Mass Effect Andrômeda: O patinho feio da franquia que quase virou um cisne

Um novo começo promissor, mesmo com um lançamento conturbado.

em 23/08/2025


Mass Effect é uma franquia de RPG de ação com temática futurista, criada pela BioWare. Lançada em 2007, a série se tornou um sucesso imediato por seu universo rico, jogabilidade envolvente e sistema de escolhas de peso, tendo seu auge no segundo capítulo, em 2010, e seu término no terceiro título. Em seguida, a franquia teve um novo começo, que foi apressado, mas, apesar disso, é considerado um bom jogo.

EA faz mais uma vítima… quer dizer, compra BioWare

É importante contextualizar essa união de empresas, pois foi ela que gerou uma leva de jogos apressados e intrigas que afetaram o desenvolvimento de Mass Effect: Andromeda. A BioWare é um estúdio canadense fundado em 1992 que, desde cedo, tinha uma relação muito forte com RPGs, com títulos como Baldur's Gate 1 e 2 (sim, a franquia não começou no terceiro), Jade Empire, Neverwinter e Star Wars: Knights of the Old Republic. A empresa também chegou a colaborar em um jogo do Sonic.


A BioWare saiu da bolha após o lançamento de Mass Effect em 2007, que foi um sucesso estrondoso. Nesse período, Dragon Age: Origins já estava em produção há um tempo e gastando um alto valor, pois o jogo havia passado por troca de engine e reformulações. Nessa situação, a Electronic Arts apareceu, oferecendo US$ 860 milhões à empresa-mãe, Elevation Partners. Assim, a BioWare se juntou a ela em 2008. Com isso, Origins viu a luz do dia em 2009, sendo um sucesso absoluto, e logo após veio Mass Effect 2 em 2010.

A partir desse ponto, os problemas nesse relacionamento começaram, com a EA exigindo que uma sequência de Dragon Age fosse feita em poucos meses, o que gerou a controversa sequência lançada em 2011. Isso é importante, pois esse tipo de exigência absurda se repetiu em Andromeda, só que além de um prazo curto de apenas 18 meses, houve o desafio de adaptar a engine Frostbite 3 para um jogo de RPG, sendo que ela sempre foi usada em FPS. A empresa queria economizar dinheiro, e por isso até FIFA 17 foi feito nela. A Electronic Arts tomou outras decisões questionáveis após isso, como o lançamento de Anthem, mas, para resumir, ela tem um papel importante na destruição da fama do estúdio, e outra culpada é a má organização interna da própria BioWare.

Um lançamento caótico

Lançado em 21 de março de 2017, Andromeda veio com uma série de problemas derivados da engine, como modelos faciais bugados e horríveis, além de bugs que impediam o jogador de concluir o jogo em 100%. Tudo isso fez o título receber duras críticas, tanto de canais de notícias quanto dos fãs, o que é justificado.


Após o lançamento, todo o conteúdo extra planejado para o jogo foi congelado e a equipe da BioWare Montreal, responsável pela franquia, foi reduzida, com alguns funcionários sendo transferidos para trabalhar em Star Wars Battlefront II. Outras críticas, no entanto, foram mais injustas, como as comparações entre os protagonistas, sendo que a ideia era justamente que eles fossem diferentes.

O começo de uma nova história

Ambientado após os eventos da trilogia original, Mass Effect: Andromeda coloca os jogadores no papel dos irmãos Scott e Sara Ryder. Ambos são personalizáveis, mas o jogador só pode escolher um. Junto a seu pai, Alec Ryder, eles fazem parte de uma expedição com outras espécies, entre elas os Krogans, Turians, Asari, Salarians e Quarians com o objetivo de encontrar novos lares. Cinco planetas são as primeiras paradas.


Durante uma parada no primeiro planeta, a equipe descobre que ele não era habitável como indicado e ainda apresentava a presença de uma espécie desconhecida e agressiva chamada Kett. Para completar, eles encontram uma tecnologia nunca vista antes. Ocorre, então, uma confusão que termina com o protagonista assumindo o manto de Pathfinder, o responsável por realizar o primeiro contato para a chegada dos colonos. Agora, ele e sua tripulação, a bordo da nave Nomad, devem visitar os outros planetas, descobrir quem são seus inimigos e como manipular a nova tecnologia.

O novo jogo traz algumas escolhas morais, mas elas têm pouca ou nenhuma relevância para o enredo. O objetivo é realmente ser um novo começo, no qual jogadores possam conhecer esse universo riquíssimo e a cultura de cada espécie. Diferente de Shepard, que já era alguém com renome desde o primeiro capítulo, o protagonista de Andromeda, além de estar passando pelo processo de ficar famoso, apresenta, na minha opinião, uma personalidade bem mais sarcástica e cômica do que as opções disponíveis em seu antecessor.

Mais do que amigos, família

Um dos elementos-chave da franquia sempre foram seus personagens, principalmente os que compõem a tripulação. Embora não tenhamos nenhuma das figuras clássicas como Liara ou Garrus, há novos personagens, cada um representando uma espécie. São eles: os humanos Cora Harper e Liam Kosta (que, como é padrão na franquia, são os mais sem graça), o Krogan Nakmor Drack, a Turian Vetra Nyx, a Asari Pelessaria B'Sayle e o Angara Jaal Ama Darav, uma espécie exclusiva deste jogo. Existem outros personagens, como o mecânico Gil, a médica Suvi e o piloto Kallo, mas eles são fixos na nave e não saem dela.


Cada membro do grupo é único e tem suas próprias questões, missões pessoais, morais e culturais, além de opiniões que podem divergir das do jogador. A médica Suvi, por exemplo, traz ocasionalmente a questão religiosa, já que sua família e ela são ligadas a essa questão, explorando o conflito entre ciência e fé de forma sutil. Já o Krogan Drack aborda desafios como se adaptar a um novo estilo de vida e ter esperança no futuro. Com exceção de Drack, todo o grupo é um potencial par romântico, mas cada um tem suas preferências.

A dinâmica do grupo é ótima e cativante, porém este não é, de fato, o grupo mais carismático da franquia. Há alguns personagens que acabam sendo caricatos demais, destoando, às vezes, do tom do jogo. Mas, como tudo, esta é uma questão de gosto. É necessário jogar para descobrir quais personagens são mais carismáticos para o jogador.

Indo além de apenas pegar cover

Uma das propostas do novo jogo era expandir a jogabilidade, indo além de um jogo de tiro com sistema de cobertura para algo mais amplo e com mais dinamismo. Para isso, o jogador pode planar, usar ataques aéreos que causam dano em área e uma variedade maior de armas corpo a corpo, como espadas Asari e martelos krogan.


O jogo também oferece um vasto arsenal de armas de fogo, como rifles, snipers, submetralhadoras, escopetas e pistolas, além de armaduras variadas que podem ser melhoradas até a classificação 10, com sua aparência mudando e cada uma tendo atributos diferentes que podem favorecer pontos como vida, escudo, resistência e dano. É possível misturar partes de armadura, embora não haja vantagem nisso ou em usar o conjunto completo, já que não há bônus por isso.

Porém, as armas têm peso. Portanto, é necessário escolher com sabedoria para que o personagem não sofra consequências, como a demora para recarregar as habilidades.

Junto aos cenários mais amplos, veio a habilidade única do protagonista de trocar de classe a qualquer momento durante a batalha. As classes disponíveis são:

  • Adepto: Funciona como um mago, usando poderes bióticos, como a telecinese, para deixar os inimigos expostos ou mantê-los no ar para serem alvejados. (curiosidade: os humanos tinham preconceito com quem usava habilidades bióticas);
  • Soldado: Tem um pouco mais de vida, defesa e dano com armas. É a classe ideal para quem deseja apenas jogar sem pensar muito;
  • Engenheiro: Pode invocar drones que ajudam em combate e possui passivas que tornam a pesquisa na base mais rápida;
  • Vanguarda Sentinela e Infiltrador: São classes híbridas que mesclam habilidades de Adepto com Soldado, por exemplo, permitindo ser um berserker com um alto bônus em armas corpo a corpo, enquanto as demais misturam Engenheiro com Soldado e Engenheiro com Adepto;
  • Explorador: classe nova liberada ao investir pontos nas três categorias da árvore de habilidades, sendo um híbrido que pega o melhor de todas as classes e ainda transforma a esquiva em teletransporte.
Além das classes, o jogo possui uma árvore de habilidades dividida em Tecnologia, Combate e Bióticos, nas quais é possível aprimorar características como o dano com armas de fogo. A possibilidade de trocar de classe a qualquer momento torna os combates dinâmicos e permite ao jogador testar e misturar habilidades. Por outro lado, a mecânica acaba tirando o peso das classes, que na trilogia original faziam parte da história do personagem.


A exploração é feita em quatro planetas distintos, com paisagens que variam de desertos a savanas densas, podendo ser percorrida tanto a pé quanto por meio do veículo ND1 Nomad. Este é de longe o melhor veículo terrestre da saga e, mesmo sem ter upgrades de armas, ainda é ótimo de se dirigir (estando a 90km/h, poucos inimigos sobrevivem à colisão). Além disso, as conversas que os companheiros têm dentro do veículo são ótimas. Há também atividades secundárias variadas, desde enfrentar chefes a fazer missões secundárias.

Multiplayer com potencial, mas cheio de lootbox 

Mass Effect 3 já possuía um modo multiplayer muito apreciado pelos fãs. No entanto, havia a controversa exigência de que o jogador precisasse jogá-lo para obter o melhor final, algo que foi removido na Edição Lendária, que reúne os três títulos clássicos. Em Andromeda, existe uma relação entre o multiplayer e a campanha, mas ela é mínima e não interfere em nada.


O modo é dividido em missões que podem ser feitas por esquadrões de NPCs contratados, sendo necessário esperar um tempo para serem concluídas, com recompensas como recursos. Outras missões, chamadas de Apex, podem ser jogadas por até três jogadores, com personagens, armas e armaduras sendo liberados por meio de lootboxes. É possível adquirir as caixas com moedas do jogo, obtidas ao concluir as missões quanto maior for a dificuldade, maior a recompensa. Caso o jogador esteja com pressa, há a opção de usar dinheiro real para adquirir a moeda paga.

As missões funcionam por meio de ondas de sete rodadas, nas quais os jogadores devem trabalhar em equipe para concluir o objetivo. O modo foi bem recebido pelos fãs do último jogo, mas, devido à falta de conteúdo, acabou perdendo popularidade com o tempo, embora ainda seja possível achar jogadores em servidores estrangeiros.

Tenha esperança no futuro

Apesar dos percalços, Mass Effect: Andromeda cumpriu sua proposta original de ser um novo começo e introduzir o universo da franquia a novos jogadores. O jogo conta com gráficos bonitos, planetas com ambientações belíssimas, um elenco de personagens competente, uma jogabilidade divertida e uma história que entrega uma premissa com muito potencial. É um ótimo momento para dar uma chance ao título já que o proximo jogo da franquia está em produção, embora não se tenham muitas informações além de um teaser revelado no N7 Day que mostra um visual nunca visto para armadura N7 e aparentemente quem a está vestindo é uma personagem feminina. Só resta torcer se algumas das ideias apresentadas nesse jogo estarão na sequência.

O jogo tem um preço acessível em promoções em todas as plataformas disponíveis: PlayStation 4, Xbox One e PC com valores que variam de 20 a 40 reais e possuue legendas em português. 

Revisão: Vitor Tibério

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Thiago da Silva e Silva
É um universitário se formando em engenharia na UFRRJ,apaixonado por jogos desde a infância, principalmente RPGs.
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