A CD Projekt Red é uma das desenvolvedoras de videogames mais respeitadas e influentes do mundo, conhecida por criar RPGs de altíssima qualidade e cheios de história. Fundada no início dos anos 2000 na Polônia, a empresa nasceu com um sonho ambicioso: transformar histórias ricas em experiências interativas inesquecíveis e hoje seus jogos estão entre os mais celebrados da indústria.
Tudo começou quando a CD Projekt, inicialmente uma empresa de distribuição e localização de jogos, decidiu criar um estúdio próprio. Em 1º de julho de 2002, foi oficialmente fundada a CD Projekt Red com o objetivo de desenvolver RPGs de mundo aberto e narrativas profundas, algo que estava na veia dos fundadores desde seus tempos na escola e faculdade.
O primeiro grande projeto foi adaptar os livros de fantasia do autor Andrzej Sapkowski para os videogames. Assim nasceu The Witcher, uma série ambientada em um mundo sombrio de monstros, magia e escolhas morais complexas.
O começo com The Witcher
O primeiro grande passo da CD Projekt Red como desenvolvedora aconteceu com The Witcher, lançado em 2007. O projeto nasceu de uma grande ambição: adaptar para os videogames a obra literária de Andrzej Sapkowski, algo praticamente desconhecido fora da Europa na época. Com uma equipe ainda pequena e pouca experiência em desenvolvimento, o estúdio utilizou a Aurora Engine, da BioWare, modificando-a profundamente para criar um mundo mais sombrio, adulto e focado em escolhas morais. O desenvolvimento foi longo e desafiador, marcado por limitações técnicas e pela necessidade de aprender enquanto produziam, mas também por uma clara dedicação em criar uma narrativa complexa e fiel ao material original.
No lançamento, The Witcher teve uma recepção mista a positiva. Enquanto críticas recaíam sobre os controles, a interface e alguns problemas técnicos, o jogo foi amplamente elogiado por sua história madura, personagens bem construídos e decisões que realmente impactavam o desenrolar da trama. Com o tempo, patches e uma edição aprimorada ajudaram a melhorar a experiência, permitindo que o título ganhasse reconhecimento e construísse uma base sólida de fãs. Esse sucesso inicial foi fundamental para estabelecer a identidade da CD Projekt Red e pavimentar o caminho para que o estúdio se tornasse uma referência mundial em RPGs narrativos.
Uma jornada ainda mais madura
Com The Witcher 2: Assassins of Kings, lançado em 2011, a CD Projekt Red deu um salto significativo em ambição e qualidade. Abandonando motores licenciados, o estúdio desenvolveu sua própria tecnologia, a REDengine, o que permitiu maior controle criativo e avanços visuais expressivos para a época. O desenvolvimento focou em tornar a narrativa ainda mais complexa, explorando intrigas políticas, conflitos raciais e decisões morais sem respostas fáceis. Um dos grandes destaques foi a estrutura do jogo, que se ramificava de forma drástica dependendo das escolhas do jogador, oferecendo caminhos, personagens e acontecimentos completamente diferentes ao longo da campanha.
A recepção de The Witcher 2 foi amplamente positiva, sendo reconhecido como um dos RPGs mais maduros de sua geração. Críticos elogiaram a profundidade da história, a evolução dos personagens e o peso real das decisões, que iam muito além de simples variações de diálogo. Apesar de críticas pontuais à curva de dificuldade e ao combate, o jogo consolidou a CD Projekt Red como um estúdio ousado e comprometido com experiências narrativas densas. Assassins of Kings não apenas expandiu o universo de Geralt de Rívia, como também elevou o padrão do que se esperava de um RPG ocidental.
Agora o mundo vê
Com The Witcher 3: Wild Hunt, lançado em 2015, a CD Projekt Red alcançou o ápice de sua ambição criativa. O desenvolvimento marcou a transição definitiva da série para um mundo aberto vasto e contínuo, algo inédito para a franquia até então. Utilizando uma versão evoluída da REDengine, o estúdio focou em criar um mundo vivo, repleto de histórias paralelas tão bem escritas quanto a campanha principal. Cada região foi pensada para transmitir identidade própria, enquanto as escolhas do jogador passaram a influenciar não apenas personagens individuais, mas o destino de reinos inteiros, consolidando a filosofia narrativa do estúdio.
A recepção foi avassaladora. The Witcher 3 foi amplamente aclamado pela crítica e pelo público, sendo elogiado por sua narrativa madura, personagens memoráveis, trilha sonora marcante e pela qualidade excepcional de suas missões secundárias. O jogo conquistou centenas de prêmios de Jogo do Ano e rapidamente se tornou um dos RPGs mais influentes da história, elevando a CD Projekt Red ao patamar dos maiores estúdios do mundo. Mais do que um sucesso comercial, o título passou a ser referência de qualidade e compromisso com o jogador.
O suporte pós-lançamento também se destacou. Além de diversas atualizações gratuitas, o jogo recebeu duas expansões robustas: Hearts of Stone e Blood and Wine. A primeira trouxe uma narrativa mais intimista e sombria, explorando pactos, tragédias humanas e um dos vilões mais marcantes da franquia. Já Blood and Wine ofereceu uma nova região inteira, Toussaint, funcionando quase como um capítulo final para a jornada de Geralt, com dezenas de horas de conteúdo. As DLCs foram tão bem recebidas quanto o jogo base, reforçando a reputação da CD Projekt Red como um estúdio que valoriza qualidade e respeito ao seu público.
“Witcher 3 é realmente um jogo extraordinário que cumpriu praticamente tudo o que foi prometido, porém ele possui varias minúcias em seu gameplay que precisam ser exploradas, resolvidas e melhoradas. Em outras palavras, não é porque um jogo é ótimo que ele não pode se tornar excelente.”Análise de Manoel Siqueira Silva para o GameBlast
Crescendo as vertentes
Com o sucesso estrondoso de The Witcher 3, a CD Projekt Red passou a expandir o universo da franquia para além do RPG tradicional. Um dos primeiros passos foi Gwent: The Witcher Card Game, inspirado no minigame de cartas presente em Wild Hunt. Transformado em um jogo standalone, Gwent ganhou identidade própria, com regras mais profundas, foco estratégico e atualizações constantes. A recepção inicial foi positiva, especialmente entre os fãs da série, que elogiaram a complexidade tática e o cuidado artístico, consolidando o título como uma nova vertente competitiva dentro do universo de The Witcher.
Paralelamente, o estúdio apostou em uma experiência narrativa diferente com Thronebreaker: The Witcher Tales. O jogo combinou mecânicas de cartas derivadas de Gwent com uma forte estrutura narrativa, colocando o jogador no papel da rainha Meve em uma campanha rica em decisões morais, batalhas estratégicas e desenvolvimento de personagens. Apesar de um alcance mais modesto, Thronebreaker foi amplamente elogiado por sua história madura, trilha sonora e direção artística, mostrando que a CD Projekt Red era capaz de explorar novas formas de contar histórias dentro de seus próprios universos.
A pressão para o sucesso
Após o sucesso histórico de The Witcher 3, a CD Projekt Red passou a carregar uma pressão sem precedentes com Cyberpunk 2077, lançado em 2020. O desenvolvimento foi longo e ambicioso, com o estúdio buscando criar um RPG de mundo aberto futurista extremamente detalhado, ambientado na caótica Night City. Utilizando a REDengine em seu limite, a equipe investiu pesado em narrativa, liberdade de escolha e construção de mundo, além de uma forte campanha de marketing que elevou as expectativas do público a níveis altíssimos. No entanto, problemas internos, mudanças de direção e prazos apertados acabaram impactando o estado final do jogo no lançamento.
A repercussão inicial foi extremamente polarizada. Enquanto a história, os personagens e a ambientação foram amplamente elogiados, os inúmeros problemas técnicos — especialmente nas versões para consoles da geração anterior — geraram forte reação negativa. O jogo foi alvo de críticas severas, reembolsos, retirada temporária de lojas digitais e um abalo significativo na reputação do estúdio. Ainda assim, mesmo em meio às controvérsias, Cyberpunk 2077 demonstrou seu potencial criativo, mantendo uma base fiel de jogadores e vendas expressivas desde o primeiro dia.
Com o passar do tempo, a CD Projekt Red investiu fortemente na recuperação do título por meio de atualizações, melhorias de desempenho e ajustes de design, culminando na expansão Phantom Liberty. A DLC trouxe uma nova região, personagens inéditos e uma narrativa mais focada e madura, sendo amplamente elogiada pela crítica e pelos jogadores. Esse relançamento simbólico ajudou a resgatar a confiança do público e mostrou o compromisso do estúdio em corrigir seus erros, transformando Cyberpunk 2077 em um exemplo de reconstrução dentro da indústria dos games.
“Cyberpunk 2077 é um bom RPG com um mundo futurista interessante, um trabalho de localização sólido e um gameplay que permite certa maleabilidade na resolução das missões. Porém, na mesma medida, o jogo sofre com muitos bugs e, mesmo sem eles, não estaria em condições de corresponder a toda a expectativa gerada por apresentar uma customização limitada e uma narrativa em que os impactos são pouco sentidos. Sem esse hype demasiado em mente, há uma jornada interessante que espero que tenha a oportunidade de brilhar adequadamente com os futuros updates.”Análise de Ivanir Ignacchitti para o GameBlast
Muito para o futuro
O futuro da CD Projekt Red aponta para uma fase de reconstrução e renovação, com vários projetos ambiciosos em andamento. Entre os mais aguardados, está o próximo capítulo principal da franquia, informalmente conhecido como The Witcher 4, que dará início a uma nova saga dentro do universo da série, agora desenvolvida na Unreal Engine 5. Além disso, o estúdio confirmou um remake do primeiro The Witcher, reimaginando o jogo que deu origem a tudo com tecnologia moderna, melhorias narrativas e jogabilidade atualizada, permitindo que uma nova geração de jogadores conheça a origem de Geralt de Rívia sob uma nova perspectiva.
Paralelamente, a empresa também trabalha na sequência de Cyberpunk 2077, prometendo aplicar as lições aprendidas com o lançamento conturbado do primeiro título para entregar uma experiência mais sólida desde o início. Outros projetos complementares, como novos jogos ambientados no universo de The Witcher e possíveis expansões multimídia, reforçam a intenção do estúdio de diversificar suas produções sem abandonar o foco em narrativas profundas. Com um planejamento mais estruturado e metas claras, a CD Projekt Red demonstra que, apesar dos tropeços, continua mirando alto e se preparando para moldar o futuro dos RPGs.
Revisão: Beatriz Castro


