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Análise: Rivals of Aether: Definitive Edition (PC/Switch) e a arte de um bom combate

Título desenvolvido por Dan Fornace e sua equipe se destaca por sua jogabilidade divertida, modo online funcional e suporte nativo à Oficina Steam.

Com todo o sucesso que a lendária saga Super Smash Bros. acumulou ao longo dos anos — vide o excelente Super Smash Bros. Ultimate (Switch) — é de se espantar um pouco que não tenhamos mais platform fighters no mercado. Salvo a tentativa frustrada da Sony com o esquecido PlayStation All-Stars Battle Royale (PS3/PSV), a impressão é que a missão de desenvolver novos jogos do gênero ficou nas mãos dos desenvolvedores independentes, que por sua vez produzem regularmente obras interessantes, geralmente influenciadas pela franquia da Nintendo.


Dentro deste recorte, pode-se argumentar que Rivals of Aether é um dos títulos mais bem-sucedidos, adquirindo e mantendo ao longo dos anos uma cena competitiva própria e uma comunidade fiel e dedicada. Agora, o jogo de Dan Fornace e sua equipe finalmente está disponível em sua versão definitiva, que traz em um só pacote todo o conteúdo adicional desenvolvido desde o lançamento original e melhorias extras, como um modo online mais robusto e suporte nativo à Oficina Steam. Mas será que a espera valeu a pena? Confira a seguir em nossa análise.

Irmãos e rivais

Logo de início, já serei bem sincero: como citado na introdução, Rivals of Aether tem grande influência de Super Smash Bros., ao ponto em que, se você for fã da série da Nintendo, são consideravelmente grandes as chances de você gostar do que é apresentado e entregue aqui. Logicamente, há diferenças consideráveis entre as duas franquias — e estas tendem a ficar mais aparentes com o tempo de jogo — mas Rivals veste a camisa de sua inspiração com orgulho, não a escondendo em nenhum momento, por maior ou menor que este seja.

Epa, espera aí! Isso quer dizer que quem não gosta de Smash deve passar longe? Não exatamente, até porque, como dito, há distinções significativas, que serão abordadas ao longo desta análise. Mas é um alerta (positivo) de que Rivals conhece seu público e sua proposta, e concentra seus esforços nestes em primeiro lugar. O próprio Dan Fornace brincou recentemente no Reddit que desenvolveu o título com o objetivo de criar uma versão de Super Smash Bros. Melee (GC) na qual fosse bom o suficiente para jogar competitivamente, por exemplo.

E, particularmente, como um grande fã de Smash Bros., devo dizer que gostei muito de minha experiência com Rivals, ao ponto de ter decidido mantê-lo instalado em meu PC indefinidamente. Certamente irei voltar a este jogo muitas vezes no futuro, e não nego que gostaria de ver a franquia crescer ainda mais após esta versão definitiva. 

Arte em pixels

Ao iniciar Rivals of Aether, uma das primeiras coisas que chamam a atenção é a sua bela apresentação em pixel-art. Como um jogador que cresceu com um Super Nintendo e posteriormente um Game Boy Advance, e guarda muito carinho pelas obras da época, títulos que optam por essa direção artística e a realizam com competência muito me agradam.

Felizmente é o caso aqui, o que torna Rivals muito interessante para os saudosistas, mas, sobretudo, “leve” em termos técnicos — honestamente, acredito que qualquer notebook, por mais modesto que seja, deve rodar o jogo sem nenhum problema. Esse é um ponto bem positivo em minha opinião, já que com frequência ocorre uma associação entre jogos para PC com máquinas potentes e montadas exclusivamente para este fim (além da abundância de luzes RGB, porque sim). A realidade, no entanto, é que é possível encontrar muitos títulos (assim como Rivals), que podem ser jogados e aproveitados em dispositivos comuns e acessíveis. 

Minha única sugestão, neste caso específico, é o uso de um controle. Durante os testes para esta análise, usei meu controle de Xbox One (um dos meus favoritos) plugado via USB. Este foi reconhecido instantaneamente e tornou a tarefa de usar a esquiva ou certos golpes que exigem mais precisão muito mais fácil. Há até suporte nativo aos controles de GameCube (tidos pela comunidade de Smash como os melhores já criados) caso você possua um adaptador USB.

Os quatro elementos

Ao ser recebido pelo menu inicial do jogo, você terá duas alternativas destacadas além dos extras e afins: local e online. Começando pelas possibilidades locais, a grande recomendação é, assim que possível, completar o tutorial, que apresentará as mecânicas básicas e avançadas de Rivals de maneira bem acessível.

Aqui já começa a ficar claro aquela que talvez seja a maior e mais fundamental distinção entre Rivals of Aether e sua inspiração: ao contrário de Super Smash Bros., que Masahiro Sakurai e a própria Nintendo sempre definiram como um party game ou algo mais voltado para a diversão casual, a criação de Dan Fornace — até pela experiência prévia do desenvolvedor com a saga Killer Instinct — é voltada para a competitividade.

Na prática, isso significa duas coisas. Primeiramente, nada de itens, especiais ou Pokémon como Raichu e Kyogre te empurrando para fora da arena e atrapalhando sua estratégia: aqui em campo é somente você, o seu personagem e a sua habilidade. Em segundo lugar, logo no tutorial você já será apresentado a conceitos como intervalo de frames ou directional influence. Se esses termos lhe soam estranhos, não se preocupe, até porque como mencionado o tutorial in-game é bem completo e explicativo, mas, novamente, é um sinal claro da inclinação de Rivals.

Após o término das lições básicas dentro do jogo, e prosseguindo com os modos locais, é possível se aventurar no Versus, no Story, no Abyss e até em um modo de Tetherball. Destes, o modo história, apesar de curto, permite conhecer um pouco mais da história dos seis lutadores iniciais, e o Abyss promove uma série de desafios conectados, como um modo sobrevivência. Por sua vez, Tetherball oferece uma jogabilidade mais casual, em que o objetivo é manter a bola do lado do seu oponente o maior tempo possível.

O recheio do bolo, porém, é o tradicional Versus, no qual é possível enfrentar a CPU ou até quatro outros jogadores em modos de 1vs1, equipes ou todos contra todos. Em uma grata surpresa para os fãs de Smash Bros., o menu de seleção de personagens é bem similar ao da franquia da Big N, o que deve proporcionar logo de cara a sensação de familiaridade.

E por falar em familiaridade, talvez pelo fato de jogar Smash há muitos anos não tive nenhum problema em me adaptar à jogabilidade de Rivals of Aether, me entretendo bastante no processo de empurrar meus oponentes para fora da arena assim que possível. A realidade é que mesmo sem assist trophies ou ultimates, a sensação de “caos controlado” que existe em uma partida com quatro jogadores em Smash também existe aqui, e o resultado é uma experiência muito divertida.

As únicas ausências que senti foram de um modo arcade e de uma inteligência artificial mais robusta. Infelizmente, não precisei de muito treino para começar a vencer com folga partidas contra a CPU nível 9, o que me impulsionou para o modo online mais cedo do que o esperado (mais sobre este em breve).

O bom combate

O sucesso de um jogo de luta frequentemente estará apoiado em sua jogabilidade e nas possibilidades de seus sistemas. Felizmente, Rivals of Aether cumpre com louvor esses dois requisitos: aqui o objetivo é causar dano aos seus oponentes (indicado por meio de porcentagem: quanto maior, mais dano) e lançá-los assim que possível para longe da arena, mas cada um dos 14 personagens disponíveis é distinto o bastante para promover combates variados e múltiplas estratégias nas arenas disponíveis.

Zetterburn, por exemplo, pode atear fogo em partes do chão e causar mais dano a seus oponentes; Kragg pode criar paredes rochosas, que servem tanto para defesa como ataque; por sua vez, Orcane pode criar poças d’água para as quais poderá retornar caso deseje. Há até espaço para dois convidados: Shovel Knight, protagonista do multiplataforma homônimo e Ori, de Ori and the Blind Forest (Multi).

Todos os lutadores são carismáticos e divertidos de se dominar e, como é fácil aprender o básico de cada um, há um certo incentivo para o próximo passo, que é a disputa de batalhas online. Estas se apresentam em duas variáveis, Ranked e Casual. Na primeira, como o próprio nome indica, vitórias e derrotas afetam seu ranked score, usado para encontrar oponentes com habilidades similares. Já o modo casual, logicamente, é para quem deseja embates mais leves, sem muito compromisso.

Apesar de ter encontrado oponentes com ping alto devido às diferentes regiões na lista (é possível filtrar, porém), o modo online funcionou muito bem em meus testes — extremamente melhor, inclusive, que Super Smash Bros. Ultimate (Switch) — o que certamente amplia em muito a longevidade do título. É com felicidade que relato que não tive problema em encontrar partidas e, no geral, a comunidade é bem amigável, o que significa que provavelmente você fará novos amigos na Steam caso deseje. O único ponto negativo nesta parte é que não há cross-play com a versão de Switch. Talvez em um patch futuro?

Por fim, tocando novamente no ponto da longevidade, há aqui a cereja do bolo. Esta versão definitiva também conta com suporte nativo a mods pela Oficina Steam, o que quer dizer que facilmente você poderá realizar o download de lutadores e estágios criados pela comunidade de Rivals of Aether. Como aqui não há limitações, em menos de dez minutos pude incluir em meu jogo personagens como 2B, de NieR: Automata (Multi), Toon Link, de The Legend of Zelda: The Wind Waker HD (Wii U) e até mesmo o ganso de Untitled Goose Game (Multi). 

Honestamente, é fantástico ver desenvolvedores que permitem tão amplo acesso às ferramentas do jogo, e o resultado de confiar na comunidade fala por si só: muito provavelmente Rivals of Aether continuará a receber lutadores e estágios indefinidamente, bastando que haja criadores dispostos para tal. Como tudo o que é bom ainda pode melhorar, é possível inclusive lutar com tais modificações online e em modos de jogo como Abyss, desde que seu amigo ou oponente também as possua instaladas em sua cópia do jogo.

Golpe final

Como dito no início, Rivals of Aether veste a camisa de sua inspiração com orgulho, mas o resultado final é uma obra capaz de se sustentar em seus próprios méritos. Divertido e coeso, o título de Dan Fornace e sua equipe possui potencial para entreter tanto os jogadores mais competitivos como os casuais que somente buscam uma alternativa para as rodadas de Super Smash Bros.

Esta versão definitiva reúne todo o conteúdo adicional criado desde seu lançamento, traz melhorias no modo online e integra de modo brilhante e exemplar a Oficina Steam. O resultado, apesar da ausência de cross-play e de uma inteligência artificial mais robusta, é um título que certamente se manterá atual mesmo daqui a vários anos, graças à uma comunidade ativa e amigável. Seja você fã ou não da franquia da Nintendo, aqui está um indie que merece figurar em sua coleção. Recomendado.

Prós

  • Estética retrô de qualidade;
  • Jogabilidade divertida;
  • Tutorial in-game claro e competente;
  • Lutadores variados e bem desenhados, incluindo cameos de Shovel Knight e Ori;
  • Modo online funcional;
  • Suporte brilhante à Oficina Steam.
  • Otimização.

Contras

  • Inteligência das CPUs infelizmente não é das mais robustas;
  • Modo história curto e ausência de modo arcade;
  • Ausência de cross-play com versão de Switch.
 Rivals of Aether: Definitive Edition - PC/Switch - Nota: 9.0 
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: José Carlos Alves
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dan Fornace

é bacharel em Produção Cultural pela UFF e estudante de Comunicação Social pela FSMA. Na infância, ganhou um Super Nintendo dos pais e, desde então, nunca mais deixou o mundo dos games. Ainda sonha em ser um Mestre Pokémon.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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