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Análise: Atelier Ryza 2: Lost Legends & the Secret Fairy (Multi): uma perfeita evolução

Novo jogo da série de RPGs reforça tudo que havia de bom em seu antecessor.

O lançamento de Atelier Ryza no final de 2019 foi um marco para a série de RPGs da Gust Corporation. Introduzindo um sistema de combate ativo, uma esquemática ramificada de síntese e métodos variados de extração de itens nos ambientes, o jogo demonstrava muito bem as qualidades da série.

Agora em 2021, Atelier Ryza 2: Lost Legends & the Secret Fairy traz a primeira sequência com uma mesma protagonista na série, reforçando a sua popularidade. Enquanto o jogo anterior tinha a difícil tarefa de apresentar um mundo de novas possibilidades, Ryza 2 também estava na complicada situação de reforçar as qualidades de seu antecessor. Tarefa essa que a obra conseguiu realizar com perfeição.

De mudança para a capital

Após os eventos do jogo anterior, Ryza agora é uma professora na vila Rasenboden. Um dia, ela recebe uma carta de seu amigo de infância Tao. Estudando na capital, o rapaz descobriu a existência de certas lendas que pareciam estar relacionadas à alquimia e portanto poderiam interessar à garota.

Ela decide então partir em uma nova jornada, saindo das ilhas Kurken e indo para a capital do reino, Ashra-am Baird. A investigação das lendas irá levá-la a vasculhar várias ruínas, reencontrar velhos amigos, forjar novas amizades, melhorar suas habilidades de alquimia e enfrentar grandes perigos.

Sem detalhar muito para evitar mencionar spoilers, gostaria apenas de destacar que Atelier Ryza 2 tem alguns momentos mais sombrios do que o jogo anterior. Em particular, ressalto que a obra se passa 3 anos após seu antecessor e mesmo Tao, que era o mais novo da equipe, agora já tem 18 anos. É perceptível como a idade pesou para todos os personagens, que agora possuem também outras responsabilidades. Mesmo revivendo o velho grupinho, existe uma sensação clara de que as coisas não podem ser exatamente como naquele verão inesquecível.

Para quem não jogou o anterior, a história em si é bastante tranquila de se aproveitar, apresentando os elementos necessários para entender o que está acontecendo. No entanto, vale a pena conferir Atelier Ryza primeiro para absorver melhor esse tipo de nuance de personagem. Afinal, um dos pontos altos do jogo são os seus personagens carismáticos e as pequenas narrativas que compõem as sidequests.

Explorando um novo mundo

Apesar de se passar no mesmo mundo e ter alguns personagens recorrentes, os eventos de Ryza 2 acontecem na distante capital na área continental do reino. Essas novas localidades chamam a atenção, com ambientes vastos, ricos em detalhes e que oferecem uma boa variedade entre si.

Primeiramente, a capital é uma cidade enorme e bastante movimentada. Ela é dividida em distritos funcionais, como a área da universidade e o bairro dos artesãos. Cada local tem seus marcos próprios e um projeto de design que o diferencia bastante das áreas da pequena vila de fazendeiros e pescadores do original.

Conforme a história avança, Ryza e seus amigos irão encontrar várias ruínas. O conceito de antiguidade delas inclui uma pirâmide de arquitetura similar às pré-colombianas, uma cidade submersa e outras lendas, cada uma oferecendo uma visão clara de “civilização avançada do passado que acabou caindo em ruínas”.

Essas áreas são ricas fontes de materiais para alquimia. Além de coletar itens com as próprias mãos, Ryza usa o seu bastão e várias ferramentas como foices, machados, redes de inseto e varas de pescar. Os mapas possuem pontos de coleta variados e uma mesma área pode render itens diferentes, dependendo da ferramenta escolhida pelo jogador. Uma versão de maior qualidade de uma ferramenta nos dá a possibilidade de obter itens melhores.

Uma novidade em Ryza 2 é que agora é possível visualizar quais itens podem ser obtidos em uma área antes de realizar a extração. Com isso, o jogador tem como saber de antemão se o lugar possui um item ainda não visto (marcado por uma interrogação) e as diferenças entre cada ferramenta de forma clara e intuitiva.

Além disso, novas formas de exploração foram adicionadas. Com a adição de habilidades como nadar, mergulhar, pular de um ponto a outro usando cordas mágicas e acender uma espécie de lamparina que nunca se apaga, Ryza agora é uma verdadeira Indiana Jones.

Especificamente no caso das ruínas, há ainda uma vantagem extra para a exploração. Após obter uma bússola especial, Ryza consegue ver as memórias dessas áreas e obter uma compreensão mais aprofundada do que aconteceu nelas. Essas memórias vêm no formato de fotos e trechos escritos. Ao colocar os textos em suas devidas posições no menu, o jogador pode obter pontos para melhorar as habilidades da protagonista e algumas receitas necessárias para avançar na história.

Defesas podem ser essenciais para o ataque

As áreas fora da cidade também contam com vários inimigos para enfrentar. Ryza 2 repete a fórmula de combate ativo em que os turnos seguem um formato ATB como o dos Final Fantasy do IV a IX. Isso implica que o timing das ações é importante, sendo o uso de itens o único a parar o combate para que o jogador possa realizar as escolhas adequadas.

Além de algumas mudanças na interface, a principal novidade fica por conta do sistema de defesa. Ao apertar o botão para aumentar sua guarda no tempo correto, o personagem irá realizar uma defesa perfeita, reduzindo consideravelmente o dano e a taxa de Break (valor que leva um personagem a ficar temporariamente impossibilitado de realizar ações por ter tomado muito dano).

Outra boa adição é o personagem de suporte da equipe. Apesar de ainda existir o limite de três personagens ativos, agora há um quarto aliado para substituir um deles caso o jogador queira. Essa troca pode ser realizada a qualquer momento desde que a barra dele esteja cheia, com o aliado já atacando e livre para realizar ações.

Como no primeiro Ryza, a energia para usar habilidades especiais é coletiva e o seu limite varia de acordo com o combate. Conforme os personagens atacam e utilizam mais habilidades, o nível tático aumenta e é esse valor que define o limite, podendo influenciar em uma variedade de outras coisas, como a quantidade de ataques básicos que o personagem pode combinar.

Itens podem ser usados fora do turno, também gastando uma boa quantidade desses pontos de ação. Vale destacar que os itens em Atelier Ryza 2 têm uso infinito, funcionando como habilidades que só podem ser ativadas se o jogador acumular pontos suficientes de CC. Essa barra é aumentada em um ponto para cada habilidade especial usada.

De forma geral, a adição dos novos elementos e o devido trabalho de balanceamento do jogo tornam o combate ainda mais estratégico, incentivando o jogador a trocar entre os personagens da equipe, usar as habilidades especiais de cada um e ter um bom cuidado com a montagem do grupo.

Alquimia em dose similar ao antecessor

De certa forma, o sistema que menos sofreu alterações foi a alquimia, que ainda é bastante similar ao do primeiro Ryza. Cada receita é apresentada como uma rede de nós conectados, em que cada nó é um de seus materiais. Dependendo da receita, esse material pode ser um item específico, como o olho de um dragão, ou uma categoria mais geral, como plantas.

Para produzir um item, o mínimo necessário é colocar um material para cada um dos nós principais. Uma vez concluída essa etapa, já é possível produzir o item, mas serão liberados outros nós. Preencher mais pontos da receita aumenta a qualidade do produto final, o que é visto na prática com itens cujos efeitos podem ser drasticamente diferentes dependendo das escolhas do jogador.

Cada nó permite o uso de múltiplos itens e a obtenção de qualidades depende do jogador preencher os elementos adequados. Um nó vermelho prefere itens com elemento de fogo, então é recomendável que o jogador use esse tipo de item (indicado adequadamente no menu). O sistema de elementos é intuitivo e simples de usar, assim como é fácil entender os valores de cada qualidade, que são indicados durante a síntese, sendo possível utilizar um menu com mais detalhes.

Dependendo dos materiais selecionados, o produto final também pode ter traits diferentes. Esses atributos incluem efeitos usualmente mais genéricos, mas que também podem fazer uma grande diferença. Um aspecto interessante de Ryza 2 é que esses elementos ficam inativos a princípio, sendo necessário que o jogador realize o desbloqueio dos traits nos nós correspondentes.

Essa escolha é uma pequena complicação desnecessária, mas permite que os itens, quando usados como materiais para novas sínteses, tenham habilidades inativas que podem ser herdadas. Infelizmente, o jogo não explica esse elemento nos tutoriais e os nós correspondentes parecem, a princípio, indicar que seria uma forma de liberar mais slots ao invés de abrir os traits escolhidos pelo jogador.

SP e tudo mais

Ryza 2 substitui o sistema de Alchemy Level por SP. Agora o jogador conta com um grid de habilidades para a personagem. Conforme exploramos as ruínas, batalhamos e fazemos sínteses, Ryza ganha SP, que pode ser usado para desbloquear novas habilidades nesse menu. Isso inclui receitas, a habilidade de adicionar mais materiais na síntese de novos itens, melhorias na hora de coletar ingredientes nos mapas e até mesmo uma variedade de mecânicas específicas que eu nem mencionei nesta análise porque são mais avançadas.

Esse sistema permite que o jogador tenha certa liberdade para definir a evolução de Ryza, o que combina muito bem com a nova proposta, que também oferece mais abertura na exploração. Também gostaria de destacar que a trilha sonora continua sendo um ponto forte do jogo, como usual das obras da Gust. O uso de instrumentos de sopro como flauta e clarinete em algumas trilhas segue chamando atenção, assim como é interessante notar os paralelos entre a primeira música de batalha de Ryza 2 e a de seu antecessor.

Atelier Ryza 2: Lost Legends & the Secret Fairy consegue apresentar melhorias em todos os aspectos em relação ao jogo anterior, consolidando-se como um dos pontos altos da série. Para quem tem curiosidade, mas ainda não jogou o antecessor, recomendo conferir ambos em ordem cronológica para uma melhor experiência.

Prós

  • Combate ativo com elementos que incentivam a troca de personagens e o uso de habilidades especiais;
  • Várias formas de exploração, incluindo nadar, mergulhar e usar cordas para saltar entre áreas;
  • O sistema de SP permite ao jogador ter alguma liberdade na evolução das habilidades de Ryza;
  • Ambientes ricos em detalhe e variedade;
  • O sistema de desvendar os mistérios das ruínas valoriza a investigação de todos os cantos dos ambientes;
  • Trilha sonora de alta qualidade;
  • Personagens carismáticos e sidequests com narrativas interessantes.

Contras

  • Alguns aspectos, como as restrições de trait, poderiam ser melhor explicados.

Atelier Ryza 2: Lost Legends & the Secret Fairy  – PC/PS4/PS5/Switch – Nota: 10.0
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Koei Tecmo


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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