Análise: Kizuna Encounter: Super Tag Battle é um relançamento curioso de um clássico cult

Reedição segue a linha dos últimos lançamentos da empresa ao trazer um trabalho competente para o bruto do jogo enquanto carece de conteúdo adicional.

em 16/10/2025


Enquanto Street Fighter, Tekken ou The King of Fighters eram gabinetes indispensáveis nos fliperamas dos anos 90, empresas como a Namco, a Capcom e a SNK investiram bem para diversificar o portfólio além dessas marcas. No caso específico da última empresa citada, algumas conseguiram penetrar na esfera popular por mais tempo, como Fatal Fury ou Samurai Shodown. Outras, entretanto, alcançaram um nicho, mas nunca uma popularidade global, como World Heroes, Savage Reign, ou sua sequência, Kizuna Encounter: Super Tag Battle, que agora recebeu um relançamento especial para PC.

É quase MMA, mas com armas!

Em uma cidade futurista chamada Zipang City, onde diferentes culturas do mundo se mesclaram e promoveram o encontro entre as mais distintas formas de artes marciais, um homem chamado King Leo surge. Alegando ser o homem mais poderoso do mundo, ele oferece a chance de ser desafiado em um torneio e, para o vencedor, promete riqueza eterna e o título de herói.  




Esse enredo, que claramente segue a mesma ideia básica de um Fatal Fury ou The King of Fighters, é o mesmo tanto para Savage Reign quanto para a sequência, Kizuna Encounter, uma continuação que, devido ao fracasso comercial do antecessor, passou por uma reformulação considerável de marca. O conceito central apresentado, entretanto, se mantém: cada lutador é especializado em uma arma específica.

Assim, o elenco de dez lutadores, considerado enxuto para a época, se distingue não só pelos visuais, mas também pelo equipamento que carregam. Sho Hayate, o protagonista do primeiro game, por exemplo, retorna aqui com um bumerangue. Gordon Bowman, o policial personagem de agarrão, por sua vez, utiliza também um cassetete, enquanto Chung Paifu — um Mestre Kame legalmente distinto — participa dos combates com um cajado.




Dessa forma, a própria jogabilidade apresenta um estilo único ao se voltar não só para a lógica básica de um botão para soco e outro para o chute, mas também um terceiro, exclusivo para esse golpe com arma. Essa abordagem, embora careça da complexidade de um esquema de quatro ou seis botões que correspondem à força de cada movimento, ainda é suficiente para trazer uma diversidade bacana para o combate.

O maior diferencial de Kizuna Encounter, entretanto, é a forma com que ele apresenta um sistema de dupla tag, sendo um dos precursores na mecânica, ao lado de X-Men Vs. Street Fighter, lançados praticamente juntos, ambos em setembro de 1995. No caso do Kizuna, os jogadores precisavam escolher os dois lutadores, e a troca, durante as lutas, se dava apenas na área delimitada da arena.




A maior diferença, entretanto, é que as lutas não se dão através de rounds distintos, mas de um único combate, em que cada lutador tem sua própria barra de vitalidade. A disputa se encerra no instante em que a vida de pelo menos um deles chega a zero. Isso acaba trazendo algum fundamento tático para as batalhas, uma vez que o cornering (isto é, o ato de encurralar e impedir o movimento) no canto oposto, a fim de manter o oponente afastado da própria área de tag se mostra uma estratégia bem válida e útil.

Em termos de jogabilidade, Kizuna Encounter se distingue do seu antecessor — que tentava replicar o jeitão de Street Fighter — para abraçar um estilo mais ágil e dinâmico, como o de The King of Fighters ou de Real Bout Fatal Fury. Seguindo firme nessa ideia, alguns outros movimentos característicos de demais games da SNK também estão presentes, como o rolamento que funciona como esquiva e a possibilidade que qualquer personagem tem de executar agarrões mais simples.




Ah, como era de praxe para qualquer jogo da SNK da época, o salto de dificuldade que o jogo dá nos últimos combates, especialmente contra os chefes, é quase insalubre. Ainda bem que, com um sistema de reinício quase automático, não estamos mais à mercê desse tipo prática, que existia a fim de fazer com que as máquinas comessem mais fichas dos jogadores e, por consequência, lucrassem mais — além da possibilidade de reajustar a dificuldade no menu.  

Diversão para você e mais três amiguinhos

Tal como as remasterizações de Real Bout: Fatal Fury 2: The Newcomers, SNK Vs. Capcom: SVC Chaos, SNK vs. Capcom: Match of the Millennium, os Neo-Geo Pocket Selection e várias outras marcas da SNK, a Code Mystics também foi responsável por esta nova versão de Kizuna Encounter, fazendo um excelente trabalho na conversão e adaptação da jogabilidade para um sistema moderno e universal como o PC. Localmente, o título roda muito bem, sem quaisquer travamentos ou quedas de frames.

Para o multiplayer, chama a atenção tanto para a inclusão do rollback como o código de rede no modo online, quanto a existência dessa modalidade multijogador no offline. No caso do Kizuna Encounter, a desenvolvedora fez um excelente trabalho ao escolher adaptar uma versão muito específica do jogo, conhecida como 4Way Battle Version, que permite que até quatro jogadores possam se degladiar simultaneamente — algo que funciona tanto para as lutas em rede quanto locais. Convenhamos: é uma decisão muito bacana, considerando que a simples ideia de jogatina local parece estar cada vez mais esquecida pelas desenvolvedoras.




Apesar dessa excelente sacada e que, com certeza, exerce um papel importante no fator replay, é válido reforçar que o resto do game não oferece lá muitas possibilidades além disso. Há um modo treino bastante robusto e completamente personalizável, com ajuste de velocidade, vida disponível e visualização de hitboxes, o que ajuda bastante quem quiser experimentar técnicas diferentes em ambiente simulado antes de partir para a porrada, de fato.

Também foi incluído um sistema de conquistas com tarefas de execução bem simples, mas, ao menos, houve o bom senso de não incluir nada que exigisse o jogo online, o que acaba dificultando bastante o cumprimento de 100% desses achievements a longo prazo, quando se torna praticamente impossível encontrar alguém nos sistemas de lobby.




Visualmente, o título é um desbunde. Os cenários e personagens, que já eram hiperdetalhados na época, parecem mais vivos do que nunca e são embalados por uma trilha sonora que pode ser ajustada no modo jukebox do título.

De resto, é um pacote bastante sucinto, repetindo tudo o que foi feito em Real Bout Fatal Fury 2. Ou melhor, quase tudo, já que é importante reforçar que, ao contrário do que aconteceu lá, aqui, aparentemente, houve o bom senso de reutilizar ilustrações clássicas dos personagens para cada ícone de conquista, em vez de apelar para o serviço de uma IA.



Uma escolha inusitada, mas muito bem-vinda

Essa nova versão para PC de Kizuna Encounter: Super Tag Battle é uma inclusão bem-vinda no catálogo de remasterizações da SNK, especialmente devido ao caráter pouco convencional da escolha, já que a marca não se trata de nenhum carro-chefe da empresa. Embora siga o exemplo dos seus antecessores ao se mostrar escassa em conteúdo adicional para um relançamento supostamente especial de um clássico, o cerne da jogabilidade segue tão divertida quanto brutal. No fim do dia, é isso o que importa.

Prós

  • Iniciativa excelente de adaptar a edição para quatro jogadores, com execução idem;
  • Modo de treinamento consideravelmente robusto;
  • Desempenho bem sólido, com vários modificadores para tornar a experiência mais suave;

Contras

  • Edição relativamente esquelética em conteúdo adicional e modos de jogo.
Kizuna Encounter: Super Tag Battle — PC — Nota: 7.0
Revisão: Mariana Marçal
Análise produzida com cópia digital cedida pela SNK
OpenCritic
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João Pedro Boaventura
É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
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