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Prévia: Yakuza: Like a Dragon (Multi) é o novo RPG Japonês da Sega — com ênfase no Japonês

O oitavo título da linha principal da série Yakuza — contando do 0 ao 6 — chegou para mostrar que se pode sim mexer em time que está ganhando


É interessante pensar que Yakuza se tornou uma das franquias mais sólidas da Sega após sua reestruturação, no começo dos anos 2000. Ela pode não ser tão popular quanto o ouriço azul mascote da empresa, mas com certeza é uma das mais consistentes em termos de qualidade e quantidade dos lançamentos. Depois de uma saga inteira protagonizada por Kazuma Kiryu e Goro Majima, com alguns spin-offs — inclusive temáticos, como é o caso de Fist of the North Star: Lost Paradise (PS4) —, talvez tenha chegado a hora de promover mudanças.


Enquanto a espinha dorsal da série até então tinha como mecânica central um divertido sistema de combate em beat ‘em up, Yakuza: Like a Dragon (Multi) chega para variar um pouco as coisas na forma de um peculiar JRPG em turnos ao melhor estilo Dragon Quest, Final Fantasy, Pokémon ou, para retomar um nome clássico da mesma empresa, Phantasy Star.




Apesar da mudança aparentemente brusca, essa nova iteração da IP continua sendo um Yakuza em sua essência. Isso acontece basicamente porque, apesar de a mecânica de porradaria tão elogiada ser considerada a principal para a marca, tal percepção só existe, na verdade, porque o foco são os mafiosos japoneses e, seguindo o estereótipo que muitas vezes é apresentado a nós, ocidentais, brigar é justamente o que eles fazem. A saga de Kazuma Kiryu sempre foi algo muito além disso.

O que a franquia faz tão bem é satirizar o típico estilo de vida urbano japonês ao mesclar eventos absurdos de tão cômicos com momentos sérios e verdadeiramente emocionantes. Os combates no meio da rua contra baderneiros são apenas parte de um todo, que envolve também realizar uma bela variedade de atividades distintas, como jogar beisebol, namorar, passar um tempo nos fliperamas, conhecer os moradores do bairro onde o jogo se passa e muito mais.



Dessa vez, comande toda uma gangue

Sendo fiel ao gênero de RPGs por turno, uma das principais mudanças em Like a Dragon envolve o fato de que o jogador agora irá controlar uma espécie de party que irá realizar os comandos inseridos no controle, ao contrário dos anteriores, em que apenas um personagem protagonizava toda a pancadaria de maneira individual — às vezes mais personagens entravam na ação, mas sendo controlado mesmo, apenas um. Assim, é possível comandá-los em uma lista de ações como “atacar”, “usar itens”, “defender” ou “usar skills”.

Cada party terá, obviamente, seu próprio turno para atacar. Entretanto, isso não significa que um lado fica parado enquanto o outro efetua suas ações. As lutas deste novo Yakuza são dinâmicas, com os personagens em constante movimento — lembrando um pouco o que foi feito em Final Fantasy XIII, por exemplo —, o que vai exigir um uso maior de estratégia e agilidade para conseguir se adaptar ao estilo do oponente. É claro que a utilização de elementos do ambiente, característica clássica da franquia, continua presente, adicionando um pouco de caos durante as sequências.



Assim como Kamurocho, Isezaki Ijincho é um bairro vivo e pulsante

Ao contrário de RPGs mais tradicionais, em que as batalhas, quando engajadas, entram em uma espécie de realidade própria e paralela, Yakuza: Like a Dragon não conta com essa transição, sendo os combates travados imediatamente quando os inimigos topam com o jogador. Eles acontecem diretamente no mapa aberto, da mesma forma que seus antecessores. Essa troca ágil e sem pausas é apenas uma maneira de entender o quanto Isezaki Ijincho, o bairro onde o título se passa, aparenta estar vivo.

Em meio a grandes multidões de trabalhadores assalariados japoneses, podemos encontrar oponentes quando menos esperamos, em qualquer lugar na rua. Os transeuntes são muitos e constantes, reproduzindo uma densidade populacional tão convincente quanto a de um bairro da vida real, algo que dificilmente acontece em qualquer jogo, não apenas do gênero, na verdade.




Além disso, várias das atividades paralelas colaboram com a sensação de imersão em um mundo quase real — por mais absurdo que ele seja —, bem como o design do bairro fictício, com suas ruelas, becos, lojas, prédios e arranha-céus. É quase como se tivessem digitalizado por completo uma pequena região real do Japão, com a diferença de que ela não existe de fato.

Projeções de uma mente viciada

O interessante dessa troca do sistema de combate clássico da série é que existe uma explicação dentro do próprio universo para que ela tenha ocorrido. Basicamente, o protagonista do jogo, Kasuga Ichiban, é um verdadeiro fissurado em... Dragon Quest. Assim, a visualização que o jogador tem do sistema de combate é uma representação da forma como o próprio personagem vê o mundo, com quebras constantes da quarta barreira em um ponto que fica entre a simples perda de noção da realidade e a consciência de que ele é a estrela de uma IP de sucesso.




Ressalta-se, contudo, que Kasuga não se resume a essa característica, embora seja um aspecto crucial de sua própria identidade tão impetuosa e dramática. Membro antigo da família Arakawa, da máfia japonesa, ele passa dezoito anos na cadeia por conta de um crime que não cometeu — na verdade, ele está fazendo um favor a seu antigo superior. Ao ser liberado, ele descobre que sua antiga família o abandonou, mesmo com o sacrifício que fez por ela. Sem querer deixar barato e ainda acreditando que é um herói, ele decide ir atrás de seus companheiros, mas quase é morto. É quando o protagonista decide investigar as motivações por trás de todos esses acontecimentos.

De um modo geral, as histórias do mundo de Yakuza são um show à parte. Com uma estética similar a um dorama, a maioria dos personagens são modelados a partir dos atores que os interpretam. A apresentação estética das cutscenes e a estrutura dos capítulos da trama, cheios de reviravoltas, também se assemelham às populares novelas japonesas.



Um RPG japonês tão diferente, mas tão tradicional

Yakuza: Like a Dragon (Multi) aparentemente chega para subverter o subgênero dos RPGs japoneses. Apesar de contar com uma temática completamente fora do padrão para o estilo, todos os elementos principais parecem estar lá. Isso me lembra bastante de quando analisei, no ano passado, o spin-off Judgment (PS4), em que eu bati na tecla de que a identidade do jogo não tem vergonha de se apresentar como um produto daquele longínquo país do oriente. Chega a ser interessante como esse argumento agora parece fazer mais sentido do que nunca.
 
Yakuza: Like a Dragon – Multi
Desenvolvimento: Ryu Ga Gotoku Studio/Sega
Gênero: Ação, JRPG, e alguns outros mais
Lançamento: 10/11/2020
Expectativa: 4/5

Revisão: Davi Sousa


É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
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