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Análise: Forza Motorsport (XSX/PC) continua na dianteira, mas derrapa em alguns pontos

Com jogabilidade, visuais e modelos reformulados, este reboot brilha no quesito acessibilidade.


A série Forza faz parte da identidade da plataforma Xbox e seus títulos são, por tradição, vitrines da capacidade técnica dos consoles da Microsoft. Apresentado no Xbox Showcase de 2020, Forza Motorsport é um reboot da aclamada série de simcades (simuladores de corrida acessíveis) e prometeu não só mostrar o poderio gráfico da plataforma, mas uma reformulação completa de uma das séries mais amadas pelos fãs de games de corrida.

Reboot de jogo de corrida?

Mas, afinal de contas, o que seria o reboot de um jogo de corrida? A reformulação proposta pela desenvolvedora Turn 10 envolve a remodelagem de todas as pistas e carros a partir do zero, refazendo tudo com fotogrametria digital de ponta, com tudo pensado para otimizar o código para a arquitetura dos consoles de nova geração, que conta com recursos de ray-tracing.


As mecânicas de dirigibilidade e física de simulação também foram recriadas, assim como todas as gravações do áudio de motores e pneus. Foram acrescentadas mecânicas de consumo de combustível e desgaste de pneus, com a temperatura do asfalto e o clima alterando dinamicamente as características de aderência.

Outra mudança importante está na filosofia de lançamentos da série. A Microsoft anunciou que Forza Motorsport será não apenas um jogo, mas uma plataforma live-service com conteúdo atualizado por muitos anos, o que contrasta com o modelo anterior de títulos lançados bianualmente.

Essa mudança, embora possa parecer atraente, faz com que eu também sinta um certo receio, já que o modelo de jogos como serviço pode perder o interesse da comunidade, como bem mostraram Marvel’s Avengers (Multi) e Knockout City (Multi).

Além disso, refazer tudo do zero tem suas desvantagens. Atualmente, Forza Motorsport oferece cerca de quinhentos carros e vinte pistas, muito menos que seus antecessores. Senti a ausência de muitas pistas clássicas da série, como o circuito de rua do Rio de Janeiro e Brands Hatch, que eu costumo usar como parâmetro comparativo por estar presente em outros simuladores, como Assetto Corsa (Multi), Project Cars 3 (Multi) e Gran Turismo 7 (PS4/PS5).


Mais de duzentos carros presentes nos Forza anteriores também estão ausentes no reboot, por isso é bem provável que um de seus favoritos não esteja na garagem, como meu amado Honda Civic Si 2014 que me acompanha desde Motorsport 5. É claro que isso poderá ser remediado com acréscimos de conteúdo no futuro.

Mãos no volante (ou no controle)

A física reformulada de Forza Motorsport apresenta a melhor jogabilidade já vista na série. A sensação de peso e comportamento dos carros na pista está muito mais realista, especialmente quando usamos um volante dedicado (no meu caso um Logitech G920). A melhoria em relação a Forza Motorsport 7 é brutal, muito mais próxima da realidade, tanto no force feedback quanto na animação das mãos do piloto na tela, que agora refletem exatamente o ângulo que você está fazendo com o volante no mundo real.

Mesmo jogando com controles, é possível notar um grande aprimoramento na jogabilidade se comparado a Forza Motorsport 7, com o sistema de feedback individual nos gatilhos dos controles Xbox transmitindo muito bem a sensação de peso do carro, tração, frenagem e aderência dos pneus na pista. O único ponto no qual o jogo ainda fica devendo é a sensação da zebra nas curvas, que continua nada convincente.


Outra novidade foi a introdução de sistemas de consumo de combustível e desgaste de pneus. É possível optar por pneus de diferentes composições, refletindo em aderência e desgaste, aumentando o desafio e fazendo com que o jogador precise pensar numa estratégia de boxes em corridas longas ou com mudança de clima, o que, na minha opinião, deixa essas corridas muito mais divertidas.

Apesar da grande melhoria no realismo, Motorsport ainda faz concessões para manter-se acessível a um público mais amplo e não tornar-se um simulador super exigente (e chato). Por exemplo, não existe ponto morto, mesmo optando-se pela marcha manual, e o motor não morrerá mesmo que você freie com vigor com o carro ligado. O game oferece uma ampla gama de opções de customização de simulação e assistências para deixar a jogabilidade no ponto certo dentro dos seus gostos pessoais e habilidade.


Eu considero que o sistema de punição é um dos pontos a serem melhorados em Forza Motorsport. Quando o jogador trapaceia batendo de propósito nos adversários ou cortando curvas, o sistema de punição acrescenta uma penalidade no tempo de corrida do piloto. Entretanto, o sistema é inconsistente, às vezes punindo severamente saídas de pista acidentais, ou ignorando completamente trapaças intencionais graves. Provavelmente ele também será aprimorado em atualizações futuras.

Progressão de RPG

A campanha é extremamente simples, dividida em categorias de carros que, ao serem vencidas, desbloqueiam novas categorias. O sistema de progressão agora é similar ao de um RPG, em que o jogador ganha pontos de experiência para cada modelo de carro ao completar provas e treinos.


Jogar contra oponentes mais difíceis, começar a corrida em posições mais desfavoráveis no grid ou realizar proezas como ultrapassagens ou curvas perfeitas rendem experiência extra. Essa experiência, porém, não é compartilhada com outros modelos que você possui, apenas com aquele que você está dirigindo. Esse sistema em que evoluímos os carros ao invés do piloto não agradou a todos os jogadores por exigir grinding excessivo.

Outra novidade é que os upgrades de carro não ficam disponíveis desde o começo, é preciso conquistá-los um a um. A cada corrida, recebemos peças que permitem fazer melhorias nos veículos, que, como em todo bom simulador, podem ser customizados nos mínimos detalhes.


Uma das novidades meio chatinhas são os treinos “obrigatórios” de três voltas antes de cada corrida. Eu coloquei o termo “obrigatório” entre aspas pois, apesar de ser apresentado como mandatório na gameplay, na prática é possível pular essa etapa escolhendo a opção “sair” no menu de pausa. Entretanto, isso acaba sendo uma chatice que obriga o jogador a passar por telas de carregamento desnecessárias, que poderiam ser evitadas se o treino fosse opcional.

Beleza para refletir

Forza Motorsport é, como era de se esperar, lindo, e apresenta uma qualidade gráfica arrebatadora, sendo esse um de seus principais destaques. O elemento mais impressionante é o ray-tracing em tempo real durante a gameplay, que se traduz em iluminação e sombras realistas, reflexos na lataria dos carros e na pista molhada de chuva, algo que não existe em nenhum outro jogo de corrida em consoles. Seu concorrente mais próximo, Gran Turismo 7, só oferece o recurso durante replays ou no modo fotografia.


Ao iniciar a jogatina no Xbox Series X são oferecidos três modos gráficos: performance, performance com ray-tracing e qualidade. Eu optei por “performance com ray-tracing”, que acredito trazer um bom balanço entre jogabilidade fluida e aparência. Infelizmente, essa opção não pode ser alterada depois que a escolha é feita.

Todas as pistas oferecidas estão ricamente detalhadas e podem ser jogadas com variações em tempo real de clima e horário do dia. Os modelos de carros estão espetacularmente representados, tanto no exterior quanto no interior, e os efeitos de iluminação fazem com que materiais como plásticos, metais e pinturas pareçam incrivelmente realistas.


O dano dos carros, um dos pontos mais criticados em Gran Turismo 7, é trabalhado mais realisticamente em Forza Motorsport, com arranhões calculados individualmente levando em conta a direção do atrito e a espessura da tinta na região da lataria atingida.

Pista cheia

Outra grande melhoria neste reboot está no modo multiplayer, que foi bastante aprimorado. Agora, o jogo conta com eventos programados pela desenvolvedora, que promove atividades especiais, principalmente nos fins de semana. Alguns desses eventos possuem um prazo limitado de vigência e podem conceder prêmios como carros exclusivos.


Os eventos multijogador usualmente consistem em uma etapa de treino, uma classificatória e a corrida propriamente dita, que começa quando o cronômetro se esgota. A posição inicial é calculada com base nos tempos de volta da etapa classificatória. Para garantir que as corridas serão justas, os jogadores recebem uma “Classificação de Segurança” atribuída individualmente com base nas penalidades recebidas e na sua capacidade de seguir regulamentos. Trapaceiros contumazes poderão ficar sem acesso às atividades.

Uma ausência marcante que senti foi a inexistência do modo multiplayer local com tela dividida, que era sem dúvida um grande modo de curtir Forza no sofá com os amigos. A experiência de 2023 é agora solitária, cada um na sua TV.

Pole Position em acessibilidade

Outro ponto no qual Forza Motorsport se destaca é nas amplas opções de acessibilidade oferecidas, cobrindo jogadores com deficiência motora, auditiva e visual. Existem opções para daltonismo, realce de contraste e o dimensionamento do HUD, narrador de tela e audiodescrição dos elementos visuais.

Para jogadores com deficiência motora, é possível combinar diversos assistentes de aceleração, frenagem, direção e facilitadores para jogar com uma única mão. Porém, não pense que os assistentes jogarão por você: mesmo habilitando todas as ajudas, ainda é preciso conduzir o veículo e a experiência sempre será desafiadora.


A maior novidade fica por conta dos assistentes de condução cega, que permitem que até mesmo jogadores cegos desfrutem de um simulador de corrida. Isso é executado de uma maneira muito inteligente, em que o som do motor do carro e dos pneus é deslocado para indicar a linha de condução sugerida, além de possuir indicadores sonoros de sinalização de curvas, desaceleração, limite de pista e troca de marcha. Não por acaso, Forza Motorsport é um dos indicados na categoria Inovação em Acessibilidade da premiação The Game Awards 2023.

A força de Forza

Forza Motorsport continua sendo referência em simuladores de corrida para consoles e é a mais bonita entrada da série, além de ser a que apresenta a jogabilidade mais realista e refinada dentre todos os Forza e merecer elogios por suas amplas opções de acessibilidade.


Ele não é livre de defeitos, contudo, oferecendo menos pistas e carros que seus antecessores e possuindo um sistema de punição inconsistente, mas seu modo multiplayer sólido faz com que este reboot seja uma indicação obrigatória para entusiastas de esporte motorizado nos consoles.

Prós

  • Ótima jogabilidade multiplayer, com uma estrutura competitiva mais atrativa e melhor elaborada;
  • Apresenta a dirigibilidade mais apurada e realista da série;
  • Amplas opções de acessibilidade, incluindo assistência à condução para pessoas completamente cegas;
  • Gráficos lindos, com ray-tracing em tempo real durante a gameplay;
  • As novas mecânicas de desgaste de pneus e combustível acrescentam estratégias de boxes em corridas longas, o que é bem divertido.

Contras

  • Sistema de punição inconsistente, que pune erros bobos e ignora algumas maldades intencionais;
  • Ausência de multiplayer local com tela dividida;
  • Possui menos pistas e carros que seus antecessores.
Forza Motorsport — XSX/PC — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Xbox Series X
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital adquirida pelo redator

é engenheiro eletrônico e tem uma filha fofinha que tenta morder os controles do papai. Curte jogos de luta, corrida e ação.
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