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Prévia: em Lost Judgment (Multi), Takayuki Yagami está de volta para uma potencial última dança

Com feedback dos fãs e dando continuidade ao estilo de gameplay clássico da série Yakuza, Lost Judgment chega para remediar e aprimorar o original.


A última geração de consoles viu um crescimento exponencial da marca Yakuza, que conseguiu se consolidar como uma das mais prestigiosas propriedades intelectuais da Sega, especialmente após a marca deixar uma exclusividade informal com o PlayStation e partir para horizontes como o Xbox (sobretudo agora com o Game Pass) e o PC. Assim, torna-se natural que, com o tempo, novos games da série — que sempre recebeu spin-offs, como é o caso de Yakuza: Dead Souls (PS3), um survival horror shooter à Resident Evil, e Fist of the North Star: Lost Paradise (PS4), que veste a jogabilidade tradicional da IP com uma roupagem do clássico mangá autorado por Buronson e Tetsuo Hara — ganhem holofotes.

Dito isso, Judgment (PS4) chegou com a proposta de trazer uma linha de história diferente, com outra óptica e personagens relacionados, ainda que trabalhe os yakuzas e se passe no mesmo universo da franquia progenitora. O enfoque agora está em Takayuki Yagami, um ex-advogado que abre uma agência de investigação particular ao lado de Masaharu Kaito, um ex-integrante da famigerada máfia japonesa.  Nesse primeiro título, a linha segue com Yagami atrás de identificar o verdadeiro culpado por trás de uma sucessão de assassinatos na região de Kamurocho (versão fictícia do bairro japonês Kabukicho e uma localização clássica para a série), se enveredando por uma trama cada vez mais elaborada a ponto de envolver até a indústria farmacêutica e experimentos humanos.




É importante pensar como Judgment é um marco para Yakuza porque, apesar de redundante em um primeiro momento, já que o jogo praticamente replica o estilo da série principal, ele logo se mostrou como uma verdadeira alternativa por conta da total revitalização que Yakuza: Like a Dragon (Multi) passou ao reformular seu modelo de jogo para um JRPG. Isso faz com que Judgment seja uma espécie de sucessor moral, visto que é o spin-off que continua carregando o espírito de beat’em up da original. Ademais, o game foi o primeiro da IP a receber uma localização completa para o Ocidente (com atuação de vozes extras além da japonesa), o que foi considerado um marco por ser algo que os fãs pediam há tempos.

Pois bem, com essa repercussão positiva, o caminho natural foi fazer uma sequência, principalmente para não deixar morrer aquele estilo de jogabilidade de porradaria gratuita que se tornou tão icônico para a franquia. Em Lost Judgment, o detetive Yagami precisa se aprofundar em uma nova investigação para iluminar um mistério cujos indícios levam a crer que se trata de um mesmo homem cometendo dois crimes em dois lugares diferentes ao mesmo tempo. 




Desta vez, enquanto Kamurocho volta como o palco da aventura, o bairro em questão retorna ao lado de Isezaki Ijincho, o distrito que Ichiban Kasuga, de Like a Dragon, passou a chamar de lar. Além disso, uma escola modelada especialmente para o jogo será incluída como um dos cenários. Peça-chave no entendimento do misterioso caso que precisa desvendar, Yagami terá que se infiltrar no cotidiano do local atrás de pistas, o que o levará a se envolver em outros acontecimentos normalmente tradicionais para os adolescentes, algo que, apesar de parecer batido, ainda pode dar um gás para a narrativa, seja em tons dramáticos (com temas como bullying e abuso), seja em tons bem-humorados e tradicionais da franquia.

Yakuza, a despeito de todo o exagero, também funciona como forma de entender a sociedade japonesa como ela é, para o bem ou para o mal. Em uma reportagem de um portal chamado BoingBoing, três yakuzas tiveram a oportunidade de testar a terceira versão do game e eles próprios ficaram surpresos com o realismo no que diz respeito à representação da máfia japonesa (exceto o fato de todos serem exímios artistas marciais) e como a história em si é conduzida e pelos pontos que aborda. Tendo isso em vista, Lost Judgment continua seguindo nessa linha, uma vez que cutuca bastante na estatística de que a taxa de condenação no Japão para determinados crimes beira os 99%, além de mencionar questões como a corrupção política — que, ao contrário do que se pensa, não é uma ocorrência comum somente em países considerados subdesenvolvidos. 




O clássico sistema de briga agora é, de acordo com o estúdio Ryu Ga Gotoku, responsável pelo desenvolvimento da IP, o mais avançado que o estúdio já criou. Além dos dois estilos de combate da Garça, eficaz contra grupos de oponentes, e o do Tigre, eficiente contra inimigos individuais, agora é possível selecionar um terceiro estilo: o da Cobra, que chega com enfoque em contra-ataques e é especialmente útil contra adversários armados, que já eram consideravelmente chatos de se lidar.

Também há a inclusão de uma mecânica de parkour para auxiliar nos momentos de investigação. Isso muito provavelmente tem a ver com o acolhimento do feedback dos fãs, que comentaram que as seções de stealth presentes nas missões de seguir certos suspeitos eram longas e enfadonhas. Nem todos os prédios serão escaláveis, mas o sistema é novo e tem que começar de algum lugar para que no futuro possa ser expandido, caso bem aceito. 




É claro que várias das características singulares da franquia se tornarão presentes, como a infinidade de atividades paralelas espalhadas pelos mapas do jogo. Um dos exemplos é a disponibilidade de um Master System dentro do próprio game e que Yagami (e o jogador, consequentemente) poderá aproveitar. Tecnicamente, trata-se de um emulador e é uma prática já presente em edições anteriores da IP de outras formas (no anterior havia algumas máquinas de arcade como Fighting Vipers), mas ainda é uma adição bastante interessante. 

Por fim, um burburinho recente e recorrente é que o vindouro Lost Judgment pode ser o último dessa série spin-off. Isso se deve ao fato de que a empresa responsável por agenciar Takuya Kimura, cuja atuação por captura de movimentos é que dá vida ao protagonista Takayuki Yagami, alega que os direitos de imagem de sua estrela não foram cedidos para a reprodução na plataforma — e os motivos para tal foram alvo de várias especulações, que vão desde que o ator não desejasse que sua imagem fosse banalizada por conta da facilidade de se fazer mods com os modelos do game a até uma suposta relutância do ator para com a plataforma em si.




Entretanto, há motivos para questionar todo o terrorismo a respeito do futuro dessa subfranquia. Não indagando a respeito da veracidade do conflito entre a agência e a Sega, ainda há motivos para crer que tenha havido todo um marketing inteligente ao redor disso no intuito de causar alguma comoção e fazer com que Lost Judgment ganhe maior projeção. 

Afinal, a série pode continuar. Da mesma forma que Yakuza: Like a Dragon fez uma transição completa para um protagonista que foi bem aceito pelos fãs, Judgment tem o potencial de fazer o mesmo. Isso acontece por um motivo simples: a Yakuza — e Judgment, por extensão — é sobre o estilo de vida urbano e sobre como as pessoas se relacionam com seus bairros. Por mais carismático que Yagami seja como personagem, ele pode até partir, só que Kamurocho e Isezaki Ijincho ficarão. 




Independentemente disso e falando com os pés no chão, Lost Judgment não chega para revolucionar (como Like a Dragon se propôs a fazer e conseguiu), mas ainda tem a ambição de se consolidar como uma sequência que irá consertar as falhas do primeiro, bem como aprimorar aquilo que já era bom. Ademais: o objetivo do time é, apesar de ser uma série derivada, que o game consiga andar com suas próprias pernas. Ao menos enquanto a propriedade intelectual durar. 
Lost Judgment – PlayStation 4/PlayStation 5/Xbox Series X/Xbox One
Desenvolvimento: Ryu Ga Gotoku Studio/Sega
Gênero: Ação, Beat’em Up
Lançamento: 21/09/2021
Expectativa: 4/5
Revisão: Matheus Araujo

É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
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