Análise: Monument Valley 3 é uma exuberante e simples jornada por mundos surreais

O novo título da série de puzzles capricha na ambientação, mas ousa pouco nas ideias.

em 28/07/2025

Localidades belas e surreais estão no centro da aventura de Monument Valley 3. Na companhia de uma viajante, manipulamos cenários e perspectivas para resolver puzzles visualmente instigantes. O terceiro título da franquia aposta na atmosfera extraordinária e no ritmo sereno, resultando em uma experiência aconchegante. No entanto, a simplicidade de ideias e poucas novidades significativas trazem ar de retrocesso.

Desbravando mares e ruínas em busca de luz

O nível do mar está subindo, colocando vilas e outras regiões em risco. Para tentar reverter a situação, a aprendiz de guardiã do farol Noor parte em uma jornada em busca da Luz Sagrada, que supostamente tem o poder de proteger todos dos infortúnios. Sua viagem solitária passa por terras misteriosas, guiada por um propósito maior que se revela ao longo do caminho, em uma narrativa sutil com mensagem ambiental e leve temática social. 

A peregrinação de Noor se desenrola em inúmeros quebra-cabeças que brincam com perspectivas e truques visuais em estruturas surreais inspiradas nos trabalhos do artista M. C. Escher: paredes e chão se misturam de formas imprevisíveis, fazendo com que diferentes partes se tornem caminhos possíveis.


Em cada estágio, alteramos os cenários para criar caminhos supostamente impossíveis por meio de ilusões de ótica. Duas torres de alturas diferentes, por exemplo, podem ficar lado a lado ao mover a câmera do jeito certo; pontes aparecem ao girar estruturas; novas rotas surgem ao distorcer o ângulo de visão. Os comandos são intuitivos, se resumindo a arrastar elementos e indicar onde Noor deve ir.

Desde o início, Monument Valley 3 nos convida a mergulhar em seu mundo fantástico e é difícil não se impressionar com os belíssimos cenários que misturam arquitetura e natureza de forma surreal. Cada estágio aposta em paletas de cores específicas para criar locais deslumbrantes, e uma trilha sonora suave ajuda a montar a atmosfera minimalista e aconchegante.


Navegando e contorcendo o mundo em puzzles surreais

Assim como os anteriores, o grande trunfo de Monument Valley 3 está nos seus quebra-cabeças exóticos. Em um primeiro momento, eles parecem simplesmente impossíveis, mas é deslumbrante brincar com a ilusão de ótica para fazer surgir caminhos supostamente impossíveis. Há um aspecto tátil nos enigmas e parte da diversão está em testar as possibilidades e ver os pequenos mundos se transformando.


A premissa básica evolui com interações cada vez mais complexas. Em um templo, usamos uma manivela para torcer colunas, o que permite Noor andar pelas paredes; em um mundo feito de papel, partes do cenário se desdobram como origamis complexos; para alcançar o topo de uma torre, manipulamos o crescimento de uma imensa trepadeira, cujos galhos se tornam caminhos. Particularmente, me surpreendi com a criatividade das situações.

A grande novidade do terceiro episódio é a inclusão de um barco, que pode ser controlado livremente em estágios específicos na resolução de enigmas: para avançar, é necessário navegar pelas águas para alcançar diferentes partes dos cenários. Apesar da criatividade, o uso da embarcação é limitado a pouquíssimos momentos e mantém a natureza linear das soluções, o que traz pouco impacto.



Uma sequência presa no passado

Monument Valley sempre apostou na ambientação e no visual, oferecendo puzzles pouco complexos. O terceiro título mantém essa filosofia, mas acaba simplificando ainda mais as coisas: a maioria dos enigmas tem solução muito óbvia, muitas vezes exigindo pouquíssimos movimentos. Mais para o final da jornada aparecem quebra-cabeças um pouco mais elaborados, no entanto eles não chegam no nível de inventividade dos desafios dos títulos anteriores.


O resultado final é agradável e relaxante, correspondendo à proposta do jogo. Porém, é difícil não se incomodar com a sensação de retrocesso em relação aos episódios anteriores com o desafio e variedade de situações reduzidos. Como sequência, faltou um pouquinho de ousadia, como a inclusão de múltiplas soluções ou até mesmo uma campanha opcional mais difícil.

Outra questão negativa diz respeito ao conteúdo, com uma campanha de dez capítulos que pode ser completada em aproximadamente duas horas. Apesar da duração da experiência ser apropriada, fica a sensação de que o jogo poderia ser mais. Já imaginando isso, a desenvolvedora diz que estágios adicionais serão disponibilizados no futuro. O estranho é que as fases extras já estão presentes na versão mobile lançada via Netflix, então isso já poderia estar presente no lançamento para consoles.



Uma experiência envolvente e efêmera

Monument Valley 3 encanta com sua direção de arte impressionante, ambientações oníricas e uma proposta acessível que convida à contemplação. A jornada de Noor é envolvente e pontuada por quebra-cabeças criativos, ainda que mais simples e previsíveis do que nos títulos anteriores. Apesar de introduzir novas ideias, como a navegação por barco, o jogo pouco se arrisca em termos de inovação e variedade. Com uma campanha breve e soluções lineares, a experiência é acolhedora, mas deixa a impressão de que poderia ter ido além em profundidade e desafio.

Prós

  • Os cenários são visualmente deslumbrantes e artisticamente inspirados;
  • Os puzzles usam ilusões de ótica de forma criativa e intuitiva;
  • A trilha sonora suave contribui para uma atmosfera acolhedora.

Contras

  • A maioria dos desafios é simples demais e pouco inventiva;
  • A campanha é curta e oferece pouco conteúdo no lançamento.
Monument Valley 3 — PC/PS5/XSX/Switch/iOS/Android — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Johnnie Brian
Análise produzida com cópia digital cedida pela ustwo games
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OpenCritic
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Farley Santos
é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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