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Análise: Stray Gods: The Roleplaying Musical (Multi) — Inspiração, deuses gregos e canções

Visual novel musical oferece uma experiência emocionante.

Stray Gods: The Roleplaying Musical
é um jogo de aventura que pode ser tecnicamente enquadrado no conceito de visual novel. Na pele da jovem Grace, conhecemos um mundo de deuses gregos e canções.

Em busca do seu caminho no mundo

Grace é uma integrante de uma pequena banda criada por sua melhor amiga, Freddie. Um dia, após o grupo fracassar em sua busca por um novo integrante, nossa protagonista se questiona sobre suas escolhas de vida até ali e a sensação de estar sem rumo na vida. Nesse momento, ela conhece uma jovem misteriosa chamada Calliope em um encontro mágico que muda para sempre o seu futuro.

Sem entrar em muitos detalhes para evitar spoilers, Grace pouco depois descobre que deuses gregos coexistem com os mortais, mantendo a sua identidade em sigilo. A descoberta poderia ser algo apenas curioso ou até fascinante, mas a nossa protagonista está sendo acusada pelo assassinato de um deles e precisa provar sua inocência.

Para poder resolver o mistério, Grace terá que se envolver no mundo dos deuses antigos, criando alianças e descobrindo pouco a pouco os detalhes do caso. Ao mesmo tempo, a garota possui agora um poder especial de inspirar as pessoas com a música que vem de dentro de si, dando início a sequências musicais.

Esses trechos da narrativa são como uma batalha argumentativa em que os personagens são estimulados a mostrar o que carregam dentro de si. Sentimentos e pensamentos que poderiam ficar escondidos vêm à tona na forma de canção e podemos influenciar o avanço da narrativa com as nossas escolhas.

De forma geral, trata-se de uma trama muito bem conduzida, especialmente no quesito da carga emocional. É fácil sentir empatia pelos personagens e suas circunstâncias, o que reforça o peso das interações e das cenas musicais.
Porém, vale destacar que a estrutura geral da trama é mais rígida do que deveria, dando a sensação de que a influência do jogador é pequena embora haja repercussões para as suas ações. O mistério também tem uma resolução bem óbvia (e não tem como o jogador perder) apesar de algumas especificidades não serem tão triviais.

Ramificações

Um aspecto importante do jogo é a nossa capacidade de fazer várias escolhas durante a narrativa, algumas das quais possuem implicações para o desenvolvimento e a resolução da trama. Além dos trechos de história comuns, as músicas também possuem ramificações de acordo com nossas decisões, alterando significativamente sua progressão, não apenas na letra, mas também na melodia.

As músicas de Stray Gods foram compostas em uma parceria entre Austin Wintory, o trio australiano Tripod e Montaigne. Há uma boa variedade de trilhas, todas sendo marcantes e belas representações do que os personagens estão enfrentando. Um bom exemplo disso é a música Look into Me, que usa de elementos de EDM e distorções na voz da personagem Medusa (interpretada por Anjali Bhimani) para reforçar a experiência de estranheza.

De forma geral, a escolha dos dubladores (em inglês) é excelente e eles fazem um excelente papel de interpretação dos personagens nas canções. Todas as músicas conseguem explorar as circunstâncias da trama de forma eficiente e reforçam a perspectiva de presença e agência das múltiplas personagens (não apenas da protagonista) através das mudanças de ritmo e melodia.

Até o momento que joguei, havia uma grande inconsistência nos volumes das vozes dos personagens. Mesmo em uma mesma sequência, as vozes podiam ficar mais difíceis de escutar abruptamente e sem uma razão significativa dentro do contexto. Espero que isso seja consertado em um patch, tendo em vista o quanto isso faz diferença para a experiência.

Vale destacar que o jogo inclui três linhas gerais para as escolhas: Charming, Kickass e Clever. A primeira é focada em laços de amizade, a segunda em ter uma atitude disruptiva e a terceira em uma capacidade de entendimento mais profunda. No início do jogo, podemos escolher uma delas como nosso alinhamento, mas isso apenas influencia algumas decisões pontuais, também sendo possível desviar para as outras ramificações nas músicas.

Por fim, as ilustrações que são bastante estilosas e remetem a um estilo de quadrinhos com personagens detalhados com feições bem marcadas e grande preocupação com as proporções da anatomia. Em contrapartida, o jogo opta por pouca animação, com foco em composições estáticas e saltos perceptíveis, que reforçam essa sensação de que estamos vendo um quadrinho se desenvolvendo na nossa frente. Com decisões certeiras nas expressões faciais dos personagens, o jogo tem um carisma extraordinário.

Uma jornada emocionante

Stray Gods: The Roleplaying Musical
é uma aventura musical emocionante sobre uma jovem mulher que se vê forçada a enfrentar circunstâncias complexas com um toque sobrenatural. Para fãs de jogos narrativos que estão à procura de um mundo instigante, vale a pena mergulhar neste universo e abraçar o seu lado musical.

Prós

  • Narrativa bem conduzida e com grande carga emocional;
  • Canções envolventes e marcantes;
  • Ilustrações cheias de estilo e carisma.

Contras

  • Grande inconsistência nos volumes das vozes dos personagens;
  • A estrutura da narrativa merecia variações maiores.

Stray Gods: The Roleplaying Musical — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Humble Games


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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