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Entre a névoa e os monstros, conheça melhor as belas canções da série Silent Hill, compostas pelo genial Akira Yamaoka

A famosa série Silent Hill não é um survival horror qualquer. Em seus jogos, o objetivo não é apenas sobreviver, lutar e fugir de monstr... (por Gabriel Gonçalves em 17/10/2013, via GameBlast)

A famosa série Silent Hill não é um survival horror qualquer. Em seus jogos, o objetivo não é apenas sobreviver, lutar e fugir de monstros. Por trás de tudo isso, a missão é encontrar sua verdadeira indentidade, entender suas limitações, e principalmente, nunca desistir, mesmo nas piores perspectivas. Esses fatores criam um vínculo fortíssimo entre o jogador, os personagens e a trama envolvendo a (aparentemente) pacífica cidade turística.


E, sendo um jogo genial, uma trilha sonora não poderia ser nada menos do que "excelente". Capturar todos os sentimentos envolvendo a cidade e as histórias das diferentes pessoas que por lá passaram através de canções não é uma tarefa muito fácil. Mas, felizmente, Akira Yamaoka, o diretor de som e compositor da maioria das faixas da franquia, conseguiu atingir esse objetivo com louvor.

O homem por trás da música

Akira Yamaoka nasceu em Niigata, no Japão, em 1968. Inicialmente, estudou design na faculdade, mas resolveu ser músico após estudar produção musical na Tokyo Art College. Ele ajudou a compor algumas músicas em um videogame pela primeira vez com o jogo Smartball, lançado em 1991 no Super Nintendo. 

Seu envolvimento com a Konami começou em 1993, quando, em conjunto com outros músicos, ajudou a planejar e executar as faixas em Sparkster: Rocket Knight Adventures 2, lançado no ano seguinte, também para SNES. Ele também compôs todas as músicas do jogo Road Rage (PS), lançado em 1998, e participou como programador de ritmos do jogo Castlevania: Symphony of the Night (PS).

No entanto, Yamaoka só viria a se tornar verdadeiramente reconhecido com o lançamento de Silent Hill (PS), em 1999 pela Konami. Esse seria o trabalho mais ambicioso de sua carreira: trabalharia como diretor e produtor de som, também compondo todas as músicas, arranjos e efeitos sonoros do jogo. Seus excelentes trabalhos anteriores fizeram com que a Konami o escolhesse como responsável pelo áudio de seu então novo projeto de survival horror.

Foto do Team Silent. Yamaoka é o segundo da esquerda para direita.
O resultado é uma magnífica trilha sonora em sete jogos. Akira foi o último membro do Team Silent que se desvinculou à série, não tendo participado da produção sonora de Silent Hill: Downpour. No entanto, até 2009 foi ele quem dirigiu a trilha da franquia, e com isso, temos várias músicas que abordam as diferentes facetas da cidade. 

Bem-vindo a Silent Hill

Seria impossível fazer uma postagem com todas as canções compostas por Yamaoka na série. Por isso, o foco será nas músicas que são "símbolos" das diferentes áreas da série de terror psicológico da Konami.

As primeiras faixas que iremos lembrar são algumas introduções. Diferentemente do que se esperava, as músicas introdutórias de cada Silent Hill não abrangem diretamente o medo e a aflição dos personagens. Elas parecem dar as boas vindas ao município e à macabra aventura que está prestes a se desenrolar, sempre alertando que o caminho será árduo. Basta lembrar da música tema do primeiro Silent Hill. Essa faixa é considerada uma das mais clássicas e representativas da série.


Depois disso, o trabalho musical só melhorou. Theme of Laura, a música introdutória de Silent Hill 2, segue um estilo mais pop rock, o que não era esperado para um jogo de terror. No fim, a faixa caiu super bem e combinou com o início (e o final) do jogo.


A partir de Silent Hill 3, Yamaoka firmou uma parceria com Mary McGlynn e Joe Romersa, para que algumas composições pudessem ter vocais. Com isso, todas as introduções dos jogos até sua saída passaram a ter um cantor.

O mistério da névoa

Já nos jogos propriamente ditos, um sentimento que prevalece junto com o medo é o mistério. Essa sensação serviu de inspiração para muitas das canções dos títulos, e são provas da genialidade e versatilidade de Yamaoka.

Dois grandes exemplos estão em Silent Hill 2 e Silent Hill: Shattered Memories. No segundo jogo da série, temos a faixa "Promise (Reprise)". Ela não parece dar a sensação de que estamos prestes a descobrir algo importante? A música representa bem os segredos que a neblina da cidade tenta esconder, não é mesmo?


Já a canção Creeping Distress, de Shattered Memories, é mais sombria, mas remete ao mesmo sentimento de descoberta. A diferença é que a tal resposta para o mistério tem mais indícios de ser algo não muito agradável. Mas, se estamos falando de Silent Hill, nunca podemos esperar o melhor.

O medo e o pânico

Já estava na hora de falar do sentimento que prevalece na cidade! Afinal, apesar de tudo, ainda estamos em uma região cheia de monstros horrendos que vão tentar matar quem quer que seja a qualquer custo. Claro que, além das criaturas, também temos ambientes naturalmente hostis. As faixas mais tensas geralmente tocam quando se está no Otherworld, a dimensão maligna de Silent Hill.

A música My Heaven, do primeiro Silent Hill, é de longe um dos melhores exemplos do medo e desespero que a cidade provoca. Ao contrário do que o nome sugere, a faixa é bem macabra. O que se pode ouvir parecem ser gemidos e choros de alguma coisa que não é humana. Yamaoka usa esse esquema diversas vezes quando quer provocar o medo por meio de alguma música. A faixa mais famosa entre os fãs que usa um recurso parecido com certeza é a Prayer, de Silent Hill 3. Quem não se lembra das dores de cabeça de Heather quando o mundo virava o Otherworld?

A loucura e a depressão

A série Silent Hill é, entre outras coisas, uma série melancólica. Quando não estamos fugindo de algum monstro ou resolvendo algum mistério, geralmente estamos presenciando a dor e a aflição do protagonista, ou mesmo de algum outro personagem. A confusão e loucura de Alex Shepherd, de Silent Hill: Homecoming, não poderia ser mais bem representada do que pela canção Soldiers Orders. Já Acceptance consegue capturar todo o clima triste e sombrio de Shattered Memories. Ambas as obras têm direito ao belíssimo vocal de Mary McGlynn.


Silent Hill 2 também marca presença como um dos jogos mais tristes da série. Conforme James Sudderland vai se lembrando do que realmente aconteceu na cidade antes dos eventos bizarros do jogo, a música True vai acompanhando o personagem. Uma verdadeira obra prima. Não podemos esquecer, é claro, de Blood Tears, que também é uma canção icônica.

O gênio por trás de Silent Hill

Akira Yamaoka se envolveu em cada jogo da série de um jeito especial até sua saída. Segundo ele, seu game favorito da franquia é Silent Hill 2, dizendo ser um jogo impecável em "todos os aspectos". Dá para notar essa dedicação nos arranjos, nas melodias, nas letras e até nos barulhos estranhos entre as músicas. 

A trilha sonora de um jogo é sua identidade, e em Silent Hill, o trabalho não poderia ter sido mais bem feito. Para se ter uma pequena ideia, as faixas foram consideradas tão boas que a Konami vendeu CDs com a trilha sonora oficial dos três primeiros jogos em edições limitadas quando Silent Hill Collection (PS2) foi lançado.

Impossível pensar na série sem se lembrar de seu principal compositor. É realmente uma pena que Akira tenha se desvinculado. Silent Hill: Downpour teve a direção musical feita por Daniel Licht, que fez um bom trabalho, mas simplesmente não passa a mesma sensação do legado de seu antecessor.

Quem sabe ele não volte na produção musical do próximo jogo? Não custa sonhar…

Revisão: Jaime Ninice
Capa: Diego Migueis

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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