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Análise: Rollerdrome (Multi) mistura tiro e patins em um esporte frenético e brutal

Entre na arena, atire e enfrente a morte enquanto faz manobras estilosas.


Em um futuro distópico, a sensação do momento é o Rollerdrome, uma competição extrema na qual patinadores lutam pela vida em uma arena enquanto realizam acrobacias. O jogo mescla tiro, manobras e muitos momentos estilosos para criar partidas vertiginosas e criativas de desafio acentuado. Além da premissa inusitada, o título produzido pela Roll7 (de OlliOlli World) impressiona com sua ambientação retrofuturista com visual inspirado em HQs e música com sintetizadores. O resultado é uma experiência intensa, viciante e sem igual.

Participando de uma competição sangrenta em um futuro distópico

Em 2030, o mundo é ditado por megacorporações que controlam a humanidade com seu capitalismo agressivo. Para tentar manter as coisas sob controle, uma companhia chamada Matterhorn criou um novo esporte: o Rollerdrome. O evento hipnotiza as massas com suas partidas repletas de adrenalina, violência e extravagância. Nesse cenário, acompanhamos Kara Hassan, uma garota que decide tentar a sorte na competição — o risco é alto, mas o prêmio é generoso.

O conceito de Rollerdrome é inusitado, misturando tiro com esportes radicais. No controle de Kara, que sempre está com patins, precisamos utilizar armas de fogo para derrotar todos os inimigos das arenas. O detalhe curioso é que, para recarregar a munição, é necessário executar manobras, como giros no ar ou grind em diferentes pontos dos cenários. É importante também diversificar os movimentos, pois repetir acrobacias reabastece menos balas. Com isso, para sair vitorioso, é essencial balancear as duas ações.  


No começo, Kara conta somente com uma dupla de pistolas, mas recebe outras armas conforme avança no campeonato. A escopeta é poderosa, mas exige ser atirada na hora certa para maximizar o dano. O lançador de granadas é ótimo contra grupos de inimigos, só tome cuidado para não se ferir na explosão. Por fim, o rifle é capaz de acertar alvos bem distantes, no entanto tem carregamento lento e é difícil de mirar. É possível trocar de arma livremente durante a ação, o que traz versatilidade aos embates.

As partidas são frenéticas, afinal precisamos atirar, saltar, fazer manobras e escapar de ataques dos inimigos, tudo ao mesmo tempo, o que torna difícil mirar com precisão. Por sorte, há o Reflex Time, que deixa a ação em câmera lenta por alguns segundos e nos permite apontar e disparar com calma. O recurso pode ser ativado frequentemente e a qualquer momento, até mesmo no ar durante uma manobra — abusar dele é crucial para sobreviver. Escapar de um ataque no último segundo e ativar a câmera lenta resulta no Super Reflex Time, uma versão melhorada na qual o dano é aumentado.

Manobras e tiros em partidas aceleradas

Rollerdrome me impressionou com sua ação vertiginosa e repleta de estilo. Combinar dois gêneros tão distintos parece estranho, mas funciona e oferece uma experiência sem igual. No começo, tive bastante dificuldade para me adaptar ao jogo, afinal é complicado mirar, atirar, saltar e fazer manobras, sempre de olho nos inimigos e perigos. Porém, aos poucos, fui dominando os controles e passei a fazer movimentos impressionantes — constantemente me senti o protagonista de um filme de ação devido aos ângulos dramáticos e cenas impossíveis.

Os estágios nos convidam a experimentar com suas arquiteturas criativas. Alguns são simples, como um skate park dentro de um estádio ou uma instalação militar em um deserto; já outros são inusitados, como um shopping abandonado ou duas torres em um pico nevado. Cada fase tem inúmeros elementos para fazer manobras e muitas delas têm áreas especiais que só podem ser alcançadas com técnicas avançadas, como wall running. Os designs são complexos e parte da graça é conseguir navegar com sucesso pelas áreas.


Os mapas estão infestados de inimigos, que exigem estratégias diferentes para serem derrotados. Um soldado com escudo, por exemplo, primeiro precisa ser atordoado para poder levar dano. Atiradores costumam ficar em locais de difícil acesso e usam rifles de precisão para nos acertar bem de longe e eliminá-los usualmente exige saltos complicados. Há também robôs que lançam mísseis teleguiados e usam lança-chamas quando nos aproximamos deles. A combinação dos tipos de inimigos cria situações caóticas e estressantes, sendo essencial readaptar a tática para sobreviver.

Cada fase conta com um conjunto de tarefas a serem cumpridas. Muitas delas são diretas, demandando alcançar uma pontuação ou tamanho de combo. Já outras exigem ações particulares, como derrotar inimigos enquanto executamos uma manobra específica ou não utilizar certas armas. Os estágios mais avançados só são liberados após finalizar uma quantidade determinada de missões, então é importante tentar completá-las. Particularmente, me diverti tentando cumprir os desafios, pois eles me incentivaram a experimentar diferentes ações.

Na tensão da batalha

Com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, é natural que Rollerdrome seja difícil. Conforme avançamos no campeonato, o desafio aumenta, pois os mapas se tornam mais complexos e aparecem configurações mais intrincadas de inimigos. Os estágios finais são tão frenéticos que bastam poucos segundos de desatenção para ser derrotado. Perdi as contas de quantas vezes eu morri no decorrer da competição — em alguns momentos, inclusive, me senti frustrado. Mas insisti e percebi que na maior parte das vezes a culpa foi minha ao não escapar na hora certa ou não dar prioridade aos inimigos mais perigosos.


Por design, Rollerdrome é difícil e consegue transmitir muito bem a tensão de participar de uma competição fatal. Com o tempo, meus reflexos melhoraram e consegui fazer com facilidade técnicas avançadas, como o Super Reflex Time ou manter um combo por toda a duração de uma fase. Com isso, a sensação de frustração sumiu e o jogo se tornou bem recompensador.

Seguindo uma tendência da indústria, o jogo tem várias opções de ajuste de dificuldade. É possível diminuir o dano recebido por Kara, reduzir a velocidade da ação, aumentar a área de visão e até mesmo desligar a exigência de completar desafios para liberar fases. Para aqueles que gostam de um bom desafio, é liberada uma campanha ainda mais difícil depois de terminar a história. Além disso, todos os estágios contam com placares online.
Para mim, o jogo tem poucos problemas. Às vezes, é difícil ver onde os inimigos estão, em especial nos estágios mais elaborados, pois nem sempre os oponentes se destacam visualmente. Além disso, muitos perigos, como mísseis teleguiados ou ataques de oponentes, ficam fora da área de visão e aparecem de repente, o que é irritante. Alguns ajustes simples seriam capazes de eliminar os pontos negativos, como maior contraste entre inimigos e cenários, e mais elementos visuais para indicar perigos próximos. Felizmente, com o tempo, me acostumei e aprendi a contornar essas questões.

Em um mundo estiloso e visualmente dramático

Além do conceito criativo, Rollerdrome nos envolve com seu universo retrofuturista. O visual cel shading que remete ao traço de histórias em quadrinhos com contornos fortes é excepcional, trazendo identidade ao jogo. A trilha sonora reforça o tema “passado no futuro” com composições agitadas que abusam de sintetizadores e elementos eletrônicos. Fora as batalhas, há alguns poucos momentos de exploração em primeira pessoa que desenvolvem levemente o mundo, mas são superficiais demais a ponto de mal fazerem diferença.

De longe, o melhor aspecto do jogo é a ação impactante que remete a blockbusters de ação. Durante as partidas, Kara salta pelo ar enquanto gira e executa uma manobra complicada, em seguida deixa tudo em câmera lenta para abater inimigos com uma escopeta, desvia de mísseis com uma cambalhota e, por fim, cai no solo graciosamente. Angulos de câmera dramáticos tornam esses momentos ainda mais fascinantes. Esse tipo de sequência visualmente elaborada é comum e é difícil não se impressionar com ela.



Patinação fenomenal

Rollerdrome combina tiro e esporte radical em uma experiência espetacular. É empolgante patinar por arenas enquanto atiramos e fazemos acrobacias em partidas com desafios variados e interessantes. A dificuldade é acentuada, exigindo muita perícia e insistência para sair vitorioso, mas opções de customização tornam o jogo acessível. Além disso, o visual impactante, a trilha sonora de ritmo acelerado e os inúmeros momentos estilosos trazem identidade ao título e ao seu universo distópico. No mais, Rollerdrome é uma competição criativa imperdível.

Prós

  • Conceito principal inovador que mistura tiro em terceira pessoa e esporte radical;
  • Estágios criativos e repletos de desafios interessantes;
  • Dificuldade intensa, mas justa;
  • Opções de acessibilidade permitem ajustar a experiência de acordo com o desejo do jogador;
  • Ambientação ímpar com visual cel shading, música repleta de sintetizadores e inúmeras cenas estilosas.

Contras

  • Em alguns momentos, é difícil entender de onde vem os ataques dos inimigos.
Rollerdrome — PC/PS4/PS5 — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Private Division

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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