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Impressões: Hades II (PC) expande o roguelike em uma aventura caprichada e eletrizante

A continuação do dungeon crawler traz novas ideias e transborda qualidade, mesmo estando em Acesso Antecipado.

em 16/05/2024

Hades II mistura mitologia grega e ação dungeon crawling em uma experiência roguelike sem igual. Em uma primeira olhada, a sequência se parece demais com o sucesso indie de 2020, mas uma série de mudanças e novidades faz com que a nova aventura seja envolvente e única. Além disso, o esmero da desenvolvedora Supergiant Games se mantém, com um mundo elaborado e repleto de personagens vibrantes. 


Lançado em Acesso Antecipado, o jogo impressiona com altíssimo grau de polimento, mecânicas elaboradas e quantidade de conteúdo que supera a do original, resultando em uma experiência que já vale a pena.

Desafiando o Senhor do Tempo em uma luta complicada

Cronos, o titã conhecido como deus do Tempo, ressurgiu das profundezas e decidiu se vingar de seus filhos, atacando o Olimpo. Além disso, ele tomou o Submundo para si, aprisionando Hades e seus seguidores. Os deuses estão desesperados, pois a força de Cronos é descomunal, afinal ele controla o próprio tempo.


Mas uma possibilidade de mudar a situação surge com a feiticeira Melínoe, a princesa do Submundo que todos acreditavam estar desaparecida para sempre. A garota dedicou sua vida a melhorar suas habilidades para derrotar Cronos e resgatar a sua família, e agora chegou o momento de realizar seu propósito. Para isso, ela precisa infiltrar o Submundo em uma jornada complicada, porém ela conta com a ajuda dos deuses do Olimpo.

Assim como o anterior, Hades II se desenrola em uma aventura de ação com foco no combate: para avançar, Melínoe precisa derrotar todos os inimigos da área. Além de atacar com suas armas, a garota usa magia para lançar projéteis e criar círculos no solo que deixam os oponentes mais lentos. Uma novidade é que todos os movimentos ofensivos têm versões mais poderosas ativadas ao segurar o botão correspondente ao custo de pontos de magia.


O apoio dos deuses do Olimpo se dá na forma de Bênçãos, que modificam as habilidades de Melínoe de maneiras diversas. Os poderes de Zeus imbuem os ataques com relâmpagos que saltam entre diferentes inimigos; Hécate provê opções que queimam os oponentes continuamente; Hermes aumenta a agilidade da heroína; já Afrodite diminui a força dos monstros. Muitas das Bênçãos se complementam, então é perfeitamente possível criar sinergias poderosas.


Ao ser derrotada, Melínoe perde todas as Bênçãos dos deuses e precisa recomeçar a jornada desde o início. Entre as incursões, ela retorna para o acampamento que é a base da resistência contra Cronos. Lá, a garota pode aumentar suas chances de sobrevivência criando encantamentos em um caldeirão mágico, revelando cartas de tarô com habilidades passivas, liberando novas armas e mais. A maioria dos desbloqueáveis é permanente, sendo necessário utilizar itens coletados durante as tentativas para liberá-los.



Em um combate familiar e novo ao mesmo tempo

Depois de gastar mais de 80 horas para ver tudo o que o primeiro Hades tinha para oferecer, fiquei me perguntando que rumos a sequência poderia tomar. Em um primeiro momento achei a aventura de Melínoe bem parecida com a jornada de Zagreu, mas conforme as horas foram passando e os sistemas foram sendo revelados, me surpreendi com o novo universo criado pela Supergiant Games.
 
Um ritmo vertiginoso dita o tom das batalhas de Hades II. Melínoe é bem ágil, alternando facilmente entre ataque e esquiva, e os comandos responsivos tornam muito prazeroso controlá-la. A ação é bem similar à do antecessor, mas com algumas diferenças: a garota é capaz de correr para evitar perigos e o seu círculo mágico é uma ótima maneira de influenciar a velocidade dos inimigos.

Inicialmente eu pensei que essas mudanças limitaram as minhas opções, afinal executar esquivas em sequência era essencial para sobreviver no controle de Zagreu. Surpreendentemente, os embates foram ajustados para as novas habilidades, então fui desafiado frequentemente a dominá-las.


Com uma única investida disponível, precisei avaliar constantemente se devia esquivar ou se o melhor era correr para longe. Já nos momentos com muitos inimigos, o círculo mágico se tornou uma ótima opção para manipular os monstros: deixo os mais simples presos em uma bolha de lentidão enquanto lido com os oponentes mais poderosos.


Esses detalhes, em conjunto a novos tipos de inimigos com comportamentos distintos, deixou a ação sutilmente diferente. Muitos dos embates demandam observação e reflexos rápidos, exigindo utilizar o máximo possível das habilidades disponíveis. Somado a isso, há o sistema de feitiços com seu risco e recompensa — gasto meus pontos de magia agora para enfraquecer um monstro mais resistente ou é melhor guardar para o caso de aparecer um grupo logo em seguida?


As Bênçãos continuam sendo um dos meus aspectos favoritos de Hades II. É muito divertido alterar as habilidades de Melínoe com poderes elementais dos deuses do Olimpo e sempre me surpreendo com as possibilidades de combinações. Em uma tentativa, o ato de correr fazia cair raios nos inimigos próximos, o que me trouxe uma opção ofensiva durante a fuga; em outra partida, meu círculo mágico se transformou em um vortex que congelava monstros enquanto recuperava meus pontos de magia; já em uma terceira incursão, derreti as defesas dos oponentes com golpes flamejantes enquanto enfraquecia sua força com a ajuda de Afrodite. Mesmo após horas de jogo, continuo encontrando sinergias curiosas.

Dominar todos esses detalhes e opções é essencial, pois a dificuldade é intensa, bastando momentos de desatenção para ser morto. Mesmo assim, eu diria que o desafio está mais para exigente do que injusto, ou seja, com treino, observação e insistência é possível superar os obstáculos — muitos chefes eu achei impossíveis em um primeiro momento, mas agora derroto-os tranquilamente com consistência. Fora isso, há muitas opções para alterar a dificuldade para mais ou para menos, tornando o título acessível a diferentes tipos de jogadores.



Desbravando um mundo repleto de possibilidades

Como de costume em roguelikes, Hades II usa elementos que mudam para criar partidas distintas, como Bênçãos, inimigos e salas específicas. Cada uma das regiões apresenta características únicas que ajudam a diferenciar ainda mais cada tentativa, como armadilhas e saídas trancadas em Oceano e as grandes áreas abertas nos Campos da Dor. Uma das novidades mais notáveis é a presença de mais de uma rota, o que promete deixar a jornada ainda mais interessante — esse é um dos pontos que ainda está um pouco incompleto no Acesso Antecipado.

Fora isso, há uma infinidade de mecânicas para explorar, como plantio de sementes, criação de encantamentos que alteram o mundo, versões alternativas das armas e  habilidades passivas para Melínoe. Muitos desses recursos exigem itens que só podem ser obtidos ao utilizar ferramentas específicas, e como só podemos levar uma delas conosco, há necessidade de pensar estrategicamente os próximos passos.


Um ponto interessantíssimo é que cada derrota altera o universo de alguma maneira. Personagens comentam o desempenho da última tentativa, novas possibilidades de caminhos e de poderes aparecem constantemente, cenas de história e personagens inéditos surgem com o passar do tempo. Com isso, há a sensação de estar em um mundo em constante mutação e evolução, tornando cada morte empolgante em vez de frustrante.

Confesso que achei a busca por recursos um pouco trabalhosa e lenta demais, com muitas coisas exigindo inúmeras partidas para serem liberadas, mas imagino que isso pode passar por balanceamento durante o desenvolvimento. Mesmo assim, há variedade impressionante de situações, com novidades sendo introduzidas constantemente, então raramente me senti entediado.


Como é de costume da desenvolvedora Supergiant Games, o universo de Hades II é ricamente construído. É interessantíssimo ver essa interpretação curiosa da mitologia grega, com deuses e entidades carismáticos que esbanjam personalidade. Uma dublagem excelente reforça a caracterização e o texto, que já está em português, é divertido e envolvente. O único ponto pendente é a história, que mal é explorada no momento — no entanto, não é motivo de preocupação, afinal isso deve mudar no decorrer do desenvolvimento.



Explorando uma versão inicial que já está muito completa

Hades II foi lançado em Acesso Antecipado, ou seja, o jogo ainda está em desenvolvimento e levará em conta as sugestões da comunidade. Porém, o nível de polimento é bem alto que parece até mesmo uma versão final. Claramente algumas coisas ainda estão faltando, como a conclusão da trama e algumas artes, mas a aventura já pode ser aproveitada em sua totalidade, contando até com chefe final.


O que mais me impressionou é que a sequência já tem mais conteúdo que o antecessor: a jornada conta com seis áreas distintas (o primeiro tinha somente quatro regiões), cinco armas com variações e inúmeras mecânicas e opções de customização. Mesmo assim, a desenvolvedora promete adicionar ao menos mais uma área e mais uma arma e, quem sabe, outras surpresas pelo caminho. Sendo assim, no estado atual, a aventura já vale a pena.

No meu tempo com o jogo, encontrei poucos problemas, como um bug que impedia que Melínoe se movimentasse. Além disso, os elementos visuais precisam de ajustes: às vezes o caos visual é opressivo e difícil de entender, e em certos momentos levei dano de perigos distantes. Também acredito que o balanceamento pode ser melhor, pois alguns inimigos são fortes demais, já outros têm vida em demasia. No entanto, essas questões devem ser resolvidas durante o período de Acesso Antecipado.



Uma jornada notável e muito promissora

Hades II resgata os pontos fortes de seu antecessor enquanto introduz inovações significativas que enriquecem a experiência. A combinação de mecânicas aprimoradas, um universo mitológico envolvente e uma jogabilidade desafiadora, mas recompensadora, assegura que tanto veteranos quanto novatos encontrarão diversão nesta odisseia elaborada. O resultado é familiar, porém há mudanças o suficiente para justificar uma sequência.

O lançamento em Acesso Antecipado é impressionante, pois conta com diversidade de conteúdo que já supera o anterior em alguns pontos, além de alto grau de polimento nas mecânicas e na parte técnica. Algumas características ainda estão ausentes, como o fim da trama e melhor desenvolvimento de personagens, mas é só uma questão de tempo para que elas sejam incluídas no jogo.

No mais, Hades II é um roguelike fenomenal que já apresenta qualidades para superar o legado de seu antecessor. Ainda há espaço para melhorias, novidades e surpresas, no entanto a experiência disponível agora é completa, envolvente e imperdível.

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Texto de impressões produzido com cópia digital cedida pela Supergiant Games

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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