Final Fantasy IX: curiosidades, referências e segredos que você talvez não conheça ou não tenha notado

Conheça alguns dos detalhes que fazem de FFIX um legado inesquecível na história de Final Fantasy.

em 04/07/2025
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Mesmo 25 anos após seu lançamento, Final Fantasy IX continua encantando com seu charme atemporal. Concebido como um tributo à era de ouro da franquia, o jogo esconde uma infinidade de detalhes que, talvez, passem despercebidos em uma primeira jogada. Neste especial, reunimos algumas das curiosidades mais interessantes sobre o nono capítulo da série.

Alguns detalhes sobre o desenvolvimento

O desenvolvimento de Final Fantasy IX ocorreu quase em paralelo ao de Final Fantasy VIII, mas ficou a cargo de uma equipe distinta, liderada por ninguém menos que Hironobu Sakaguchi, criador da franquia. Desde o início, Sakaguchi idealizou o projeto como um retorno às raízes da série, com uma ambientação medieval clássica e fantasiosa que evocasse o espírito dos primeiros Final Fantasy. Inicialmente, o projeto chegou a ser tratado internamente como uma espécie de spin-off, mas ganhou força ao longo da produção e acabou sendo promovido ao status de título principal da série.

Durante a campanha promocional no Japão, a Square firmou uma parceria com a Coca-Cola — a mesma com quem já havia colaborado com Final Fantasy VII e VIII. A campanha resultou em comerciais de TV com animações inéditas, nas quais os personagens do jogo interagiam com as garrafas da marca. Além disso, a ação incluiu itens colecionáveis exclusivos.

Outro aspecto interessante do desenvolvimento foi a maneira como o mundo de Gaia foi concebido. Sakaguchi queria que o jogador tivesse sempre a sensação de descoberta, como se houvesse algo novo a ser visto, ouvido ou experimentado a cada novo local. Para alcançar esse objetivo, a equipe adotou uma abordagem peculiar: cada designer ficou encarregado de desenvolver uma região específica, cuidando de sua ambientação, NPCs, diálogos e eventos paralelos. 

Com o criador da série e sua equipe sempre revisando o roteiro para garantir coesão entre os diferentes arcos, essa liberdade e distribuição de tarefas resultaram, como sabemos, em um mundo ricamente diverso, no qual cidades como Alexandria, Treno e Burmecia apresentam culturas e atmosferas únicas. Outro detalhe curioso é que a ambientação fantástica do título foi influenciada pelo filme The Dark Crystal, conhecido no Brasil como O Cristal Encantado.

Notas que contam histórias

Além de contar com uma das trilhas sonoras mais completas e emocionantes da franquia, Final Fantasy IX foi o último título numerado da série cuja trilha foi composta inteiramente por Nobuo Uematsu. Em Final Fantasy X, XI e XIV, o compositor passou a dividir os créditos com outros nomes e, em FFXII, sua contribuição se resumiu a apenas um tema.

Por adotar uma estética mais fantástica e cartunesca, em contraste com o realismo futurista dos episódios anteriores, o jogo ofereceu a Uematsu grande liberdade criativa. Ele compôs mais de 150 faixas para o projeto, das quais mais de 20 acabaram não sendo utilizadas, principalmente por limitações de espaço nos discos do PlayStation.

Curiosamente, algumas músicas foram criadas antes mesmo de suas respectivas cenas estarem finalizadas. Um exemplo notável é Not Alone, composta sem um propósito definido, mas que acabou se tornando tema de um dos momentos mais marcantes da narrativa, quando os companheiros de Zidane o resgatam de uma crise existencial na reta final do jogo.

Outro destaque é Melodies of Life, o tema principal do jogo. A canção surge em diversas variações instrumentais ao longo da jornada e ganha uma versão vocal interpretada por Emiko Shiratori durante os créditos finais. Essa música é especialmente associada à princesa Garnet, refletindo sua trajetória de amadurecimento e o vínculo crescente com Zidane. Sua melodia, simultaneamente melancólica e esperançosa, sintetiza com delicadeza o tom emocional que permeia a jornada de diversos personagens de Final Fantasy IX.


Broncas pela teimosia

Final Fantasy IX é repleto de momentos em que o humor e a tensão se entrelaçam ao longo da aventura. Um exemplo emblemático acontece logo no início do jogo, quando Zidane e sua trupe precisam responder qual é o verdadeiro objetivo do grupo em Alexandria: sequestrar a princesa Garnet. Caso o jogador insista em errar a resposta algumas dezenas de vezes, será surpreendido pela aparição da personagem Ruby, que invade a cena e dá uma bronca nos companheiros — quebrando o ritmo da situação tensa de uma maneira cômica.

Outro momento curioso envolve o Moogle que podemos invocar no mapa exterior para salvar o progresso. Se o jogador chamá-lo e, em seguida, o dispensar repetidamente, o mascote acaba se irritando e exige que essa provocação pare imediatamente. Vale mencionar que essa reação inusitada foi transformada em um troféu na versão remasterizada, lançada para PC e consoles em 2016.


Deixe os sapinhos procriarem!

Após recrutar Quina, o jogador passa a ter acesso ao minijogo de captura de sapos nos Qu's Marsh — os pântanos onde vive a peculiar tribo de cozinheiros da qual a personagem faz parte. Embora pareça uma simples distração, essa atividade é essencial para desbloquear equipamentos e habilidades especiais para a nossa heroína (ou herói?) comilona.

O que alguns jogadores talvez não saibam é que capturar todos os sapos de uma vez pode atrapalhar o progresso nesse desafio. O segredo está em sempre deixar pelo menos um macho e uma fêmea no pântano, permitindo que eles se reproduzam. Dessa forma, o local se repovoa com mais rapidez, garantindo novas capturas sem longas esperas.

Ou seja, se quiser avançar neste minijogo sem frustrações, deixe os sapinhos procriarem!


Uma das platinas mais difíceis de toda a franquia

Conquistar a platina de Final Fantasy IX não é uma tarefa fácil, pois o jogo reúne alguns dos troféus mais exigentes de toda a franquia. Um deles, em especial, pode causar calafrios em muitos jogadores: o infame minijogo de pular corda com Vivi.

Esse minijogo está diretamente ligado a dois troféus. O primeiro exige que o jogador realize 100 pulos consecutivos — uma tarefa difícil, mas ainda acessível com prática. No entanto, há uma conquista muito mais desafiadora: a obtenção do item-chave King of Jump Rope, liberado apenas ao alcançar a impressionante marca de 1000 saltos seguidos. 

É importante destacar que o ritmo da brincadeira acelera progressivamente, tornando a execução cada vez mais difícil. Basta um único deslize para zerar a contagem, o que transforma este desafio em um verdadeiro teste de reflexos, persistência e paciência.

Outro troféu bastante trabalhoso é o Movie Critic, que exige assistir a todos os Active Time Events (ATEs) disponíveis em uma única jogada. Como muitos desses eventos possuem condições específicas para serem ativados, essa conquista demanda planejamento cuidadoso e, por vezes, o uso estratégico de saves extras.


O nome de Dagger (contém spoiler)

Embora seja apresentada como Garnet Til Alexandros XVII, esse não é o nome verdadeiro da personagem. Garnet é, na verdade, um título adotado após sua entrada na família real de Alexandria, escolhida por sua semelhança com a princesa falecida — filha biológica do casal real.

Seu verdadeiro nome de nascimento só é revelado em um flashback opcional próximo ao final do jogo, em Madain Sari. Essa revelação discreta encerra de forma sensível o arco de identidade da personagem, que começa como uma invocadora órfã, passa a viver como princesa, adota o nome de Dagger como aventureira e, enfim, se reconecta com sua origem. O nome original de Dagger, ou Garnet, é Sarah.


O Festival da Caçada pode ter diferentes vencedores (e você vai querer que Zidane não vença)

Durante o evento do Festival da Caçada, em Lindblum, o jogador controla Zidane e compete contra Freya, Vivi e outros personagens menores para ver quem derrota mais monstros dentro de um tempo limitado. Derrotar o monstro Zaghnol no Business District garante uma pontuação alta, quase sempre levando a vitória para Zidane, mas o resultado pode ser manipulado pela performance do jogador, e as recompensas variam conforme o vencedor.

Se Zidane vencer, o prêmio é 5.000 gil. Se Freya ganhar, o jogador recebe um Coral Ring, um item bastante útil nesse ponto do jogo. Já se Vivi vencer, a recompensa é a carta Theater Ship. Nas versões mais recentes, também existe um troféu relacionado à vitória do pequeno mago negro. 

Para que Vivi seja o vencedor, é preciso deixar que Zidane e Freya sejam derrotados pelo Zaghnol. Para que Freya vença, Zidane deve ser derrotado por esse monstro, mas Freya deve derrotá-lo. Embora essas estratégias sejam contraintuitivas, as recompensas obtidas com as vitórias de Freya e Vivi são mais valiosas do que a de Zidane.


Speedrun incentivada pelo jogo

A Excalibur II, arma mais poderosa de Steiner e do próprio jogo, é também uma das conquistas mais difíceis de se obter. Para adquiri-la, o jogador deve chegar ao final de Memoria, a penúltima masmorra do game, com menos de 12 horas no relógio interno do jogo (tempo real, não tempo de save).

Conseguir esse feito, especialmente na versão original para PlayStation, exige uma campanha extremamente otimizada: sem desvios, sem eventos opcionais e com uma execução quase perfeita nas batalhas. Para se ter uma ideia, em um ritmo normal, é comum que um jogador ultrapasse as 12 horas logo no primeiro dos quatro discos.

Na versão remasterizada, essa conquista fica um pouco mais acessível graças à possibilidade de desativar encontros aleatórios, acelerar o jogo sem que isso influencie o relógio interno e pular as animações (algo que, na versão original de PlayStation, só é possível ao abrir e fechar a tampa do console). Além disso, nesta versão, existe um troféu vinculado à conquista da Excalibur II.


Um tributo recheado de referências à franquia

Como já mencionado, Final Fantasy IX não foi idealizado apenas como mais um título numerado, mas como uma grande celebração da franquia. O jogo funciona como um tributo aos fãs de longa data, repleto de homenagens, referências, nomes e conceitos que percorrem praticamente todos os títulos anteriores, especialmente os seis primeiros. Sendo assim, para quem conhece os games anteriores, o jogo é um verdadeiro banquete de nostalgia. Abaixo, listamos apenas algumas dessas inúmeras homenagens:
  • O nome Garland, vilão de Final Fantasy I, é reutilizado como uma figura antagonista central em FFIX;
  • A princesa Cornelia da peça I Want to Be Your Canary é uma referência à primeira cidade de Final Fantasy I;
  • Os quatro guardiões elementais — Maliris, Tiamat, Kraken e Lich — remetem diretamente aos Quatro Demônios de Final Fantasy I;
  • A primeira composição da equipe — Zidane, Steiner, Vivi e Garnet — evoca a formação clássica de classes do jogo original e da série como um todo: Guerreiro, Ladrão, Mago Negro e Mago Branco;
  • O castelo de Garland possui o mesmo nome do castelo governado pelo imperador Mateus em Final Fantasy II: Pandemonium;
  • A consorte real de Lindblum possui o mesmo nome da princesa de Fynn em Final Fantasy II: Hilda;
  • Com itens específicos, é possível mudar a música de fundo da Black Mage Village para Doga and Unei, um tema de Final Fantasy III;
  • O dirigível de Garland e Kuja possui o mesmo nome do veículo definitivo de Final Fantasy III: Invincible;
  • Uma das melhores armas de Freya é a Kain's Lance, uma referência ao personagem Kain Highwind, de Final Fantasy IV;
  • Eiko se assemelha a Rydia (FFIV) em muitos aspectos, incluindo o fato de terem nascido em vilas de invocadores, terem perdido seus pais e suas vilas terem sido devastadas, além de se juntarem ao grupo ainda muito jovens e poderem usar magias brancas e de invocação;
  • O chocobo Boko, de Final Fantasy V, aparece como uma carta no Tetra Master com visual semelhante ao sprite original. Além disso, um chocobo chamado Bobby Corwen nasce na Vila dos Magos Negros (a primeira sílaba de Bobby e a primeira sílaba de Corwen fazem alusão ao nome);
  • O chefe final Necron possui uma habilidade chamada Grand Cross, que também é uma técnica de Neo Exdeath, chefe final de Final Fantasy V;
  • O sistema Trance homenageia a habilidade Morph de Terra em Final Fantasy VI, apresentando em Zidane o mesmo tom rosa da protagonista do clássico para Super Nintendo;
  • A estrutura narrativa de Kuja e Garland tem paralelos com Kefka e Gestahl, de Final Fantasy VI;
  • Em Final Fantasy VI, Setzer deseja sequestrar Maria (que é substituída por Celes) em uma aeronave durante a ópera Maria and Draco; já em Final Fantasy IX, a Trupe de Teatro Tantalus planeja sequestrar a princesa Garnet com sua nave teatral durante a apresentação de I Want to Be Your Canary;
  • Ao examinar uma espada grande na loja de armas de Lindblum, Zidane diz: I remember a guy with spiky hair who carried something like this (Lembro-me de um cara com cabelo espetado que carregava algo parecido com isso), uma referência a Cloud Strife e sua Buster Sword (Final Fantasy VII);
  • O chefe opcional Hades é uma das invocações de Final Fantasy VII;
  • O artista Michael, de Lindblum, tem uma escultura em seu estúdio de um chocobo de Final Fantasy VIII;
  • Garnet é uma órfã que foi adotada e criada como membro da realeza devido à morte precoce da princesa real, um destino semelhante ao da princesa Ovelia, de Final Fantasy Tactics;
  • Muitas armas e habilidades de FFIX são originárias de Final Fantasy Tactics, como a lendária Save the Queen, utilizada por Beatrix;

A atuação continua fora do palco

Mais do que uma fantasia sobre reinos, magias e cristais, Final Fantasy IX constrói sua narrativa sobre um palco simbólico: o da identidade. Logo no início, a peça I Want to Be Your Canary serve de prólogo para a história, mas também antecipa um dos temas mais centrais do jogo: a ideia de que todos os personagens estão atuando, seja por necessidade, fuga ou busca por pertencimento.

Zidane carrega dentro de si uma atuação emocional. Seu jeito carismático, suas piadas e seu flerte constante funcionam como uma máscara para esconder um vazio existencial que só é revelado mais adiante. Já Garnet, ao fugir do castelo, também assume um novo papel, adotando o nome Dagger e tentando agir como uma plebeia, ensaiando falas com Zidane numa tentativa de escapar do papel imposto pela realeza e de assumir o controle da própria vida.

Vivi, por sua vez, representa a marionete que tenta se tornar autora da própria história. Criado como um ser artificial, ele lida com questões profundas sobre existência, morte e livre-arbítrio, buscando descobrir quem realmente é. Steiner também vive uma espécie de farsa. Estando inicialmente preso a um ideal de cavaleiro cego pela autoridade, ele aprende a questionar seu papel e a agir segundo sua consciência, deixando de ser um peão para se tornar alguém movido pelo afeto e pela justiça.

Freya carrega a dor da perda com uma elegância silenciosa oriunda de sua raça. Seus saltos e movimentos graciosos contrastam com o seu sofrimento marcado pela ausência e pelo vazio deixado por um amor esquecido. Quina, por outro lado, é o artista excêntrico do grupo, cujo palco é a culinária e a exploração dos sabores do mundo. Embora seu comportamento e fala sejam estranhos para os padrões dos outros, essa excentricidade é, na verdade, uma forma de expressão autêntica. Quina se dedica a experimentar, descobrir e saborear a vida de uma maneira única, como se cada prato fosse uma nova obra de arte.

Eiko, com apenas seis anos, é a última representante de seu povo. Sua arte é o canto ancestral usado para invocar os Eidolons, mas também as cartas que escreve e o papel de adulta que insiste em interpretar. Por fim, embora Amarant rejeite qualquer encenação social, recusando-se a se abrir ou a pertencer a algo, essa resistência também é uma forma de atuação — uma máscara de frieza construída para esconder sua dificuldade em lidar com os outros.

Essa teatralidade não está apenas nos personagens, mas em todo o jogo. A presença constante de teatros, a estrutura narrativa dividida como uma peça em atos e os eventos paralelos mostrados como cenas (os Active Time Events), tudo reforça a ideia de que FFIX é um mundo onde todos estão desempenhando papéis.

No fim das contas, Final Fantasy IX nos mostra que, naquele mundo, atuar não é apenas fingir: é também buscar, se proteger e crescer. Todos em FFIX são artistas, não porque estão no palco, mas porque estão tentando dar sentido e criar propósito às suas histórias. 


Detalhes que constroem uma obra extraordinária

Final Fantasy IX é, sem dúvidas, um dos capítulos mais especiais da franquia — não apenas por seu retorno às raízes da série, mas pela riqueza de detalhes que tornam sua jornada inesquecível a cada nova partida. Por trás de seus personagens carismáticos, vilas encantadoras e batalhas envolventes, esconde-se um verdadeiro tesouro de curiosidades e referências que evidenciam o cuidado e a paixão de sua equipe de desenvolvimento. O nono título da série é um RPG que encanta na superfície, mas que revela cada vez mais profundidade quanto mais se observa.

Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut 
Referências: Final Fantasy IX Ultimania, Final Fantasy Wiki e Canal oficial de Final Fantasy (YouTube)
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Lucas Oliveira
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