Blast from the Past

Bloody Roar (PS): liberte sua fera interior em um dos mais divertidos jogos de luta já criados

Mais do que um jogo de luta em 3D, Bloody Roar possui características e mecânicas únicas.


A era 32/64 bits definiu a 5ª geração de consoles. Os padrões 2D em 16 bits da era anterior cederam finalmente aos gráficos em 3D e basicamente todo estilo de jogo os recebiam de bom grado, dos esportivos aos de ação — e com os jogos de luta não seria diferente.

Embora o primeiro jogo de luta em 3D não fosse Virtua Fighter, da Sega (o primeiro foi Dark Edge, da mesma empresa), é inquestionável que ele lançou os padrões para jogos desse estilo já em 1993. Tekken, por sua vez, foi lançado em 1994 para Arcade e PlayStation. O marco desse estilo de jogo se deu com Tekken 3, lançado em 1997, o mesmo ano de lançamento de Bloody Roar, desenvolvido pela Hudson Soft Eighting/Raizing, marcando presença nos Arcades (sob o nome Beastorizer) e PS.
Tela inaugural da versão para Arcade.

O enredo, como veremos, não é o mais original que já nos deparamos (numa era em que, salvo raras ocasiões, ainda não era um dos objetos das desenvolvedoras para agradar o público). No entanto, a jogabilidade é fluida e os gráficos eram muito bonitos para a época, em especial pelo fato de que nenhuma das desenvolvedoras possuía qualquer experiência em jogos de luta, quanto mais no formato em 3D.

Mais do que um jogo típico de lutadores de artes marciais, cada personagem pertence à espécie Zoanthrope, seres híbridos capazes de se transformarem em animais, possuindo maior poder, velocidade e regeneração de parte de suas barras de vida. Acompanhem conosco!

Um enredo contado um milhão de vezes, mas o jogo é bom!

A Tylon Corporation descobre a existência dos Zoanthropes, aprisionando-os para a realização de experiências com o intuito de utilizá-los como armas de guerra. O enredo gira em torno de Yugo, um híbrido capaz de se transformar em lobo que busca vingança contra a empresa em razão da morte de seu pai, que lutava contra a mesma.

Em sua jornada, se alia a Gado, antigo mercenário e companheiro de armas de seu falecido pai. Tylon, no entanto, tem em seu poder uma poderosa Zoanthrope, Uriko, que após sofrer lavagem cerebral, utilizará sua besta interior, Quimera, para proteger os interesses da empresa. O grupo é formado ainda por Alice, que conheceu Uriko antes da lavagem cerebral. Outrora prisioneira de Tylon, se une a Yugo, Gado e Mitsuko para libertarem a garota e enfim derrotar a empresa.
Cada personagem tem sua história desenvolvida no decorrer do jogo, com um final para cada lutador. Descobrir os resultados das respectivas empreitadas exigirá que o jogador termine Bloody Roar mais de uma vez. Mesmo que boa parte da trama esteja envolta em questões que envolvem vingança, os personagens possuem movimentos e golpes próprios, sendo uma experiência interessante para escolher aqueles que se adaptem melhor ao estilo do jogador nas partidas multiplayer ou contra a IA.

O jogo em si

Além da tradicional barra de vida, sob ela há uma barra de Beast. Em dado momento da luta, ao surgir um indicador “B”, permitirá ao jogador ativar a fera de cada um dos lutadores. Ao acioná-la, uma onda de choque surgirá ao seu redor, lançando o adversário ao longe, além dos golpes se tornarem mais poderosos.

Por outro lado, a cada dano sofrido, a barra se reduzirá gradativamente, até que o personagem volte ao seu status humano. Enquanto o personagem está em seu modo “fera”, a barra de vida “humana” se regenera gradativamente, algo em torno de 3% do que restava antes da transformação.
Revide antes que a besta desapareça.



Os botões de ação definem soco, chute, bloqueio, arremesso e transformação. Combinação de botões realizarão agarrões e combos. Compreender e utilizar a habilidade Beast nos momentos adequados é de suma importância para o jogo, já que muitas vezes fazem com que o jogo “vire”, transformando uma derrota iminente em uma condição de difícil retorno para o adversário, especialmente se ele já fez uso da habilidade e sua barra de Beast ainda está longe de ser recarregada.

Os movimentos são fluidos e rápidos, além de permitirem um sistema de combo em patamares ridículos como na série "Versus” da Capcom  — combos com mais de 20 hits são facilmente executados com Bakuryu transformado, a título de exemplo. Em Bloody Roar 2 (PS), essa marca ultrapassaria os 50 hits.

A jogabilidade é completamente em 3D, ao passo que as mecânicas de luta se baseiam somente em golpes oriundos das artes marciais, ao melhor estilo Virtua Fighter. Quando transformados, os lutadores utilizam golpes característicos dos animais que os representam, como Alice (Coelho) ou Gregory (Gorila), a título de exemplo. Os cenários e as canções, por outro lado, são bastantes genéricos, mas esse deslize é facilmente ignorado pelo conjunto positivo da obra.

Bloody Roar e sua  primeira leva de Zoanthropes

São oito personagens jogáveis, cada qual com suas próprias motivações e histórias, desenvolvidas no modo Arcade até o embate final contra Quimera:

Yugo Ogami (Lobo): filho do mercenário Yuri Ogami, o jovem investiga as circunstâncias por trás da morte de seu pai. Ao se deparar com a existência da Taylon Corporation, descobre que ele próprio é também um Zoanthrope. Durante as investigações, encontra provas de que a empresa é a responsável por sua perda e parte em sua missão de vingança.



Alan Gado (Leão): mercenário e antigo companheiro de armas de Yuri, descobre as práticas cruéis da Taylon e se une a Yugo para destruir a empresa e vingar a morte do amigo.
Bakuryu (Toupeira): assassino que trabalha em conjunto para a Taylon, não tem outro objetivo senão provar que é o Zoanthrope mais poderoso. Para atingir seus objetivos, se coloca inclusive como cobaia em favor da empresa para a realização de experiências, culminando em sua morte.
Mitsuko Nonomura (Porco Selvagem): mãe de Uriko, vive entre os humanos ocultando suas habilidades Zoanthrope. Quando a Taylon Corporation sequestra sua filha com a finalidade em criar um exército de híbridos, Mitsuko parte em uma jornada para resgatar sua filha.
Jin Long (Tigre Chinês): Long é negligenciado por seu pai e, após a morte de sua mãe e irmã caçula, foge de casa. Nas ruas, desenvolve grande habilidade de combate, especialmente como Zoanthrope, o que lhe traz grande fama e reputação. Uma organização do submundo do crime o coopta para uma série de trabalhos, inclusive prestados à Taylon. Arrependido, se volta contra a empresa em uma tentativa de redimir seus atos. Enquanto isso, é perseguido por seus antigos parceiros de crime.


Alice Tsukagami (Coelho): quando criança, foi sequestrada pela Taylon e submetida a experiências para que fosse convertida em uma Zoanthrope. Durante os testes, houve um despertar de seus poderes e, antes de a submeterem a uma lavagem cerebral, obteve auxílio de Uriko para fugir das instalações da empresa. Como a garota não teve a mesma sorte, decide se aliar a Mitsuko, Gado e Yugo a fim de libertar Uriko e destruir a Taylon.

Gregory Jones (Gorila):Gregory é o proprietário de um circo em decadência e sua história gira em torno desse aspecto. Após requisitar a Yugo que este seja a atração principal de seu espetáculo, o jovem Zoanthrope aconselha que o homem seja a própria estrela. Ao seguir tal conselho, reestrutura o circo, o transformando em um grande sucesso.

Hans Taubemann (Raposa): um jovem Zoanthrope obcecado pela beleza que rejeita sua forma animalesca por achá-la “feia”. Crescido nas ruas da cidade, se torna um assassino violento e cruel, prestando serviços para a Taylon Corporation. Em um momento de fúria, inicia a matança de civis inocentes quando então houve alguém chamá-lo pelo nome, reconhecendo então uma das vítimas como sua própria mãe. Desde então, perdeu completamente a sanidade.

Considerações finais

Bloody Roar recebeu ótimas críticas à época e vendeu mais de 360.000 cópias nos Estados Unidos e Europa, embora seja atualmente um jogo de luta ignorado (especialmente diante da falência da Hudson Soft). Ainda que seja praticamente um elemento obscuro do PS, contudo, é um jogo que recomendamos mesmo nos dias atuais, já que os gráficos e a jogabilidade envelheceram bem. A proposta do modo Beast amplia o desafio e torna a disputa entre amigos bastante divertida e desafiadora.
A arte de capa na versão japonesa do jogo é simplesmente linda.


Me recordo quando garoto em passar horas diante da TV com amigos disputando “rachas” do tipo “o perdedor passa o controle”, sendo praticamente monopolizada pelos menos habilidosos em sua teimosia em jogarem continuamente com Bakuryu. E quanto a vocês, conhecem Bloody Roar? Quais são as suas experiências sobre jogo? Compartilhe conosco!

Revisão: Giba Hoffmann

Mineiro, apaixonado por livros, música, filmes, discussões, Magic: The Gathering e, claro, jogos eletrônicos.
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