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Análise: Atelier Ryza: Ever Darkness & The Secret Hideout (Multi) mistura com maestria o bucólico e o épico

Novo Atelier é uma excelente forma de conhecer a série de RPGs


Desenvolvida pela Gust desde 1997, a série de RPGs Atelier tem recebido novos jogos com uma frequência estonteante. Normalmente há o lançamento de um título por ano e só em 2019 recebemos no Ocidente três novos jogos (Nelke, Lulua e agora Ryza). Com isso, é fácil que jogadores interessados na série fiquem perdidos sobre onde começar.

Atelier Ryza: Ever Darkness & The Secret Hideout é um ponto perfeito para isso, por se tratar do início de uma nova saga da franquia. Sem vínculos com nenhum dos jogos anteriores, o título traz uma aventura envolvente que consegue misturar o tom tradicionalmente mais bucólico da série com uma jornada de crescimento pessoal e descobrimento um pouco mais épica do que o usual.

Uma vila isolada e um grupo travesso

Na pequena ilha Kurken, o vilarejo de Rasenboden é formado primariamente de pescadores e fazendeiros. Nesse pequeno fim de mundo, Ryza e seus amigos Tao e Lent sonham em sair e explorar o que está além-mar. O grupo parte em uma aventura na costa oposta à vila, um local perigoso e que é proibido pelos tabus da vila.


Após uma série de eventos, os personagens acabam conhecendo alguns estrangeiros que pretendiam passar algum tempo na vila. Entre esses personagens, temos o alquimista Empel e sua companheira, Lila. Misteriosos, os dois instigam a curiosidade de Ryza e seus amigos, se tornando “mentores” do grupo. Com isso, Ryza começa sua jornada para se tornar uma alquimista, enquanto Lent sonha em alcançar uma torre misteriosa e Tao quer aprender a ler a escrita antiga dos livros herdados por sua família.

A história do título começa de forma bastante bucólica. Assim como usual da série, boa parte da graça do jogo é conhecer mais a fundo os personagens, seus dramas pessoais e esse ritmo lento e com pequenos eventos cotidianos ajuda a valorizar esse contato.


No entanto, sem entrar em mais detalhes, o enredo vai se tornando mais sério ao longo do tempo. O que começa como uma jornada de autodescobrimento e crescimento pessoal logo desemboca em algo muito maior, envolvendo uma série de mistérios e reviravoltas. Esses dois lados da narrativa são mesclados de forma bastante natural e se mostram bastante envolventes.

Um ciclo de exploração, batalha e síntese



Assim como nos outros jogos da série, o gameplay pode ser dividido em três momentos principais: exploração e coleta, batalhas e síntese de itens. Para poder produzir os vários itens necessários, o jogador precisa coletar materiais pelas áreas do jogo.

Mas Ryza não está limitada a usar as próprias mãos e sua varinha. Ao longo do tempo, a garota deve desenvolver novas ferramentas que ajudam na coleta. Machados, martelos e varas de pesca são extremamente úteis e cada nova ferramenta permite o acesso a seus próprios materiais.

A ilha é um lugar muito bonito, cheio de vida e recursos naturais. No entanto, a maior parte das áreas a explorar para obter recursos é perigosa, repleta de monstros. Entrar em contato com eles implica no início de uma batalha.No combate temos uma grande novidade para a série. Tradicionalmente focada em batalhas em turno bastante tradicionais, a série tem em Ryza seu primeiro título com elementos de tempo real.


São três personagens em campo e os turnos de aliados e inimigos se aproximam em tempo real. O jogador pode alternar entre os combatentes quando quiser. Ao chegar no turno do personagem sob seu comando, saber escolher rapidamente a melhor opção é a chave para ser bem sucedido.

Durante a batalha (a cada ataque e também em certas ocasiões), a equipe ganha AP (pontos de ação), que podem ser gastos para usar habilidades ou aumentar o Tactics Level. Há então a necessidade de avaliar o que é mais vantajoso em cada ocasião: em batalhas que devem se prolongar, guardar os pontos para aumentar o nível de força da equipe é muito importante, por exemplo.


Os pontos também podem ser gastos para realizar uma ação rápida, que interrompe o fluxo da batalha e pode ser especialmente efetivo para se livrar rapidamente de um problema. Vale destacar também que os outros personagens agem por conta própria e o jogador só precisa apertar um botão para definir se eles irão atacar de forma básica ou gastar AP.

Mas a equipe também conta com as Action Orders. Esses comandos que aparecem no canto superior esquerdo da tela durante a batalha são pedidos dos outros membros da equipe. Caso o jogador realize a ação em questão, o aliado irá executar sua própria habilidade em sequência sem gastar AP. Normalmente isso implica em dano adicional ao inimigo, mas caso o personagem controlado esteja com pouco HP, o aliado pode curá-lo.

O resultado de todos esses sistemas são combates bastante dinâmicos e divertidos. Eles exigem não apenas o bom planejamento estratégico prévio de equipamentos, como também a capacidade de reagir rapidamente no campo de batalha.


Por fim, depois de coletados os itens e derrotados os inimigos, o jogador deve voltar para o ateliê. É lá que a alquimia acontece e os materiais serão utilizados para sintetizar novos produtos. Poções, comidas, equipamentos, ferramentas variadas: tudo isso é possível com a alquimia.

No novo jogo, a alquimia funciona como uma espécie de árvore. Cada nó dela corresponde a um grupo de materiais. Conforme o jogador adiciona os itens adequados, esses pontos são ativados e adicionam novas qualidades ao produto final. Esse sistema é bastante intuitivo e, além disso, indica com clareza as possíveis ramificações da síntese, que podem inclusive gerar novas receitas.

Um RPG para todos


Além de tudo o que mencionei acima, é importante destacar que o mundo e os personagens do jogo são bastante expressivos e cheios de vida. O aspecto visual está certamente no topo do que a série já ofereceu. Mas além disso, a trilha sonora é bastante envolvente. A Gust sempre foi uma desenvolvedora preocupada com esse aspecto e Ryza consegue fazer bom uso do talento que a empresa desenvolveu ao longo dos anos. Seu uso de instrumentos de sopro em particular chama atenção em comparação com as trilhas de outros jogos do gênero.

Atelier Ryza consegue trabalhar com um legado de mais de 20 anos de uma série de RPGs e trazer uma jornada que é ao mesmo tempo um pouco familiar e um passo em prol de novos horizontes. Eis um título que precisa ser apreciado tanto  por fãs quanto por pessoas que apenas tem um interesse na série e não tiveram a oportunidade de conhecê-la. É diversão garantida.

Prós

  • Enredo consegue misturar bem o charme tradicional da série com uma narrativa mais épica recheada de boas reviravoltas;
  • Batalhas dinâmicas com boas oportunidades estratégicas;
  • Sistema de síntese robusto que permite não só criar uma boa variedade de itens, como também explorar atributos e ramificações para receitas diferentes;
  • Equipe de personagens principais é carismática e tem ótima sinergia;
  • Visualmente, o mundo e os personagens são espetaculares e deslumbrantes;
  • Trilha sonora de alta qualidade que é bastante envolvente e bem utilizada, como esperado da desenvolvedora.

Contras

  • Nenhum.
Atelier Ryza: Ever Darkness & The Secret Hideout – PC/PS4/Switch – Nota: 10.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Farley Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Koei Tecmo

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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