Valiant Hearts: The Great War é uma emocionante aventura narrativa com ênfase em quebra-cabeças que foi lançada pela Ubisoft para PC, PS3, PS4, X360 e XBO em 2014, estando atualmente disponível também para Switch e plataformas mobile. Ambientado durante a Primeira Guerra Mundial, este título oferece uma perspectiva distinta da maioria dos jogos que exploram esse conflito.
Quatro destinos entrelaçados em tempos de desespero
A história de Valiant Hearts: The Great War se desenrola entre 1914, o ano em que eclodiu a Primeira Guerra Mundial, e 1917. Ela se concentra em quatro personagens singulares que, apesar de suas origens diversas, encontram-se e apoiam-se mutuamente ao longo da disputa entre nações.
Já no início, o jogo nos apresenta uma situação comovente e trágica: Karl, um alemão, é casado com Marie, uma francesa. Com o início da guerra, Marie se vê sozinha para cuidar de seu pequeno filho Victor, enquanto Karl e Emile, o pai da mulher, são convocados em frentes opostas pelos exércitos alemão e francês, respectivamente.
Além desses dois homens, jogamos também com Freddie, um voluntário afro-americano que se une às tropas francesas como engenheiro, impulsionado por um intenso desejo de vingança. Durante os anos de batalha, ele desenvolve uma forte amizade com Emile, salvando-o e sendo ajudado por ele em mais de uma ocasião. Por fim, temos Anna, uma enfermeira belga em busca de seu pai, mas que nunca deixa de prestar auxílio aos feridos que encontra pelo caminho, não se importando com suas etnias.
Em vez de colocar armas nas mãos do jogador e focar na ação, The Great War direciona sua atenção para as pessoas envolvidas direta ou indiretamente no conflito, destacando suas dificuldades diárias e os dilemas enfrentados, bem como o impacto da guerra sobre os membros da família que ficavam em casa.
Nesse sentido, os quatro protagonistas não são retratados como heróis que enfrentam vilões, mas sim como exemplos dos bons aspectos que o ser humano tem a oferecer, característica frequentemente esquecida durante os tempos de guerra. Mesmo Freddie, que possui uma motivação inicial completamente pessoal e típica de produções de ação, é um personagem com inúmeros traços de humanidade.
É importante mencionar que, embora seja uma experiência incrível, a história às vezes escorrega em alguns clichês, como a utilização repetitiva do artifício de enganar o jogador com a morte de personagens, o que perde o impacto após a primeira ocorrência. Além disso, um indivíduo específico, fundamental para as motivações de Anna e Freddie, é apresentado de forma excessivamente caricata, destoando da proposta do jogo.
Puzzles que nunca acabam
A jogabilidade de Valiant Hearts ocorre em uma perspectiva side-scrolling e é totalmente focada na resolução de quebra-cabeças. Os enigmas são bem variados e alguns deles bem engenhosos, como em uma sequência na qual Karl deve alternar entre diferentes uniformes para acessar áreas específicas de uma base militar.
Um aspecto muito cativante é a presença de Walt, um adorável cachorro que acompanha os protagonistas em certas situações. Além de ser um fiel companheiro, ele desempenha um papel crucial na resolução de alguns desafios, seja coletando itens em locais inacessíveis aos humanos, distraindo soldados ou operando alavancas.
A meu ver, o grande problema de The Great War é a repetição de algumas sessões de fuga e a extensa duração de determinados enigmas. Creio que esses puzzles muito demorados contrastam um pouco com a urgência da narrativa, desviando por um bom tempo a atenção do jogador da história para os desafios individuais. No meu cenário ideal, a maravilhosa narrativa deste jogo seria complementada pela jogabilidade simplificada de sua sequência, Coming Home.
Um jogo lindo e muito informativo
Visualmente, The Great War apresenta uma arte 2D maravilhosa, muito similar à de histórias em quadrinhos. Apesar do estilo amigável, o título não hesita em retratar os horrores da guerra, com momentos de caos e destruição representados por explosões, disparos e imagens de morte e desespero.
Curiosamente, os personagens não possuem diálogos falados; em vez disso, as interações são transmitidas por meio de balões preenchidos com imagens representativas, como corações ou objetos. No entanto, a história apresenta narrações no início e no final de cada arco.
Além de deslumbrantes, os cenários de The Great War escondem uma infinidade de objetos colecionáveis. Esses artefatos são referências aos diversos itens utilizados durante a Primeira Guerra Mundial e apresentam descrições minuciosas sobre os contextos em que eram utilizados. Ademais, à medida que avançamos na campanha, o jogo proporciona um rico conhecimento sobre diversos acontecimentos da época, incluindo detalhes sobre a participação do Brasil neste conflito.
Uma obra necessária
Valiant Hearts: The Great War é uma obra extraordinária que oferece informações e reflexões sobre um dos períodos mais sombrios da história da humanidade. Lançado um século após o início da guerra, o jogo não buscou glorificar nenhum lado ou exaltar as conquistas de qualquer nação, mas sim retratar a terrível realidade vivenciada por inúmeras pessoas da época, independentemente de suas nacionalidades.
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
