Blast Test

Impressões: Manor Lords (PC) é promissor, mas precisa de mais tempo de desenvolvimento

Este ambicioso título tem tudo para se tornar uma referência para o seu gênero a longo prazo.

em 21/05/2024
Anunciado em 2020, Manor Lords apresentou, desde o início, uma proposta ousada, porém factível: unir o desenvolvimento e gerenciamento de cidades típicos de um simulador a batalhas táticas em larga escala em tempo real, fornecendo, em tese, o cenário ideal para a experiência medieval definitiva.


Idealizado por uma única pessoa — o desenvolvedor Greg Styczeń —, o título logo se tornou o jogo mais desejado pelos usuários do Steam, superando concorrentes de peso como Hades II (PC) e Hollow Knight: Silksong (Multi). Agora, lançado no final de abril em Acesso Antecipado, nós do GameBlast pudemos finalmente testá-lo e confirmar suas qualidades e potencialidades, mas que fique claro que ainda há uma longa jornada de desenvolvimento pela frente.

A vida como ela era

Ao começar a jogar Manor Lords, podemos, na versão atual, escolher entre três cenários: Rise to Prosperity, Restoring the Peace e On the Edge. Cada um desses — há a promessa de mais serem adicionados no futuro — apresenta ao jogador um desafio diferente, focado respectivamente em prosperidade, combate e sobrevivência.

Em Rise to Prosperity, por exemplo, o objetivo é manter os seus cidadãos felizes, planejando e desenvolvendo uma cidade medieval completa para tal. Não há com o que se preocupar em termos de combate e o jogo será considerado concluído uma vez que o seu povoado esteja devidamente estabelecido e autossuficiente.

Já em Restoring the Peace, territórios ao norte estão sendo conquistados por um barão ilegítimo. Do mesmo modo, acampamentos de bandidos estão se espalhando de forma constante e preocupante pelo mapa. A sua missão é desenvolver o seu povoado e reivindicar as terras ocupadas de forma ilegal. Neste caso, a tarefa será cumprida uma vez que todas as regiões estejam sob o seu domínio.

Por fim, em On the Edge, o objetivo é estabelecer uma cidade e um exército o mais rápido possível. As terras estão sendo atormentadas por invasores e qualquer lugar que não esteja devidamente protegido será facilmente dominado. Sobreviver e conseguir prosperar nesse contexto desafiador é a chave para a vitória neste cenário.

Além dos templates acima, também é possível ajustar diversos parâmetros relacionados à dificuldade, como o nível de exigência da sua população, a quantidade de recursos iniciais e a estação do ano em que uma partida começa. A variedade de opções e o seu respectivo impacto na jogabilidade impressionam de tal modo que não é preciso muito tempo para comprovar o potencial inato de Manor Lords, embora diversos aspectos continuamente lembrem que esta ainda está longe de ser a versão final do título.

O caminho da prosperidade

Na prática, Manor Lords possui duas metades que se complementam: a primeira, como mencionado, diz respeito à construção e ao gerenciamento; a segunda, ao combate propriamente dito. 

Tocando no primeiro aspecto, ao iniciar uma partida, você precisará, como esperado, suprir as necessidades básicas dos seus habitantes, com mantimentos e habitações. Para isso, é necessário erguer desde casas para cada família até tavernas, igrejas e cemitérios, observando recursos como madeira e pedra e também a quantidade de trabalhadores disponíveis.

Algo que chama a atenção desde o começo é a forma natural com que as estruturas se adaptam ao terreno gerado aleatoriamente para cada nova partida. Ao invés de posicionar blocos rígidos e pré-prontos, é só ligar os pontos da forma que desejar e a construção pretendida se ajustará organicamente a estradas, relevos e tudo mais. É um toque simples, mas que aumenta bastante a sensação de estar construindo algo realmente único e não somente manipulando os brinquedos alheios.

Outro ponto muito interessante é que é possível, a qualquer momento, deixar a tradicional visão superior do gênero de lado e conferir de perto o seu povoado e as suas construções. Ao selecionar o Visit Mode (modo visita, em tradução livre), o jogador pode se movimentar em terceira pessoa pelo mapa do jogo, encarnando o senhor feudal que representa e experimentando em primeira mão o cotidiano do qual é cocriador. 

“Impressionante” é um adjetivo muito adequado para definir o Visit Mode, que, mesmo com alguns bugs em seu estágio atual de desenvolvimento, consegue, juntamente com a ambientação proporcionada pela elogiável direção de arte, transmitir a sensação de habitar uma vila medieval. Sendo honesto, é possível gastar horas e horas acompanhando as construções de perto e observando as animações dos NPCs; se em Acesso Antecipado a função já é instigante, mal posso esperar pelas melhorias que devem ser introduzidas até a versão 1.0.

A guerra dos tronos

Já em termos de combate, é possível montar milícias, contratar mercenários ou erguer seu próprio exército, mas é imprescindível ficar de olho nos recursos: homens precisam ser maiores de idade para serem recrutados, e sem os equipamentos adequados — fabricados internamente ou comercializados —, não conseguirão fazer muita coisa (pra não dizer que não farão nada), evidenciando a necessidade do bom gerenciamento. 

No que tange à jogabilidade nos conflitos, Manor Lords bebe diretamente da fonte de outras franquias consagradas do gênero, como Total War. É possível dividir o seu exército em blocos e ordená-los individualmente, e a chave para o sucesso na versão atual está definitivamente nesse processo; na prática, não é preciso muito mais que 50 unidades para proteger uma vila de bandidos, por exemplo.

Agora, a não ser que você esteja jogando na configuração On the Edge, a verdade é que não é preciso se preocupar tanto assim com as possíveis ameaças. Pelo menos neste estado do Acesso Antecipado, parece que o foco de Manor Lords está mais no gerenciamento em si do que nos combates, até pela necessidade de ter uma vila minimamente funcional para estabelecer um exército ou pagar os custos dos mercenários. 

Isso não é exatamente ruim, principalmente pelos pontos positivos mencionados anteriormente, como o Visit Mode e a flexibilidade nas construções, mas é algo que definitivamente precisa ser trabalhado antes da eventual versão 1.0, assim como os aspectos a seguir.

Uma jornada de desenvolvimento pela frente

Manor Lords ainda é um jogo em progresso e o próprio desenvolvedor deixa esse fato bem claro já na tela de boas-vindas. Isso significa que bugs são esperados (embora eu tenha encontrado muito poucos), que alguns sistemas estão claramente incompletos (como as situações que desencadeiam combates) e que há diversas inconsistências em termos de UI e UX. 

Na minha opinião, a ausência mais sentida neste momento é a de um tutorial propriamente dito: embora dicas surjam espontaneamente na tela de acordo com a ação selecionada, a falta de um guia mais concreto é notável e agravada pela natural complexidade de um simulador. Não é exatamente difícil, por exemplo, ficar sem recursos básicos, como madeira, simplesmente porque não é avisado em momento algum que a sua prioridade inicial deveria ser montar construções capazes de renová-los, ao invés de habitações. 

Até o próprio sistema de atribuir tarefas aos seus habitantes é confuso inicialmente, de modo que você provavelmente notará a massa populacional focada em uma única demanda, em detrimento das demais. Sem suporte ao português brasileiro por enquanto, se aventurar nestas terras virtuais é, portanto, uma tarefa que requer paciência e uma boa dose de tentativa e erro até o correto entendimento e domínio da jogabilidade.

Porém, para cada “deslize” — se é que podemos chamar assim os percalços naturais de uma obra em produção — há algo charmoso ou instigante em Manor Lords. Se vivida adequadamente, esta jornada em Acesso Antecipado tem tudo para entregar um verdadeiro marco para o gênero e até mesmo (quem sabe?) a experiência medieval virtual definitiva. Não é preciso ir muito longe para lembrar que o envolvimento dos jogadores no desenvolvimento pode fazer a diferença no fim das contas: Baldur’s Gate 3 (Multi), por exemplo, passou anos no formato até se tornar um dos melhores RPGs de turno de todos os tempos.

Para todos os efeitos, então, Manor Lords justifica as expectativas depositadas desde seu anúncio, exibindo um inegável potencial. Se você possui o mínimo de interesse na temática medieval e aprecia jogos de gerenciamento e estratégia, vale a pena ficar de olho no desenvolvimento desta obra; em alguns anos, poderemos, afinal, estar celebrando e jogando um verdadeiro clássico moderno. Ao que tudo indica, a sorte está ao nosso favor.

Revisão: Davi Sousa
Texto de impressões produzido com cópia digital cedida pela Hooded Horse

é bacharel em Produção Cultural pela UFF e estudante de Comunicação Social pela FSMA. Na infância, ganhou um Super Nintendo dos pais e, desde então, nunca mais deixou o mundo dos games. Ainda sonha em ser um Mestre Pokémon.
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