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Análise: Returnal (PC) nos convida a quebrar o ciclo... agora nos computadores

Fazendo jus às expectativas, a versão de PC é a melhor forma de se aventurar neste jogaço da Housemarque.

Lançado em 2021 como um dos grandes títulos exclusivos do PlayStation 5, Returnal logo chamou a atenção de crítica e público ao apresentar sua proposta única: uma mescla de roguelike, metroidvania e bullet hell conduzida por uma narrativa e ambientação sci-fi tão interessante quanto envolvente.


Agora em 2023, seguindo o caminho de outros jogos-chaves da Sony, Returnal finalmente chega ao PC, teoricamente em sua melhor forma após patches e atualizações significativas no console. Mas será que a adaptação valeu a pena e configura um investimento digno? Confira a seguir em nossa análise!

Quebrando um ciclo tão difícil quanto viciante, mas agora no PC

Antes de prosseguir com a análise, gostaria de fazer um rápido adendo: como os pontos fortes e fracos de Returnal já foram amplamente discutidos em nossa análise original do game, decidi separar este texto em dois grandes momentos. No primeiro, tecerei minha breve opinião de por que você deve (ou não) jogar o título da Housemarque. No segundo, falarei sobre as vantagens e desvantagens desta adaptação para PC. Combinado? Então vamos em frente!

Já faz alguns anos que tenho a honra de analisar jogos, mas, ainda assim, ocorre-me sempre uma sensação indescritível quando deparo com um título que não somente ousa em sua proposta, mas é capaz de executá-la com a devida qualidade, destacando-se no mar de mesmices e exatidões que frequentemente define a indústria dos games.

Este é o caso de Returnal. Seguindo a história de Selene Vassos, uma patrulheira espacial a serviço da organização ASTRA, fazemos um pouso de emergência no planeta desconhecido Atropos. Enquanto analisa o lugar e tenta encontrar um misterioso sinal chamado de “Sombra Branca”, Selene descobre que está presa em um ciclo aparentemente interminável; toda vez que morre, a patrulheira retorna ao local da aterrissagem forçada, e não é possível precisar desde quando ou por que isso ocorre.

Pior ainda: cada vez que Selene retorna ao início, o ecossistema ao seu redor se transforma, reorganizando-se como um verdadeiro labirinto encabeçado por um organismo vivo. Cercada de vida hostil, com a sua nave quebrada e à beira da loucura, só resta à viajante buscar respostas: o que é o sinal da Sombra Branca que a fez pousar em Atropos? Por que ela está presa em um ciclo? Mais ainda, seria possível escapar dele?

São essas questões que guiam o jogador durante a aventura, que destaca-se por sua mescla bem-sucedida de gêneros e influências. O ciclo aparentemente interminável em Atropos indica que Returnal é acima de tudo um roguelike. Aqui, “morrer” significa de fato recomeçar; pouquíssimas coisas conquistadas serão mantidas de uma partida para outra. 

Porém, a aventura de Selene também se destaca como twitch shooter (subgênero de jogos de tiro no qual os reflexos do jogador são fundamentais), bullet hell (gênero que geralmente indica mais projéteis na tela do que tempo para desviar deles) e metroidvania (diversas áreas previamente inalcançáveis tornam-se acessíveis conforme se avança no título). Assim, de Metroid a Gears of War, passando pela mitologia grega e o horror lovecraftiano, há muito o que se perceber e investigar aqui, e o fato de que tudo é apresentado em um pacote coeso e viciante é realmente algo a se aplaudir.

Particularmente, este foi o meu primeiro contato com Returnal, e logo de cara me apaixonei pela aventura. Porém, devo ressaltar que este não é um jogo para todos; juntando o alto nível de dificuldade com a pequena, quase ínfima, progressão entre partidas, é preciso uma boa dose de paciência para conseguir progredir. 

Se outros excelentes roguelikes como Hades (Multi) e Into the Breach (PC/Switch) conferem uma série de benefícios aos jogadores que passam tempo em seus universos, inclusive permitindo ajustar a dificuldade caso preciso, Returnal parece se contentar em recompensar pouco os seus fãs. Recursos como Éter, alguns equipamentos pontuais como a espada e o gancho e os chefes derrotados são mantidos de forma permanente, mas todo o resto (inclusive os Obolites, a “moeda” principal) é perdido assim que você morre. 

Do ponto de vista narrativo, essa dificuldade toda faz sentido — Atropos é um planeta hostil, e quebrar o ciclo nunca seria uma tarefa fácil. Mas a aventura de Selene termina por caminhar perto demais de um desequilíbrio perigoso, em que a sorte com frequência parece importar mais que a habilidade (entre em uma sala cheia de inimigos muito mais fortes do que o equipamento encontrado até o momento e você entenderá o que digo).

Este é, de longe, o único ponto realmente negativo do jogo, pois em todos os outros aspectos Returnal se sobressai: suas mecânicas de tiro são muito prazerosas, sua ambientação é ímpar e superar um desafio aparentemente impossível instantaneamente traz aquela descarga atordoante de serotonina muito similar à de Soulslikes. 

Durante o breve período em que estive com o jogo, confesso que passei, sim, por frustrações. Mas em nenhum momento essas foram mais fortes que minha vontade de quebrar definitivamente o ciclo. Apesar de não ser um jogo para todos, então, devo dizer que Returnal realmente merece uma recomendação para os pacientes e entusiastas de seu gênero, especialmente em sua melhor versão — no PC.

Um port praticamente perfeito e uma aula de como trazer um jogo para os computadores

Feita a indicação, vamos ao ponto-chave desta análise: a adaptação para os computadores. Felizmente, estamos diante de um port praticamente perfeito, com diversas opções que superam com folga as apresentadas no PlayStation 5, especialmente em hardwares mais robustos.

Uma rápida inspeção no menu de definições gráficas, por exemplo, revela mais de dez opções ajustáveis, como qualidade da iluminação, qualidade das sombras, texturas, nevoeiro, partículas, reflexos, etc. Quem possui uma placa RTX da NVIDIA ou uma Radeon da série 6000 ou superior também poderá desfrutar do maior avanço gráfico dos últimos tempos: o Ray Tracing, que pode ser usado para conferir um maior realismo tanto às sombras quanto aos reflexos de Returnal.

Assim como em Marvel’s Spider-Man Remastered (PC/PS5), abrir o menu de configurações gráficas não esconde a cena atual, o que faz com que qualquer mudança efetuada possa ser vista em tempo real, mesmo com o jogo pausado. Com quatro níveis (mínimo, médio, alto e épico) para a maioria das definições, também é possível executar um teste de benchmark in-game para conferir na prática o desempenho do seu hardware em diversas situações de estresse.

Falando da ferramenta de benchmark incluída neste port, trata-se de uma das mais completas que já vi em todos os meus anos de PC gaming (como seria bom se todo jogo tivesse algo ao menos parecido!). Ao executá-la, presenciamos uma série de cenas que testam a capacidade do computador do jogador nos vários aspectos do título, como itens destrutíveis, animações, reflexos, VFX e por aí vai. Com os resultados (que podem inclusive ser exportados em .csv), é só partir para a otimização.

Para esta análise, utilizei um Ryzen 7 5700x, RTX 3060 12GB, 16GB de memória RAM a 3200MHz e um SSD NVMe, o que me permitiu jogar confortavelmente no preset épico do jogo em 1080p (a resolução nativa do meu monitor). Utilizando o DLSS no modo qualidade, presenciei altas taxas de quadros por segundo e uma ótima performance visual que, confesso, deixou-me boquiaberto em alguns momentos — Returnal definitivamente traz aquele gostinho de “nova geração” aos computadores com seu festival de partículas e elementos destrutíveis. 

Mas então, lembra que eu disse que estávamos diante de um port quase perfeito? Bem, o grande problema até o momento é a presença de um incômodo stuttering (fenômeno que pode ser definido como um breve travamento) que ocorre de forma aleatória ao longo do jogo, especialmente quando uma nova porta é aberta ou um novo bioma, inimigo ou efeito visual é carregado.

É uma situação similar à que presenciei em Elden Ring (Multi), embora muito menos grave que no jogo da FromSoftware. Ainda assim, considerando que mesmo um pequeno congelamento pode significar a diferença entre morrer ou sobreviver em Returnal, é no mínimo frustrante lidar com esse problema na obra da Housemarque. 

A boa notícia é que, de acordo com uma postagem na Comunidade Steam, os desenvolvedores já estão trabalhando em um novo patch que visa especificamente melhorias de performance para o título. Até o momento de escrita desta análise, essa atualização ainda não havia sido lançada, mas considerando o estado geral do jogo em seu Dia 1, eu diria que há bons motivos para ficar otimista.

Sendo bem honesto, a mitigação do stuttering automaticamente elevaria Returnal ao patamar dos grandes ports de PC, pelo menos na minha opinião. Com suporte a resoluções ultrawide; contador de FPS; medidor de uso de CPU e GPU e VRAM; DLSS e FSR; FOV, Dolby Atmos e um cativante modo foto, a aventura de Selene é definitivamente um título para quem curte extrair o máximo de seu hardware. Até mesmo os recursos do DualSense estão presentes, embora o combo de mouse e teclado seja a melhor opção quando se considera a natureza do jogo.

Também convém mencionar a ótima adaptação do título ao português brasileiro, bem como o fato de que a versão de PC inclui todas as atualizações anteriores do console, como a 2.0 e a Ascension, que trouxe o recurso de Co-Op e a Torre de Sisyphus ao jogo. É só uma pena não haver crossplay entre PC e PS5, já que se aventurar com alguém do lado em Returnal é muito divertido e eu adoraria fazer isso junto dos meus amigos do console. Quem sabe em um patch futuro?

Quebre o ciclo, agora no PC

Sob diversos aspectos, Returnal é uma experiência única e fantástica. Embora sua proposta e dificuldade sejam claramente pontos divisivos, não há como negar que este é um dos melhores jogos da nova geração. Em sua nova casa — os computadores — suas qualidades são proeminentes demais para passarem despercebidas, então, fica o aviso: quebrar o ciclo nunca será fácil, mas tentar fazê-lo é altamente viciante e recomendado.

Prós

  • Ambientação impecável;
  • Uma mistura única e viciante de gêneros;
  • Suporte a diversos recursos exclusivos do PC e inclusão de uma ferramenta completa de benchmark fazem deste um port elogiável;
  • Oferece um gostinho da nova geração com animações e cenários impressionantes;
  • Adaptação para o português brasileiro é digna de elogios;
  • Modo foto é muito divertido;
  • Inclui todas as atualizações já lançadas para o console, como a 2.0 e a Ascension.

Contras

  • Pouca ou nenhuma progressão entre as partidas pode desanimar jogadores que gostam de ver a sua evolução registrada;
  • Por vezes, parece que a sorte é mais importante que a habilidade do jogador;
  • Presença de stuttering aleatório acaba prejudicando a experiência no PC;
  • Inexplicavelmente, não possui cross-play com a versão de PlayStation 5.
Returnal — PC — Nota: 8.5
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela PlayStation PC

é bacharel em Produção Cultural pela UFF e estudante de Comunicação Social pela FSMA. Na infância, ganhou um Super Nintendo dos pais e, desde então, nunca mais deixou o mundo dos games. Ainda sonha em ser um Mestre Pokémon.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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