The Last of Us Part I (PS5) e o equívoco do remake precoce

Controverso em alguns aspectos, o remake de The Last of Us (PS3) continua dividindo opiniões sobre a necessidade de sua existência.

em 09/09/2022

Com nove anos de existência, será que já estava na hora de revisitarmos um dos maiores jogos do PlayStation? Essa é uma pergunta que começou a ganhar força após o anúncio oficial feito pela Sony e a Naughty Dog após um vazamento em junho deste ano. The Last of Us (PS3) foi o jogo que, em 2013, redefiniu o conceito de narrativa e gameplay para jogos single player ao trazer uma história envolvente e cativante, juntamente com um estilo de jogo dentro do gênero de sobrevivência jamais visto até então.

Detentor de diversos prêmios, sendo a grande maioria de jogo do ano, é consagrado até hoje pela mídia e pelo público. A versão original para o PlayStation 3 e sua remasterização para o PlayStation 4, lançada no ano seguinte, juntas, já somam quase 20 milhões de cópias vendidas mundialmente, comprovando o sucesso de The Last of Us.


Em 2020, uma longa espera de sete anos chegou ao fim com o lançamento da aguardada sequência: The Last of Us Part II (PS4). Repetindo o sucesso de seu antecessor, o game foi lançado no meio de uma pandemia e serviu para reunir novamente todos os fãs deste importante legado dos jogos eletrônicos nas redes sociais em meio a discussões de amor e ódio pela audaciosa, ambiciosa, sangrenta e impressionante história de amor e vingança contada na segunda parte.

Enquanto expectativas e teorias nascem até uma provável terceira parte, a Naughty Dog nos leva de volta para onde tudo começou, em 2013, com o remake do primeiro jogo, agora oficialmente intitulado como The Last of Us Part I, lançado no último dia 2 de setembro para o PlayStation 5 e em desenvolvimento para PC. Utilizando da mesma tecnologia gráfica usada em Part II, o remake visa uniformizar a identidade visual de The Last of Us com seu segundo jogo, além de atualizar mecânicas de gameplay e design.

Preservação do legado X monetização da nostalgia

A prática de criar novas versões, releituras, de obras culturais é algo comum no ramo do entretenimento. Música, filmes, livros e, trazendo para nosso universo, jogos sempre passaram e continuarão passando por esse tipo de processo. Para se ter uma ideia de há quanto tempo já temos remakes, posso citar uma coletânea bastante popular lançada em 1993 para o Super Nintendo chamada Super Mario All-Stars, que continha novas versões dos jogos do Super Mario lançados para o NES. Ou seja, há trinta anos a ideia de relançar games já estava firme e forte no mercado.

No meio disso tudo sempre estarão dois grupos de pessoas: os que defendem a preservação de uma propriedade intelectual, com a justificativa de manter um legado ou uma história viva, e os que condenam a prática sob o olhar de que quem está produzindo estes materiais só visam ao lucro em cima da nostalgia e da memória afetiva do público.


Pessoalmente, eu me vejo mais do lado do primeiro grupo, pois sou o tipo de pessoa que acredita que quanto mais pessoas consigam ter acesso a determinado material, melhor. Trazendo esse pensamento para o âmbito dos jogos eletrônicos, apesar de entender a importância dos títulos exclusivos, acredito que o melhor é que ele esteja disponível para o máximo de plataformas possível para que um maior número de jogadores possam se divertir ou, no mínimo, experimentar aquele produto.

“A Sony só quer ganhar mais dinheiro em cima da gente!” ou “70 dólares em um jogo de 2013! Que absurdo!”, são argumentos comuns usados pelos membros do segundo grupo. Entende-se a revolta, ainda mais se levarmos em conta a realidade do preço dos jogos no Brasil, em que um jogo, no lançamento, custa pouco mais de um terço do salário mínimo atual.


Entretanto, é válido lembrar ainda que ninguém é obrigado a comprar um jogo apenas no lançamento, podendo pegá-lo mais barato futuramente em alguma promoção ou negociando no mercado de usados, no caso de quem vai jogar no PlayStation 5.

Uma oportunidade jogada fora?

Deixando de lado a questão ideológica — ou monetária — sobre fazer um remake de The Last of Us agora, um ponto que poderia ser crucial no apelo comercial de The Last of Us Part I diz respeito à distribuição. Recentemente tivemos a reestruturação do serviço PlayStation Plus, que agora conta com comodidades que remetem ao serviço de assinatura oferecido pela sua principal concorrente, a Microsoft, com os consoles Xbox.

Pagando um valor mensal, o assinante das categorias Extra e Deluxe, que são as de nível intermediário e premium do serviço, respectivamente, tem acesso a um vasto catálogo com centenas de jogos, incluindo alguns exclusivos de peso do PS4 e PS5, como Horizon Zero Dawn, God of War, Death Stranding, Ghost of Tsushima, Returnal e os jogos da série Uncharted. Até recentemente, alguns títulos de estúdios parceiros também estão sendo lançados de forma simultânea no catálogo ao mesmo tempo que chegam em outras plataformas, como o PC.


The Last of Us Part I, principalmente por ser um remake e não um game totalmente novo, poderia ser lançado no catálogo da Plus em setembro como uma forma de estimular a adesão de novos assinantes. Lembrando, empresas visam ao lucro e o modelo de assinatura, atualmente, é um dos mais fáceis de se vender pela comodidade e custo-benefício do retorno, além de gerar a chamada recorrência, que é o que outras gigantes como Netflix, Amazon e até a Microsoft têm como principal meio de gerar receita.

A adição de um título do tamanho de The Last of Us como o primeiro grande jogo lançado exclusivamente para o PlayStation Plus seria um atrativo e tanto para trazer novos clientes. É mais fácil, creio eu, ter um milhão de pessoas pagando R$ 59,90 (referente a mensalidade do plano Deluxe, o mais completo) por um mês de assinatura apenas para jogar o game no lançamento e, de quebra, conhecer o serviço do que ter esse mesmo milhão pagando R$ 349,90 (referente a edição padrão na PlayStation Store) no mesmo período.

Além disso, o jogo original contava ainda com um modo multiplayer, chamado de Facções, com uma comunidade, à época, bastante dedicada, mas nenhuma informação sobre um possível retorno desse modo foi revelado até então. Como sabemos, os usuários do PlayStation 5 necessitam de uma assinatura ativa da Plus para jogar online. Assim, quem tem anseio em voltar a se reunir com seu grupo de sobreviventes no ambiente online se tornaria um assinante em potencial.


Outro ponto que deixa o lançamento de The Last of Us Part I um pouco sem lógica é a época em que está sendo lançado. Alguns ainda podem achar cedo já termos um remake do game agora. O jogo original foi o último exclusivo de peso lançado para o PS3 em 2013. No fim daquele mesmo ano o mundo já teria acesso ao já cobiçado PlayStation 4 e no ano seguinte já fomos agraciados com uma versão remasterizada da obra, trazendo significativas melhorias de performance e uma melhor adaptação dos controles para a nova geração.

O remake ainda poderia ter esperado um pouco mais para chegar para ajudar na promoção da vindoura série de The Last of Us. A produção da HBO, que conta com a supervisão de Neil Druckmann, diretor do jogo original, no roteiro e produção da série, e até então já confirmou que vai adaptar os acontecimentos da Parte I. O lançamento está previsto para 2023 exclusivamente no serviço HBO Max.


Alinhar o lançamento do jogo com a série seria uma ótima propaganda para, ainda, trazer novos jogadores para este mundo chocante e emocionante, além de deixar a existência e o lançamento do remake mais relevantes, podendo ainda permitir que a versão para PC pudesse já ter, ao menos, uma data de lançamento, algo que também não temos ainda.

Mas afinal, ele vale o que custa?

É uma pergunta relativa, mas na minha opinião acredito que não. Como mencionei na análise do jogo, o ponto de maior controvérsia sobre The Last of Us Part I é o custo-benefício se colocarmos na balança as melhorias e o preço que está sendo cobrado pelo produto. Diferente de outros jogos lançados com a mesma proposta para a família PlayStation, o remake da Naughty Dog está sendo vendido pelo mesmo preço cheio de demais jogos AAA.

Remakes como Shadow of the Colossus (PS4) ou MediEvil (PS4) foram lançados a preços mais amigáveis para o consumidor, mesmo com uma significativa alta no preço do dólar na época. Em The Last of Us Part I temos essa "regra" sendo quebrada pela primeira vez na história recente do PlayStation. Os mesmos R$ 349,00 que comprariam um título totalmente novo estão sendo cobrados pelo remake, que não contará com o já mencionado multiplayer online, visto que até o dia da publicação desta matéria nenhum anúncio sobre o tema foi reportado.
Shadow of the Colossus (PS4) foi lançado a um preço sugerido de R$ 179,90. O preço "cheio" dos jogos, em 2018, variava entre R$ 199 e R$ 220.
O público que pode tirar mais vantagem deste lançamento é o formado por novos jogadores. Aqueles que não tiveram a oportunidade de jogar uma das duas primeiras versões, seja por não terem acesso a um PS4 para jogar a versão remasterizada, ou mesmo um PS3 para jogar a versão original em 2013.

Por isso, se você está conhecendo a série agora ou está no embalo por conta da Parte II, lançada em 2020 para o PS4 e podendo ser jogada com melhorias de performance no PS5, esta sim é a melhor versão para você jogar. Mesmo com a disponibilidade da versão remasterizada na PlayStation Store, inclusive no catálogo de clássicos da categoria Deluxe da PlayStation Plus, pessoalmente recomendo que, se possível, jogue o remake.

Brilho ofuscado, mas ainda cintilante

Apesar de todo o questionamento acerca do remake, The Last of Us continua sendo um produto importante da indústria de games mundial, e nada mais justo que dar a esta pérola digital a atenção que merece, principalmente ao proporcionar aos jogadores do PC, futuramente, a oportunidade de ter este grande título em suas coleções, além de representar mais um grande passo para o PlayStation em levar mais de suas IPs a outras plataformas, como God of War e Horizon Zero Dawn.

The Last of Us Part I teve a chance de ser o protagonista de um novo episódio na história da Sony e do PlayStation, fazendo-nos lembrar da importância de títulos até então exclusivos e da dedicação depositada por seus profissionais e pela comunidade para manter um legado vivo. Entretanto, mesmo com todo o brilho e capricho apresentados pelo remake, o lançamento teve, na minha opinião, um chegada morna, sem graça e pouco celebrada pela comunidade.

Para saber mais sobre The Last of Us Part I, confira nossa edição da Revista GameBlast totalmente dedicada ao remake, incluindo nossa análise e matérias especiais sobre o universo do game.
Revisão: Vitor Tibério
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Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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