Análise: Farmagia colhe o que semeou: um bom RPG de ação com simulador de fazenda — e nada mais

Apesar de reunir várias boas ideias, a produção não empolga o suficiente nos elementos mais importantes da aventura.Apesar de reunir várias boas ideia

em 14/11/2024

Dentre os vários estilos visuais possíveis para um videogame, um dos mais populares é o inspirado em anime. Embora boa parte deles seja baseado em obras existentes, como Naruto e Dragon Ball, diversos jogos são produções originais. Farmagia é o mais novo exemplo, reunindo vários gêneros diferentes em um game com visual de anime. Pegue suas sementes monstruosas e prepare suas fusões mais poderosas, pois a análise já vai começar!

O começo de uma nova safra

Lançado em 1º de novembro, o novo jogo mistura um RPG de ação com um simulador de fazenda. Só que, neste caso, a produção não é agrícola, mas “monstrícula”. Ou seja, o jogador precisa semear, cultivar e colher monstros  chamados de Buddies  para utilizá-los em batalhas. É possível customizar essas criaturas, mudando suas aparências e fortalecendo suas habilidades.
Os Farmagia - magos capazes de plantar e utilizar os monstros - são os personagens principais da história. O mundo do jogo, chamado de Felicidad, é dividido em cinco grandes continentes, mas governado por um único rei. Após a sua aparente morte, um de seus principais generais cria um regime opressor para tentar controlar todos, o que por sua vez gera um movimento de resistência.
É nesse contexto que surge Ten, protagonista do jogo, bem como Nares, Arche e vários outros Farmagia. O enredo reserva algumas surpresas pelo caminho, com direito a eventos exagerados e grandiosos, tal como um bom anime shonen. Aliás, temos aqui um game desenhado por Hiro Mashima, criador de mangás como Fairy Tail e Edens Zero.

Te conheço de algum lugar

Essa característica é boa e ruim ao mesmo tempo: apesar de um artista de qualidade, todas as suas produções tendem a ter a mesma “cara”, com personagens relativamente parecidos estética e funcionalmente. A questão é que, como as obras normalmente têm tempo para se desenvolver, as diferenças entre elas vão se formando e cada história consegue adquirir vida própria.
Aqui reside um dos principais problemas de Farmagia: a introdução do jogador ao mundo do game é breve e sem muita imersão. Não temos animações no estilo anime além da abertura do jogo, enquanto as cenas em jogo são bastante simples e pouco envolventes. O estilo visual do game é bonito e colorido, mas a produção é relativamente simples, com texturas básicas e modelos sem muitos detalhes.
A dublagem é muito boa, seja em inglês ou japonês, o que quase compensa essa limitação na apresentação. As ilustrações são muito bonitas, ainda que limitadas em termos de animação. Se o jogo fosse baseado em um anime existente, seria mais fácil compreender e se envolver com personagens e eventos.

Entre lutas e plantações

Vamos falar agora das mecânicas de jogo de Farmagia. Como citado anteriormente, é preciso semear e colher monstros, que serão utilizados durante os combates. Embora interessante num primeiro momento, a fazenda é bem limitada, com recursos simples e sem muitas variações. Não que eu quisesse algo profundo como Sakuna: Of Rice and Ruin, mas seria bom ter algo um pouquinho mais elaborado.
Inclusive, existe um ciclo de dias para que “safra” possa ser colhida. Mesmo ele é simplificado, pois simplesmente avançar no tempo não cria impactos reais; o que vale é avançar na história. Também temos um rancho para melhorar os Buddies, uma loja para adquirir itens e opções para aceitar missões secundárias, incluindo as provenientes de Espíritos Elementais, que concedem mais poder para os Farmagias.
Falando das lutas, o jogador monta um grupo de monstros, divididos entre quatro tipos diferentes (um para cada botão frontal direito do controle). Cada um tem características diferentes, como ataques à curta ou longa distância, suporte, cura, etc. É possível variar a quantidade entre eles, sendo que certas criaturas ocupam mais espaço que outras.
Aqui, temos uma certa similaridade com a série Pikmin, pois determinados tipos de inimigos podem ser derrotados mais facilmente com alguns ataques do que outros. Movimentos especiais incluem Unite Blitzes, que combinam criaturas da mesma espécie, e Fusion, que funde todas as criaturas juntas para formar uma única que ataca ferozmente.
Também temos a opção de defender, sendo que defesas no último segundo anulam o dano e prejudicam o equilíbrio dos inimigos;  assim, é possível realizar contra-ataques poderosos. Todas essas opções para os combates são divertidas e formam uma base sólida para os combates em Farmagia.

Faltou mais adubo e irrigação

A questão é que o game não se renova o suficiente com o tempo, sem maiores novidades em combate ou customização das criaturas. Existem algumas melhorias que podem ser aplicadas via treinamentos, itens e recompensas durante as dungeons, mas nada fora do convencional. Inclusive, apesar de não chegarem a ser enjoativos, cenários e monstros tendem a se tornar repetitivos com o tempo.
Confesso que minha impressão inicial de Farmagia foi bem negativa. Com o nome de Hiro Mashima estampado e a promessa de combinar vários elementos numa ótima produção, eu esperava um jogo muito bom. A simplicidade que permeia a produção me frustrou um pouco, sobretudo em termos da fazenda e dos combates; felizmente, história e ambientação tendem a melhorar com o tempo, conforme vamos conhecendo personagens e seu mundo.
Inclusive, aparentemente o game terá uma série de anime no futuro próximo. Espero que ela consiga alcançar o que considero um potencial maior do que foi atingido pelo jogo. Dá para ver o esmero em determinadas partes do título, como seu tutorial bem completo e a grande variedade de personagens. Em resumo, o game tentou ser muitas coisas, mas não fez nenhuma delas direito.
Não que elas tenham sido mal-feitas; na realidade, temos um jogo relativamente simples, repleto de conceitos e mecânicas divertidas, mas limitadas. O mesmo vale para a produção, um tanto modesta para os padrões atuais. Se ao menos o game tivesse se destacado mais na jogabilidade em si, ou mesmo tido visuais e animações mais caprichadas, o sucesso seria certeiro.

Uma colheita boa, mas modesta

Dentro de circunstâncias mais favoráveis, Farmagia poderia ter sido um grande lançamento. Sua proposta no estilo anime é agradável, bem como as mecânicas básicas de luta, cultivo e personalização de monstros. É uma pena que seu universo não é suficientemente bem apresentado, assim como não temos profundidade nos combates, na fazenda ou mesmo na produção em geral. Fica a sugestão para fãs do estilo anime e/ou quem queira um RPG de ação único e de boas ideias, mas relativamente simples.

Prós

  • A mistura de RPG de ação com simulador de fazenda é uma ótima ideia e que funciona em boa parte do tempo;
  • A temática de anime, bem como o seu universo original, oferece uma atmosfera atraente e alegre;
  • O sistema de combate básico é interessante, contando com boas opções para lutas divertidas;
  • A história se desenvolve de forma agradável e oferece bons momentos;
  • Ilustrações são muito bonitas e a dublagem é ótima, ajudando na integração ao mundo do game.

Contras

  • Produção simplista permeia o jogo, como em inimigos e cenários repetitivos, poucas animações para contar a história, entre outras;
  • Sistema de combate não se renova o suficiente com o tempo e acaba quase repetitivo;
  • Faltou mais destaque ao elemento fazenda e ao enredo do jogo, bem como seus personagens.
Farmagia — PC/PS4/PS5 — Nota: 7.0
Console utilizado para avaliação: PS5
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Marvelous USA

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é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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