Esta é a terceira parte da história de Lies of P: Overture. Na primeira, conferimos a linha central que ligou Carlo, Romeo e Lea a seu nêmesis, Arlecchino. Depois, passamos pelas histórias do Zoológico de Krat, da sádica Alquimista Markiona, do infeliz destino de Camille e da adorável títere Rosaura.
Ainda há histórias para contar e algumas delas se conectam ao começo de tudo, mostrando em mais detalhes como os tentáculos dos Alquimistas se espalharam por Krat. Já outras são apenas histórias de indivíduos cujas vidas não passaram de peças no grande tabuleiro em que a Ordem transformou toda aquela região. Veremos mais sobre isso nesta parte final.
Entendendo toda a história de Lies of P
- Parte 1: Krat e seus títeres
- Parte 2: As ambições dos Alquimistas
- Parte 3: As mentiras reveladas
- Parte 4: As histórias paralelas
Lies of P: Overture
- Parte 1: A Espreitadora Lendária e o títere assassino
- Parte 2: A família de Geppetto e Camille
- Parte 3: Vidas de Alquimistas e Espreitadores
O Covil do Diabo
Quando a Ordem dos Alquimistas veio a Krat sob a liderança de Valentinus, seu interesse estava no Ergo descoberto nas cavernas sob a cidade, conhecidas como Covil do Diabo. As famílias antigas ficaram surpresas com o potencial de riqueza daquele local e financiaram os planos da Ordem de explorar o local e construir o Laboratório Zelote. Ainda por cima, se encarregaram de eliminar os operários envolvidos, para que os segredos não vazassem.
Ali, os Alquimistas encontraram ruínas antigas de origens desconhecidas, mas de arquitetura semelhante à da Abadia Arche, a torre da Ilha dos Alquimistas. Para silenciar o trabalhador que descobriu a porta antiga das ruínas, os Alquimistas o levaram a uma cilada, deixando-o preso em um desabamento de túneis no lugar chamado Caverna da Aranha.
Ele era um mineiro que zombava de títeres e chamava sua vítima favorita de Cabeça de Pedra. Por ironia do destino, esse autômato escolheu ficar preso na armadilha junto com o humano, pois queria proteger sua vida. Cabeça de Pedra escavou por anos, até conseguir destruir a parede de pedra que os separava da liberdade e, enfim, esgotar todo seu Ergo. Ele não sabia que era tarde demais, e que o humano que queria salvar já havia morrido há muito tempo.
Naquelas ruínas subterrâneas, os Alquimistas se depararam com o Braço de Deus, uma relíquia do Anjo de uma Asa protegida por uma entidade antiga. Levaram tanto o braço quanto o guardião para seus experimentos no Laboratório Zelote. Já a criatura antiga, mesmo resistindo aos intentos malignos de seus captores, se tornou a abominação conhecida como Supervisor de Duas Caras, sujeita à vontade deles. No fim de tudo, foram P e Alidoro que, juntos, livraram-no de sua amarga morte em vida.
Ainda mais fundo nas ruínas, os Alquimistas encontraram uma criatura terrível que nem eles puderam vencer e decidiram abandonar as minas de Ergo, deixando apenas títeres escavadores para dar continuidade ao trabalho.
O ser ficou conhecido como Guardião das Ruínas Angustiado e foi trancado no salão de Altar em que foi encontrado. Poucas pessoas tinham autorização de ir até lá para pesquisas, estando expressamente proibido deixar passar qualquer resquício de Ergo. Isso ocorreu porque a substância agitava o monstro, que ficava em uma espécie de casulo segurado por uma mão gigante, o que o relaciona à entidade que os Alquimistas de Simon creem que seja Deus e que concede desejos.
Ainda havia outra criatura estranha que vivia nas ruínas, rastejando com patas e tentáculos enquanto crescia e consumia o Ergo das cavernas. P lutou com o bicho, que fugiu da morte e saiu das cavernas, estabelecendo-se nos Pântanos Inóspitos, onde podia se alimentar dos restos de Ergo armazenados nos corpos de títeres descartados ali. Assim, tornou-se o temido Monstro Verde do Pântano, o qual, anos mais tarde, Papagaio usou para emboscar o herói Alidoro e tomar seu lugar. No fim de tudo, o monstro foi vencido por P.
Goddard e Alexander, Alquimistas descartados
A busca dos Alquimistas por um ideal de Verdade superior tomou diferentes formas, indo além da mórbida Ascenção planejada por Simon. Em Overture, somos apresentados a dois exemplos singelos de Alquimistas de alto nível.
A primeira é Goddard, que estava sozinha na estação do bonde do zoológico. Ao ficar cega em um acidente de laboratório, ela passou a buscar na arte uma luz que a guiasse através da escuridão do mundo, a metafórica e a literal. Com o material de pintura encontrado por P, ela conseguiu concluir uma obra chamada “O céu da pintora”, óleo sobre tela que retrata um campo de lírios sob um céu de nuvens escuras e pesadas, cortadas por um raio de sol no horizonte.
Ela morreu e pediu que ele a exibisse a várias pessoas, até que se tornasse um reflexo de como a arte pode iluminar o mundo e revelar a Verdade.
P pendurou o quadro no Hotel Eventide, que tempos depois se tornaria o Hotel Krat. Quando ele retornou para lá, em seu próprio tempo, o quadro se transformou no céu iluminado que Goddard desejava.
Outra figura que P conhece é Alexander Goodman, um Alquimista vaidoso que dava muito crédito à sua própria inteligência e beleza. Ele inventou a Máquina Guardamentes, um dispositivo que permitia preservar um cérebro funcional e partes do sistema nervoso de uma pessoa em um tanque de líquido.
Por profunda ironia, a primeira cobaia a ter o resultado pretendido foi o próprio Alexander. Ele acredita que foi colocado lá por ter desagradado um Alquimista do alto escalão, cuja filha estava cortejando.
Não é certo o meio usado por ele para contactar P nas minas, mas Alexander acreditava estar preso em uma caixa e usou títeres mineradores defeituosos para guiar P até onde estava. Quando aceitou a terrível verdade sobre sua condição, e sabendo que o gás que mantinha o tanque estava vazando, ele pediu a P que desligasse o aparelho para que morresse logo.
A Máquina Guardamentes certamente era uma das muitas tentativas dos Alquimistas em busca da vida eterna. Não sei dizer se ela estava diretamente associada aos outros projetos sinistros que aconteciam no Laboratório Zelote.
A vila costeira
A cidade de Krat começou como um vilarejo pesqueiro e levou como símbolo o arenque pescado naquelas terras. Havia outras vilas pela região e, junto a uma delas, ficava a Casa de Caridade Monad. Foi ali que Valentinus, o Grão-Mestre dos Alquimistas da Ilha, se estabeleceu ao casar com a herdeira da família Monad, Rosa Isabella.
A vila era importante, pois era onde ficava o farol que indicava o caminho aos navios que se aproximavam. Um antigo faroleiro chamado Colombo era especialmente ganancioso e extorquia os navegadores com ameaças de desligar o farol para aqueles que não pagassem. Ele acumulou riquezas, mas acabou mexendo com os Alquimistas, de quem recebia suborno para não registrar certos navios de carga que chegavam — eles traziam o elixir maldito.
O segredo atiçou a curiosidade do faroleiro, que roubou uma caixa do carregamento e viu que eram apenas garrafas de algo que parecia remédio. Após revender no mercado clandestino, ele soube que ninguém que tomou o produto foi visto novamente.
Mesmo sabendo disso, Colombo roubou mais caixas e acabou sendo descoberto pelos Alquimistas. Para salvar a vida, o homem se trancou no esconderijo do tesouro e nunca mais pôde sair dali. Permaneceu vivo por tempo o bastante para seus gritos criarem a lenda do Fantasma do Farol, afugentando os faroleiros seguintes.
Véronique e Lumacchio, líderes dos Espreitadores
Os Espreitadores de Krat eram divididos em duas facções. Havia os Varredores, vindos das camadas baixas da cidade e ressentidos por ficarem de fora dos avanços trazidos pelos Alquimistas. Eram reconhecidos por usar máscaras de animais. Sua líder era Véronique, uma guerreira implacável com elmo de carneiro e um enorme martelo como arma.
De alguma maneira, Véronique descobriu que algo terrível acontecia no Laboratório Zelote e convocou muitos Varredores para um ataque. Primeiro, sabotaram o sistema de bonde subterrâneo que levava os Alquimistas até o laboratório e depois invadiram o local, mas foram pegos em um uma armadilha e o grupo acabou infectado com o elixir dos alquimistas e perecendo como Carcaças.
Em seu caminho pelo laboratório, Lea matou vários alquimistas, inclusive o diretor, lançando a instalação no caos. Enquanto isso, Véronique seguiu até o local mais profundo para alcançar a estação de refrigeração e diminuir a temperatura para congelar tudo e impedir que as monstruosidades escapassem para a cidade, mesmo que soubesse que isso também custaria sua vida.
Em sua loucura causada pela infecção do elixir, Véronique chegou a atacar Lea, com a qual tinha relação de rivalidade no passado, mas foi poupada pela Espreitadora Lendária. No entanto, em sua fúria ela ainda enfrentou P e conseguiu voltar à razão quando já era tarde demais, vindo a morrer em seguida.
A outra facção eram os Bastardos, renegados das famílias ricas que, ainda apegados ao luxo, trabalhavam para os Alquimistas. Usam máscaras luxuosas e a própria Espreitadora Lendária era parte desse grupo, embora atuasse diretamente sob o comando de Valentinus. O líder dos Bastardos era Lumacchio, conhecido por sua elegância cativante e postura diplomática até com seus adversários, os Varredores.
A verdade era que Lumacchio era um egocêntrico que fazia o trabalho sujo dos Alquimistas e aceitou o elixir deles. Sua soberba o fez acreditar que era um aliado importante e ele não imaginou que seria descartado pelos patrões. Ele fez uma armadilha para levar Lea e Véronique a entrarem no Laboratório Zelator e morrerem ali, mas a Espreitadora Lendária sobreviveu e P matou o Supervisor Duas-Caras.
Lumacchio foi chamado para interceptar os invasores em meio à frota naufragada Arconte e, quando tomou o elixir para adquirir força ao enfrentar o títere de Geppetto nos naufrágios da frota Arconte, foi transformado em uma Carcaça violenta e repulsiva e, no fim, implorou por sua vida, ainda sem querer crer que tinha sido um mero peão nas mãos dos mestres.
(A propósito, Lumacchio é dublado por Neil Newbon, que venceu o prêmio de Melhor Performance no The Game Awards 2023 por seu papel como Astarion em Baldur’s Gate 3.)
Ainda restam mistérios
Certas perguntas ainda ficaram sem respostas em Lies of P: Overture. Ou realmente ainda não foram esclarecidas, ou fui eu que não pude entendê-las. Uma das principais é sobre a origem de Gemini, o “grilo” falante da Lanterna Monad que P carrega e que, antes, pertenceu à Espreitadora Lendária.
Outra ponta solta de Overture é sobre a inexplicável nevasca sem precedentes que se abateu sobre Krat, uma região costeira e calorosa. Uma tela de carregamento se refere a ela por esses termos, um indício de que há algo mais por trás disso do que um surto climático natural.
Além disso, qual é a origem das ruínas antigas da Relíquia de Trismegisto e da Abadia Arche?
O certo é que Lies of P terá uma sequência na qual mais pontos da história poderão ser aprofundados. Não sabemos se ainda será centrada em Krat ou em outros locais do continente por onde os Alquimistas espalham sua influência, mas a Round 8 já indicou que terá grande influência de O Mágico de Oz. Mal posso esperar.
Revisão: Johnnie Brian












