Jogamos

Análise: Baldur's Gate 3 (PC) eleva seu gênero como um dos melhores jogos dos últimos tempos

Depois de três anos em acesso antecipado, este CRPG chega ao público com grande aclamação.


Baldur’s Gate 3
já tinha seu primeiro ato disponível desde 2020, mas por ser um estilo de nicho, um RPG tático com rolagem de dados e sistema semelhante ao jogo de mesa, acabou não caindo na graça do grande público.

Desde o primeiro contato com o game, eu sabia que se tratava de uma joia rara sendo refinada na mais preciosa calma. Hoje, temos acesso à versão final, e o resultado é uma das experiências mais completas e complexas que um videogame consegue conceber.

Com grande liberdade de escolhas, consequências variadas, missões épicas e toda a adaptação da 5ª edição de Dungeons & Dragons para o digital, BG3 é um trunfo de sua era e um marco do gênero, alcançando marcas inimagináveis na Steam em seu lançamento, com uma versão de PS5 e Xbox a caminho. A análise de hoje tem o intuito de te apresentar, o que é para mim, o melhor jogo de 2023 até o momento.

Mas cadê as masmorras e os dragões?



Quem conhece por alto o universo e lore de D&D espera a clássica história medieval: dragões, castelos, princesas, magos, paladinos e algo mímico. Tem tudo isso em Baldur’s Gate 3, mas a equipe de roteiristas foi fundo nas nuances das raças e reinos do material original.

A história começa com seu personagem sendo sequestrado por Devoradores de Mentes, entidades alienígenas que buscam dominar e controlar todas as formas de vida do multiverso. A bordo de um Nautiloide, nome das naves dimensionais dos Devoradores, seu personagem deve encontrar ajuda de outros sobreviventes e escapar em segurança enquanto enfrentam hordas de demônios e aliens.




A partir desse ponto, existe um componente que traz à trama um toque de urgência. Você foi infectado por uma larva Ilitide, o que é uma sentença de morte rápida, já que os infectados se transformam em Devoradores em pouco tempo. Assim começa a sua busca por cura, aliados e muito mais. BG3 usa esse ponto para levar seus jogadores por terras férteis, florestas amaldiçoadas, reinos gigantescos e profundidades abissais.

Cada local e personagem que você conhece conta um pouco da história desse mundo tão rico. É incrível perceber a mudança de tom entre os três atos da história, com cada um deles avançando para compreendermos quem é a verdadeira ameaça e como lidar com o inevitável fim de tudo.

Um jogo de campanhas infinitas



Quantas histórias e variações podem existir em um mesmo jogo? Em Baldur’s Gate 3, eu não saberia te dizer as respostas. Existem tantas variáveis, tantas escolhas, tantas oportunidades diferentes que é impossível que duas pessoas passem pelas mesmas experiências ao jogar. Isso traz uma diversidade incrível à gameplay, como se o próprio game fosse um mestre de RPG contando aquela história especialmente para sua party.

Para exemplificar, logo em seu tutorial é possível recrutar até dois aliados, e nesse começo também existe a opção de matar os dois. Só nessa simples escolha já vemos o começo da variação de histórias. Ao matar qualquer um deles, são dezenas de horas de sequências e histórias que o jogador nunca irá vivenciar em sua campanha, e mesmo que decida manter os dois vivos, como a maioria deve ter feito, existem diversos outros NPCs recrutáveis que apresentam o mesmo conjunto de escolhas.




Para ser ainda mais abrangente, cada objetivo, missão e personagem que você encontra te possibilita interagir de dezenas de formas diferentes, sejam opções dadas pelo jogo ou criações da sua cabeça. O acampamento dos druidas corre perigo? Você pode virar as costas e seguir seu caminho, pode ficar e defender os seus habitantes, pode ir até o acampamento inimigo e forjar uma trégua, talvez matar seus líderes impedindo uma invasão ou até mesmo se aliar aos monstros e trazer morte e destruição para a população inocente.

Isso tudo se passa apenas em uma das primeiras aventuras com as quais você se depara, e vale destacar que ela é apenas uma missão secundária! Um dos grandes feitos da Larian é tornar o mundo tão vivo e suas missões tão interessantes que o mais simples pedido de um NPC pode virar uma história épica com consequências inimagináveis. Essa combinação de variáveis faz com que cada campanha tenha um toque especial que faz o jogador sentir que está tendo uma experiência única, mesmo em um single player com suas limitações.

Todo companheiro no seu grupo tem uma linha de história própria que pode, ou não, culminar com algum momento-chave da trama, o que traz ainda mais riscos a cada passo dado. Jogar com foco no seu personagem e personalidade pode render a você mortes infelizes, mas que acrescentam demais à trama. Eu mesmo tive que matar minha clériga para que meus objetivos não fossem impedidos, mas tenho certeza que muita gente conseguiu achar uma resolução menos violenta.

Confie nos dados, confie em si mesmo



Desde o início, você tem o controle total sobre como quer proceder. Pode até ser um pouco pesado escolher entre inúmeras opções de aparência, além de classe, subclasse, raça, sub-raça, origem, truques, magias e etc, mas para o jogador médio de RPG, é um momento quase terapêutico.

Além do seu personagem, você pode montar sua party com até três outros companheiros. No acampamento, é possível fazer alterações de aparência e classe a qualquer momento em qualquer um dos personagens amigos, o que deixa a gameplay mais dinâmica, visto que dá para ter o mesmo personagem com diversas builds diferentes ao longo da jornada. É muito divertido poder dar respec nas habilidades e testar uma nova forma de jogar com o personagem sem muito esforço, até mesmo o adaptando-o a certas situações.

Tanto o combate quanto a interação com locais e pessoas são baseados no esquema do D20. Viu uma porta fechada e quer arrombar? Rola o D20. Se a dificuldade for 15, você deve acertar esse número ou mais para conseguir.




Alguns personagens e suas classes contam com vantagens. Meu bardo mesmo consegue rolar até dois dados e manter o resultado do maior + 9 pontos de vantagem, tudo porque ele foi montado com foco em persuasão e intimidação. O sistema dos dados, usado nos RPGs de mesa, é ótimo para medir o quão proficiente seu personagem é em algo, tornando o ato de ter um grupo mais diverso imprescindível para uma jogatina equilibrada. 

Entretanto, Baldur’s Gate 3 não parece lidar bem com falhas e erros críticos dos dados. Por muitas vezes eu tive a campanha completamente quebrada por ter tirado 14 em um teste que pedia 15, me forçando a carregar o save. Em outra ocasião, quando eu tentei ludibriar um guarda em um acampamento, ao falhar no teste, todos à minha volta se tornaram hostis, decretando morte certa para minha party, que teria que enfrentar oito soldados, dois gigantes e uma multidão de goblins. 




Tenho a impressão que Disco Elysium (Multi)  soube aproveitar melhor as oportunidades de fracasso. BG3 nunca para, então ele segue com as consequências de suas escolhas, mesmo que essas consequências forcem um carregamento obrigatório, o que quebra o ritmo da gameplay. Outro ponto negativo é o inventário, que fica uma bagunça boa parte do tempo, e a quantidade de informação na tela, que pode assustar jogadores iniciantes.

Uma nova geração de RPG



Baldur’s Gate 3 oferece uma aventura com o nível de detalhe que se espera de grandes títulos AAA. A forma como ele se apresenta, suas cutscenes, os gráficos e expressões faciais, tudo ajuda a compor uma obra épica que alia um combate complexo a um mundo rico e um sistema de missões que coloca muitos games da atualidade no chinelo.

Com tantas raças, locais e classes diferentes, cada combate no game parece uma mesa de D&D na vida real. Não se trata apenas de jogar apenas o clássico de tabuleiro do estilo tático, mas de entender como os poderes e sistemas podem agregar à sua experiência. O inimigo é um mago conjurador? Que tal criar água nas velas e deixar o local escuro? Talvez um robô venha para cima de você, dando a melhor oportunidade pra usar aquela magia que faz metais esquentarem. 




Vale um destaque também para a tradução em português e o excelente trabalho de dublagem original, que conta com grandes nomes do cinema, como J.K Simmons, famoso por papeis como J.J Jameson em Homem-Aranha, e Jason Isaacs, o Lúcio Malfoy de Harry Potter. 

Apesar da polêmica que levou alguns jogadores a reclamar da quantidade de finais, eu acredito que, pela existência de tantas possibilidades de uma jornada épica, as histórias e encerramentos de cada companheiro e a forma como você muda o mundo ao seu redor em cada ato, a diferença entre as escolhas finais, que não é de todo ruim, não seja algo digno de demérito.  

Liberdade é a palavra que reina por aqui: a liberdade de criar seu personagem, resolver seus conflitos, adentrar suas tramas, explorar o mundo, se relacionar, combater e sobreviver. A forma como você procede nos Reinos Esquecidos só diz respeito a você. Nem o próprio Baldur’s Gate 3 ousa te prender com opções engessadas e fáceis; aqui, você é o mestre e o jogador, que decide se esta é uma história de glória e heroísmo ou sangue e dor.

Prós

  • Liberdade completa para construir seus caminhos e ações dentro do mundo;
  • Combate dinâmico e complexo com grande escala devido ao seu vasto arsenal de poderes, truques, magias e equipamentos;
  • Gráficos e detalhes que tornam o mundo vivo e vibrante em cada particularidade;
  • Dublagem com grandes nomes do cinema, que entregam personagens cativantes e inesquecíveis em uma trama cheia de camadas;
  • Sistema adaptado fielmente da 5ª edição de Dungeons & Dragons.

Contras

  • O jogo pode punir severamente erros nos dados, não apenas os erros críticos, o que quebra a imersão com a necessidade de um carregamento compulsório;
  • Sistema de inventário bagunçado;
  • A quantidade de informações na tela e nos menus pode ser opressora.
Baldur’s Gate 3 — PC — Nota: 10
Revisão: Davi Sousa
Análise publicada com cópia digital adquirida pelo redator

Redator publicitário em tempo integral e amante de games nas horas vagas. Provavelmente aprendi a segurar um controle mais rápido do que uma mamadeira. Cresci com os maiores clássicos da Big N como Zelda, Mario e Pokémon. Hoje aproveito os pequenos momentos de descanso da vida corrida para me perder em Hyrule, em uma Tóquio pós-apocalíptica ou em um mundo de encanadores e cogumelos.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google