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Análise: Mass Effect Andromeda (Multi) é um jogo incrível manchado pela falta de polimento

Os diversos problemas encontrados acabaram por ofuscar tudo que o game pode fornecer de bom ao jogador.

A chegada de um novo jogo em uma franquia de grande porte é sempre marcada por muitas expectativas e presunções sobre o que o jogo deveria ter. Mass Effect Andromeda (Multi) teve não só a missão de satisfazer fãs e crítica, mas também a tarefa injusta de consertar a impressão ruim que ficou sobre a série com o lançamento de Mass Effect 3 (Multi) e seu final controverso — que te obrigava a comprar uma DLC para ver a resolução da história de Shepard e os Reapers.


Um mês após o lançamento do jogo é possível encontrar na internet uma enxurrada de resenhas negativas, que resultaram em comentários ainda mais pesados da comunidade, colocando o jogo como um completo fracasso e mais um desastre da EA. Mas será que o novo título da Bioware é realmente tão ruim quanto sua fama leva a crer?

Onde há fumaça...

Uma das cenas mais famosas do jogo,  que gerou o meme "my face is tired", antes e depois da primeira atualização.
Como costumamos dizer no ditado popular, onde há fumaça, há fogo. Muitas das críticas recorrentes sofridas pelo jogo são reais, porém, nem todas elas têm as proporções que parecem ter. Vamos tirar o primeiro elefante da sala e falar sobre a primeira pedra jogada na cara de Andromeda: os gráficos não estão bons. Essa afirmação que está na boca de muita gente é um bom exemplo da discrepância entre a percepção e a realidade.

Não dá para negar que o jogo sofreu bastante antes do lançamento (assinantes de serviços EA ainda tiveram acesso a algumas horas de jogo antes do público geral) e nas semanas seguintes. Depois do grande patch disponibilizado duas semanas após o título chegar às lojas, as animações de personagens foram melhoradas mas continuaram estranhas, enquanto que os problemas faciais foram drasticamente aprimorados com a adição de sombras e a melhora no script que controla a animação facial.

No entanto, fica difícil considerar que o jogo seja tão feio que se torna impossível imergir no universo e história, mesmo antes das melhorias — ainda mais levando em conta que tudo isso afeta, em sua maioria, os modelos de personagens humanos, que estão longe de serem a maioria. Digo isso porque o mundo em sua totalidade não pode ser visto como nada menos que estonteante, tanto que não era raro eu simplesmente parar e admirar a vista de um planeta ou cidade.


Isso não quer dizer que não existam momentos em que a imersão seja quebrada, pois há, e a maioria deles está relacionado a bugs e glitches. Durante o meu gameplay encontrei alguns, como por exemplo, a personagem principal simplesmente não aparece em uma cena importante de uma sidequest. Em casos mais extremos e mais graves, uma missão paralela inteira não pôde ser considerada finalizada, pois o sistema que controla as pendências não foi atualizado. O bom é que tudo isso pode ser corrigido com atualizações futuras — algo que a Bioware já garantiu que continuará fazendo nos próximos meses.
Onde o ícone aparece é onde o personagem principal deveria estar se tivesse sido carregado.

A chegada em uma nova galáxia


A história deste Mass Effect, que acontece entre o segundo e terceiro game da primeira trilogia, conta a história da Iniciativa Andromeda, uma expedição formada por indivíduos de diversas raças da Via Láctea cujo objetivo é povoar uma nova galáxia. Ao chegar ao novo lar, depois de 600 anos de viagem em criogenia, os desbravadores encontram uma situação totalmente diferente daquilo que contavam nas pesquisas feitas antes da partida.
Um detalhe bacana: a aparência do seu pai é escolhida de acordo com características do seu personagem.
Diante deste cenário tomamos controle de Sara ou Scott Ryder, filha/filho do Pathfinder (Explorador) da arca que carrega os humanos à nova galáxia. Logo na primeira hora do jogo, o cara responsável por descobrir as particularidades desses novos mundos e fazer com que a imigração seja feita da melhor forma, acaba falecendo em um desastre, passando o controle da inteligência artificial responsável por possibilitar toda a empreitada para o protagonista.

Com isso, fica a nosso cargo tomar as rédeas de toda a missão, na qual exploramos vários planetas, descobrimos novas raças alienígenas, ruínas de civilizações antigas e tentamos desvendar o que fez com que os mundos vistos como “dourados” se tornassem tão hostis. No meio do caminho enfrentamos ainda novos inimigos que chegaram antes de todos ao aglomerado de Heleus e buscam o mesmo conhecimento que nós.

Há muitas críticas feitas pelos fãs sobre a trama de Andromeda não ser original, mas nem todas as pessoas terão as mesmas opiniões. De fato, a nova aventura traz situações parecidas com as dos primeiros jogos, como ter um personagem que precisa provar o seu valor frente a um conselho, a importância que este desenvolve durante a história ou ainda os vestígios de uma civilização antiga que deixou para trás uma tecnologia super avançada, porém, o tom em que tudo isso acontece é muito diferente.


Enquanto nos primeiros jogos a narrativa é levada de forma genuína, com personagens focados em suas missões e com pouco espaço para distrações, este Mass Effect leva as coisas bem menos a sério. Isso pode ser visto na maioria dos diálogos, principalmente da equipe, que é formada majoritariamente por personagens mais jovens e que compartilham um senso de aventura. Durante todo o tempo em que andamos pelos planetas os personagens conversam entre si, falando sobre suas experiências locais, seu passado na terra, seus planos futuros, ou fazendo piadas.

Tudo isso, aliado às missões paralelas de confiança de cada um deles, ajuda a criar uma ligação forte entre os personagens de sua equipe no jogo. Andromeda usa essas sidequests para apresentar ao jogador o mais essencial da história do jogo, que vai muito além do que apenas chegar ao fim e derrotar o vilão que ameaça a todos na galáxia. É por meio delas que conhecemos mais sobre a iniciativa, sobre as pessoas que fazem parte do programa e os problemas que surgem em uma missão deste tipo.

Essa forma de ver a história, colocando o Explorador como referência para toda uma civilização, mas que não se leva tão a sério é o que me fez gostar tanto do jogo, a ponto de não querer que ele acabasse — algo que o primeiro Mass Effect nunca conseguiu fazer comigo. E não se engane, este Mass Effect tem o mesmo peso que o primeiro jogo teve, já que ele não só é o primeiro feito por uma equipe completamente nova, como ele também marca um novo ramo de história — o que torna até leviano levar em conta o desenvolvimento de uma trilogia inteira na hora de fazer uma comparação.

Colocando a mão na massa


Algo que é indiscutivelmente bom em Andromeda é o gameplay, que reúne diversas mecânicas construídas em mais de uma década de franquia e que é ampliado significativamente. Tarefas como rastrear sistemas e planetas em busca de recursos para a o desenvolvimento da tripulação ainda fazem parte vital da jogatina, mas são implementados de forma diferente. Parte desse trabalho é feito como antes, por meio de um mapa da galáxia cheio de planetas para onde a nave deve viajar e buscar informações e vez ou outra encontrar anomalias.

A segunda forma é por meio de exploração a bordo de um veículo, tirando proveito dos mapas gigantes onde encontramos várias fontes de minérios a serem extraídos. Uma terceira forma de conseguir recursos é usar seu implante SAM para fazer a varredura de objetos, animais, inimigos, plantas e relíquias e conseguir pontos de pesquisa. Essas descobertas ainda são preciosas por contribuir para o nível de viabilidade do aglomerado, que mede o quanto o local é habitável, influenciando diretamente o quão efetiva a missão está sendo e, consequentemente, impacta a obtenção de recursos necessários na hora de criar novas armaduras, armas e modificações.

Por falar em armas e equipamentos, batalhar em Andromeda é uma das coisas mais divertidas do jogo — ainda bem, já que boa parte do jogo se resume em lutas contra diversas facções alienígenas, exilados da Iniciativa, robôs protetores das relíquias e até mesmo os gigantescos arquitetos. E dentro desses tipos de inimigos há sempre novos tipos de criaturas sendo apresentadas, alguns deles têm até ligação com o desenvolvimento da trama. Isso é um ponto muito positivo, ainda que eu tenha ficado despreparado em várias ocasiões por não ter um personagem adequado para combater a ameaça.


Na preparação e personalização ainda temos as mesmas divisões de classes vistas nos Mass Effects antigos, como Soldado, Vanguarda, Infiltrador, Adepto, Sentinela, entre outros. A diferença é que neste jogo é possível mudar a qualquer momento o tipo de Perfil escolhido, dando ao jogador a possibilidade de personalizar o poder das habilidades para servir a alguma situação — ainda que as mudanças de status não sejam tão significativas. Como personagem principal, temos acesso a atributos de qualquer tipo e cabe a nós escolher como gastar os pontos de acordo com nosso estilo de jogo.

Como dá para perceber, Andromeda tem sistemas bem complexos que leva um tempo para dominar, o que por si só não é ruim. O único problema aqui é que o jogo não dá qualquer explicação de como melhor aproveitar esses pontos. Isso não se reserva somente a divisão de atributos, pois também não há qualquer tutorial para o sistema de criação de itens, ficando a cargo de nós descobrirmos na raça como utilizar recursos ou ainda como se localizar nos menus pouco práticos do jogo. Só fui descobrir que era possível desmantelar armas depois de muito tempo e por acaso.

Diamante bruto

Não há como negar que Mass Effect Andromeda tem defeitos, e se tornou símbolo de uma indústria que preza mais pelo dinheiro às pressas do que com a entrega de um produto impecável. Problemas que poderiam ser atenuados caso o jogo fosse adiado alguns meses acabaram fazendo com que os pontos positivos, que são muito maiores que os negativos, passassem quase despercebidos.


O fato é que com tantos lançamentos de peso e que entregaram experiências mais bem polidas, fica fácil achar os defeitos do jogo. Mesmo assim, este é um game que aqueles que derem uma chance de verdade não se arrependerão, ainda mais se for a primeira aventura no universo da franquia.

Prós


  • Gráficos e direção de arte de alta qualidade;
  • Narrativa e personagens mais leves são encantadoras;
  • Sidequests são muito bem elaboradas e ajudam a desenvolver a história;
  • Há muito conteúdo para explorar, o que promete render muitas horas de jogo;
  • Sistemas densos dão liberdade para personalizar personagem e criar itens;
  • Variedade de inimigos mantém combates divertidos do começo ao fim.

Contras


  • História com muitas influências da última trilogia pode afastar alguns;
  • A falta de polimento fez com que jogo fosse lançado com muitos bugs e animações de baixa qualidade;
  • Ausência de tutoriais para utilizar sistemas de criação de itens e personalização dificultam o aprendizado;
  • Menus confusos acabam complicando o que já é difícil.


Mass Effect Andromeda – PS4/XBO/PC – Nota: 8.0
Plataforma utilizada para análise: PS4

Revisão: Ana Krishna Peixoto

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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