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Análise: Atelier Lulua: The Scion of Arland (Multi) é um RPG leve e bem humorado

20º jogo da série Atelier, Lulua retorna ao mundo de Arland em uma aventura leve que pode ser apreciada por velhos fãs e por novatos.

Iniciada em 1997 com Atelier Marie, a série de RPGs Atelier apresenta um foco claro na síntese de itens e em histórias cotidianas de jovens garotas alquimistas aprendendo o seu ofício. Apesar dos primeiros que foram lançados no Ocidente (a trilogia Iris e a duologia Mana Khemia) terem sido um tanto diferentes da fórmula usual, no PS3 veio a trilogia Arland (Rorona, Totori e Meruru) que também serviu como introdução da empresa aos jogos 3D.

Com artes do ilustrador Mel Kishida (Blue Reflection), Arland fez bastante sucesso e no ano passado, após o lançamento de uma compilação da trilogia para Switch e PS4 no Japão, a desenvolvedora Gust surpreendeu os fãs com o anúncio de uma quarta obra da subsérie. Tendo como protagonista a filha da alquimista Rorona, Atelier Lulua: The Scion of Arland apresenta uma jornada leve e bem humorada repleta de aprendizados e revelações surpreendentes sobre o mundo de Arland.

Uma aprendiz e um livro de alquimia


Lulua, cujo nome completo é Elmerulia Frixell, é uma jovem estudante de alquimia. Vivendo na pacata região de Arklys, a jovem não tinha grandes preocupações até que uma série de eventos mudam completamente a sua rotina. O primeiro deles é a aparição de um misterioso livro chamado Alchemyriddle, que se torna um grande guia para a personagem em seu aprendizado.

Ela também descobre que sua mãe esqueceu de renovar a licença do ateliê, sendo necessário viajar até a capital para poder resolver essa pendência burocrática. Isso é apenas o início de uma grande jornada que levará a garota a se tornar uma excelente alquimista e a descobrir grandes segredos sobre a história de Arland.


Durante o jogo todo, o principal medidor do progresso de Lulua é o Alchemyriddle, um livro misterioso de alquimia que apenas a garota consegue ler. Como o próprio nome diz, ele funciona como uma espécie de enigma, exigindo que o jogador realize certas tarefas para decifrar novas receitas. Essas missões incluem, por exemplo, sintetizar itens, explorar novas áreas, coletar materiais e lutar contra monstros.

Além das páginas necessárias para progredir na história, é possível aprender muitas receitas secundárias, desbloquear novas habilidades e encontrar novos locais para explorar no mapa. Como, ao contrário de outros jogos da série, Lulua não possui deadlines, esses conteúdos secundários podem facilmente se tornar horas e mais horas de exploração a cada capítulo de história. Especialmente para quem é complecionista e quer fazer todos os itens possíveis, o que pode ser bastante útil, principalmente próximo do fim do jogo ou no pós-game.


Para sintetizar novos itens, o jogador deve selecionar quais itens quer utilizar na receita. Ainda que o material possa ser do mesmo tipo (dois phlogistons, por exemplo), eles serão provavelmente diferentes em qualidade (um valor numérico que define o valor do item) e habilidades (um aumenta a capacidade explosiva, outro causa queimadura). Portanto, o jogador deve avaliar cuidadosamente o que tem mais interesse de fazer, já que a mesma receita pode dar origem a itens bastante diferentes.

Outro fator fundamental disso são os atributos elementais (fogo, gelo, relâmpago e terra). Cada material contribui com sua própria dose elemental e manipular esse fator pode ser a diferença entre ter uma bomba de gelo que afeta apenas um inimigo ou uma grande área (e ainda reduz a velocidade dos inimigos), por exemplo. É possível até mesmo falhar e criar um item quebrado caso a inclinação elemental tenda para o lado errado. Esse nível de controle na alquimia é muito importante, permitindo ao jogador desfrutar de muitas possibilidades na construção dos itens, como os exemplos que mencionei.

Nem só de trabalho intelectual vive uma alquimista

Para poder realizar esse tipo de controle milimétrico da produção, o jogador precisa obter uma grande variedade de itens. A melhor forma de fazer isso é explorando florestas, ruínas e localidades variadas onde esses materiais se encontram à disposição. Além de produzir novas ferramentas que melhoram a coleta, o jogador precisa estar preparado para enfrentar vários monstros em batalha.


O combate do jogo é apresentado como um RPG baseado em turnos tradicional. Ataques ou habilidades especiais podem ser usados por todos os personagens, mas apenas os alquimistas podem utilizar itens. Além do uso dentro do turno, é possível selecionar um item que o personagem pode utilizar como uma espécie de ataque especial interrompendo o fluxo usual da batalha.

Com o nome de Interrupt, essa habilidade abre um leque de possibilidades estratégicas muito interessante. É possível, por exemplo, curar a equipe ou usar uma bomba antes do turno do adversário chegar. Dependendo da qualidade dos itens e do nível dos monstros, é possível até mesmo se manter intocável durante várias batalhas contra inimigos comuns.


Outro elemento fundamental são os posicionamentos dos personagens na equipe. É possível escolher até três ativos e dois de suporte. A combinação de personagens ativos define Primal Arts, habilidades passivas que podem, por exemplo, acelerar o uso de itens ou aumentar o dano de golpes físicos.

Já o suporte define os Follow-up, ataques e habilidades ativadas de acordo com certos eventos de batalha. Por exemplo, se o personagem utilizar um ataque mágico em um inimigo e Eva estiver na posição de suporte para ele, ela também irá atacar e causar um atraso no turno do adversário. Já se o status de um personagem for alterado e Aurel for seu suporte, ele irá ativar efeitos regenerativos.

Assim como no caso do Interrupt, são várias as possíveis combinações e estratégias que podem ser planejadas com essas habilidades e isso torna o combate bastante interessante. No entanto, existe uma trava desagradável quanto às trocas de posições em batalha. Com o comando Switch, é possível trocar o personagem ativo pelo de suporte ao custo de um turno.

Devido ao alto preço de usar o comando, mudanças de formação durante a batalha acabam sendo raridade e algo complicado de ser realizado. Isso faz com que haja pouca maleabilidade em combate, mesmo havendo uma grande variedade estratégica que o jogador pode explorar antes. A impossibilidade de alterar o interrupt item que o alquimista pode utilizar após sair da cidade também é um limitador similar.

Uma pitada do cotidiano com os amigos


Além da alquimia e das batalhas, uma parte importante do jogo são as quests. Nas três cidades do jogo, existem pessoas encarregadas por receber pedidos da população. Coisas como “preciso de tal item”  e “derrote 3 monstros X”, que usualmente podem servir para que Lulua consiga mais dinheiro. Apesar de Lulua só poder aceitar cinco dessas missões por vez, não há nenhum efeito negativo para cancelá-las.

Com isso, é possível conseguir dinheiro mais rápido, o que pode ser bastante útil para comprar itens e equipamentos nas lojas. Assim como nos outros jogos da série, há também tarefas que podem ser realizadas para outros personagens, sejam eles companheiros de equipe (como Eva, Aurel e Rorona) ou amigos variados que a personagem encontra nas cidades (como Totori, Cole e Jeltje). Ao realizar os seus pedidos e aumentar a amizade com esses personagens, é possível ver novos eventos e, no caso dos personagens jogáveis, obter finais diferentes.

Nesse sentido, é bom destacar que, apesar do jogo ser uma continuação da trilogia Arland e de vários de seus personagens terem participado dos títulos anteriores, a história não depende de nenhum conhecimento prévio. Ele consegue apresentar bem os personagens para quem não os conhece e mostrar seu crescimento para os fãs de longa data, mesmo que vários velhos conhecidos não estejam presentes. Tanto os novatos quanto os companheiros de longa data são bastante carismáticos e conhecê-los mais a fundo é bastante divertido.


Outro detalhe importante da interação com esses personagens é o tom da história. Boa parte dos eventos são leves e descontraídos, apresentando momentos cotidianos mesmo em um ambiente de fantasia que envolve lutas com dragões e o uso de itens mágicos extremamente poderosos. Com isso, é possível se sentir mais próximo dos personagens, se divertir com os momentos cômicos e se sensibilizar com os aspectos mais trágicos de suas backstories que acabam aparecendo de forma bastante natural durante as interações.

Para além do legado


Além dessas interações comuns, é muito interessante ver como ao longo do jogo a jovem Lulua se transforma. Ela começa a jornada como uma garota preocupada excessivamente com o legado de sua mãe e ao final é alguém bem mais confiante em suas próprias habilidades, devido às várias provações pelas quais é obrigada a passar.

De forma geral, é possível traçar um paralelo disso com o próprio game. Mesmo Atelier Lulua tendo grande preocupação de ser fiel ao mundo de Arland e seus predecessores, o jogo se apresenta como uma aventura diferente que novos fãs também podem tranquilamente apreciar. Ao retirar os deadlines, o título também passou a incentivar outra forma de jogar, ao favorecer em especial que o jogador tenha seu próprio ritmo, mais devagar e voltado a explorar ao máximo o seu tempo em Arland.

Prós

  •  Desbloqueio de novas receitas, áreas e habilidades através do Alchemyriddle é instigante;
  • Grande possibilidade estratégica devido ao posicionamento dos personagens e ao Interrupt
  • Sistema de alquimia com bastante diversidade e elementos divertidos;
  • Tom leve favorece o engajamento com os personagens, que se mostram bastante carismáticos;
  • Ausência de deadline permite que o jogador explore ao máximo ao invés de focar no objetivo principal.

Contras

  •  Durante o combate, algumas travas acabam tornando a estratégia mais restrita.
Atelier Lulua: The Scion of Arland - PC/PS4/XBO/Switch - Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Raphael Barbosa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Koei Tecmo

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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