As Tartarugas Ninja: conheça as origens, histórias e seu legado nos videogames – Parte 1

Nesta primeira parte, vamos conhecer a origem dos defensores de Nova York e sua estreia no mundo dos games.


Bem-vindo, honorável leitor! Hoje começamos uma série especial estrelando os répteis mais famosos da cultura pop mundial. Mestres nas artes secretas do ninjutsu e com um gosto bastante peculiar para pizza, as Tartarugas Ninja serão as protagonistas desta série semanal que irá contar um pouco da história dos heróis, desde seu nascimento nos quadrinhos e, principalmente, suas participações no mundo dos jogos.


Nesta primeira “fatia”, vamos conhecer a origem dos quatro irmãos nos quadrinhos, chegando ao momento em que foram levados para a televisão e se tornaram uma febre mundial com séries animadas, filmes, brinquedos e muito mais. Por fim, vamos relembrar alguns dos primeiros jogos que foram lançados desde que se tornaram ícones da cultura pop.

Tartarugas adolescentes mutantes… e ninjas?!

Os carismáticos reptilianos que conhecemos hoje nasceram da publicação em quadrinhos criada por Kevin Eastman e Peter Laird. A ideia nasceu do desenho de uma tartaruga com um nunchaku amarrado em uma das patas feito por Kevin. Peter viu a figura e achou engraçada a ideia de um animal sem agilidade como aquele ser capaz de praticar uma arte marcial. A ideia amadureceu e a dupla criou um grupo de quatro tartarugas, cada uma especializada na luta com uma arma diferente.

Usando uma grana oriunda de uma restituição de impostos e um empréstimo do tio de Kevin, os dois criaram a Mirage Studios. A primeira edição da história foi produzida e publicada em 1984 com a intenção de ser essencialmente uma paródia aos famosos heróis dos quadrinhos da época, principalmente o Demolidor, da Marvel Comics, personagem do qual tiraram a inspiração para o nascimento do grupo de heróis, já que ambos surgiram por conta de um acidente de trânsito. A revista caiu no gosto do público e mais histórias foram escritas e publicadas com o passar dos anos.
Kevin Eastman e Peter Laird
Um acidente com um caminhão transportando material radioativo foi a origem para o nascimento dos quatro irmãos e seu mestre, Splinter. O roedor era, originalmente, o rato de estimação de um mestre do ninjutsu chamado Hamato Yoshi. Inteligente, o pequeno mascote aprendeu as artes marciais imitando os movimentos de seu dono até o dia em que presenciou seu assassinato pelas mãos do vingativo Oroku Saki, que futuramente se tornaria o principal vilão da história, o Destruidor. Após o incidente, o rato fugiu e se abrigou nos esgotos de Manhattan

O acidente com o caminhão causou um vazamento do material mutagênico que levava nos esgotos, que entrou em contato com Splinter e quatro tartarugas filhotes, transformando-os em criaturas antropomórficas mutantes e inteligentes. Splinter então adota o primeiro nome de seu falecido dono, Hamato, e batiza as quatro tartarugas com os nomes de artistas renascentistas de um velho livro que encontrou em uma sarjeta enquanto perambulava pelas ruas da cidade: Leonardo, Donatello, Raphael e Michelangelo.

Com o passar dos anos, Splinter passou a instruir seus “filhos” com os ensinamentos do Ninjutsu para um dia se vingar do homem que tirou a vida de seu mestre. Os cinco passaram a viver nos labirínticos dutos subterrâneos da “Grande Maçã”, como é conhecida a cidade de Nova York, até o momento em que saíram das sombras para enfrentar o Destruidor e o Clã do Pé. Para auxiliá-los em sua jornada, apenas duas pessoas da superfície sabem de sua existência: a repórter April O’Neil e o vigilante Casey Jones.


Do submundo do anonimato para o mundo

Estamos em 1987 e havia uma intenção em tornar as Tartarugas Ninja em uma linha de brinquedos. Uma empresa da Califórnia chamada Playmates Toys mostrou interesse em produzir os bonecos, mas exigiu que houvesse um apelo comercial para dar mais segurança no investimento. A empresa sugeriu o caminho mais comum daquela época: um desenho animado para aumentar a popularidade dos personagens.

A ideia não era nova. He-Man e os Mestres do Universo, Transformers, G.I. Joe (Comandos em Ação) e muitos outros seguiram essa mesma premissa e obtiveram sucesso, então a sugestão foi rapidamente acatada. Kevin e Peter licenciaram os direitos do quadrinho para a Murakami-Wolf-Swenson, Inc. (atual Fred Wolf Films), que produziu uma minissérie animada em 5 partes exibida em dezembro de 1987 e o sucesso foi instantâneo. Naquele verão, os primeiros brinquedos foram produzidos e enchiam os cofres da Playmates Toys na mesma velocidade em que saíam das prateleiras das lojas.


O desenho animado das Tartarugas Ninjas sofreu uma série de adaptações em relação a sua versão impressa para seduzir uma audiência maior. As bandanas, antes vermelhas, passaram a ter cores diferentes para facilitar a identificação dos irmãos, que antes só se diferenciavam pelas armas que usavam e suas personalidades também ficaram mais marcantes.

Leonardo (azul) é o líder do grupo, o aluno mais dedicado de Splinter é honrado e uma referência para seus irmãos. Suas armas são duas katanas. Donatello (roxo) é o gênio que tem amor por ciência e tecnologia, sempre inventando bugigangas para ajudar o grupo. Sua arma é o bo, uma espécie de bastão. Raphael (vermelho) é o esquentadinho do grupo. Geralmente está de mau humor e adora uma briga. Suas armas são dois sais. Por fim temos Michelangelo (laranja), que adora uma farra e nunca dispensa uma pizza. A ironia aqui é ele ser o membro mais desleixado mas mestre na luta com nunchakus, uma arma bem complexa.


A origem de Splinter também foi alterada. No desenho, é o próprio Hamato Yoshi quem sofre a mutação e fica com a aparência de um rato, pois não seria adequado levar uma história de vingança para um público infantil. O tom mais sombrio da HQ deu lugar a um roteiro mais animado, voltado para a clássica aventura dos heróis para deter os vilões, aqui representados pelo Destruidor e seus capangas, Bebop e Rocksteady, liderados pelo horrendo Krang da Dimensão X, que deseja dominar a Terra com seu imponente Tecnódromo. Os soldados do Clã do Pé também foram adaptados e passaram a ser androides, deixando a violência das lutas contra as tartarugas menos visceral.

Com todos esses ingredientes, a cereja do bolo ficou para a clássica abertura, que foi eternizada com uma música que se firmou como o tema principal do grupo pelo resto de sua existência.


O sucesso da série animada perdurou por 10 temporadas, até o ano de 1996. Inicialmente exibido nas manhãs de sábado, como era costume nos Estados Unidos, passou a ser transmitido cinco vezes por semana em diversos países, incluindo o Brasil. E com a crescente popularidade dos heróis criados por Kevin e Peter, outro mercado também queria aproveitar essa “febre da pizza” e pegar sua fatia de faturamento graças ao sucesso das Tartarugas. O mundo dos games começou a ser a nova casa dos ninjas de Nova York.

Um legado digital

É muito difícil conhecer alguém que não tenha ouvido falar das Tartarugas Ninja. Conhecer alguém que nunca tenha sequer visto ou jogado algum jogo baseado nos heróis é tão difícil quanto, talvez até mais. Usando como base a primeira série animada, vamos começar nossa viagem relembrando alguns dos primeiros jogos, começando com um clássico.

Teenage Mutant Ninja Turtles (NES) – 1989

O primeiro jogo das Tartarugas Ninja foi lançado para o console mais popular da época em 1989. A Konami adquiriu os direitos do show e passou a ser a principal provedora de games dos heróis. Uma curiosidade sobre esse título é que ele foi lançado pela empresa sob outro selo, chamado de Ultra Games.

Na época, a Nintendo of America tinha uma política restritiva para o NES em território norte-americano, que limitava a quantidade de lançamentos de uma publicadora para apenas cinco por ano. Para driblar essa imposição, a Konami criou a Ultra Games, uma subsidiária no território dos Estados Unidos, para poder lançar mais jogos.


O jogo do NES se caracterizou por possibilitar a jogatina com qualquer um dos quatro irmãos a qualquer momento, mas também se tornou notório por sua elevada dificuldade. É considerado até hoje um dos títulos mais difíceis de zerar da história, mas nada que um pouco de treino e generosas doses de paciência não resolvam. Nossa missão é ajudar o grupo a deter o Destruidor.

Teenage Mutant Ninja Turtles (Arcade) – 1989

No mesmo ano a Konami produziu o primeiro jogo para arcades das Tartarugas Ninja. Com gráficos, animações, e até vozes muito parecidas com a do desenho, o que mais chamava a atenção era a possibilidade de quatro jogadores, cada um controlando uma das tartarugas, poderem se juntar para descer o sarrafo nos membros do Clã do Pé e deter o Destruidor. Algumas versões só permitiam a jogatina com duas pessoas e, nesse caso, cada um poderia escolher a tartaruga que quisesse no início da partida.


Teenage Mutant Ninja Turtles: Fall of the Foot Clan (Game Boy) – 1990

No ano seguinte a Konami lançou uma aventura mais modesta para os donos do fenômeno Game Boy. Fall of the Foot Clan era um título bem mais simplório e menos chamativo se comparado aos jogos anteriores. Aqui temos uma aventura do gênero plataforma onde controlamos Leonardo, Donatello, Michelangelo ou Raphael enquanto derrotamos diversos inimigos e chefes ao longo de cinco fases.

Uma característica interessante deste título é que as vidas são representadas pelas próprias tartarugas. Quando a vida de uma delas acaba, ela é capturada e você precisa selecionar uma das restantes para continuar o jogo e resgatar o irmão que foi pego. Se todos os quatro forem derrotados, é Game Over!

Teenage Mutant Ninja Turtles II: The Arcade Game (NES) – 1990

A Konami levou a experiência do famoso arcade para as casas dos jogadores com uma versão adaptada do beat’em up em 1990. Obviamente, ele não podia ostentar os gráficos e sons de sua versão original, mas a jogabilidade viciante e frenética foi muito bem reproduzida no NES. O único porém era a impossibilidade de jogar com quatro pessoas ao mesmo tempo, mas só de poder economizar fichas e jogar quando quiser, já estava mais do que bom.

Teenage Mutant Ninja Turtles: Turtles in Time (Arcade) – 1991

Considerado por muitos como o melhor jogo das Tartarugas Ninja, Turtles in Time faz jus ao seu subtítulo como um game atemporal. Nesta aventura, uma sequência do arcade do ano anterior, tudo foi aprimorado. De gráficos a efeitos sonoros, a eterna trilha sonora e a jogabilidade divertida e viciante da aventura que leva nossos heróis aos confins do tempo para deter de uma vez por todas os planos de Destruidor e Krang. Esse jogo contava novamente com a possibilidade de jogar com todos os quatro irmãos ao mesmo tempo.

Teenage Mutant Ninja Turtles II: Back from the Sewers (Game Boy) – 1991

Sequência do game do ano anterior, com premissa praticamente igual. A diferença maior se vê nos gráficos e na jogabilidade que são ligeiramente melhores que o antecessor. Até mesmo a mecânica de resgatar a tartaruga capturada permaneceu. Trocando por miúdos, é o mesmo jogo de antes, mas com gráficos melhores.

Teenage Mutant Ninja Turtles III: The Manhattan Project (NES) – 1991

Para o terceiro jogo dos heróis no console da Nintendo a Konami uniu o útil ao agradável. The Manhattan Project é um beat’em up como seu antecessor, mas com fases e inimigos totalmente novos e exclusivos. É considerado o melhor jogo do gênero para o console e trouxe um mix de diversão e desafio excelente para a época. Um título obrigatório até para quem não é fã das Tartarugas Ninja.

Teenage Mutant Ninja Turtles IV: Turtles in Time (SNES) – 1992

Para o primeiro jogo do grupo no novo console da Nintendo a Konami trouxe um port do já excelente Turtles in Time, e ainda conseguiu deixá-lo melhor que sua versão original. Por ser o quarto jogo dos heróis em um console de mesa da Nintendo, a empresa optou por numera-lo como IV, dando a entender que seria uma sequência de The Manhattan Project.

A versão para o Super Nintendo contava com conteúdos exclusivos, como a possibilidade de alterar as cores dos heróis para deixá-los parecidos com suas versões dos quadrinhos, balanceamento dos personagens, fases extras como a do Tecnódromo, adicionando a famosa seção do elevador, e um estilo visual único do estágio Neon Night-Riders, esbanjando o poder do Mode 7 do console. Uma curiosidade: essa fase, uma das últimas do jogo, se passa no longínquo ano de 2020.

Teenage Mutant Ninja Turtles: The Hyperstone Heist (Mega Drive) – 1992

O primeiro jogo das Tartarugas Ninja lançado para um console da Sega foi um experimento estranho, mas bem-vindo. The Hyperstone Heist reaproveitou vários elementos gráficos de Turtles in Time, fato que ocorreu, provavelmente, por conta do pouco tempo que a Konami teve para produzir um jogo para o Mega Drive na época.

Apesar das semelhanças, a equipe teve condições de adicionar algumas fases e chefes novos e únicos para esta versão, além de criar uma trama ligeiramente diferente para a história do jogo. Ainda assim, conseguiu ser único para o console e foi bem recebido pelos jogadores do Mega. No Japão, ele possui outro nome: Teenage Mutant Ninja Turtles: Return of the Shredder.


Teenage Mutant Ninja Turtles: Tournament Fighters (SNES/Mega Drive) – 1993

As experiências da Konami com a franquia continuavam e desta vez os heróis foram levados para outro gênero: os jogos de luta. Tournament Fighters possui inspiração em Street Fighter II e colocou nossos cascudos preferidos em embates mano a mano contra outros oponentes, em sua maioria oriundos dos quadrinhos que eram publicados na época pela Image Comics.

Aqui as Tartarugas participam de um torneio contra outros lutadores para saber quem é o mais forte. As duas versões lançadas em 1993 diferem no elenco de lutadores, cenários e na história. Na versão para o Mega Drive, April e Casey Jones são jogáveis pela primeira vez e a história passa por vários planetas na Dimensão X. No Super Nintendo, onde as lutas acontecem todas na Terra, a personagem feminina é uma lutadora chamada Aska e o Destruidor é um personagem jogável.

Teenage Mutant Ninja Turtles III: Radical Rescue (Game Boy) – 1993

O terceiro e último título da franquia para o Game Boy resolveu sair um pouco da zona de conforto dos dois antecessores com uma aventura um pouco mais elaborada e desafiante. Em Radical Rescue assumimos, inicialmente, o papel de Michelangelo em uma missão de resgate para salvar seus três irmãos.

A jogabilidade tem inspirações no gênero metroidvania, já que devemos explorar um imenso mapa e para acessar algumas áreas é necessário fazer uso das habilidades singulares de cada uma das tartarugas conforme avançamos no resgate. O progresso é mantido usando um sistema de passwords. É, de longe, o melhor jogo da franquia para o portátil da Nintendo.

Teenage Mutant Ninja Turtles: Tournament Fighters (NES) – 1994

No ano seguinte foi lançada uma versão para o NES de Tournament Fighters, bem mais limitada. As Tartarugas competem entre si para decidir quem é o mais apto a desafiar o Destruidor. O vigilante Casey Jones e um mutante chamado Hothead completam o elenco da versão mais “humilde” do game de luta.

Santa tartaruga!

Com isso, damos uma pausa em nossa jornada pela história das Tartarugas Ninja. Na próxima parte do nosso especial vamos falar um pouco mais da história dos heróis, relembrando sua estreia nos cinemas e a nova série animada que serviu de inspiração para os jogos do grupo no início dos anos 2000. A gente se vê na Parte 2.



Revisão: Matheus Araujo

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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