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Análise: Alex Kidd in Miracle World DX (Multi) é um remake recomendado para saudosistas e fãs de jogos de plataforma

O retorno do título, ainda que pudesse ser melhor, é uma boa oportunidade para curtir um dos clássicos do gênero.


Certos nomes são verdadeiros monstros sagrados no mundo dos games. Logo, quando vi a divulgação sobre Alex Kidd in Miracle World DX, eu já sabia o que estava por vir: o remake de um jogo de plataforma de primeira, com desafios afiados e variados, que marcou a história. Mas será que o lançamento é uma nova versão digna do original? Pegue seu cachecol e não esqueça os sacos de dinheiro, pois vamos começar a análise!

Um verdadeiro clássico

Existem alguns nomes na indústria dos games que são verdadeiras sumidades. A mera menção desses títulos já provoca as mais diversas reações nos jogadores, sejam eles mais jovens, sejam mais velhos. No caso de jogos antigos, o sentimento de nostalgia muitas vezes vem na carona, tornando-os ainda mais queridos.
O começo da saga
Alex Kidd com certeza tem seu devido lugar nessa lista de clássicos. A série da Sega surgiu em 1986 para o saudoso Master System e, apesar do seu sucesso inicial, ficou esquecida (com exceção de algumas participações secundárias) desde o seu último título, em 1990. Foi quando, em 2020, a produtora Sega, empresa dona da marca, anunciou a futura chegada de um remake do primeiro título da franquia.
A versão mais completa do game traz um monte de itens legais
Finalmente chegamos em 2021, com o lançamento de Alex Kidd in Miracle World DX, pela Merge Games, em 22 de junho para PC, PS4, XBO, Switch e os consoles da atual geração. A nova versão de um verdadeiro clássico do gênero plataforma tinha uma responsabilidade enorme e posso dizer com tranquilidade que ela foi suficientemente atendida. Admito que esperava mais, como deixarei claro na análise, mas ainda assim o saldo é positivo.

Remake completo...

Basta iniciar Miracle World DX para perceber uma das maiores qualidades do game: o visual. A reconstrução do clássico fez uso da popular pixel art, que utiliza gráficos com jeitão antigo para trazer uma bela e artística apresentação. O esmero em fazer um game bonito está em cada pedacinho da produção, incluindo personagens e cenários, o que ajuda na construção de uma experiência única.
Trocar o visual do jogo é muito divertido
Não bastasse o game ser muito bonito, ele vem com uma opção bônus: com o apertar de um botão, o jogador pode alternar o estilo visual do jogo para um formato muito próximo do original. Um recurso interessante para os saudosistas, ressaltando que a resolução da arte é alta e não atrapalha em nada a jogatina. Outro ponto importante de frisar é que, embora o game seja widescreen, a ação principal ocorre na proporção de tela 4:3 (a razão disso logo ficará clara).

Assim como o visual geral, a interface do jogo também é moderna e agradável. Itens coletados podem ser facilmente acessados na tela principal, enquanto o menu de pausa reúne outros itens e colecionáveis. Alguns deles, inclusive, ajudam a aumentar a história do mundo de Alex ou fazem referências a outras marcas da Sega. Os menus também compartilham dessa qualidade e são muito bonitos.
Uma aventura das antigas
A trilha sonora é igualmente encantadora, com remixes e canções inéditas muito divertidas (confira uma palinha no vídeo a seguir). Caso o jogador queira conhecer como era a obra original, basta conferir o Modo Clássico, que traz Miracle World em toda a sua glória de 8 bits (ainda que não seja uma emulação do original). É uma pena que, tal como na versão original, não temos um sistema de salvamento, exigindo que a pérola seja completada em uma só tacada.

... até um certo ponto

Já que falamos sobre a interessante versão do original disponibilizada, quero trazer um fato importante sobre Alex Kidd in Miracle World DX: ele é, na prática, igual ao seu predecessor histórico. Em outras palavras, o número de fases, a disposição dos elementos na tela (lembra-se do 4:3?), os itens, os inimigos e tantos outros pontos são bem próximos do lançamento de 1986. Mesmo os desafios de jan-ken-pon (o famoso “papel, pedra e tesoura”) mantiveram exatamente as mesmas ordens originais.
Cada fase é única e com estilo próprio
Inclusive, usei esse fato para derrotar os chefões mais facilmente. Remakes com propostas semelhantes, como MediEvil (PS4) e SpongeBob SquarePants: Rehydrated (Multi), seguiram essa prática de fidelidade à obra original e, em minha opinião, tiveram êxito. A questão é que esse primeiro Alex Kidd é muito antigo, numa época em que os jogos eram mais curtos e compensavam isso com uma dificuldade elevada.

Para quem não sabe, o jogo de plataforma coloca o jovem guerreiro Alex no caminho do Império Janken, que ameaça o Reino Radaxian com suas forças malignas. As fases, que incluem desertos, montanhas e pântanos, são repletas de blocos e perigos como abismos e inimigos. Para derrotá-los, Alex Kidd conta com o estilo de luta Shellcore, que lhe garante um poderoso soco.
Adquirir itens nas lojas pode facilitar as fases mais difíceis
Os blocos são presença constante nos cenários, pois, além de oferecerem desafios na movimentação, guardam recursos importantes. Enquanto alguns poucos oferecem surpresas como anéis, fantasmas ou vidas extras, a maioria deles fornece sacos de dinheiro, que por sua vez podem ser gastos nas lojas espalhadas pelo jogo. Essa, aliás, é uma das grandes atrações do game original na época: proporcionar um grande inventário com muitas opções para comprar, encontrar e usar.

Vários tipos de veículos também fazem parte do game. Helicópteros, barcos e motocicletas tornam a jogabilidade ainda mais variada, lembrando que o jogo também tem as famigeradas fases aquáticas. Alex é levemente “escorregadio” nos seus movimentos, exigindo habilidade e bons reflexos para vencer. Prepare-se para algumas fases bem desafiadoras, sobretudo a do castelo final.
As fases com veículos ajudam a variar a jogabilidade
Particularmente, isso não é um problema, pois gosto de desafios e Miracle World DX foi devidamente polido, de forma que as derrotas são pela habilidade e não por problemas de execução da obra. Ainda assim, gostaria de ter visto mais inovações nesta nova e bela versão, até porque o original já está lá, pronto para ser curtido por quem quiser.

Poucas, mas bem-vindas

As novidades do remake em relação à campanha são boas, embora reduzidas. O jogador tem a opção de recomeçar na mesma fase do game over, só que partindo do início e perdendo todo o dinheiro e todos os itens coletados. Isso minimiza o nível de dificuldade, lembrando que o original exigia terminar tudo sem essa possibilidade. Para facilitar ainda mais, existe o modo Vidas Infinitas.
As lutas de papel, pedra e tesoura são uma atração a parte
Nele, o jogador recomeça no checkpoint mais próximo de onde morreu, sem perder nada. O próprio game sugere essa opção depois de vários game over. Outra adição foram quatro fases inéditas em relação ao original: uma antes de Mt. Kave, outra antes da Planície Bingoo, uma depois da Cidade Radaxian e uma antes do castelo final, o Castelo Janken. Todas elas são boas e seguem uma proposta semelhante às demais, de modo que só alguém que conhece Miracle World possa identificá-las.

Uma opção interessante do remake é a “dieta” de Alex. Ao final de cada fase e quando o mapa do jogo é mostrado, o protagonista interage com algum alimento. No original, essa comida variava de acordo com a região em que o game era publicado; em 2021, temos as opções omelete espanhol, peixe com fritas, oniguiri (espécie de bolinho de arroz) e hambúrguer. É apenas um detalhe, mas que mostra que a equipe teve um bom esmero no projeto.
Um mundo repleto de fantasia e diversão
Outra novidade importante foi nas mecânicas dos chefes. Em particular, os comandantes, Cabeças de Papel, Tesoura e Pedra, e o chefe final, Janken, o Grande, tiveram seus ataques modificados. Por exemplo, os três primeiros, que usavam suas cabeças (!) para atacar Alex, agora têm poderes mais legais visual e mecanicamente. Essas alterações foram muito oportunas e poderiam ter se estendido a mais elementos do remake.

Ficou faltando um pouco mais

Se por um lado a campanha poderia ter sido só um pouco mais renovada, por outro a quantidade de conteúdo ficou devendo bastante. Além do modo história, Miracle World DX conta com somente duas opções: o já comentado Modo Clássico e o Desafio dos Chefões. Essa espécie de boss rush coloca Alex Kidd, com somente uma vida, contra os quatro vilões principais do game.
Lutar novamente contra os chefes é uma das pouca atrações extras
É preciso vencer cada um deles em uma partida de jan-ken-pon e depois derrotá-los em batalha, de forma semelhante ao feito na campanha. Vale frisar que ambos os modos extras só podem ser acessados após o jogador terminar o remake. E, infelizmente, é só isso que o game tem a oferecer. Claro, existem alguns segredos e colecionáveis (não deixe de conferir o guia de troféus e conquistas) para explorar na campanha, mas nada muito instigante.
É uma pena que esse belo mundo digital tenha uma vida tão curta
Na prática, caso o jogador tenha alguma experiência com o gênero de plataforma e dedique-se por algumas horas, ele vai conseguir terminar o título e esgotar praticamente tudo que ele tem a oferecer. Mesmo que a intenção tenha sido oferecer realmente um produto mais enxuto e fiel, o custo-benefício acabou reduzido. É uma pena, pois a ótima estrutura do remake com certeza poderia comportar outros conteúdos: mais modos extras; rankings online, como contra o relógio ou recorde de dinheiro; opções multijogador, fosse de forma cooperativa, fosse de forma competitiva.

Pronto para uma nostalgia de (razoável) qualidade?

Alex Kidd in Miracle World DX carregava uma grande responsabilidade pela fama do original. De forma geral, o game se revelou positivo: visuais muito bonitos, jogabilidade sólida, campanha interessante e alguns extras tornam a experiência obrigatória para fãs e saudosistas. Fora isso, temos um jogo relativamente curto e que poderia ter se valido de mais novidades e conteúdo. Fica a sugestão para quem curte um plataforma desafiador ou procura uma experiência original, mas não tenha grandes expectativas.
Divirta-se com Alex Kidd nesse bom jogo de plataforma

Prós

  • Remake traz de volta um divertido e desafiador clássico do gênero de plataforma;
  • Visuais renovados são belos e encantadores;
  • Mudanças na campanha baseada no original e modo contra chefões são adições bem-vindas;
  • Presença do jogo original para os fãs saudosistas;
  • Trilha sonora é envolvente e bem aproveitada.

Contras

  • Quantidade de conteúdo é relativamente pequena;
  • Remake não inova muito em relação à campanha do jogo original.
Alex Kidd in Miracle World DX – PS4/XBO/PC/Switch/PS5/XSX – Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com chave cedida pela Merge Games

é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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