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Análise: Valkyrie Elysium (PS5/PS4) revive a franquia mas não é digno de ir para Valhalla

Sem muitas pretensões, este revival da franquia da Square Enix ousa pouco, merecendo um lugar entre o medíocre e o aceitável.


Foi em 2009 que tive meu último contato com a série Valkyrie com Valkyrie Profile: Covenant of the Plume (DS). Conheci a franquia no segundo jogo da série, Valkyrie Profile 2: Silmeria, lançado para o PlayStation 2 em 2006, e desde então me liguei à mitologia nórdica de uma forma ímpar e me tornei um grande fã de VP.


Assim como muitos mundo afora, o anúncio de Valkyrie Elysium foi recebido de forma um pouco estranha, pois estava feliz em ver que a franquia não foi enterrada pela Square Enix, mas que seu retorno não seria da forma que imaginávamos até então. Ao invés de um jogo mais ligado a suas origens, como um RPG propriamente dito, Valkyrie Elysium apresenta uma nova roupagem para a série, assim como outros jogos de franquias que compartilham do DNA da Square Enix que também se arriscaram em novas propostas.

Neste caso, a luta das Valquírias e seus Einherjar em Midgard agora é apresentada em um RPG de ação que, como veremos na análise a seguir, tem seus méritos, mas o peso do nome e a história passada da franquia são um problema na hora de adaptar o game, principalmente para uma nova audiência.

A ameaça do Ragnarok


Uma colossal batalha entre Odin – o Pai de Todos e divindade maior de Asgard – e a loba Fenrir culminou no iminente fim do mundo como conhecemos. Em Midgard, o reino dos homens, apenas mortos-vivos andam pela terra como resultado do cataclismo divino que está acabando com todo o mundo. Gravemente ferido e com poucas forças, Odin usa de seu poder para criar uma nova Valquíria e lhe atribui uma importante missão: purificar Midgard das almas decadentes que assolam a terra e assim ajudar que o grande deus consiga reaver a glória de seu poder para continuar como imponente líder de Asgard.

Cega de lealdade pelo Pai de Todos, a Valquíria desce até Midgard para cumprir sua missão. A jornada da implacável guerreira a levará a um mundo devastado e quase sem vida, em que contará com a inesperada ajuda das almas de antigos guerreiros de eras passadas como seus fiéis Einherjar, guerreiros dignos de servir mais uma vez ao lado da Valquíria para cumprir seu dever para com o mundo.


Entretanto, em meio a árdua tarefa de purificar Midgard expurgando as almas dos mortos-vivos, a guerreira encontra desafios e obstáculos que a farão questionar os propósitos de sua missão. A convivência com seus leais companheiros de armas e uma inesperada rivalidade a farão repensar, e até mesmo desenvolver alguma humanidade, sobre se o que está fazendo no mundo é correto ou mesmo justo. E tudo isso no limiar do fim do mundo do temível Ragnarok.

Aventurando-se por um mundo soturno

Em Valkyrie Elysium assumimos o papel da Valquíria como protagonista de uma missão desesperada para ajudar Odin a reaver a glória de seu poder divino ao purificar o mundo. O game deixa de lado o RPG único que caracterizou a série por muitos anos pela jogabilidade mais voltada para a ação. A guerreira tem a seu dispor um arsenal de armas divinas que lhe permitem executar combos de ataques avassaladores contra os inúmeros inimigos que encontrará pelo caminho.

Além de ser extremamente habilidosa na arte do combate com armas, a Valquíria conta com a habilidade de conjurar feitiços elementais que dão uma vantagem extra nos combates, visto que todos os inimigos possuem fraquezas elementais que devem ser exploradas para que possamos tirar vantagem dos ferozes embates contra eles.


Por fim, uma das características principais da série, os Einherjars, trazem uma camada extra de estratégia e táticas de combate. Após obtê-los, a Valquíria pode invocá-los a qualquer momento para lhe dar assistência nos embates contra os inimigos. Cada um conta com uma gama de ataques que ajudam a dar conta das diversas situações de combate que enfrentamos durante a campanha, além de imbuir a arma da guerreira com seu respectivo elemento chave.

Quando ativos, os Einherjar também maximizam o poder e eficiência de ataques elementais correspondentes. Por exemplo: Eygon, o honrado comandante da cavalaria de Be’elze, tem como elemento o relâmpago. Quando invocado, a arma da Valquíria é imbuída deste elemento durante o tempo em que o guerreiro está em combate, além de potencializar o efeito da magia correspondente que é regida por este elemento, causando mais dano sem exigir um custo maior da barra de artes.


Ao causar dano nos inimigos a Valquíria obtém gemas e almas, usadas para realizar os aprimoramentos em suas armas e também desbloquear novas técnicas e aprimorar atributos na árvore de habilidades. Quanto mais recursos são obtidos, além de progredir no jogo, é possível realizar melhorias significativas nas habilidades da guerreira, aumentando sua gama de técnicas ofensivas e defensivas durante o combate, além de melhorar seus atributos para se tornar uma combatente exemplar durante a jornada.

O mundo de Midgard é dividido por regiões, cada qual com suas missões principais e secundárias que podem ser jogadas quantas vezes o jogador julgar necessário, principalmente para obter gemas e almas para fazer as melhorias necessárias em seus atributos e armas. Missões adicionais são obtidas por meio da exploração das diversas áreas do game ao encontrar almas de falecidos que ainda possuem alguma tarefa pendente na Terra, cabendo à Valquíria realizar seus últimos desejos ao troco de boas recompensas, como incrementos de vida, runas para otimizar suas armas, novas técnicas e magias, além de outros benefícios.


Herança pesada

No início do ano tive uma grata experiência com Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin. Assim como Valkyrie Elysium, o game em questão traz uma nova pegada dentro de uma franquia consagrada trazendo uma experiência totalmente diferente do que já foi explorado na série, e o resultado – se fizermos vista grossa para alguns detalhes – foi excelente.

Diferente de seu “irmão”, a Square Enix deixou a cargo do estúdio Soleil (Naruto to Boruto: Shinobi Striker, Ninjala) a desafiadora tarefa de trazer de volta uma série que, diferentemente do título supracitado, esteve adormecida por mais de uma década. Quem conhece Valkyrie Profile de longa data, assim como eu, ficou animado em ver a série de volta ao mercado, mesmo com uma proposta bem diferente da habitual que conhecíamos há um bom tempo.


Elementos chave da série ainda se encontram presentes, como o luxo e requinte da forma como as divindades do game são apresentadas e a trilha sonora marcante de Motoi Sakuraba, que sempre embalou nossas viagens por Midgard e que dessa vez também não foi diferente. O elemento do combate, apesar de diferente do que estávamos acostumados a ver nos VP anteriores, ainda possui a assinatura da ação característica que a série implantou desde seu primeiro jogo, em 2000.

Entretanto, dada a responsabilidade do título, ele peca em não ousar para se tornar minimamente memorável, assim como suas entradas anteriores. O roteiro morno, os personagens pouco marcantes e, principalmente, sua duração, deixam a desejar se o colocarmos na balança com os outros jogos da série.


De todos os jogos da série Valkyrie, este é o que possui os personagens menos marcantes e interessantes de toda a franquia. A própria protagonista, a Valquíria, nem mesmo possui um nome, sendo chamada de Valquíria por todos os demais personagens, exceto em dado momento em que é chamada de Maria por uma conveniência de roteiro. Nem mesmo Odin, que historicamente rouba a cena — e aqui não é muito diferente — em momentos oportunos, consegue segurar a barra nesse quesito.

São vilões com motivações clichês, amarras de roteiro para deixar a história não mais que um café com leite e uma duração questionável, apesar de não ser um RPG propriamente dito. Ainda há algumas reviravoltas interessantes, mas bem previsíveis, diga-se de passagem. E sim, ainda é possível curtir a narrativa, mas não espere algo digno de um best-seller, pois o que temos aqui é, no máximo, uma Sessão da Tarde. Eu mesmo fiz vista grossa em alguns momentos para me manter interessado no jogo e continuar aproveitando o combate.

O level design é um tanto preguiçoso pois possui estruturas muitos semelhantes entre as regiões de Midgard. Mesmo com alguns temas bem definidos, alguns cenários são muito parecidos e a progressão se torna muito linear, tornando a exploração para a obtenção de colecionáveis uma rotineira passeada pelas várias áreas vazias e pouco originais mais de uma vez.


Apesar do contexto do fim do mundo justificar essa monotonia ao andar pelo mundo de Valkyrie Elysium, acho que mesmo assim o mundo do jogo poderia oferecer um desafio extra com uma exploração que exigisse um pouco mais de astúcia do jogador, ao invés de nos fazer correr para vários lugares quebrando caixas e abrindo baús na busca pelos colecionáveis que já estão revelados no mapa.

m ou outro puzzle, ou mesmo uma topografia mais desafiante para nos fazer trabalhar um pouco mais nossos movimentos seriam bem-vindos para dar mais variedade ao gameplay e não deixar essa função apenas para os segmentos de luta contra os inimigos, que conseguem ser um dos poucos pontos altos da experiência como um todo.

Até mesmo a direção de arte deixa um pouco a desejar, principalmente na feição dos personagens. A própria Valquíria possui uma cara de quem comeu e não gostou que eu demorei a engolir. Justamente a protagonista que, historicamente, sempre é uma das mais bonitas dos jogos, aqui esbanja uma cara de menina malvada que está de mau humor o dia todo.


Sem essa magia, digamos assim, o que temos em Valkyrie Elysium é um ótimo jogo de ação, mas uma experiência bem medíocre e pouco necessária, para não dizer essencial, para quem estava órfão da série depois de mais de uma década sem novidades. É o peso de um nome mostrando que não é fácil carregá-lo, principalmente para novas audiências que estão sendo introduzidas ao lore da franquia Valkyrie graças a este jogo.

Os portões de Valhalla estão fechados

Valkyrie Elysium, assim como outros RPGs de ação, é uma excelente pedida para quem gosta de um combate rápido, dinâmico e com boas doses de desafio. Por outro lado, é uma experiência que não faz jus ao legado da série que representa, trazendo uma das histórias menos interessantes da franquia, uma progressão de jogo monótona e cansativa, e um valor geral bem questionável. Um jogo que, diferentemente de seus antecessores, não merece o Valhalla.


Prós

  • Combate ágil, dinâmico e engajador;
  • Trilha sonora marcante de Motoi Sakuraba.

Contras

  • História pouco interessante e previsível;
  • Level design pouco inspirado e com muitas semelhanças visuais entre as regiões;
  • A exploração é um ponto pouco aproveitado;
  • A duração do jogo é “esticada” com missões secundárias em demasia.
Valkyrie Elysium — PS5/PS4 — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise feita com cópia digital cedida pela Square Enix

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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