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Análise: Shadow Gambit: The Cursed Crew (Multi) – Embarcando em uma aventura com piratas do além

Comande uma tripulação que esbanja carisma e coragem na busca pelo maior tesouro de suas vidas.

Entre os temas que mais me cativam através de diferentes mídias, a pirataria ocupa uma das três primeiras posições, ao lado da fantasia medieval e do faroeste. Quando um filme, livro ou, neste caso, um jogo aborda qualquer um desses temas, automaticamente desperta o meu interesse.

Nesta análise, exploraremos o novo projeto concebido pelas mentes criativas da Mimimi Games, responsáveis por alguns dos melhores títulos do gênero de estratégia furtiva dos últimos tempos, como Desperados III e Shadow Tactics: Blades of the Shogun. Prepare sua espada, carregue sua pistola, abra aquela garrafa de rum de procedência duvidosa e ajeite seu chapéu, pois embarcaremos em uma aventura com uma tripulação bastante incomum em Shadow Gambit: The Cursed Crew.

O tesouro do Capitão Mordechai

A história de Shadow Gambit se desenrola em uma realidade alternativa da Era Dourada da Pirataria. Nesse contexto, algumas pessoas são afligidas pela denominada Maldição das Almas Perdidas, que as transforma em mortos-vivos e, de maneira peculiar, assombra o enigmático arquipélago do Caribe Perdido. Nesse cenário, a Inquisição, uma entidade opressora, empreende a caçada aos piratas amaldiçoados que percorrem os quatro cantos dessas ilhas.

Em Shadow Gambit: The Cursed Crew, somos apresentados a Afia Manicato, uma pirata que, como outros de sua laia, está em busca de reputação, tesouros e aventuras. Afia é uma amaldiçoada e, assim como muitos no arquipélago, anseia por encontrar o famigerado tesouro do Capitão Mordechai, uma das figuras mais proeminentes na história dos piratas da região.


Após a morte de Mordechai, pistas foram deixadas por ele para que algum indivíduo corajoso — ou mesmo audacioso ou doido o suficiente — fosse capaz de desvendar seu enigma póstumo e se apossar do almejado e valioso tesouro. A busca por essa riqueza leva Afia a se deparar com Red Marley, o antigo navio fantasma que transportava a notória tripulação do capitão durante o auge de sua carreira na pirataria e também é um membro do grupo.

Ciente da magnitude do tesouro e reconhecendo o profundo entendimento de Afia sobre as histórias que envolvem a tripulação de Mordechai, Marley decide recrutar a jovem para auxiliá-la na tarefa de reviver os membros do grupo e percorrer o arquipélago em busca da fortuna. O objetivo é alcançá-la antes que a impiedosa Inquisição, liderada pela implacável Ignacia, o faça, a transformando em uma força implacável e, assim, pondo um fim aos amaldiçoados que habitam todo o Caribe Perdido. É dada a largada para uma das caçadas ao tesouro mais impressionantes dos últimos tempos.

A Tripulação Amaldiçoada

Shadow Gambit: The Cursed Crew apresenta um jogo de estratégia com uma abordagem focada na furtividade. Se você já teve a oportunidade de interagir com os títulos mencionados no início deste texto, está convidado para mais uma envolvente experiência dentro desse gênero, agora situada no contexto dos piratas. O elemento de destaque primordial no jogo é a maneira pela qual o jogador deve comandar os membros da tripulação durante uma diversidade de missões, a fim de concretizar seus objetivos.

Cada integrante da equipe carrega habilidades distintas que, ao serem dominadas, geram momentos extremamente gratificantes ao prevalecer sobre os oponentes no ambiente, permitindo a progressão em cada missão. À medida que a história avança, o jogador tem a capacidade de ressuscitar, um a um, os membros da tripulação de Mordechai, com a finalidade de utilizá-los no decorrer da narrativa.
Afia Manicato, a figura central, atrai a atenção do enigmático Virgilio. Ela possui a habilidade de efetuar um salto sobrenatural que a possibilita mover-se rapidamente para eliminar um inimigo. Suleidy, a médica da embarcação, é capaz de gerar arbustos em diversos locais, que funcionam como camuflagem para os demais integrantes do grupo.

Toya de Iga, conhecido por sua maestria como assassino no Oriente, desempenha o papel de cozinheiro na equipe. Ele se destaca por eliminar rapidamente os oponentes e marcá-los para, então, teleportar-se até a posição deles a fim de concluir o abate, ou ainda para explorar a mobilidade como vantagem.

John Mercury, o carpinteiro, pode contar com o auxílio de seu fiel companheiro, o peixe Sir Reginald, para distrair os adversários, bem como utilizar sua âncora e esconder-se nas profundezas do Abismo, surpreendendo os inimigos e arrastando-os para um destino sombrio.

A canhoneira do navio, Gaelle le Bris, exibe uma força bruta ao manusear seu canhão, possibilitando o abate à distância dos oponentes ou a distração deles por meio de suas bombas. Apesar de sua aparência rude, seu verdadeiro talento reside na poesia. Em contraste, temos Teresa la Ciega, a atiradora de elite. Sua besta nunca erra o alvo, mesmo quando este se encontra a longas distâncias.

Quanto a Quentin Aalbers, um entusiasta de tesouros, ele transformou sua própria cabeça em um adorno de ouro, que também desempenha o papel de distração para eliminar os inimigos, sendo seguido pela utilização de sua vara de pesca para guardar os despojos no baú que carrega nas costas para levar todos os espólios que conseguir.

No entanto, nenhum desses personagens é comparável ao extravagante contramestre da tripulação, Pinkus Pravus Pernelion von und zu Presswald. Ele se autodenomina um árbitro de bom gosto e, além disso, é um autêntico artista quando se trata de se apoderar de corpos e espionar para além das linhas inimigas.


Um dos atributos mais notáveis do jogo é, justamente, esse conjunto ilustre de piratas. Cada um deles é dotado de personalidades singulares que nos conquistam à medida que adentramos o universo de Shadow Gambit. Enquanto somos estimulados pelo ímpeto aventureiro de Afia, vislumbramos o senso de honra de Toya, nos divertimos com a natureza festiva do beberrão John e também nos vemos envolvidos nas extravagâncias de Pinkus. As atuações individuais de cada personagem se destacam a todo instante, estabelecendo um apreço por suas contribuições na trama.

Ao longo da trama, o jogador necessita reunir Pérolas Negras e Energias de Alma durante as missões, essenciais para ressuscitar todos os integrantes do grupo de Mordechai. A ordem na qual eles são trazidos de volta à vida está sob a decisão do jogador. Por esse motivo, em diversas ocasiões, dediquei alguns minutos consideráveis lendo os perfis de cada um, a fim de avaliar qual deles seria mais vantajoso ter a bordo em cada momento.

A cada novo membro da tripulação que é ressuscitado, Marley demanda que ele participe do Convés de Treinamento. Isso permite que o jogador absorva as principais mecânicas do novo integrante através de situações e desafios que ilustram de maneira prática o funcionamento individual de cada um. Tais experiências são oferecidas antes de prosseguir com o jogo, em vez de deixar para testar cada um só na hora da verdade.

Ciclos de erros e acertos

A dinâmica de Shadow Gambit se desenrola nas variadas ilhas que compõem o Caribe Perdido. Muitas das missões se repetem no mesmo local, embora com objetivos distintos a serem alcançados, além da variação no número ou na restrição dos membros que podem ser empregados em cada tarefa.


Na maioria das missões, o jogador tem a opção de selecionar até três tripulantes da equipe para participar. É essencial fazer escolhas estratégicas com base nas competências de cada integrante. Alguns têm a aptidão de abater inimigos rapidamente ou de ocultar com mais eficiência os corpos, enquanto outros se destacam por suas habilidades em criar distrações ou em executar ações que permitem uma infiltração mais sutil e menos violenta.

Contudo, o ponto culminante da mecânica do jogo reside na atribuição ao Red Marley, o navio fantasma e membro mais devoto do falecido Capitão Mordechai. A embarcação detém a capacidade de recuperar memórias, permitindo que a tripulação retroceda no tempo e tenha uma nova oportunidade para executar uma ação que tenha falhado. Para ilustrar, essa funcionalidade assemelha-se às Areias do Tempo da franquia Prince of Persia.

Ao acionar o botão designado para essa ação, Marley captura uma memória específica, um momento no tempo. Se o jogador executar uma ação e ela for malsucedida, como expor o grupo a perigos ou alertar os inimigos, pode pausar o jogo e selecionar a memória desejada para voltar exatamente ao momento em que ela foi capturada.

Essa capacidade se mostra excepcionalmente influente e confere uma singularidade marcante à experiência em Shadow Gambit. Para alguns, representa uma ferramenta que torna o jogo mais gerenciável, especialmente para aqueles que não possuem muita destreza em jogos desse gênero. Por outro lado, essa mecânica pode eliminar parte do desafio, permitindo que o jogador recorra à recuperação de memórias repetidamente até alcançar uma jogada bem-sucedida.
Tendo isso em mente, a Mimimi desenvolveu um sistema de ajuste de dificuldade altamente adaptável, que possibilita ao jogador personalizar a experiência do jogo conforme sua preferência. É viável intensificar a agressividade dos inimigos, diminuindo as margens de erro, além de restringir o uso da técnica de recuperação de memórias ou até mesmo desativá-la por completo.

Periodicamente, Marley dá avisos para o jogador salvar uma nova memória. Como a ação não é obrigatória, fica a critério do jogador usar esse artifício durante suas investidas. Fiz um uso muito proveitoso dessa mecânica para corrigir os múltiplos erros que cometi em diversas missões. A própria técnica está imersa no contexto da narrativa, por isso sugiro mantê-la ativada, mesmo que de forma limitada, para alinhar a experiência ao que os desenvolvedores pretendiam.

Piratas vs. Fanáticos

A função do jogador é controlar individualmente os membros da equipe pelo mapa, visando cumprir os objetivos da missão. Dado o enfoque na furtividade, confrontos diretos são uma escolha que pode resultar em desvantagens consideráveis. Quando os inimigos são alertados, eles se organizam de maneira a rapidamente cercar o grupo, o que pode levar ao fracasso da missão. Entretanto, a potência temporal de Marley evita esse desfecho.


Nesse contexto, o jogo proporciona situações que estimulam o jogador a empregar a mente para conceber meios eficazes, criativos e por vezes atípicos para contornar os inimigos, seja abatendo-os ou não. Essas estratégias estão limitadas pela inventividade e sagacidade do jogador ao enfrentar diferentes tipos de oponentes em cada nova missão.

Enquanto alguns inimigos se mostram facilmente distraídos e suscetíveis a abates, outros apresentam resistência adicional, como não abandonar a sua posição ou exigir a contribuição de mais de um membro da equipe para serem derrotados. Uma funcionalidade de pausa permite ao jogador dar instruções específicas aos integrantes do grupo para uma ação conjunta.

Tal tática se torna necessária em momentos nos quais é quase inevitável a exposição ao perigo, nesses casos, contar com um aliado para agir no momento adequado se torna crucial para escapar de enrascadas. Se um erro ocorrer, é possível recorrer à recuperação de memórias e tentar novamente.

A admirável criatividade proporcionada pelo jogo para solucionar diversas situações merece reconhecimento. Se o desejo for passar despercebido pelos inimigos, é possível fazê-lo. Se optar por eliminá-los individualmente para desimpedir o caminho para a equipe, essa abordagem também é viável. E caso se sinta mais propenso a uma abordagem agressiva e a atirar indiscriminadamente, essa opção também está ao alcance. Tudo fica a critério do jogador, de acordo com a situação e os tripulantes empregados naquele instante.
Eu tive a oportunidade de experimentar a demonstração no PC e achei a jogabilidade com teclado e mouse bastante intuitiva. Ao passar para a versão completa no console, fiquei surpreso com a jogabilidade extremamente acessível, que se mostrou prática e funcional. A seleção dos membros a serem controlados e a definição das ações são tarefas bastante simples. Além disso, mover os personagens na tela através do analógico do controle é mais natural do que clicar com o mouse.

Em minha experiência pessoal, por razões de conveniência, eu recomendo jogar com um controle, mesmo reconhecendo que este tipo de jogo geralmente se beneficia mais da jogabilidade com mouse. Ampliando a ideia de liberdade mencionada anteriormente, ela também se estende à forma como você deseja abordar a sua experiência em Shadow Gambit.

Estamos prontos, capitão!

Shadow Gambit: The Cursed Crew, ao reunir um gameplay coeso, uma narrativa excepcional e um nível de desafio que permite personalização, proporciona mais uma experiência brilhante no cenário do gênero de estratégia furtiva.

É evidente que o jogo se destaca por sua jogabilidade intuitiva e versátil. A habilidade de controlar individualmente os membros da equipe, bem como utilizar as capacidades únicas de cada um, confere uma profundidade notável ao gameplay. A mecânica do poder temporal de Red Marley também adiciona um elemento inovador, permitindo revisitar momentos cruciais e corrigir erros.

O enredo envolvente, ambientado em uma realidade alternativa da Era Dourada da Pirataria, proporciona um pano de fundo intrigante, alicerçado em elementos como a Maldição das Almas Perdidas e a caçada implacável da Inquisição. A mistura de fantasia e pirataria dá um toque único à trama, enquanto os membros da tripulação de Mordechai contribuem com personalidades distintas que enriquecem a narrativa.


Além disso, a possibilidade de personalização do nível de dificuldade permite que jogadores com diferentes níveis de habilidade desfrutem da experiência. Isso, aliado à sugestão de utilizar um controle para jogar, demonstra a atenção da Mimimi Games às preferências e conveniências dos jogadores.

No panorama geral, Shadow Gambit: The Cursed Crew solidifica ainda mais o status da Mimimi Games como uma produtora de experiências marcantes e gratificantes no gênero de estratégia furtiva. Em um mercado talvez não tão vasto, a empresa continua a cativar tanto os aficionados quanto os recém-chegados, como um corsário habilidoso conquistando novos territórios. Um brinde merecido, seja com rum ou uma taça de admiração, a este impressionante título.

Prós

  • Jogabilidade fluida e bem integrada com o gênero de estratégia furtiva;
  • Narrativa intrigante graças a um enredo interessante e personagens cativantes;
  • Nível de desafio administrável e com total liberdade de customização;
  • A técnica temporal do Red Marley é uma inovação ao gênero, dando a chance de experimentar diferentes estratégias em tempo real;
  • Ótima localização para o português (menus e legendas).

Contras

  • A quantidade de missões nos mesmos cenários passa sensação de repetitividade;
  • A conclusão total do jogo demanda muito tempo;
  • A técnica de captura de memória é extremamente poderosa e pode afetar negativamente a experiência geral, se usada em demasia.
Shadow Gambit: The Cursed Crew — PC/PS5/XSX — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Mimimi Games

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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