os
Neo-Geo Pocket Selection
e várias outras marcas da SNK, a Code Mystics também foi responsável por
esta nova versão de Kizuna Encounter, fazendo um excelente trabalho na
conversão e adaptação da jogabilidade para um sistema moderno e universal
como o PC. Localmente, o título roda muito bem, sem quaisquer travamentos ou
quedas de frames.
Para o multiplayer, chama a atenção tanto para a inclusão do
rollback como o código de rede no modo online, quanto a existência
dessa modalidade multijogador no offline. No caso do Kizuna Encounter, a
desenvolvedora fez um excelente trabalho ao escolher adaptar uma versão
muito específica do jogo, conhecida como 4Way Battle Version, que
permite que até quatro jogadores possam se degladiar simultaneamente — algo
que funciona tanto para as lutas em rede quanto locais. Convenhamos: é uma
decisão muito bacana, considerando que a simples ideia de jogatina local
parece estar cada vez mais esquecida pelas desenvolvedoras.
Apesar dessa excelente sacada e que, com certeza, exerce um papel importante
no fator replay, é válido reforçar que o resto do game não oferece lá muitas
possibilidades além disso. Há um modo treino bastante robusto e
completamente personalizável, com ajuste de velocidade, vida disponível e
visualização de hitboxes, o que ajuda bastante quem quiser
experimentar técnicas diferentes em ambiente simulado antes de partir para a
porrada, de fato.
Também foi incluído um sistema de conquistas com tarefas de execução bem
simples, mas, ao menos, houve o bom senso de não incluir nada que exigisse o
jogo online, o que acaba dificultando bastante o cumprimento de 100% desses
achievements a longo prazo, quando se torna praticamente impossível
encontrar alguém nos sistemas de lobby.
Visualmente, o título é um desbunde. Os cenários e personagens, que já eram
hiperdetalhados na época, parecem mais vivos do que nunca e são embalados
por uma trilha sonora que pode ser ajustada no modo jukebox do
título.
De resto, é um pacote bastante sucinto, repetindo tudo o que foi feito em
Real Bout Fatal Fury 2. Ou melhor, quase tudo, já que é importante reforçar
que, ao contrário do que aconteceu lá, aqui, aparentemente, houve o bom
senso de reutilizar ilustrações clássicas dos personagens para cada ícone de
conquista, em vez de apelar para o serviço de uma IA.
Uma escolha inusitada, mas muito bem-vinda
Essa nova versão para PC de Kizuna Encounter: Super Tag Battle é uma
inclusão bem-vinda no catálogo de remasterizações da SNK, especialmente
devido ao caráter pouco convencional da escolha, já que a marca não se trata
de nenhum carro-chefe da empresa. Embora siga o exemplo dos seus
antecessores ao se mostrar escassa em conteúdo adicional para um
relançamento supostamente especial de um clássico, o cerne da jogabilidade
segue tão divertida quanto brutal. No fim do dia, é isso o que importa.
Prós
- Iniciativa excelente de adaptar a edição para quatro jogadores, com execução idem;
- Modo de treinamento consideravelmente robusto;
- Desempenho bem sólido, com vários modificadores para tornar a experiência mais suave;
Contras
- Edição relativamente esquelética em conteúdo adicional e modos de jogo.
Kizuna Encounter: Super Tag Battle — PC — Nota: 7.0
Revisão: Mariana Marçal
Análise produzida com cópia digital cedida pela SNK












