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Análise: God of War (PC) é a versão definitiva do melhor jogo da geração passada

A jornada pessoal de Kratos e Artreus faz sua transição para os computadores em um port impecável e imperdível.

Preciso confessar algo: mesmo enquanto escrevo esta análise, ainda me soa levemente estranho falar de God of War no PC. Calma, eu explico: é que, para alguém que acompanhou o lançamento desta obra-prima lá em 2018, pensar que um dia veríamos uma versão nativa para computadores de uma das maiores franquias da Sony, embora tentador, caracterizaria algo entre a loucura e a ingenuidade.


Porém, como dizem por aí, o tempo é o senhor da razão. Durante os quase quatro anos que separam os lançamentos desta adaptação e da versão original para PlayStation 4, o mercado de games mudou, e após as bem-sucedidas adaptações de Horizon: Zero Dawn (PC/PS4) e Days Gone (PC/PS4), é a hora dos jogadores de PC se aventurarem pelos reinos nórdicos com Kratos e seu filho. Mas será que esta adaptação valeu a espera, afinal? Prepare o seu grito de "GAROTO", caro leitor, e confira conosco a seguir em nossa análise.

O bom da guerra

Caso você não esteja familiarizado com a série, aqui vai uma breve introdução, que julgo ser oportuna dada a sua estreia em uma nova plataforma. Nascida em 2005 com o lançamento do jogo homônimo para PlayStation 2, God of War é uma franquia de ação e aventura baseada na mitologia antiga. Nela, acompanhamos a história de Kratos, um guerreiro espartano posteriormente alçado ao posto de deus da guerra, e a sua vingança particular contra os deuses do Olimpo.

Com altos valores de produção, elenco carismático e um sistema de combate tão violento quanto viciante, a saga de Kratos não demorou muito para se tornar um dos símbolos do PlayStation. Milhões de cópias vendidas, múltiplas premiações de jogo do ano e a aclamação da crítica e público tornaram o deus da guerra e o nome God of War ícones da cultura popular nos anos 2000 — uma vitória e tanto para a Sony, que paralelamente firmava suas plataformas como sendo “o lugar” para os jogos maduros e cinematográficos da indústria.

Porém, apesar do sucesso estrondoso, com o passar dos anos e sequências, ficou claro que a franquia havia perdido parte de seu encanto. Na época do lançamento de God of War: Ascension (PS3) em 2013, a sede de violência de Kratos já não convencia e era possível perceber certa fadiga em uma história que ansiava por novos rumos. E assim foi feito magistralmente na estrela desta análise.

A outra face de um guerreiro

Até hoje há certa controvérsia se God of War é ou não um reboot da saga — o próprio diretor Cory Barlog afirma que não, levantando o fato de que temos aqui uma continuação da história de Kratos —, mas é inegável que nenhum aspecto da franquia deixou de ser tocado neste jogo.

Para citar algumas das mudanças, a câmera assumiu um novo ângulo, mais intimista; o hack’n’slash frenético dos jogos anteriores dá lugar a um sistema de combate mais cadenciado (mas não menos divertido e violento); e há até um sistema de níveis e equipamentos para Kratos e seu filho, além das populares árvores de talento e ganho de experiência ao realizar tarefas. 

Isso tudo faz com que God of War seja um excelente ponto de entrada para a franquia como um todo. Você não precisa ter jogado nenhum dos jogos anteriores para desfrutar completamente deste título, o que faz com que sua chegada ao PC se torne ainda mais marcante. Reboot ou não, na prática, o que há aqui é um recomeço da lendária saga. Envelhecido, Kratos aprendeu a duras penas as consequências que a guerra e a raiva desenfreadas podem trazer, e tenta passar isso para seu filho Artreus após a morte de sua esposa e mãe do menino.

Porém, enquanto tentam realizar o último desejo da matriarca, os dois acabam se envolvendo em conflitos com deuses do reino nórdico, onde Kratos optou por recomeçar a sua vida. Sem entrar no mérito de spoilers em respeito a quem não jogou ainda a obra e vai experimentá-la pela primeira vez com esta versão, God of War consegue trazer reviravoltas e surpresas suficientes para prender o jogador por horas a fio em frente à sua televisão ou monitor. Um dos personagens mais marcantes, por exemplo, é introduzido somente a partir de certo ponto da narrativa, que em nenhum momento (como isso é raro nos dias de hoje, meu Deus!) se torna arrastada ou enfadonha.

Como redator, acredito que o maior desafio de avaliar um jogo amplamente aclamado no passado e para o qual existem já inúmeras críticas e análises é verificar se a obra em questão invariavelmente resistiu ao teste do tempo. Eu tive a felicidade de poder jogar e finalizar God of War no PS4 em seu ano de lançamento, e instantaneamente a criação do Santa Monica Studio se tornou um dos meus jogos favoritos de todos os tempos. 

Confesso que, por isso, eu também tinha certo receio se a aventura pessoal de Kratos e seu filho conseguiria me “fisgar” uma segunda vez, desta vez naquela que é a minha plataforma preferida. Felizmente, afirmo que não precisei de mais que poucos minutos de jogo para me ver novamente explorando o entorno da casa dos dois deuses com um sorriso no rosto. GoW envelheceu como um bom vinho — seus gráficos, especialmente nas configurações mais altas, não devem em nada aos jogos mais atuais; sua trilha sonora ainda arrepia; seu sistema de combate é empolgante e divertido, abrilhantado pela introdução do machado Leviatã; e sua narrativa humanizada com toques de The Last of Us (PS3/PS4) e Hellblade: Senua’s Sacrifice (Multi) ainda carrega a visceralidade que encantou o mundo em seu lançamento original.

Iniciada uma nova geração de consoles, já posso afirmar com ainda mais propriedade que God of War é, para mim, o melhor jogo da geração passada e um dos melhores jogos de todos os tempos. Receber um jogo deste calibre no PC é um fato que deve ser celebrado, e muito. Independentemente de você ter ou não envolvimento anterior com a saga, da sua plataforma, ou até mesmo do que você acha de Kratos ou do filho dele, jogue God of War. Este é um dos pouquíssimos jogos que eu classificaria como essencial para qualquer gamer, e a adaptação para os computadores traz uma nova oportunidade de ouro àqueles jogadores que por ventura ainda não vivenciaram esta aventura.

Recursos para dar e vender

Falando agora das questões técnicas, God of War traz tudo o que se espera de um port moderno para PC, mostrando que a Sony está cada vez mais levando a sério a plataforma. Ao abrir o menu de gráficos, é possível mexer individualmente em nada menos que sete parâmetros do jogo: qualidade de texturas, qualidade dos modelos, filtro anisotrópico, sombras, reflexos, atmosfera e oclusão de ambiente.

Para cada um desses parâmetros, há opções particulares, como alto, baixo e ultra. De fábrica, o jogo veio configurado no preset “original”, que faz referência à versão lançada para PS4. Desse modo, caso você tenha um hardware mais potente, saberá exatamente quando a sua experiência estiver superior à do console.

No que tange à resolução, acessível pelo menu “exibição”, há uma série de recursos muito bem-vindos. Há suporte nativo a resoluções populares como 4K, 2K e 1080p, além de ultrawide (21:9). Algo que eu achei muito interessante é que, mesmo eu ainda não dispondo de um monitor ultrawide — está na minha lista de futuras aquisições — o jogo me permitiu “emular” essa disposição, alongando a imagem original e removendo as partes superiores. Fantástico, embora eu ainda prefira a resolução nativa.

Também há suporte às tecnologias de upscaling DLSS, da Nvidia, FSR, da AMD, e o recurso de escala de resolução. Como a minha placa de vídeo é uma GTX 1080 Ti, não pude testar a aplicação do DLSS, mas gostei muito da implementação do FSR, que me permitiu jogar em minha TV 4K com qualidade de imagem e sem maiores prejuízos à taxa de quadros por segundo. Surpreendentemente, o recurso de escala de resolução também funciona muito bem, então há diversas opções de renderização que atenderão tanto aos jogadores com placas de vídeo mais poderosas quanto aos com GPUs mais antigas.

Também é possível destravar o número de quadros por segundo e ativar o Nvidia Reflex para diminuir a latência do sistema — um recurso que se prova especialmente valioso em dificuldades mais altas, como Give me God of War ou no New Game Plus (vale lembrar que este último é um recurso que não existia na época de lançamento, e é uma ótima desculpa para jogar novamente toda a aventura). 

Assim, juntamente com as texturas e sombras de maior qualidade, temos aqui a versão definitiva de God of War. De fato, posto que até a implementação de mouse e teclado é bem realizada, a única ausência que eu senti nesta adaptação foi a de cross-save com a versão de PlayStation — seria ótimo continuar de onde parei no console da Sony e finalmente poder vencer todas as valquírias. Logicamente, não é algo que chega a prejudicar a aventura, mas fica a sugestão para os produtores.

A versão definitiva de um clássico moderno

Como dito anteriormente, God of War é um dos melhores jogos de todos os tempos, e um dos poucos que eu classificaria como essencial para qualquer gamer que se preze. A adaptação impecável para os computadores pessoais faz desta a versão definitiva deste clássico moderno e o aperitivo perfeito para um certo Ragnarök que se aproxima este ano. Imperdível.

Prós

  • Narrativa esplendorosa, que não requer envolvimento anterior com a série;
  • Sistema de combate divertido e viciante, com destaque para a mecânica do machado Leviatã;
  • Uma aula de direção artística em todos os aspectos;
  • Envelheceu como um ótimo vinho;
  • Adaptação para PC se destaca pela otimização, contando ainda com inúmeros recursos exclusivos à plataforma, como escala de resolução, suporte a resoluções ultrawide, DLSS e FSR;
  • New Game Plus e diversos níveis de dificuldade permitem ao jogador moldar a sua experiência como preferir;
  • Dublagem impecável.

Contras

  • Ausência de cross-save com a versão de PlayStation.
  • Ausência de opção de tela cheia dedicada até o momento.
God of War — PC — Nota: 10
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela PlayStation PC

é bacharel em Produção Cultural pela UFF e estudante de Comunicação Social pela FSMA. Na infância, ganhou um Super Nintendo dos pais e, desde então, nunca mais deixou o mundo dos games. Ainda sonha em ser um Mestre Pokémon.
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