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Análise: Them’s Fightin’ Herds (Multi) é pequeno, mas faz bonito e bate que nem gente grande

Lançado primeiramente no PC, chegou a vez de curtir nos consoles um dos grandes indies dos jogos de luta.

Them’s Fightin’ Herds é um bom exemplo de oportunismo. Desenvolvido pelo estúdio indie Mane6, seus personagens não são criaturas monstruosas, nem especialistas em artes marciais, e sim bichos fofos com traços bem específicos e únicos. A ideia era fazer algo baseado na franquia de brinquedos My Little Pony, mas a ideia foi sendo modificada ao longo do tempo, por diversas questões.

Lançado via Steam em abril de 2020, o curioso jogo de luta parecia que iria ficar relegado a mais um bom título encontrado na loja virtual, mas a pandemia global deu uma mudada nisso. Com o cancelamento dos eventos presenciais daquele ano, entre eles o tradicional torneio de luta Evolution Championship, houve um remanejamento para uma disputa online, que focaria em apenas quatro títulos: Mortal Kombat 11: Aftermath, Killer Instinct, Skullgirls 2nd Encore e Them’s Fightin’ Herds.

A escolha foi surpreendente e criou bastante curiosidade e ceticismo por parte da comunidade. Infelizmente a edição não aconteceu, pois foi cancelada devido a uma denúncia de abuso envolvendo um dos criadores do torneio, Joey Cuellar. Entretanto, muitos jogadores ficaram bem atiçados em descobrir mais.

Agora, dois anos depois, Them’s Fightin’ Herds chegou às demais plataformas existentes e finalmente os demais jogadores poderão descobrir o porquê do jogo chamar tanta atenção naquela época.

As gladiadoras quadrúpedes

Por incrível que pareça, Them’s Fightin’ Herds tem uma justificativa para reunir seu time equestre e 100% feminino. Em um lugar chamado Foenum, as diferentes tribos convivem em paz e harmonia, cada uma respeitando seus limites e leis. Entretanto, no meio da noite começam a surgir criaturas sombrias e para erradicar essa ameaça, então cada região enviou sua campeã para a missão:
  • Arizona, escolhida das Pradarias, é uma vaca que pode usar golpes com um laço;
  • Velvet, a corça campeã das Tundras, utiliza ataques de neve e gelo;
  • Oleander é uma unicórnio especialista em magia negra e campeã das Florestas;
  • Paprika é uma alpaca com o estranho hábito de atacar com abraços apertados e a selecionada das Planícies Altas
  • Pom é uma carneira medrosa e sempre protegida pelos cães que pastoreia; ela representa as Campinas;
  • Tianhuo pertence a uma raça chamada Longma, que é uma mistura híbrida de cavalos com dragões. Ela é a campeã do território sagrado de Houshan;
  • Shanti é uma cabra que viveu nas ilhas Goatani, mas fugiu para fazer parte da tripulação da embarcação Capricórnio.
O elenco original conta apenas com sete personagens, mas outras quatro estão prometidas no primeiro passe de temporada, totalizando 11. É um número bastante enxuto, ainda mais se comparado com as largas listas de outros jogos do mesmo gênero, mas a ausência de volume é compensada com muita personalidade.

Cada uma das lutadoras conta com a voz de dubladoras famosas, como Tara Strong, Tia Ballard, Kay Bess e Allie Moreno, que já trabalharam em inúmeros filmes e animações. Some esses talentos ao fato de que cada combinação de combate tem interações únicas entre as participantes. As expressões de medo de Pom ou ter que ouvir Tianhuo menosprezando as capacidades de suas adversárias são só alguns dos exemplos do quão características são as relações entre cada personagem.

Esses traços são reforçados pelo estilo de comandos e golpes de cada uma. Elas personificam muito bem a região de Foenum que representam e as animações são bastante divertidas, como se estivéssemos no controle de um desenho animado. A execução dos movimentos é a mesma para todas, e o que varia é apenas o resultado do ataque, que também está atrelado ao estilo de cada uma.

Um destaque especial vai para os especiais de nível três, que contêm uma criatividade que transita entre o cinematográfico e o cartunesco. Isso é algo que ultimamente só se encontrava em jogos 2D com o estilo voltado ao traço oriental, como Melty Blood e Guilty Gear -Strive-.

Até que tem bastante coisa aqui, hein?

Em Them’s Fightin’ Herds, temos os modos Arcade, Versus, Treino, História e Online, os básicos de um jogo de luta atual. Como a base de personagens é escassa, o Arcade contém oito lutas, sendo o desafio final os quatro chefes sombrios do modo História, só que todos consecutivamente e de maneira simplificada.

E por falar em modo História, ele é uma ótima surpresa. É um estilo de aventura, no qual devemos vasculhar as regiões de Foenum em um mapa com estilo retrô e visão de cima. Os inimigos são encontrados rondando pelo mapa e devemos enfrentar mais de um em alguns casos; já os chefes contam com algumas mecânicas diferentes, além da parte de combate tradicional, como esquivar de ataques vindos de diferentes planos do cenário.

Além disso, encontramos baús e itens que servem para a customização do nosso avatar. Até o momento do lançamento do jogo, só estavam disponíveis os dois primeiros capítulos, nos quais controlamos Arizona e Velvet, respectivamente, divididos em quatro partes cada um. Os desenvolvedores já prometeram que logo disponibilizarão os demais capítulos. É uma excelente maneira de apresentar toda a narrativa contextual envolvendo as ações do jogador, e tomara que o restante da aventura não demore.

O Online conta com lobbies inspirados nos mapas da História e as partidas fluem muito bem graças ao rollback netcode. Como recebemos a chave para análise antes do lançamento do jogo, a procura por oponentes foi um pouco mais longa que o habitual.

O Treino também merece elogios pela gama de opções oferecidas. É possível praticar os movimentos de maneira habitual, manipulando os medidores e testando os níveis de magia e especial. Para quem gosta de dados mais precisos e têm necessidade de saber a contagem de frames de cada ataque, até por questões competitivas, também pode-se acionar marcadores que pontuam a duração de cada golpe, se ele é positivo ou negativo após o bloqueio e quanto demoraria cada reação. 

Também não podiam faltar os treinos de combo, que são mais uma marca registrada de quem gosta de porradaria virtual. Cada personagem conta com sua lista específica e, por mais que as execuções sejam muito similares, isso mostra o quanto o domínio delas está acessível com um pouco de dedicação. A única falha foi ter colocado as listas de combo dentro do treino e não no menu principal, pois quem não procurar um pouco vai acabar deixando passar batido.

Por fim, a trilha sonora traz uma sutileza divertida e bem implementada. Cada fase tem seu tema, mas dependendo das lutadoras que estão presentes, a melodia ganha notas e variantes, sem fugir da sua métrica principal. Vale a pena testar a lista inteira em todos os estágios para conferir as combinações. Abaixo, deixo a amostra de como fica o tema da Pradaria:

Há males que vêm para bem

Não tem como saber se Them’s Fightin’ Herds teria sido trazido à tona sem tudo o que aconteceu na época, mas o que importa é que os holofotes da ocasião atraíram a atração necessária para que os fãs de jogos de luta descobrissem esse excelente título, que consegue trazer um trabalho tão competente quanto os dos estúdios grandes. Só ficamos no aguardo de mais personagens e do restante do modo História, para que a experiência fique mais completa.

Prós

  • Jogabilidade muito competente e rápida de aprender;
  • Uma boa ideia para o modo História;
  • Online estável e com boas partidas;
  • Ótimos visuais;
  • Muitas opções para o Treino;
  • Excelente trabalho sonoro, tanto com as vozes das personagens quanto nas músicas de cada fase.

Contras

  • Poucas personagens;
  • Modo História incompleto no lançamento;
  • Os Combo Trials estão escondidos dentro do Treino.
Them Fightin’ Herds — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela Modus Games

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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