Xbox One: dez anos do lançamento do console de oitava geração da Microsoft

Do lançamento catastrófico ao modelo mais poderoso da oitava geração, relembre a trajetória desse aparelho que mudou o mercado de videogames.

em 16/12/2023

No dia 22 de novembro de 2013 a Microsoft apresentava ao mundo o seu console de oitava geração, que tinha a missão de continuar a trajetória de sucesso conquistada pelo seu antecessor, o bem-sucedido Xbox 360. Em apenas duas gerações, a Microsoft havia conquistado o respeito e a admiração de uma legião de fãs pelo mundo e rivalizou com a Sony no concorrido mercado de games.

A ambição da empresa americana era ainda maior dessa vez: oferecer uma máquina poderosa que seria mais do que um console de videogame, mas sim uma central multimídia completa que reuniria todo o entretenimento em um só lugar: daí o nome Xbox One.

Neste especial vamos relembrar sobre os modelos, acessórios e jogos, mas sobretudo sobre o início difícil e a longa jornada de redenção desse console que teve uma trajetória de vida tão árdua quanto os personagens dos games que por ele desfilaram. 

Um Don que não tinha o dom

Àquela época, a Nintendo surpreendeu o mercado com o Wii, um console com uma proposta bastante diferente do modelo tradicional vigente. O console branquinho da Nintendo encantou o mundo com seus jogos simples com controles de movimento e foi abraçado pelo público casual, um mercado até então praticamente inexplorado pelos grandes fabricantes.


As enormes vendas para as pessoas que não faziam parte do público gamer catapultaram as vendas do Wii, o que fez com que Sony e Microsoft também desejassem abocanhar uma fatia desse mercado, cada uma à sua maneira. A Sony criou o PlayStation Move, uma solução com muitas semelhanças ao Nintendo Wiimote. Já a Microsoft apostou no Kinect, um acessório original que permitia que o próprio corpo do jogador controlasse a ação nos games.

O Kinect provou-se um sucesso e o principal responsável pelo projeto, Don Mattrick, foi promovido para presidente da Microsoft Interactive Entertainment Business, a divisão da empresa que cuidava da marca Xbox.


Don Mattrick era um executivo de sucesso, mas infelizmente não era uma pessoa conectada às necessidades dos jogadores de videogame. O sucesso do Kinect e do Wii o convenceram que a melhor aposta seria fazer do próximo console Xbox um produto de entretenimento voltado para o público casual que queria consumir mídia pela TV, deixando os jogos em segundo plano, um erro que mostrou-se catastrófico.

TV, TV, TV...

Antes da primeira apresentação oficial, começaram a rolar rumores desconcertantes sobre o futuro aparelho: de que ele exigiria conexão permanente à internet para rodar os jogos e de que não seria possível rodar games usados ou emprestados sem o pagamento de uma taxa. A situação foi agravada com uma série de tweets de Adam Orth, então funcionário da Microsoft, que postou mensagens como “Não sei qual é o drama em ter um console sempre ligado à internet… todo aparelho hoje em dia está sempre conectado, esse é o mundo em que vivemos hoje. #lidemcomisso”. Orth foi prontamente demitido, mas a parte preocupante é que a Microsoft não negou os rumores.


O Xbox One foi revelado em uma apresentação à imprensa em 21 de maio de 2013, que focou maciçamente em demonstrar as capacidades multimídia do aparelho e sua integração com a televisão, com mais de meia hora de apresentação antes que qualquer game fosse mostrado. Isso irritou profundamente a comunidade, porque, afinal de contas, as pessoas querem comprar um console para jogar videogames e não para assistir a TV a cabo ou escutar música.

Os rumores sobre a obrigatoriedade de conexão à internet e a impossibilidade de rodar jogos emprestados ou usados mostraram-se verdadeiros, gerando diversas críticas a respeito dos direitos do consumidor sobre os jogos comprados em mídia física no Xbox. Ao ser perguntado sobre a necessidade de conexão permanente à internet para rodar os jogos, Don Mattrick respondeu “Felizmente, temos um produto para aqueles que não possuem acesso à internet, nós o chamamos de Xbox 360.”


Para completar o desastre da apresentação inicial do Xbox One, durante a E3 de 2013, foi revelado que seu preço de lançamento seria de 499 dólares, pois vinha com o Kinect obrigatoriamente incluso, o que encarecia sua produção. Isso tornava o aparelho da Microsoft cem dólares mais caro que seu principal concorrente, o PlayStation 4 da Sony.

Curiosamente, no Brasil a diferença de preço estava a favor da Microsoft, pois o preço de lançamento do Xbox One por aqui era de R$ 2.200,00 enquanto o PlayStation 4 foi lançado a R$ 4.000,00 devido às taxas de importação.

Don Matrick, o principal responsável pelas decisões catastróficas na concepção do Xbox One, percebeu que seus conceitos estavam completamente equivocados e prontamente pulou fora do barco. Poucos dias depois da E3 2013, ele saiu da Microsoft e foi trabalhar como CEO na Zynga, uma empresa de social games, abandonando o Xbox à deriva.

O lançamento do Xbox One coincidiu com uma série de mudanças importantes na própria Microsoft. Em 4 de fevereiro de 2014, Satya Nadella foi recomendado por Bill Gates como sucessor de Steve Ballmer no cargo de CEO da Microsoft e internamente rolavam questionamentos sobre qual seria o rumo da divisão de games na empresa.


A Microsoft gastou 1 bilhão de dólares para estabelecer a marca com o primeiro console, e mais 1,5 bilhão para recuperar-se do erro do “anel vermelho da morte” que aconteceu com o Xbox 360. As perspectivas no lançamento do Xbox One não eram nada boas e temia-se que este seria o fim da marca como fabricante de consoles.

Um Phil de esperança

Satya Nadella estudou o quadro de executivos da empresa e viu em Phil Spencer um potencial para substituir Don Mattrick e recuperar a marca. Essa decisão provou-se extremamente acertada, pois Phil Spencer demonstrou-se um profissional muito mais alinhado com os desejos do público gamer.


O plano para reverter o começo desastroso consistiu em atacar ponto por ponto as más decisões de seu lançamento. No fundo, o Xbox One era um ótimo console, com um hardware competente, desenvolvido com uma arquitetura sólida e fácil de programar, com um ótimo serviço online e uma launch lineup robusta, contando com títulos como Ryse: Son of Rome, Forza Motorsport 5, Dead Rising 3, Killer Instinct, Battlefield 4, Need for Speed Rivals e FIFA 14. Qualidade ele tinha, só precisava atacar os defeitos.

As políticas de DRM foram revistas, eliminando-se a necessidade de conexão permanente com a internet e possibilitando o uso livre de jogos em mídia física usados e emprestados de amigos. O Kinect deixou de ser obrigatório no pacote do console, que baixou seu preço para 399 dólares, equiparando-se ao PlayStation 4.

Como num Pass de mágica

O grande trunfo criado pela Microsoft para tornar seu ecossistema atrativo para o consumidor foi a criação do serviço Game Pass. Estudando o mercado, Phil Spencer percebeu que uma das grandes limitações para o consumidor era o alto custo dos jogos em si. Nessa mesma época, os mercados de filmes e músicas passavam por uma revolução, com serviços de streaming substituindo a necessidade de compra individual de produtos de entretenimento, e a Microsoft viu nesse modelo uma possibilidade a ser explorada.


Implementar um serviço nesses moldes com videogames exige uma aposta colossal de dinheiro, e não é toda empresa que pode se dar ao luxo de arriscar tanto. Felizmente, a Microsoft possui fôlego financeiro para tal, e implementou o serviço de assinaturas Game Pass, que dá acesso a um catálogo bastante robusto por um custo mensal relativamente acessível, fazendo do ecossistema Xbox uma opção com custo-benefício bastante atrativa. A inclusão de títulos first-party no lançamento aumentou ainda mais o apelo do serviço, tornando-se um argumento fundamental para aderir à marca.

O Hardware

O Xbox One original é um console discreto, na cor preto piano e fendas para ventilação no formato de linhas. Utiliza um processador octa-core AMD Jaguar com arquitetura x86-64, similar à de computadores PC e 8GB de memória DDR3.


A saída de vídeo do console original suporta os tamanhos 1080p e 720p no formato HDMI 1.4. Curiosamente, o console também possui uma entrada de vídeo HDMI 1.4 e uma saída de aúdio óptica de alta definição com suporte a som 7.1 Dolby Atmos e DTS:X. Essa sofisticação se deve ao fato de o aparelho ter sido concebido como uma central multimídia integrada.

O controle do Xbox One é uma evolução discreta do já excelente controle do Xbox 360. A pegada ficou mais confortável, pois não há mais o calombo da bateria na traseira. Agora, o feedback háptico está mais apurado e ligado aos gatilhos, uma ideia simples e brilhante que aumenta consideravelmente a imersão, especialmente em jogos de tiro e corrida, o forte da marca. Mas a principal evolução em relação a seu antecessor foi o d-pad em forma de cruz, comumente usado em controles da Nintendo, que é mais eficiente para jogos de plataforma e luta do que o controle de oito direções presente no Xbox 360.


O Kinect 2.0 é uma versão levemente aprimorada do original, com uma câmera com melhor resolução (1080p) e mais preciso, com capacidade para rastrear até seis jogadores simultaneamente. Apesar de ser muito divertido para jogos de dança, o acessório encarecia o preço do console e deixou de ser vendido de forma integrada a partir de 9 de junho de 2014. Os modelos Xbox One S e One X vendidos posteriormente sequer possuem o conector para o Kinect 2.0, embora este possa ser usado com adaptadores.

Compatibilidade com o passado e com o futuro

Um dos aspectos mais chamativos do Xbox One é sua retrocompatibilidade com títulos do Xbox 360 e original. Não somente ele consegue rodar centenas de jogos das gerações anteriores, como também consegue fazê-lo com melhorias nos gráficos e na taxa de quadros por segundo, tecnologia apelidada pela Microsoft como FPS Boost. O melhor de tudo é que essas melhorias não custam nada para o jogador, pois são feitas pela própria arquitetura do aparelho, dispensando a necessidade de comprar os jogos novamente, prática comum em outras plataformas.


Do mesmo modo, o Xbox One é capaz de rodar jogos da geração seguinte (Xbox Series) através do serviço de streaming Xbox Cloud Gaming. Isso significa que proprietários do One não precisam correr para comprar o próximo console, já que grande parte dos jogos presentes no serviço de assinatura Game Pass podem ser desfrutados via nuvem, rompendo o conceito de gerações, uma vantagem também exclusiva para consumidores da Microsoft.

O escorpião mais poderoso da geração

Em 2 de agosto de 2016 foi lançado o Xbox One S, um modelo revisado com redução de 40% no tamanho, visual reformulado na cor branca e respiros em forma de furos ao invés de linhas. Apesar de menor, sua estrutura é muito mais otimizada que o original, com a fonte passando para a parte interna do aparelho, capacidade de reproduzir filmes em 4K e HDR nativo com suporte para HDMI 2.0. Isso é possível graças à sua GPU overclockeada para 914MHz.


O controle também foi melhorado, passando a oferecer suporte à conexão bluetooth e entrada para fone de ouvido com conector padrão de 3.5 mm. Posteriormente, a Microsoft também ofereceu uma versão do Xbox One S sem o leitor de discos, chamada Xbox One S All-Digital.

E finalmente, em 7 de novembro de 2017, a Microsoft lançou o Xbox One X, o console mais poderoso da oitava geração, que havia sido anunciado na E2 de 2016 com o codinome “Project Scorpio”.

Esse aparelho é extremamente elegante e compacto, com uma poderosa CPU octa-core de 2.3 GHz, 12 GB de memória RAM GDDR5 e uma GPU Radeon com 40 unidades computacionais, gerando um impressionante poder de processamento de 6 teraflops e possibilidade de rodar jogos com gráficos em 4K nativos, algo que nenhum outro console de sua geração consegue equiparar.


Olhando o aparelho ao vivo, é impressionante como um modelo tão compacto consegue oferecer tanta potência. O segredo está em seu sistema de refrigeração com câmara de vapor e uma reengenharia na estrutura de alimentação de cada componente, além do avanço tecnológico da AMD na eficiência de seus processadores. O One X é considerado um prodígio e um marco na arquitetura de consoles.

Quem disse que não tem exclusivos?

Ao contrário do que se diz, o Xbox One não vive só de serviços. Sua biblioteca conta com uma quantidade impressionante de títulos devido à compatibilidade multigeracional e é particularmente boa para aqueles que curtem jogos de corrida, tiro e multiplayer. Para a lista abaixo, selecionei uma lista de exclusivos que foram lançados originalmente para o console de oitava geração:

Ryse: Son of Rome  Sunset Overdrive  Ori and the WIll of the Wisps
Halo: The Master Chief Collection
Killer Instinct
Forza Horizon 2
Forza Horizon 3
Forza Horizon 4
Forza Horizon 5
Forza Motosport 5
Forza Motorsport 6
Forza Motorsport 7
Quantum Break

Grounded

Gears of War 4

Gears 5

Sea of Thieves

Psychonauts 2

Rare Replay

State of Decay 2
The Ascent

Halo 5: Guardians
Halo Infinite

You are the One

Esses dez anos não foram nada fáceis para o Xbox One, que foi apedrejado por todos os lados desde seu lançamento pela mídia especializada e por boa parte do público. Eu particularmente entendo que muitas dessas críticas têm fundamento, mas também existe muito exagero e ódio injustificado nessas opiniões, como é comum no mercado gamer.

Eu vejo o Xbox One como um aparelho elegante e robusto, que possibilita o acesso a uma biblioteca imensa, porque ele não somente é compatível com títulos lançados para si mesmo, como também centenas de jogos do passado graças à retrocompatibilidade com gerações anteriores, quanto com títulos de gerações seguintes, devido ao serviço de jogos em nuvem. 

É um aparelho que tem acesso a excelentes serviços de assinatura e o único de sua geração que ofereceu um modelo capaz de rodar games em 4k real. Ainda que tenha perdido em volume de vendas para seus concorrentes, ele não se saiu mal, totalizando praticamente 58 milhões de unidades vendidas segundo o VGChartz, o que não deixa de ser um número expressivo. 

Se por um lado o lançamento conturbado do Xbox One mostrou falhas na gestão da Microsoft, por outro lado mostrou sua capacidade para ouvir o público, dar respostas rápidas às questões apresentadas e adaptar-se ao mercado. Foi graças a ele que o serviço Game Pass foi criado, revolucionando para sempre a maneira como enxergamos o mercado de games, tornando-o um dos consoles mais importantes da história.

Revisão: Thais Santos

é engenheiro eletrônico e tem uma filha fofinha que tenta morder os controles do papai. Curte jogos de luta, corrida e ação.
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